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Edição Atual
Volume 23 - Nº03 - Março/2008

SUMÁRIO
Março foi considerado um dos meses mais chuvosos dos últimos anos em grande parte da Região Nordeste do Brasil. Contudo, as chuvas continuaram abaixo da média histórica em algumas áreas no leste da Bahia. Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, as chuvas estiveram associadas principalmente à atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Na Região Norte, as chuvas excederam a climatologia mensal no norte do Amapá e nos setores central e norte do Pará e em Tocantins.

Os campos oceânicos e atmosféricos de escala global destacaram a persistência de condições associadas ao fenômeno La Niña sobre os setores central e oeste do Pacífico Equatorial, onde predominaram anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e alísios mais intensos que a climatologia. O sinal da Oscilação Intrasazonal Madden-Julian (OMJ) favoreceu a ocorrência de chuvas acima da média sobre o Nordeste do Brasil entre o final de março e início de abril.

Considerando as estações fluviométricas monitoradas, as vazões aumentaram principalmente nas bacias do Amazonas, Tocantins e no setor norte das bacias do Paraná e São Francisco e diminuíram no sul das bacias do Paraná e do Atlântico Sudeste,  onde choveu abaixo da média histórica.

A ocorrência de queimadas continuou estável em comparação com fevereiro passado, com o registro de 775 focos detectados pelo satélite NOAA-15.



Em março, persistiram anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) numa grande extensão do Pacífico Equatorial (Figura 1). Ressaltando que, nas regiões dos Niños 3, 3.4 e 4, a magnitude das anomalias diminuiu em comparação com o mês anterior, passando a -0,6ºC, -1,1ºC e -1,3ºC, respectivamente (Figura 2 e
Tabela 1). O Índice de Oscilação Sul (IOS), que passou de 2,7 para 1,1 neste mês, também refletiu a diminuição do resfriamento das águas superficiais na região do Pacífico Equatorial, onde se desenvolve o atual fenômeno La Niña. No Oceano Atlântico, destacou-se a expansão da área de anomalias positivas de TSM, particularmente entre a costa oeste da África e a costa nordeste da América do Sul. Esta configuração também foi consistente com a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) próximo à costa norte do Brasil (ver seção 3.3.2).

O campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL) continua destacando a atividade do fenômeno La Niña na região equatorial do Pacífico Central e Oeste, através das áreas de anomalias negativa sobre a região da Indonésia e positiva sobre áreas oceânicas, entre 130ºE e130ºW (Figura 5). Destacou-se, também, uma grande área de anomalia positiva de ROL, estendendo-se desde o norte da África até a Ásia. Sobre o Atlântico Equatorial, a anomalia negativa de ROL adjacente à costa norte do Brasil foi indicativa da maior atividade convectiva da ZCIT neste mês. As anomalias de ROL, filtradas na faixa compreendida entre 30 e 60 dias continuaram mostrando um intenso sinal da Oscilação Intrasazonal Madden-Julian (OMJ) sobre os oceanos Pacífico e Índico (Figura C no Apêndice). A propagação para leste desta oscilação pode ter favorecido o aumento das chuvas no Nordeste do Brasil (ver seção 2.1.3).

O campo de Pressão ao Nível do Mar (PNM) evidenciou a extensa área de anomalia positiva sobre o Oceano Pacífico, com destaque para a região de atuação da alta subtropical do Pacífico Sul, (Figura 6). Na bacia do Atlântico Sul, a alta subtropical apresentou-se deslocada para sudeste, consistente com o enfraquecimento dos ventos adjacente à costa da Região Nordeste do Brasil (ver seção 3.1).

Os ventos em 850 hPa continuaram anomalamente intensos em torno e a oeste da Linha Internacional de Data (180º) e mais fracos na região do Pacífico Equatorial Leste, adjacente à costa oeste da América do Sul (Figuras 7 e
8). Na região do Atlântico Sul, destacou-se o centro da alta subtropical mais intenso próximo à costa sudeste da África, o que refletiu em ventos de sudeste mais fracos que a climatologia adjacente à costa nordeste da América do Sul.

No campo de vento em 200 hPa, permanece a configuração do par de ciclones anômalos na região central do Pacífico, característico de anos de La Niña (Figuras 9 e 10). Sobre a América do Sul, a Alta da Bolívia apresentou-se bem configurada e próximo à sua posição climatológica (ver seção 4.1).

No campo de altura geopotencial em 500 hPa, notou-se a configuração do número de onda 3 nas latitudes médias do Hemisfério Sul (Figura 12).

Na primeira quinzena de março, a atuação de dois episódios de ZCAS ocasionou chuvas acima da média em várias localidades das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. No final de março, a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre a faixa equatorial do Atlântico e a formação de cavados em médios e altos níveis sobre o Nordeste do Brasil foram importantes mecanismos responsáveis pela ocorrência de elevados totais de precipitação que causaram inundações, deslizamentos e perdas humanas e materiais em vários municípios das Regiões Norte e Nordeste. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

As chuvas foram mais elevadas no centro-norte do Pará e no Tocantins, onde os totais mensais excederam a climatologia. Os principais mecanismos causadores de precipitação foram a Alta da Bolívia, que favoreceu a formação de intensas áreas de instabilidade (ver seção 4.2), a ZCIT e a organização de Linhas de Instabilidade (LI's) ao longo da costa norte, assim como os efeitos termodinâmicos relacionados ao intenso calor e umidade em toda a Região. Destacaram-se os totais registrados em Belém-PA (95 mm, no dia 01; 92,1 mm, no diia 03), em Cruzeiro do Sul-AC (83,7 mm, no dia 09); em Soure-PA (116 mm, no dia 29), e em Altamira-PA (130 mm, no dia 30).

A ocorrência de episódios de ZCAS e a atuação da Alta da Bolívia foram os principais responsáveis pelas chuvas acima da média em grande parte do Mato Grosso e de Goiás e no setor nordeste do Mato Grosso do Sul. Destacaram-se os totais de precipitação registrados nas cidades de Matupá-MT (101,8 mm, no dia 04), Goiânia (89 mm, no dia 07), e nas cidades de Três Lagoas-MS (98,4 mm) e Paranaíba-MS (97,4 mm), ambas registradas no dia 11. Em Diamantino-MT, os 81,6 mm de chuva registrados no dia 14 estiveram associados à atuação do segundo episódio de ZCAS (Fonte: INMET).

Em grande parte da Região Nordeste, principalmente no Maranhão, Piauí, sul do Ceará e oeste da Paraíba, este foi um dos meses mais chuvosos dos últimos 47 anos. Por outro lado, na Bahia, predominaram totais de chuva inferiores a 200 mm. Mesmo assim, na maior parte deste Estado as chuvas ficaram acima da média. A ZCIT e os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foram os principais sistemas responsáveis pela ocorrência de chuvas. Destacaram-se as chuvas diárias registradas em Iguatu-CE (115,2 mm, no dia 12 e 130 mm, no dia 22), Mossoró-RN (95,2mm, no dia 13), Petrolina-PE (105,4 mm, no dia 16) e Chapadinha-MA (123,4 mm, no dia 21). No dia 26, a proximidade da ZCIT e a formação de LI's resultou em elevados totais diários em várias cidades do Ceará (Hidrolândia: 115 mm; Nova Russas: 108 mm; Santa Quitéria: 103 mm, entre outras) e da Paraíba (Areia: 91 mm), segundo dados da FUNCEME e do INMET. Na cidade de Lençóis, localizada no centro da Bahia, registraram-se 134,2 mm de chuva no dia 29. Entre os dias 30 e 31, as fortes chuvas deixaram em estado de atenção localidades do agreste da Paraíba e região metropolitana de Recife, onde, em algumas cidades, os acumulados de precipitação excederam 90 mm, como os 116 mm registrados em Recife-PE, no dia 31.

As chuvas mais intensas estiveram associadas à atuação do sistema frontal que deu origem ao segundo episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1). Em Iguape, litoral sul de São Paulo, o sistema frontal que deu suporte a este episódio de ZCAS favoreceu a ocorrência de uma chuva acumulada igual a 123,2 mm no dia 13. Entre os dias 13 e 14,  destacaram os elevados totais de chuva nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, como os registrados em Guarulhos (84 mm) e no Rio de Janeiro (67,2 mm). Ressalta-se que vários bairros da capital fluminense ficaram sem energia elétrica e houve registro de queda de árvores e deslizamento de terra, situação que resultou em perda humana. As chuvas também foram intensas em cidades do Rio de Janeiro e Minas Gerais entre os dias 15 e 16, com ocorrência de alagamentos e queda de barreiras em várias localidades. No dia 16, destacaram-se os totais registrados em Resende-RJ (68,8 mm), Belo Horizonte-MG (68,8 mm) e Araxá-MG (67,7 mm).

A ocorrência de chuvas abaixo da média na maior parte da Região Sul foi consistente com a atuação de apenas quatro sistema frontais (ver seção 3.1). Contudo, no início de março, destacou-se a configuração de um vórtice ciclônico em médios e altos níveis da atmosfera que causou vento forte, descargas elétricas e granizo especialmente em cidades do litoral de Santa Catarina. No dia 01, registrou-se 93 mm de chuva na cidade de Balneário Camboriú-SC e 91,7 mm em Florianópolis-SC.

Em março, as temperaturas máximas médias mensais variaram entre 22ºC, no sudeste de Santa Catarina, e 36ºC, no centro-norte do Brasil, destacando-se os valores mais elevados no interior da Região Centro-Oeste (Figura 16). De modo geral, os valores médios mensais de temperatura mínima variaram entre 16ºC e 22ºC nas Regiões Sul e Sudeste e entre 20ºC e 24ºC nas demais Regiões do País (Figura 18). A distribuição espacial das anomalias de temperaturas máximas e mínimas foi irregular em praticamente todas as Regiões do Brasil (Figuras 17 e 19). Contudo, destacaram-se as áreas de anomalias negativas sobre a Região Nordeste e em áreas do Sudeste, principalmente no campo de temperatura mínima, decorrentes do aumento de nebulosidade associada aos sistemas meteorológicos que atuaram no decorrer deste mês, a saber: ZCAS, VCAN’s e Alta da Bolívia. No Estado de São Paulo, a temperatura média variou entre 16ºC e 24ºC, com anomalias positivas de até 2ºC no setor leste deste Estado As Figuras 20 e 21).

Em março, quatro sistemas frontais atuaram no País (Figura 22).. Este número ficou abaixo da climatologia para latitudes entre 25oS e 35oS. No início deste mês, destacou-se o sistema de baixa pressão que se configurou sobre o Uruguai e Região Sul do Brasil. Este sistema foi forçado dinamicamente pelo vórtice ciclônico que se configurou na média e alta troposfera (ver seção 4.3).

O primeiro sistema frontal chegou ao sul do Brasil no dia 10. Pelo interior, este sistema atuou apenas na Região Sul e, pelo litoral, deslocou-se até a Região Sudeste, posicionando-se em Campos-RJ no dia 14. Durante sua trajetória, causou chuvas mais significativas entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Este sistema contribuiu para a formação do segundo episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1).

A segunda frente fria atingiu a cidade de Santa Vitória do Palmar-RS no dia 21, às 00:00 TMG. No decorrer deste dia, este segundo sistema deslocou-se para leste e afastou-se do continente, mantendo um ramo estacionário próximo ao sudeste do Rio Grande do Sul.

O terceiro sistema frontal ingressou pelo interior e litoral do Rio Grande do Sul no dia 22. Este sistema favoreceu a ocorrência de chuvas moderadas neste Estado, onde os totais acumulados de precipitação foram iguais a 35 mm em Santa Vitória do Palmar-RS e 41 mm em Bom Jesus-RS, no dia 23. Esta frente apresentou-se mais intensa sobre o oceano e, pelo litoral, atingiu Florianópolis-SC no dia 24.

No dia 26, a quarta frente fria deslocou-se rapidamente entre o litoral norte da Argentina e o sul do Brasil, posicionando-se na cidade de Rio Grande-RS no dia seguinte, às 12:00 TMG. Neste período, destacou-se também a atuação de um cavado em altos níveis, o qual intensificou este quarto sistema sobre o oceano. No dia 28, esta frente posicionou-se sobre o oceano, a leste de Santa Catarina, onde enfraqueceu.

Seis massas de ar frio atuaram no País, durante o mês de março. De modo geral, os anticiclones associados apresentaram intensidade moderada e, ao atingir o sul do Brasil, deslocavam-se para o oceano. Não houve registro de geadas neste mês.

No dia 04, a primeira massa de ar frio atuava sobre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, deslocando-se para o oceano no dia seguinte. Durante a sua trajetória, houve declínio de temperatura mínima de até 2ºC na Região Sul.

A segunda massa de ar frio atuou no oeste Rio Grande do Sul e Santa Catarina no dia 05. O anticiclone associado, cuja pressão em seu centro atingiu 1018 hPa, posicionou-se sobre o oceano no dia seguinte. Esta massa de ar estendeu-se pela faixa litorânea da Região Sudeste, onde permaneceu até o dia 09. Na cidade de Santa Maria-RS, a temperatura mínima declinou 4ºC entre os dias 05 e 06.

A terceira massa de ar frio ingressou pelo Rio Grande do Sul no dia 12. O anticiclone associado estendeu-se por toda a Região Sul e litoral de São Paulo nos dias subseqüentes. Na Região Sul, o declínio de temperatura variou de 2ºC a 3ºC, entre os dias 11 e 12. No dia 15, esta massa de ar frio atuou nas Regiões Centro-Oeste e sul da Região Norte. No dia 15, em Campo Grande e em Cáceres, no Mato Grosso, registraram-se as temperaturas mínimas mais baixas do mês, iguais a 16,9ºC e 18,1ºC, respectivamente. Nas cidades de São Paulo, Franca e Catanduva, no Estado de São Paulo, a temperatura mínima foi igual a 15ºC, no dia 18.

A quarta massa de ar frio ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul no dia 23, onde permaneceu até o dia seguinte. Na cidade de Rio Grande-RS, o dia 24 foi o mais frio, com temperatura mínima igual a 14,4ºC. Em Santa Vitória do Palmar-RS, houve declínio de 3ºC.

No dia 25, a quinta massa de ar frio atuou na retaguarda de um sistema frontal que se deslocou pelo oceano. O anticiclone associado influenciou o litoral das Regiões Sul e Sudeste nos dias 26 e 27. Na Região Sul, a temperatura mínima declinou até 4ºC entre os dias 27 e 28.

A sexta e última massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul no dia 28. O anticiclone associado permaneceu sobre o oceano até o dia 31, atuando desde o litoral da Região Sul até a Região Sudeste. Ressaltou-se a presença de um cavado em 500 hPa, a leste da Região Sul, cujo eixo se estendeu entre o nordeste do Estado de São Paulo e oceano adjacente, favorecendo a intensificação deste anticiclone pós-frontal. Na Região Sul, a temperatura mínima declinou entre 2ºC a 4ºC. Em Iguape-SP, o dia 31 foi o mais frio, com mínima igual 17,6ºC. Em Belo Horizonte-MG, este dia também registrou a temperatura mínima mais baixa, igual a 16,8ºC.

A atividade convectiva foi maior no leste da Região Norte e na Região Nordeste do Brasil, como pode ser observado em praticamente todas as pêntadas de março (Figura 23). Nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste, a atuação de dois episódios de ZCAS pode ser notada na 1ª, 2ª e 3ª pêntadas (ver seção 3.3.1). Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN), que favoreceram o aumento da atividade convectiva sobre a Região Nordeste, estão bem configurados nas pêntadas 1ª a 4ª, com a região de maior subsidência sobre áreas oceânicas adjacentes ao leste do Brasil. Em todas as pêntadas, a banda de nebulosidade associada à ZCIT aparece próxima à costa norte da América do Sul, intensificando a convecção especialmente sobre o norte dos Estados do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí e Ceará, onde choveu acima da média histórica (ver seção 2.1).

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) configurou-se em dois episódios no decorrer do mês de março (Figura 24). O primeiro episódio ocorreu no período de 03 a 08 e o segundo no período de 12 a 17. Ambos atuaram preferencialmente sobre as Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil e em parte da Região Norte do Brasil.

A banda de nebulosidade convectiva associada ao primeiro episódio de ZCAS organizou-se principalmente sobre os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, norte do Mato Grosso do Sul e sul da Região Norte (Figura 24a). Embora tenha sido observada uma região de convergência de umidade em 850 sobre o norte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste hPa (Figura 24b), este episódio foi considerado fraco do ponto de vista conceitual, pois evidenciou um cavado pouco acentuado sobre áreas oceânicas em médio e altos níveis da atmosfera (Figuras24c e
24d). Por esta razão, os totais acumulados de chuva foram inferiores a 100 mm sobre a região afetada (Figura 24b).

O segundo episódio de ZCAS foi mais intenso sobre o centro-sul de Minas Gerais, Rio de Janeiro e nordeste do Estado de São Paulo, onde a convecção foi mais acentuada (Figura 24f). No escoamento em médios e altos níveis, observou-se o cavado com eixo sobre o centro-sul do Brasil e a região de máximo movimento ascendente e divergência horizontal na fronteira entre os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e oceano adjacente (As Figuras 24h e 24i). Nestas áreas, os totais acumulados no período atingiram 200 mm (Figura 24j). Este episódio de ZCAS causou chuvas significativas em algumas localidades da Região Sudeste, parte do Centro-Oeste e no sul da Região Norte do Brasil (ver seção 2.1).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) oscilou em torno da sua posição climatológica adjacente à costa norte do Brasil e ao sul de sua climatologia próximo à costa africana (Figura 25). É importante mencionar que a atividade convectiva da ZCIT foi intensa em praticamente todas as pêntadas, conforme ilustra a Figura 26. A ZCIT também contribuiu para a maior intensidade das Linhas de Instabilidade (LI's) que se formaram na costa norte do Brasil, com ocorrência de chuvas acima da média, especialmente entre o norte do Pará e o norte da região semi-árida do Nordeste do Brasil (ver seção 2.1).

Em março, as Linhas de Instabilidade (LI's) estiveram melhor caracterizadas em 16 episódios ao longo da costa norte da América do Sul, atuando entre o norte das Regiões Norte e Nordeste (Figura 27). De modo geral, as LI's atuaram em conjunto com a ZCIT, com os vórtices ciclônicos e com a Alta da Bolívia, como notado no mês anterior. Destacaram-se os dias 12, 23, 25 e 26, nos quais as LI's foram intensificadas pelo escoamento na média e alta troposfera e proporcionaram elevados totais diários de precipitação no norte do Nordeste, onde os totais mensais de precipitação excederam à média histórica em mais que 200 mm (ver seção 2.1).

O jato subtropical apresentou comportamento similar ao mês anterior, ou seja, sua posição também foi bastante variável sobre a América do Sul neste mês de março, o que refletiu numa magnitude média mensal inferior a 30 m/s (Figura 28a). Na média mensal, o jato subtropical apresentou-se ligeiramente mais intenso que a sua climatologia sobre o norte da Argentina, Paraguai e nos setores central e leste do Brasil. A Figura 28b ilustra a atuação do jato subtropical no dia 15, margeando dois centros de circulação anticiclônica e amplificando o cavado que se configurou sobre a América do Sul e deu suporte dinâmico para a manutenção do segundo episódio de ZCAS. A Figura 28c ilustra a formação de áreas de instabilidade entre o sul da Região Norte e o Sudeste do Brasil neste mesmo dia, quando os totais diários de precipitação excederam 50 mm (ver seção 2.1).

O centro da Alta da Bolívia esteve bem caracterizado em 24 dias de março, atuando preferencialmente sobre a Bolívia, Paraguai e Região Centro-Oeste do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica foi observado em aproximadamente 16ºS/62ºW, próximo à sua posição climatológica (Figura 29a). O escoamento difluente que se configurou entre o centro da Alta da Bolívia e o cavado a leste foi favorável à formação de áreas de instabilidade em grande parte do Brasil, como ilustra a imagem do satélite GOES-10 obtida no dia 15 (Figura 29b).

Em março, os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) atuaram preferencialmente sobre o Oceano Atlântico e faixa leste do Brasil (Figura 30a). De modo geral, estes VCAN’s atuaram em conjunto com o escoamento associado à Alta da Bolívia. Destacou-se o VCAN que se configurou no início de março sobre a Região Sul do Brasil ( Figura 30b). Este VCAN deu origem a um sistema de baixa subtropical que se manteve até o dia 08 e que causou ventos fortes, descargas elétricas e granizo especialmente em cidades do litoral de Santa Catarina (ver seção 2.1.5). A imagem do satélite GOES-10 ilustra o vórtice ciclônico observado no dia 17 (Figura 30c). Os demais episódios estiveram associados à bifurcação do jato subtropical.

Em março, as precipitações foram elevadas na maioria das bacias brasileiras, com aumento das vazões principalmente nas bacias do Amazonas, Tocantins e no setor norte das bacias do Paraná e São Francisco. Por outro lado, houve diminuição das vazões no sul das bacias do Paraná e do Atlântico Sudeste, onde choveu abaixo da média histórica.

A Figura 31 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 32. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Durante o mês de março, as cotas atingiram um valor máximo de 26,38 m, sendo a mínima igual a 25,05 m e a média igual a 25,76 m (Figura 33).

Nas estações monitoradas na bacia do Amazonas, as vazões excederam os correspondentes valores da MLT e, somente na estação Balbina-AM, a vazão diminuiu em comparação com fevereiro passado.

Nas estações Tucuruí-PA, na bacia do Tocantins, e Sobradinho-BA, na bacia do São Francisco, as vazões aumentaram em relação ao mês anterior e ficaram abaixo da MLT. Já na estação Três Marias-MG, no alto São Francisco, a vazão diminuiu, porém ficou acima da MLT.

A maioria das estações localizadas na parte norte da bacia do Paraná apresentou aumento das vazões e desvios positivos se comparados à MLT, com exceção das estações Marimbondo-SP e Água Vermelha-SP, nas quais houve diminuição dos valores de vazão em comparação com fevereiro passado. Na parte sul desta bacia, a ocorrência de chuvas abaixo da média resultou em diminuição das vazões e desvios negativos se comparadas aos correspondentes valores da MLT.

Nas estações monitoradas na bacia do Atlântico Sudeste, as vazões ficaram abaixo da MLT, consistente com as chuvas abaixo da média histórica no Vale do Itajaí (Tabela 4). Somente a estação Registro-SP apresentou aumento da vazão em relação ao mês anterior. Comportamento similar ocorreu na estação Passo Fundo-RS, na bacia do Uruguai, onde também foi registrado aumento da vazão e desvio negativo se comparado à MLT.

Detectaram-se 775 focos de queimadas no País, pelo satélite NOAA-151 no decorrer deste mês de março (Figura34). Este número ficou estável em comparação com o mês anterior e apresentou-se dentro do esperado considerando a ocorrência de chuvas na maior parte das Regiões Norte e Nordeste e em áreas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Considerando o mesmo perído de 2007, o número de focos diminuiu 84% em todo o País, especialmente na Região Sudeste e em parte da Região Centro-Oeste. As reduções mais significativas ocorreram no Mato Grosso (100%, nenhum foco), Goiás (96%, 1 foco), Tocantins (80%, 4 focos), Minas Gerais (63%, 41 focos), Mato Grosso do Sul (60%, 32 focos) e em São Paulo (50%, 69 focos). Houve aumento das queimadas no Amazonas (15 focos). Na América do Sul, houve redução significativa na Venezuela (85%, 160 focos), na Colômbia (97%, 13 focos), no Paraguai (30%, 310 focos). Houve aumento apenas no norte da Argentina (110%, com 481 focos).

1Dados dos satélites NOAA-12 e NOAA-15 reprocessados em janeiro de 2010 e texto atualizado em 02/01/2010. Ver nota explicativa, no 12, no final desta edição.

Em março, foi observado o predomínio de anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) no Oceano Austral, com valores de até -10 hPa ao norte dos mares de Amundsen e Bellingshausen e de até - 4 hPa nos mares de Lazarev e Dumont D`Urville (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, rompendo a tendência de anomalias negativas iniciada em dezembro de 2007 (ver Figura 12, seção 2.1).

No campo mensal de anomalia de vento em 925 hPa, destacou-se a intensa anomalia ciclônica entre o Pacífico Sul e o Oceano Austral (Figura 36). Foram registrados dois episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste de Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando cinco dias. Este escoamento não afetou as temperaturas no sul do Brasil, que ocorreram predominantemente próximas à média (ver seção 2.2).

O campo de anomalia de temperatura do ar em 925 hPa evidenciou valores negativos nos mares de Weddell, Lazarev e Dumont D'Urville e positivos nos mares de Ross, Amundsen, Bellingshausen e na Passagem de Drake (Figura 37). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas até 2ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo-se a tendência do mês anterior.

A anomalia ciclônica em 925 hPa, organizada desde fevereiro passado ao norte dos mares de Ross e Amundsen (ver Figura 36), propiciou advecção de ar mais aquecido do Pacífico Sul em direção ao continente antártico. Esta configuração contribuiu, possivelmente, para a manutenção da fraca retração na extensão do gelo marinho nos mares de Amundsen e Bellingshausen, observada desde janeiro passado (Figura 38). Ressalta-se, nos últimos três meses, a expansão na extensão do gelo marinho nos mares de Weddell e Ross.

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de norte. A magnitude média média mensal do vento foi de 5,9 m/s, valor este igual à média climatológica para este mês. A temperatura média do ar foi igual a 1,2ºC e ficou um pouco acima do valor climatológico (1ºC), mantendo a tendência de temperaturas ligeiramente acima da média mensal desde fevereiro de 2007. Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2008), encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/ prod_antartica/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B] [Figura C]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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