Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Devido à importância que tais cursos de água assumem na geração de energia e/ou navegação, optou-se por utilizar a curva de permanência como principal indicativo do comportamento hidrológico nas bacias estudadas. A curva de permanência relaciona a vazão ou o nível do rio e a permanência no tempo em que a vazão é maior ou igual ao valor especificado. A curva de permanência apresenta grande importância na determinação dos volumes de regularização para a operação de reservatórios.
Analisaram-se as curvas de permanência daqueles cursos de água comumente monitorados na Revista Climanálise, considerando as vazões ou cotas médias mensais ocorridas no período jun87-jun96. Com a finalidade de permitir comparações entre diversos postos fluviométricos, bem como analisar os valores de vazão/cota em um contexto histórico, os valores ocorridos nesse período foram adimensionalizados dividindo-os pela média de longo termo (MLT) correspondente ao mês considerado. A MLT foi obtida a partir das observações no período 1931-1984, portanto fora do período analisado.
Deve-se salientar algumas limitações da análise relacionado ao fato de que algumas estações sofrem descargas controladas por estruturas hidráulicas, o que pode afetar a curva de permanência no que tange principalmente aos valores mínimos. A fim de facilitar a análise comparativa, os cursos de água têm sido agrupados por região ou por bacia hidrográfica.
A figura 1 mostra as curvas de permanência adimensionais para os postos de Tucuruí - PA (Rio Tocantins), e os postos Sobradinho - BA e Três Marias - MG, ambos sobre o Rio São Francisco. No caso de Tucuruí, as vazões dos últimos 10 anos permaneceram apenas 32 % do tempo acima da MLT. No caso de Sobradinho e Três Marias, o tempo de permanência acima da média histórica cai a 14 e 24 % respectivamente. Esses valores mostram que nesses três postos, as vazões dos últimos 10 anos apresentaram, de uma forma consistente, valores abaixo da média histórica.
A figura 2 mostra as curvas de permanência adimensionais nos postos localizados sobre o Rio Paranaíba; isto é, Emborcação, Itumbiara e São Simão, todos no Estado de Minas Gerais. No caso de Emborcação e Itumbiara, as vazões estiveram acima da média histórica aproximadamente em 40% do tempo. No entanto, no caso de São Simão, esse valor sobe para 66 %. A discrepância na curva de permanência dos dois primeiros postos e São Simão pode ser devido a uma maior capacidade de regularização da barragem de São Simão, que pode ter atenuado os picos e elevado os valores mínimos.
Na figura 3 estão plotadas as curvas de permanência de Marimbondo - SP (Rio Grande), Ilha Solteira (Rio Paraná) e Capivara - SP (Rio Paranapanema). Em Marimbondo, as vazões permaneceram acima da média histórica 53 % do tempo, em Ilha Solteira 61 % e no posto de Capivara 60 %. A simples comparação das curvas de permanência da figura 3 revela um comportamento similar dos três cursos de água referente a valores abaixo da MLT. Para valores acima da MLT, Capivara apresenta uma maior permanência de vazões relativas.
A figura 4 apresenta as curvas adimensionais correspondentes a Salto Santiago - PR (Rio Iguaçu) e Blumenau - PR (Rio Itajai-Açu). Salto Santiago registrou 49% do tempo vazões acima da MLT , entanto que em Blumenau essa percentagem foi de 52%. É evidente a similaridade das curvas de permanência de ambos postos, apesar de pertencerem a bacias hidrográficas diferentes. Isto indica forte similaridade do regime hidrológico dos dois postos.
A figura 5 mostra as curvas adimensionais dos postos Passo Fundo - RS (Rio Passo Fundo) e Passo Real (Rio Jacui), onde as vazões permaneceram acima da MLT 52 e 50% do tempo respectivamente. O comportamento de ambos cursos foi muito regular. As diferenças surgem nos valores picos, nos quais os valores de Passo Fundo são maiores.
Finalmente, a figura 6 mostra a curva de permanência adimensional de cotas no Rio Negro - AM para o mesmo período. O Rio Negro apresentou vazões acima da MLT 68 % do tempo, o que pode indicar a ocorrência de uma década úmida na Amazônia. A curva apresenta extrema regularidade, o que era de se esperar considerando o tamanho da bacia hidrográfica tributária do Rio Negro.
Pode se concluir que, na última década, as vazões permaneceram frequentemente abaixo da média histórica do Rio São Francisco e Tocantins. Essa tendência também foi verificada nos postos a montante do Rio Paranaiba. Os rios do Sul e Sudeste apresentaram um comportamento normal se comparados à média histórica, enquanto que o Rio Negro, em Manaus, apresentou frequentemente valores acima da MLT.