CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DE SISTEMAS CONVECTIVOS E FORÇANTES DA CONVECÇÃO NA AMÉRICA DO SUL, OBSERVADOS POR SATÉLITES

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CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DE SISTEMAS CONVECTIVOS E FORÇANTES DA CONVECÇÃO NA AMÉRICA DO SUL, OBSERVADOS POR SATÉLITES


Luiz Augusto Toledo Machado, Roberto Lage Guedes e

Maria Aparecida Senaubar Alves

Centro Técnico Aeroespacial (CTA)

Instituto de Atividades Espaciais (IAE-ACA)


1) Introdução

As nuvens exercem um significativo controle sobre a energia do sistema climático, e os parâmetros que definem as nuvens dependem fortemente do estado do sistema. A grande diversidade das condições dinâmicas e termodinâmicas, que agem sobre o sistema climático, é responsável pela formação de diversos tipos de nuvens com características radiativas bastante diferentes. O conhecimento das estruturas internas das nuvens e aglomerados, bem como as propriedades óticas são fundamentais para o aperfeiçoamento de modelos de previsão climática.

O conhecimento das características estruturais da convecção tropical é importante para a compreensão da organização individual das células convectivas e sua interação com a circulação em grande escala. Vários tipos de sistemas foram estudados na década de 70 e início dos anos 80, definindo-se diferentes tipos de sistemas convectivos de mesoescala (SCM) tais como: linhas de instabilidade (Houze, 1977), "nonsquall lines" (Tollerud e Esbensem, 1985) e Complexos Convectivos de Mesoescala (Maddox, 1983).

Na década de 90 os estudos sobre a estrutura da convecção voltaram a ser extensivamente estudados. A necessidade de se ampliar o conhecimento sobre os SCM visando criar subsídios para uma futura parametrização destes sistemas é certamente uma das razões do aumento do número de trabalhos sobre os SCM, auxiliados pelas grandes séries de imagens de satélites atualmente disponíveis. Pode-se ressaltar especialmente que a revista "Monthly Weather Review" dedicou a edição de novembro de 1991 a este assunto, apresentando vários artigos sobre simulações numéricas e dados observacionais.

Machado et. al. (1992) mostraram que na região tropical, a distribuição de tamanhos das nuvens e aglomerados convectivos seguem uma lei de potência em função do raio. Entretanto, Machado et al. (1993) mostraram que esses espectros são extremamente dependentes do ciclo diurno e das ondas de leste. Durante o ciclo diurno a cobertura de nuvens se organiza preferencialmente em escalas que variam de dezenas a centenas de quilômetros. Um outro fator interessante, com relação ao ciclo diurno, é a diferença de organização da convecção nos oceanos com relação ao continente. Nos oceanos o sinal diurno é significativo somente para os SCMís maiores que 100 Km.

A estrutura interna dos SCMís varia significativamente com a fase do ciclo de vida desses sistemas. A análise do ciclo de vida dos sistemas convectivos permite estudar como a estrutura interna varia durante as diferentes fases de vida desses sistemas. Para acompanhar os sistemas convectivos em imagens sucessivas seria necessário definir algumas características do sistema convectivo que se mantem invariáveis durante o ciclo de vida do SCM. Contudo, o SCM é dinâmico e a estrutura interna, bem como as características radiativas e morfológicas, variam entre duas imagens sucessivas. Certamente, essa variação depende fortemente do intervalo de tempo entre as duas imagens, não podendo assim serem estabelecidas margens de variações fixas nestas análises. Arnaud et al. (1992), baseando-se no artigo de Williams e Houze (1987), desenvolveram um método de acompanhamento automático de sistemas convectivos utilizando a superposição entre sistemas em imagens sucessivas. O método desenvolvido no IAE/ACA é baseado nas variações temporais das características radiativas e morfológicas do sistema, além da superposição. Este método permite acompanhar o sistema automaticamente ou semi-automaticamente (decisão do usuário). Para a utilização no modo automático, o usuário deve definir o peso que cada váriavel deve ter no cálculo final das diferenças ponderadas. Desta forma o método possibilita a utilização para qualquer intervalo de tempo entre imagens, permitindo, por exemplo, utilizar somente o conceito de superposição definindo um peso zero para todos os parâmetros, exceto para a superposição.

Os dados ISCCP (International Satellite Cloud Climatology Project), de imagens a cada 3 horas, possibilitam estudar as flutuações da radiação de onda longa nas escalas diurna e interdiurna. A principal característica da convecção tropical é a forte resposta à forçante diurna, (Duvel, 1989). O conhecimento da resposta diurna da convecção é bastante útil para a verificação do ciclo diurno descrito por modelos de circulação geral. Além disso, essa modulação pelo ciclo diurno tem uma importante influência na forçante radiativa da cobertura de nuvens, sendo um fator relevante no balanço de radiação da Terra.

Em adição à modulação da convecção pelo ciclo diurno, que é o fator mais importante da variabilidade na região tropical, existem as flutuações da nebulosidade interdiurna. Essas flutuações, apesar de terem uma importância menor com relação à variabilidade total da cobertura de nuvens, são forçadas por fenômenos menos previsíveis ligados às forçantes não lineares e/ou dependentes da ocorrência de várias condições em simultâneo. Uma das fontes desta variabilidade interdiurna na região tropical são as ondas de leste, que são responsáveis pela formação de grandes sistemas convectivos de mesoescala e linhas de instabilidade, tendo uma grande influência no clima da região tropical.

Este trabalho tem por objetivo mostrar as características estruturais de sistemas convectivos e as forçantes da convecção sobre a América do Sul, utilizando-se de um conjunto de 1 ano de imagens do satélite GOES (julho de 1987 a junho de 1988).

2) Imagens Médias da Temperatura de Brilho no canal infravermelho (Tir)

Uma forma de se observar a modulação da convecção pelo ciclo diurno é o de gerar imagens médias. A Figura 1a e Figura 1b apresentam imagens médias sazonais a cada três horas, para o inverno e o verão, de 1987/1988 respectivamente, adaptadas de Guedes e Machado, 1996.

Durante o inverno ( Figura 1a ) há três regiões que apresentam características marcantes de modulação diurna da convecção: a região continental da Colômbia, Venezuela e Guianas, uma segunda na AC (América Central) e finalmente uma terceira região sobre o PEL (Pacífico Equatorial Leste). A convecção a oeste da Colômbia e da AC apresentam um comportamento com o ciclo diurno em oposição de fase entre si. A convecção costeira no nordeste da Venezuela, onde nota-se uma linha de cumulonimbus associada à brisa marítima, inicia-se às 18 UTC, quando a convecção sobre a AC está em seu máximo e a convecção a oeste da Colômbia está em seu mínimo. A partir das 00 UTC há uma tendência de desintensificar os núcleos convectivos costeiros e se intensificar tanto os núcleos orográficos (região central Venezuelana) quanto o núcleo a oeste da Colômbia. A convecção máxima sobre os núcleos orográficos ocorre às 03 UTC e na costa oeste da Colômbia, entre 06 e 09 UTC, quando a convecção sobre a AC atinge seu mínimo. Há um aparente deslocamento da convecção, ou das perturbações geradas por estas, para oeste, que deve influenciar todo o comportamento da convecção. Um movimento sistemático destas perturbações, em fase com as condições locais, poderia explicar esta oposição de fase entre a AC e a região oeste da Colômbia. Assim, estas perturbações são formadas sempre nos mesmos horários e se propagam com uma velocidade aproximadamente constante. Portanto, o horário de cada imagem reflete a posição preferencial dos sistemas em função da velocidade de propagação da perturbação. Certamente o ciclo de vida destas ondas deve ser maior que 24 horas e pode ser semelhante ao das ondas de leste que têm velocidades variando de 10 a 13 m/s (Ferreira et al., 1990). Um outro ponto marcante na análise destas imagens é o ciclo diurno sobre o PEL, em fase com a convecção que se forma sobre a AC. Também nesta região há uma aparente propagação da atividade convectiva para oeste, que pode estar ligada à atividade convectiva que se forma na costa da AC.

Durante o verão ( Figura 1b. ) há também quatro regiões que são fortemente moduladas pelo ciclo diurno, que são: Região Amazônica, Região Sudeste, Região Costeira do Nordeste brasileiro e a Região Andina. Nas regiões Amazônica, Sudeste e Andina o máximo da convecção ocorre entre 21 e 00 UTC e o mínimo às 15 UTC. A convecção sobre a Região Sudeste tem o mesmo padrão diurno que a Amazônica, e é também associada à convecção ligada à ZCAS. Do mesmo modo a convecção Andina está praticamente ligada à convecção Amazônica, porém existe uma faixa de menor nebulosidade média que divide a convecção Amazônica da Andina, semelhante ao encontrado por Horel et al. (1989). Este fato pode ser explicado como sendo uma conseqüência da subsidência associada tanto à própria convecção Andina quanto à Amazônica. Esta convecção provavelmente tem sua formação associada à circulação vale-montanha, tendo grandes proporções devido às grandes dimensões da Cordilheira dos Andes. Na região costeira do Nordeste brasileiro, o máximo da convecção, que aparece também na forma de uma linha de cumulonimbus associada à brisa marítima, ocorre às 21 UTC e seu mínimo às 12 UTC. Um ponto importante é um aparente movimento para sudoeste que pode ser observado, a começar pela imagem das 18 UTC, com o início da atividade convectiva sobre a costa do Pará, Maranhão, Piauí e Oeste do Ceará. Às 21 e às 00 UTC, a atividade convectiva está passando por um máximo, porém continua estacionária, começando a se locomover às 03 UTC, em direção a sudoeste, continuando este movimento até às 09 UTC, quando se localiza sobre as fronteiras do norte do Tocantins, Oeste do Pará e Sul do Maranhão. Este movimento pode estar ligado a um mecanismo de autopropagação de linhas de instabilidade, onde as correntes descendentes, geradas pela precipitação, encontram contraste térmico e umidade apenas diante deste deslocamento e também maior dentro do continente.

3) Análise das Flutuações Diurnas e Interdiurnas da Convecção

A figura 2 apresenta as cartas de amplitude do ciclo diurno ( diferença entre o valor máximo e mínimo do dia), baseadas nas imagens horárias, após a redução da resolução para 2,50x2,50 e posterior cálculo da porcentagem da cobertura de nuvens convectivas (Tir < 218K). Nesta figura, apresenta-se a amplitude do ciclo diurno devida exclusivamente às nuvens convectivas calculada como a amplitude média da variação diurna da porcentagem da área coberta por nuvens convectivas, para as quatro estações do ano.

No inverno, observa-se que somente nas regiões Continental Tropical e no Pacífico Leste existem variações diurnas significativas de até 22% na área coberta por sistemas convectivos. No caso de nuvens altas (Tir<245K, não apresentado), as regiões de máximas amplitudes são semelhantes às convectivas, contudo, as amplitudes alcançam valores de até 58% de variação da área coberta. Observa-se que a variação diurna sobre os oceanos é pequena, exceto na região da ZCIT, próximo a América Central, onde encontra-se amplitudes da ordem de 18% da área. Na região sul do Brasil, encontra-se também uma região com amplitudes da ordem de 8% de área. Observando a figura 1 (imagem média no inverno) constata-se a marcante presença de frentes frias, que descrevem a área de 8% no sul do Brasil, posição na qual as frentes ficaram estacionárias neste período.

Na primavera, verão e outono observa-se a migração do núcleo de máxima amplitude para o interior do Brasil, atingindo o máximo de variação no verão, na região de Mato Grosso e Pará. Esse deslocamento sazonal do centro de máxima amplitude do ciclo diurno representa, de fato, a migração sazonal da convecção no continente sul-americano. Variações interanuais na posição e amplitude do ciclo diurno devem fornecer importantes informações para o estudo de variações climáticas. Ressalta-se a importância da precisa descrição do ciclo diurno em modelos de previsão, tendo em vista as amplitudes mostradas por estas figuras.

Na figura 3 (Inverno, Primavera, Verão e Outono), apresenta-se as fases do ciclo diurno para as nuvens convectivas (horário de maior cobertura), representadas por um relógio de 24 horas, sendo que quando o vetor aponta do centro para norte esta marcando a hora 00 local; quando aponta para leste, 06 local; para sul, 12 local e para oeste, 18 local. A direção do vetor indica o horário de máxima convecção e o módulo indica a amplitude do ciclo diurno.

A figura 3 (Inverno) mostra, na região ao sul da Venezuela, uma propagação da fase para o oeste. No litoral da Venezuela, observa-se que o máximo da convecção ocorre entre 15 e 18 horas local (provavelmente devido a brisa marítima). Já no continente, o máximo ocorre às 18 horas, provavelmente devido à propagação dos sistemas oriundos do litoral e de formações orográficas. Na Colômbia, por volta das 00 horas local, é que se observa o máximo de convecção, atingindo nestes horários o máximo de extensão. Observa-se claramente uma oposição de fase entre esta convecção na Colômbia e no litoral do Pacífico. Na costa da Colômbia, o máximo ocorre às 6 e 7 horas, aparentando uma possível propagação para o mar aberto com uma menor amplitude até às 15 horas. Na América Central, próximo ao Mexico, observa-se no continente o máximo da convecção entre 21 e 00 horas e uma posterior propagação para o mar aberto. Porém, no sul da América Central, o máximo ocorre entre 06 e 12 horas, em fase com a convecção no litoral da Colômbia.

No Verão, as flutuações observadas no oceano e a Noroeste da América do Sul desaparecem e grande parte do Brasil passa a ser fortemente modulado pelo ciclo diurno, mantendo o horário de máxima convecção entre 15 e 18 horas local.

Com relação às flutuações interdiurnas, calculou-se as porcentagens da energia espectral total, para nuvens convectivas, nos intervalos de frequência de 1/1,5 a 1/7 dias-1. As distribuições foram calculadas somente para séries exibindo, no mínimo, um pico significativo a 95%, de modo a destacar os ciclos interdiurnos, aplicando-se às séries um filtro do ciclo diurno.

No Inverno, a variabilidade interdiurna até 7 dias se concentra na costa oeste da América do Sul entre 60[[exclamdown]] W a 110[[exclamdown]] W e 20[[exclamdown]]N a 5[[exclamdown]]N. Há regiões com mais de 50% da variabilidade explicada por estas frequências. Análises espectrais de setores individuais da região mostram que esta energia é concentrada em torno do período de 4 dias, caracterizando a influência das ondas de leste nesta região. No Inverno, existem também no Atlântico Sul regiões com o mesmo período de flutuação, mas com valores menores. Na Região Sul, nota-se um núcleo de 25% devido, principalmente, aos períodos próximos de 7 dias, associados às frentes frias.

No Verão, as regiões oceânicas mostram pouca variabilidade interdiurna. Na costa do Nordeste do Brasil, nota-se um núcleo cujos períodos são de 4 dias, contudo a variabilidade da cobertura de nuvens convectivas nesta região é relativamente baixa. O fator marcante no Verão são os núcleos no oeste da América do Sul. Esses núcleos correspondem às regiões de convecção da Alta da Bolívia e ZCAS. O período predominante na Região Norte é de 3,5-4 dias. Na região ao Sul (próximo de Resistência-Argentina), o período de oscilação não é muito estável de um setor a outro, e a energia espectral é concentrada em períodos de 3-4 dias e 7-10 dias. A oscilação na Região Norte, no Verão, em torno do período de 3,5-4 dias, em fase com o ciclo diurno, extremamente forte nesta região, pode resultar em uma oscilação de 7 dias. O período entre 7-10 dias é típico das penetrações de frentes frias no sul da América do Sul. Esse conjunto de atuações simultâneas de diferentes períodos sugere que a ZCAS seja forçada pelo ciclo diurno, pelas penetrações de frentes frias e pela oscilação de 3,5-4 dias.

Para avaliar como se processam espacialmente e temporalmente essas flutuações, nestas regiões, calculou-se as Funções Ortogonais Empíricas (FOE). Inicialmente, a análise foi aplicada para o Verão na região Amazônica (75[[exclamdown]]W - 55[[exclamdown]]W e 0[[exclamdown]]-17,5[[exclamdown]]S). O resultado mostrou, para a primeira componente (42% da variabilidade), uma oscilação se processando uniformente (com o mesmo sinal de variação) em toda a região. A análise espectral da série temporal desta componente mostrou que a mesma descreve a atuação do ciclo diurno, confirmando assim os resultados anteriores. Para analisar a resposta interdiurna, filtrou-se o ciclo diurno da série e reaplicou-se a FOE. Como resultado obteve-se na primeira componente um padrão "tipo trem de ondas" ( Figura 4 )representando 8,5% da variabilidade interdiurna. A análise da série temporal desta componente (coeficiente de expansão temporal) mostrou que este padrão é associado a uma flutuação de 3-4 dias ( Figura 4 ). Embora os resultados sugiram que essas flutuações são resultado da formação de ondas de Rossby-Gravidade em função da liberação de calor latente (Alta da Bolívia), para haver certificação seria necessária a aplicação de métodos estatísticos mais sofisticados e sobre uma série de dados cobrindo vários anos.

4) Ciclo de Vida e Trajetórias de Sistemas Convectivos

Utilizando-se as rotinas de acompanhamento de sistemas convectivos, desenvolvido no IAE/ACA, nas imagens ISCCP, foram cadastrados 12500 ciclos de vida de sistemas convectivos. Esta análise levou em conta somente os sistemas maiores que 100 km de raio,.e com ciclos de vida maiores que 6 horas (três imagens). Dos 12500 sistemas cadastrados, foram utilizados nas análises do ciclo de vida somente 3550 sistemas. Esta seleção foi realizada utilizando os seguintes critérios: a) não haver falta de imagem durante o ciclo de vida; b) existir a imagem anterior ao aparecimento do sistema, garantindo assim que o sistema foi formado neste horário; c) existir a imagem posterior ao desaparecimento do sistema, garantindo assim que o sistema se dissipou neste horário.

De uma forma geral, as áreas convectivas na região tropical seguem o curso da ZCIT e em latitudes médias no Hemisfério de Inverno do Hemisfério Sul, as trajetórias descrevem principalmente a propagação das frentes frias. A figura 5 , apresenta as médias das trajetórias e da duração do ciclo de vida dos sistemas convectivos. Nesta figura a direção do vetor corresponde à trajetória média dos sistemas em uma grade de 51/4x51/4 e a amplitude descreve o tempo médio de vida do sistema convectivo. Observa-se claramente nesta figura diversos pontos discutidos neste trabalho, como por exemplo: a) A trajetória bem organizada das áreas convectivas, no Inverno do Hemisfério Sul, nas regiões da ZCIT do Pacífico e Atlântico e nas regiões costeiras vizinhas, apresentando praticamente o mesmo tempo de vida (» 15 horas). Na costa do Pacífico, observa-se que os sistemas continentais se deslocam para o Oceano, caracterizando esta região como formadora de sistemas. Outro ponto a se destacar sobre esta região é a perda desta "organização" nas outras estações do ano e a diminuição do tempo de vida dos sistemas nestas áreas. b) A trajetória dos sistemas no Verão na região Amazônica, mostra a propagação de sistemas de Leste para Oeste com tempo de vida de » 10 horas. Observa-se também, uma propagação de sistemas da Região Amazônica para a Região Sul do Brasil, mostrando uma interação com a ZCAS. Além disso, nota-se a presença de convecção associada à Alta da Bolívia. c) No Outono, na região do Nordeste do Brasil, há propagação de sistemas do oceano para o interior do continente com ciclo de vida médio da ordem de » 16 horas. Neste trabalho foram encontradas trajetórias e tempo de vida semelhantes ao observado por Guedes e Dias (1985), que estudaram os Complexos Convectivos de Mesoescala na região Sul da América do Sul. O mesmo pode-se dizer dos resultados obtidos por Velasco e Fritsch (1987) sobre as Américas.

Na figura 6 , mostra-se, para diferentes durações do ciclo de vida, como varia o tamanho do sistema e da maior célula convectiva imersa no sistema convectivo, durante o ciclo de vida do sistema. Com relação ao tamanho dos sistemas e da maior célula convectiva "Cb", observa-se um crescimento (formação ou na maturação) com um posterior decréscimo de tamanho na fase de dissipação. ƒ interessante ressaltar que, de uma forma geral, essas tendências são bem comportadas e independentes do número de horas de vida do sistema e, portanto, podem vir a ser importantes traçadores do estágio de desenvolvimento dos sistemas convectivos e, assim, de fácil modelagem. Um ponto importante a ser observado nesta figura, com relação ao tamanho, é a tendência do tamanho dos "Cbs" de diminuir antes da diminuição do tamanho do sistema. Essa diferença (de 3 a 6 horas - dependente da duração total do ciclo de vida) permite prever a tendência de dissipação (desintensificação) do sistema, enquanto a área deste ainda se encontra aumentando.

De forma a se ter idéia da divergência média das nuvens em altos níveis, durante o ciclo de vida do sistema, calculou-se a variação temporal da expansão da área de cobertura de nuvens. A figura 7 mostra como varia a expansão da área no tempo (divergência em altos níveis). Observa-se nesta figura que a intensidade inicial da taxa de expansão temporal da área pode indicar a duração do ciclo de vida (ou tamanho) do sistema. Nota-se uma progressão de valores 90,0x10-3 /hora (25x10-6 /s) para sistemas com ciclo de vida de poucas horas, até 160,0x10-3 /hora (44,5x10-6 /s) para sistemas com ciclo de vida maior que um dia. Esses valores são resultados de uma expansão de área sobre intervalo de tempo de 3 horas e de pixeis com resolução de 5 km (separação de 30 km) e, portanto, são valores significativos somente nestas escalas. Certamente, se for medida a expansão da área de um Cb isolado, esse valor será bem mais elevado. Outro ponto a se observar nesta figura é que todos os ciclos de vida apresentam um comportamento semelhante e, a grosso modo, pode-se estimar a fase do ciclo de vida com base nesta medida de expansão de área.

5) Conclusões

Neste estudo vários pontos foram analisados com relação às forçantes diurna e interdiurna, a organização da convecção e o ciclo de vida dos sistemas convectivos. Discute-se também, a interação entre as forçantes e a formação de sistemas convectivos, sendo encontradas importantes relações entre as escalas de espaço/tempo que possibilitaram caracterizar as principais forçantes da convecção.

Uma descrição quantitativa da variação diurna e sazonal da nebulosidade na América do Sul é apresentada. No Inverno, a nebulosidade se concentra nos oceanos tropicais e no norte da América do Sul. A ação da forçante diurna se manifesta de diferentes formas: na costa da Venezuela, observa-se a formação de brisas marítimas; na Colômbia, observa-se a formação de nebulosidade orográfica com uma aparente formação de brisa vale-montanha durante a noite; na costa da Colômbia e América Central, nota-se uma oscilação quase estacionária com período de um dia, cobrindo uma extensa área. Esta oscilação foi averiguada na primeira componente das funções ortogonais empíricas. No Verão, nota-se uma grande amplitude do ciclo diurno, concentrado principalmente sobre o continente, apresentando as maiores amplitudes na região Norte e Central do Brasil. Observou-se pouca variação na fase durante esta estação, sendo que o máximo da atividade convectiva é observado entre 15 e 18 horas local. No Outono, destaca-se na costa do Nordeste do Brasil, a formação de linhas de instabilidade, provavelmente formadas pelo efeito de brisa, que se propagam sistematicamente para o interior do continente. Os padrões de amplitude e fase na Primavera e Outono são bastante similares com pequenas exceções. Também observa-se que nas regiões continentais, na grande maioria das vezes, ocorre a gêneses dos sistemas convectivos oceânicos, os quais são fortemente relacionados com o ciclo diurno.

Com relação à variabilidade interdiurna, observa-se que a principal forçante nos oceanos é devida às ondas de 4-5 dias. Os resultados mostram que nas regiões costeiras, nuvens convectivas são principalmente associadas às forçantes diurnas e nuvens altas associam-se às forçantes interdiurnas de 4-5 dias. Uma explicação para este resultado é com relação à escala de tempo da forçante diurna que não permite a formação de grandes aglomerados de nuvens, caracterizados pela predominância na cobertura de nuvens Cirrus e Estratiformes. Os grandes sistemas convectivos de mesoescala necessitam de uma forçante com escala de tempo da ordem destas anomalias interdiurnas.

A forçante na superfície, devido às ondas de leste, é pouco significativa e portanto, a convergência do vento não é forte suficientemente para iniciar a convecção (Cotton e Anthes, 1989). A perturbação (onda de leste) teria a função de organizar a umidade advectada da camada limite, sendo, no entanto, necessária uma forçante como a convecção diurna para realizar este trabalho. Além das ondas de 4-5 dias, encontradas sobre os oceanos, principalmente no Inverno, observa-se sinais da forçante de 10 dias, sugerindo a existência de importantes oscilações deste período na região da ZCIT. Observou-se, no continente, no Verão, importantes oscilações diurnas na região Amazônica, no Sul-Sudoeste do Brasil e na costa do Nordeste. Nesta última, as flutuações da convecção são de período de 4-5 dias, provavelmente associadas às ondas de leste. Na região Amazônica, a análise de componentes principais mostrou uma oscilação de período de 3,5-4 dias. Este padrão de oscilação parece um trem de ondas formado na região de máxima convecção. Na região ao Sul/Sudoeste da América do Sul, (não mostrado), há flutuações de 3-4 dias e 7-10 dias, parecendo ser uma região de interação entre as forçantes tropicais e a penetração de frentes frias.

Com relação aos estudos sobre a organização espacial da convecção, os resultados permitiram caracterizar sazonalmente os principais centros de convecção ativa, as trajetórias, as características estruturais e o ciclo de vida dos sistemas convectivos.

A aplicação do método de acompanhamento de sistemas sobre um ano de dados, permitiu conhecer diversas características dos sistemas convectivos, tais como: 1) O tamanho das células convectivas decrescem, indicando a passagem do sistema ao estágio de dissipação, enquanto o sistema ainda continua a crescer; 2) A taxa de expansão da área do sistema convectivo no período de formação pode indicar o tamanho e o tempo de vida deste. 3) As cartas de trajetórias e duração média do ciclo de vida dos sistema convectivos na América do Sul apresentam uma importante informação para a previsão do tempo e para o conhecimento da dinâmica destes fenômenos.

Referências Bibliográficas

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