Ministério da Ciência e Tecnologia
Acesse o Portal do Governo Brasileiro
Edição Atual
Volume 29 - Nº12 - Dezembro/2014

SUMÁRIO
A ocorrência de curtos episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a atuação de vórtices ciclônicos na alta troposfera refletiram na ocorrência de anomalias negativas de precipitação em grande parte do Brasil. Somente em algumas áreas do País, em particular no oeste da Região Norte e na Região Sul, as chuvas excederam os valores climatológicos para dezembro.

A análise dos campos globais mostrou a persistência do aquecimento das águas superficiais ao longo do Pacífico Equatorial, com o valor do Índice de Oscilação Sul (IOS) negativo pelo sexto mês consecutivo. Ainda assim, a convecção sobre esta área do Pacífico foi insuficiente para indicar o estabelecimento da condição de El Niño. No Atlântico Tropical, o padrão de dipolo no campo de anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) foi consistente com a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua posição climatológica.

O déficit pluviométrico na maior parte das bacias brasileiras também refletiu nos valores de vazão, que se apresentaram abaixo da MLT em mais da metade das estações fluviométricas monitoradas.

Os 11.000 focos de calor detectados correspondeu a uma diminuição de 40% em relação ao mês anterior. Esta redução já era esperada em função do início climatológico das chuvas em boa parte do território nacional. Apesar do aumento maior que 59% do total anual de 2014 em relação a 2013, houve redução de 9% em dezembro em comparação com o mesmo período de 2013.


As anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) continuaram positivas ao longo do Pacífico Equatorial no decorrer de dezembro de 2014. Porém, em algumas áreas na faixa equatorial deste oceano, a magnitude das anomalias positivas diminuiu em comparação com novembro passado (Figura 1). Essa diminuição das anomalias positivas de TSM foi notada nas regiões dos Niños 1+2 (0,1°C), 3 (0,8°C) e 3.4 (0,8°C), com persistência das mesmas na região Niño 4 (0,9°C). O Índice de Oscilação Sul (IOS) reduziu para -0,6 ( Tabela 1 e Figura 2). Nas camadas subsuperficiais do setor leste do Oceano Pacífico, as anomalias positivas de temperatura ficaram concentradas numa pequena área entre 25 m e 75 m de profundidade (ver Figura E no Apêndice). As máximas anomalias positivas de TSM, observadas em grandes áreas em novembro passado, persistiram próximo à costa oeste da América do Norte, na região equatorial do Pacífico, nos setores noroeste e sudoeste do Atlântico Norte e próximo à costa sudeste da América do Sul, além do Oceano Índico (Figura 1). Na região tropical do Atlântico, houve aumento das anomalias negativas de TSM no setor sul e diminuição das anomalias positivas no setor norte, mantendo-se o gradiente norte-sul. As anomalias positivas de TSM próximo à costa sudeste da América do Sul continuaram a se expandir para leste atingindo a região central do Atlântico Sul (Figura 1).

A intensificação dos sistemas de alta pressão dos oceanos Atlântico Sul e Pacífico Sudeste foi igualmente notada nas anomalias anticiclônicas do vento em 850 hPa nessas regiões (Figuras 5 e
6). Ainda no campo de anomalias de vento em baixos níveis, notou-se o enfraquecimento dos alísios nas regiões equatoriais dos oceanos Atlântico e Pacífico Leste (Figura 6). Sobre a América do Sul, fortes anomalias no vento de nordeste e de norte podem ter contribuído através do fluxo de umidade para as anomalias de precipitação no sul do Brasil.

O campo de anomalias de linhas de corrente em altos níveis (200 hPa), sobreposto ao campo de anomalias de Radiação de Onda Longa (ROL), apresentou uma circulação anticiclônica próxima à costa sul do Brasil e uma circulação ciclônica próxima à costa Nordeste do Brasil (Figura 7). No leste da América do Sul, as anomalias positivas de ROL indicaram a fraca atividade da ZCAS. No Pacífico Equatorial, ainda não há características de anomalias de ROL associadas ao evento El Niño. O sinal da OMJ foi notado sobre o leste tropical da América do Sul entre o início e final de dezembro, com alternância entre anomalias positivas e negativas de ROL (ver Figura D no Apêndice).

O campo de anomalias de altura geopotencial em 500 hPa, no Hemisfério Sul, apresentou o número de onda 4. A configuração de anomalias negativas de geopotencial sobre toda a Antártica indicou a ocorrência da fase positiva do modo anular (Figura 10).

As chuvas ocorreram abaixo da média histórica na maior parte do Brasil, durante dezembro de 2014. Os maiores totais mensais de precipitação, superiores a 400 mm, foram observados entre o Mato Grosso, Goiás e o Mato Grosso do Sul, no oeste do Amazonas e no oeste do Rio Grande do Sul. Em poucas localidades, os acumulados de chuva ficaram quase 200 mm acima da climatologia para dezembro. Por outro lado, destacou-se a escassez de chuva na maior parte do Brasil. As Figuras 11 e
12 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 13. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Choveu abaixo da média histórica na maior parte da Região Norte. Em algumas áreas, o déficit pluviométrico foi maior que 200 mm. Apenas no extremo oeste do Amazonas e do Acre, os totais mensais de precipitação excederam a climatologia mensal em mais que 100 mm. Na cidade de Cruzeiro do Sul, no noroeste do Acre, o acumulado mensal de precipitação atingiu 415,4 mm, i.e, 86,3% (192,4 mm) acima da climatologia para dezembro. Ainda segundo dados do INMET, destacaram-se os acumulados diários de precipitação registrados nas cidades de Marabá-PA (148,2 mm, no dia 07), ItaitubaPA (107 mm, no dia 10) e Cruzeiro do Sul-AC (108,5 mm, no dia 24). Nas duas cidades paraenses acima mencionadas, os acumulados mensais de precipitação ficaram abaixo da média histórica, a saber: Marabá (215,9 mm/266 mm) e Itaituba (257,6 mm/ 271,8 mm).

A formação de episódios de ZCAS, embora de curta duração, contribuiu para as anomalias positivas de precipitação na área que compreende o leste e sudeste do Mato Grosso, oeste de Goiás e norte do Mato Grosso do Sul. Nas demais áreas, predominaram totais mensais de precipitação abaixo da média histórica. Destacaram-se os acumulados diários de precipitação registrados nas cidades de Matupá-MT (110,6 mm, no dia 07), Rio Verde-GO (86,5 mm, no dia 14), Brasília-DF (85,8 mm, no dia 17), Canarana-MT (104,4 mm, no dia 20; e 94,5 mm, no dia 23), Nova Xavantina-MT (120 mm, no dia 21) e Poxoréo-MT (80,4 mm, no dia 23). Na cidade de Canarana, no leste do Mato Grosso, dos 456,5 mm de chuva acumulados em dezembro, 198,9 mm foram registrados nos dias 20 e 23, quando do deslocamento do quinto sistema frontal e da configuração do segundo episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1). Contudo, os maiores totais mensais ocorreram nas cidades de Nova Xavantina-MT (502,2 mm) e Guiratinga-MT (460,4 mm), segundo dados do INMET.

De modo geral, o posicionamento dos vórtices ciclônicos em altos níveis resultou na ocorrência de chuvas abaixo da média histórica na maior parte da Região. Contudo, em meados de dezembro, quando se posicionaram sobre o oceano, contribuíram para a manutenção do primeiro episódio de ZCAS e favoreceram os acumulados de precipitação no centro-sul e oeste da Bahia. Os maiores acumulados diários de precipitação foram registrados em Santa Rita de Cássia-BA (84,5 mm, no dia 14), Floriano-PI (81 mm, no dia 17), Ilhéus-BA (87 mm, no dia 17), Vitória da Conquista-BA (83,6 mm, no dia 18) e Barreiras-BA (89,5 mm, no dia 19), segundo dados do INMET. Considerando os totais mensais de precipitação, destacaram-se os valores registrados na estação automática de Una-BA (382,6 mm) e na estação convencional do aeroporto de ilhéus-BA (367,1 mm), ambas do INMET.

Embora na média mensal a região tenha ficado com anomalias negativas de precipitação, o primeiro episódio de ZCAS resultou em expressivos acumulados de chuvas no centro-norte de Minas Gerais, no Espírito Santo e no norte do Rio de Janeiro. Já o segundo favoreceu os acumulados de chuva no sul de Minas Gerais e em São Paulo. No entanto, somente nos setores sul e sudeste do Estado de São Paulo, os totais mensais de precipitação excederam a climatologia para dezembro. Os maiores totais diários de chuva foram registrados nas cidades de Arinos-MG (91,7 mm, no dia 01) e Teófilo Otoni-MG (82,2 mm, no dia 16). A estação automática do INMET registrou o maior acumulado mensal na cidade de Ourinhos-SP (367,8 mm).

A atividade frontal e a atuação mais ao sul do segundo episódio de ZCAS resultaram em anomalias positivas de precipitação na maior parte da Região Sul. Somente no oeste do Paraná e em algumas áreas no oeste de Santa Catarina e no noroeste do Rio Grande do Sul, choveu abaixo da climatologia mensal. Destacaram-se as chuvas diárias registradas nos dias 21 (Uruguaiana: 132,7 mm; São Luiz Gonzaga-RS: 101,1 mm), 22 (Castro-PR: 112,3 mm) e 27 (Santa Maria-RS (aeroporto): 112 mm; Santa Maria-RS: 101,1 mm; e Uruguaiana: 99,9 mm), que corresponderam a percentuais entre 63% e 95% da climatologia para dezembro. As estações automáticas do INMET também registraram elevados totais diários nos dias 21 (Santana do Livramento-RS: 136 mm; e Guaraí-RS:107,2 mm)e 27 (Santa Maria-RS: 108,2 mm). Em São Luiz Gonzaga, no oeste do Rio Grande do Sul, o acumulado mensal atingiu 367 mm, excedendo em 214,5 mm (140,6%) o valor climatológico para dezembro (Fonte: INMET).

As maiores temperaturas máximas médias mensais, superiores a 34°C, ocorreram no norte das Regiões Norte e Nordeste (Figura 14). Na grande área central e na Região Sul, o aumento da nebulosidade contribuiu para as anomalias negativas de temperatura máxima (Figura 15). Por outro lado, a fraca incursão de sistemas frontais favoreceu as anomalias positivas de temperatura mínima, em particular no sudoeste do Mato Grosso do Sul e no oeste do Paraná (Figuras 16 e 17). No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 18°C e 26°C, com predominância de anomalias positivas, principalmente nos setores norte e nordeste (Figuras 18 e 19).

Em dezembro de 2014, cinco sistemas frontais atuaram em território brasileiro (Figura 20). Este número ficou abaixo da climatologia para latitudes entre 25°S e 35°S. Destes sistemas frontais, o quarto e o quinto contribuíram para a manutenção de dois episódios de ZCAS, mas apenas o segundo e quinto atuaram no interior do continente, avançando até o sul da Região Centro-Oeste.

O primeiro e o segundo sistemas frontais originaram-se do aprofundamento de uma baixa pressão que se configurou a leste do Uruguai. No dia 01, o ramo frio do primeiro sistema atuou apenas no litoral e interior do Rio Grande do Sul, indo posteriormente para o oceano. No decorrer do dia 03, o segundo sistema frontal avançou pela Região Sul. Na madrugada do dia 04, o ramo frio associado posicionou-se em Campo Grande-MS e no litoral de Florianópolis-SC.

No decorrer do dia 10, o terceiro sistema frontal deslocou-se desde Baía Blanca, na Argentina, até o litoral de Rio Grande-RS. Pelo interior, o sistema ficou restrito ao extremo sul do Rio Grande do Sul.

O quarto sistema frontal originou-se de uma baixa pressão que se formou a leste do litoral do Uruguai e Rio Grande do Sul, posicionando-se apenas no litoral de Porto Alegre-RS, no dia 18.

O quinto sistema frontal ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul, proveniente de Baía Blanca, na Argentina, onde se posicionou no dia 20. Pelo litoral, o ramo frio associado deslocou-se até Santos-SP, onde permaneceu semiestacionário entre os dias 23 e 24, contribuindo para a manutenção do segundo episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1). Pelo interior, este sistema frontal avançou até Londrina-PR e Campo Grande-MS, onde se posicionou no dia 23. Os maiores acumulados de chuva foram registrados no sudoeste do Rio Grande do Sul e no litoral sul de São Paulo (ver seção 2.1).

Cinco massas de ar frio ingressaram pelo sul do Brasil em dezembro de 2014. Estas massas atuaram na Região Sul e em parte da faixa leste da Região Sudeste, causando declínio das temperaturas.

A primeira massa de ar frio ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 03. No dia seguinte, o anticiclone associado já influenciava toda a Região Sul e, nos dias subsequentes, avançou sobre todo o centro-sul do Brasil. Na cidade de Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Rio Grande do Sul, a mínima declinou 6,8°C, passando a 11,3°C no dia 04. Na cidade serrana de Bom Jesus-RS, o dia 06 foi o mais frio, com mínima de 8,4°C. Já em São Joaquim, na serra catarinense, o declínio excedeu 9°C, com a temperatura mínima passando de 15,2°C, no dia 03, para 6,2°C e 6°C, nos dias 04 e 05, respectivamente. Em Curitiba-PR, a mínima passou de 19°C para 13,8°C entre os dias 03 e 06. Na capital paulista, a mínima declinou 4,6°C entre os dias 04 e 07, passando a 17,7°C (Fonte: INMET).

A segunda massa de ar frio atuava sobre o centro-sul da Região Sul no dia 11. No dia seguinte, o anticiclone associado já se encontrava sobre o oceano, causando moderado declínio da temperatura em algumas cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em Santa Vitória do Palmar-RS, a mínima passou de 19,7°C para 14,9°C, entre os dias 10 e 12. Nas cidades serranas de Bom Jesus-RS e São Joaquim-SC, as mínimas declinaram para 12,8°C (12) e 11,6°C (13), respectivamente (Fonte: INMET).

No dia 13, a terceira massa de ar frio ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul. No dia 14, o anticiclone associado intensificou sobre o nordeste da Argentina e sul do Uruguai e, no dia seguinte, sua magnitude atingiu 1022 hPa em 40°S/50°W, mantendo as temperaturas baixas na costa leste da Região Sul. Na cidade serrana de São Joaquim-SC, a mínima declinou para 8°C e 9,8°C, nos dias 14 e 15, respectivamente. Nestes mesmos dias, a cidade de Bom Jesus-RS registrava mínimas de 10,6°C e 10,2°C (Fonte: INMET).

A quarta massa de ar frio avançou na retaguarda do quarto sistema frontal que se configurou adjacente ao litoral do Rio Grande do Sul, no dia 18. No dia seguinte, houve leve declínio das temperaturas no leste da Região Sul, com a temperatura mínima passando a 16,8°C em Santa Vitória do Palmar-RS, 18,3°C em Porto Alegre-RS, 14,4°C em Bom Jesus-RS e 10,8°C em São Joaquim-SC (Fonte: INMET).

A quinta e última massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul, no dia 21. Nos dias subsequentes, o anticiclone associado avançou na retaguarda do quinto sistema frontal, causando acentuada queda de temperatura no centro-sul do Brasil. Em Santa Vitória do Palmar-RS, a mínima declinou 8°C, passando a 12,7°C no dia 22. O dia seguinte foi o mais frio na cidade de Porto Alegre-RS, com mínima de 14,1°C. No dia 24, as cidades serranas de Bom Jesus-RS, Lages-SC e São Joaquim-SC registraram 10,4°C, 9,7°C e 6°C, respectivamente (Fonte: INMET).

A atividade convectiva foi maior na grande área central do Brasil, como mostra a maioria das pêntadas de dezembro de 2014 (Figura 21). A exceção foi a 6ª pêntada, quando a atuação de vórtices ciclônicos sobre o nordeste da América do Sul inibiu a atividade convectiva no interior do continente. Nesta pêntada, a atividade convectiva foi maior no oeste do Amazonas e em quase toda a Região Sul (ver seção 2.1). A formação de episódios de ZCAS ficou bem caracterizada na 3ª e 5ª pêntadas, favorecendo os acumulados de precipitação no interior da Região Centro-Oeste (ver seção 2.1.2). Notou-se, também, a presença de vórtices ciclônicos, inclusive aqueles que deram suporte dinâmico aos episódios de ZCAS, em praticamente todas as pêntadas de dezembro (ver seção 4.3). A atividade convectiva foi acentuada na Região Sul, em particular da 3ª à 6ª pêntada. Destacou-se a maior temperatura de brilho na região da ZCIT (indicativa de maior convecção) na 4ª pêntada de dezembro (ver seção 3.3.1).

Em dezembro, houve a formação de dois fracos episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) Figura 22. No período de 14 a 16, a banda de nebulosidade associada ao primeiro episódio de ZCAS organizou-se mais ao norte, influenciando parte das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e estendendo-se para o oceano (Figura 22a). Nestas áreas, também se organizaram a região de máxima convergência de umidade em 850 hPa e a banda de máximo movimento vertical ascendente em 500 hPa (Figuras 22b e 22c). Os vórtices ciclônicos que deram suporte dinâmico à manutenção deste evento de ZCAS ocorreram sobre o oceano, em torno de 30°W (ver seção 4.3). Os maiores acumulados de precipitação, superiores a 100 mm, registraram-se no norte de Minas Gerais e no oeste da Bahia. Já no segundo episódio de ZCAS, no período de 22 a 25, a banda de nebulosidade organizou-se mais ao sul, estendendo-se do sul da Região Norte, Regiões Centro-Oeste e Sudeste e norte da Região Sul até o oceano adjacente (Figura 22e). Sobre o continente, destacou-se a circulação ciclônica que se formou em 850hPa, contribuindo para que os máximos valores de movimento vertical ascendente (500 hPa) e divergência de massa (200 hPa) ocorressem entre o Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná (Figuras 22g a 22i). Nestas áreas, os acumulados de precipitação excederam 100 mm no leste do Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, no norte do Paraná e no sudeste de São Paulo (Figura 22j).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) oscilou entre 5°N e 10°N, preferencialmente ao norte de sua posição climatológica para dezembro (Figura 23). Neste período do ano, a posição da ZCIT costuma ser influenciada pelo escoamento na alta troposfera, em particular na região equatorial do Atlântico Sul, devido à maior formação de vórtices ciclônicos, como pode ser notado na 4ª e 5ª pêntadas (Figura 24). As imagens de temperatura de brilho também mostraram maior definição da banda de nebulosidade convectiva associada à ZCIT da 2ª a 5ª pêntada de dezembro.

As Linhas de Instabilidade (LIs) estiveram caracterizadas em apenas oito dias de dezembro, com atuação preferencial entre as Guianas e o norte do Maranhão (Figura 25). Assim como ocorre com a nebulosidade associada à ZCIT, a formação dos aglomerados de nuvens Cumulonimbus também pode ser influenciada pela atuação de vórtices ciclônicos na alta troposfera, como mostra a imagem de satélite do dia 04 (ver seção 4.2). Neste dia, também foram identificadas nuvens com topos mais frios (temperatura inferior a -70°C).

No decorrer de dezembro de 2014, a atuação preferencial do jato subtropical ocorreu sobre o centro-norte da Argentina e do Chile, Uruguai e extremo sul do Rio Grande do Sul, com magnitude média mensal entre 30 m/s e 40 m/s (Figura 26a). Do ponto de vista climatológico, o jato subtropical apresentou posição e magnitude médias típicas para este período do ano. Durante a primeira quinzena, a bifurcação do escoamento em altos níveis, na região do Pacífico Sudeste, contribuiu para a intensificação do jato subtropical sobre o centro-sul da Argentina e para a formação da crista que inibiu o avanço de sistemas frontais em território brasileiro (ver seção 3.1). A partir do dia 14, o jato subtropical voltou a se posicionar sobre o centro-norte da Argentina e do Chile, Uruguai e sul do Brasil, com magnitude média entre 50 m/s e 60 m/s (Figura 26b). Nos dias subsequentes, a amplificação do cavado associado à maior intensidade do jato subtropical sobre o setor central da América do Sul, também amplificou a crista associada à circulação da Alta da Bolívia, que passou a atuar mais ao norte (ver seção 4.2. No dia 23, o jato subtropical atingiu sua maior magnitude sobre o nordeste da Argentina e na fronteira entre o Uruguai e extremo sul do Brasil (Figura 26c). Neste dia, houve a formação de intensas áreas de instabilidade na Região Sudeste, também associadas à atividade do quinto sistema frontal e ao estabelecimento do segundo episódio de ZCAS (Figura 26d).

O centro da alta troposférica ocorreu preferencialmente sobre a Bolívia e o oeste do Brasil, em praticamente todos os dias de dezembro de 2014 (Tabela 2). Considerando o escoamento médio mensal no nível de 200 hPa, o centro da alta troposférica configurou-se no noroeste da Bolívia, na fronteira com o Peru, posicionando-se a oeste de sua posição climatológica (Figura 27a). A imagem do satélite GOES-13 ilustra a nebulosidade associada à circulação da Alta da Bolívia no dia 19 (Figura 27b). No dia seguinte, foram registrados expressivos acumulados de chuva na região de difluência da alta troposférica, em particular no leste do Mato Grosso (ver seção 2.1.2).

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ocorreram em quatro episódios em dezembro de 2014 (Figura 28a). No primeiro episódio, o centro do VCAN ocorreu sobre o continente, influenciando a organização de linhas de instabilidade ao longo da costa norte da América do Sul (Figura 28b). O terceiro episódio de VCAN foi o mais longo e ocorreu no período de 09 a 31. Inicialmente este VCAN atuou sobre áreas oceânicas adjacentes às Regiões Nordeste e Sudeste, favorecendo o aumento da nebulosidade sobre o continente e dando suporte dinâmico à região de convergência de umidade que se estabeleceu em meados de dezembro (ver seção 3.3.1). Neste período, os maiores acumulados de chuva foram registrados no sudeste da Bahia, onde os totais mensais excederam a média histórica (ver seção 2.1.5). A partir do dia 20, o centro deste VCAN aproximou-se do continente, inibindo a convecção em grande parte do Nordeste e também contribuindo para a organização de uma segunda região de convergência de umidade sobre a Região Sudeste (ver seção 3.3.1). A imagem do satélite GOES-13 ilustra a atuação do terceiro episódio de VCAN no dia 14 (Figura 28c).

Em dezembro, os acumulados de chuva foram mais expressivos e acima da média no oeste da bacia do Amazonas e numa região entre as bacias do Amazonas, Tocantins e Paraná. Nas bacias do Uruguai e do Atlântico Sudeste, os acumulados mensais de precipitação também ocorreram acima da média histórica. Entretanto, em mais da metade das estações fluviométricas monitoradas, as vazões apresentaram-se abaixo da MLT.

A Figura 29 mostra a localização das estações fluviométricas utilizadas nestas análises. As séries históricas de vazões médias mensais, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 30. Destacou-se o aumento das vazões na maioria das estações monitoradas nas bacias brasileiras, em relação a novembro passado. Os valores das vazões médias mensais deste mês e os desvios em relação à MLT das estações monitoradas são apresentados na Tabela 3.

Na estação de Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas utilizando um modelo estatístico, a partir das cotas observadas no Rio Negro. Neste mês, a máxima altura registrada foi de 21,69 m, a mínima foi de 20,65 m e a média de 21,26 m, superior ao mês anterior e à MLT (Figura 31).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais das estações foram superiores às climatológicas, exceto na estação de Coaracy Nunes-AP. De modo geral, os valores das vazões ficaram próximos aos registrados no mesmo período de 2013.

Na bacia do Tocantins, a estação de Tucuruí-PA apresentou vazão média mensal inferior à MLT e superior quando comparada ao mês anterior. Na bacia do São Francisco, os valores das vazões médias mensais nas duas estações monitoradas foram inferiores às climatológicas, entretanto houve aumento das vazões em relação a novembro.

Na bacia do Paraná, os valores das vazões médias mensais ocorreram abaixo da MLT em quase todas as estações monitoradas. Em relação ao mês de novembro, apenas a estação de Salto Santiago-PR apresentou diminuição da vazão, porém ficou próxima da MLT.

No Vale do Itajaí, foram registradas precipitações maiores que a média apenas nas estações de Apiúna-SC, Blumenau-SC e Ibirama-SC (Tabela 4). Além disso, as estações de Blumenau-SC e Passo Real-SC, localizadas na bacia do Atlântico Sudeste, apresentaram valores de vazões médias mensais acima das MLTs. A estação de Registro-SP apresentou vazão média abaixo da MLT, porém maior que o valor registrado em novembro passado.

A estação de Passo Fundo-RS, localizada na bacia do Uruguai, apresentou uma vazão média mensal abaixo da MLT e também diminuiu em relação mês anterior.

Dezembro apresentou cerca de 11.000 focos de calor no Brasil, de acordo com detecções feitas pelo satélite AQUA_M-T (Figura 32). Este número correspondeu a uma diminuição de 40% em relação ao mês anterior. Esta redução já era esperada em função do início climatológico das chuvas em boa parte do território nacional. Apesar do aumento maior que 59% do total anual de 2014 em relação a 2013, houve redução de 9% em dezembro em comparação com o mesmo período de 2013. Entretanto, em função da estiagem e das temperaturas elevadas verificadas nas Regiões Nordeste, Sudeste e Norte, houve aumento em Roraima (300%, com 270 focos); Minas Gerais (55%, com 155 focos) e no Amazonas (20%, com 290 focos). As reduções em relação a 2013 foram observadas no Ceará (33%, com 640 focos); no Piauí (25%, com 350 focos); no Maranhão (13%, com 2.400 focos) e no Pará (13%, com 4.800 focos). Nos demais países da América do Sul, as queimadas aumentaram 200% na Colômbia (750 focos) e na Venezuela (1.500 focos) e 45% na Argentina (980 focos).

Durante o mês de dezembro de 2014, predominaram anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM), com valores de até -6 hPa em praticamente toda a região da Península Antártica (Figura 33a), mantendo-se o mesmo padrão desde outubro de 2014. A temperatura do ar em superfície apresentou-se até 1,5°C abaixo da média na maior parte da Península Antártica, também mantendo a tendência de queda desde outubro de 2014 (Figura 33b).

No campo de anomalia do vento em 925 hPa, destacaram-se os ventos provenientes do mar de Bellingshausen, na costa oeste da Península. Ao norte do mar de Weddell, destacou-se o escoamento de leste responsável pelas temperaturas mais baixas na Península (Figura 34a). No nível de 250 hPa, a maior magnitude da corrente de jato subtropical ocorreu no norte do Chile e Argentina, em torno de 33 m/s (ver seção 4.2). Já sobre a Terra do Fogo, a corrente de jato polar apresentou valores em torno entre 25 m/s e 30 m/s (Figura 34b).

As anomalias de leste e sudoeste notadas no escoamento em 925 hPa, respectivamente nos mares de Weddell e Bellingshausen, contribuíram para o aumento da extensão de gelo nas proximidades da Península Antártica (Figuras 35a e 35b) .

Na estação antártica chilena (Base Frei), aproximadamente 35 km a sudoeste da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz (EACF), a magnitude média mensal do vento foi de 7,3 m/s. A temperatura do ar foi de -0,5°C, ficando 0,8°C abaixo da média para dezembro.

Resumos mensais e anuais da EACF, disponíveis até 2013, bem como a climatologia para o período de 1983 a 2013, encontram-se publicados no endereço http://antartica.cptec.inpe.br/~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica também estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).


[Figura A] [Figura B] [Figura C] [Figura D] [Figura E]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

Edições Anteriores
Tipo:

Mês: Ano:


Visualizar Capa

Expediente

Instituições Colaboradoras

Endereço para Correspondência



Copyright ©INPE/CPTEC
Comentários e/ou sugestões:
webmaster@cptec.inpe.br