MONITORAMENTO NA ANTÁRTICA


A partir deste mês, serão discutidos aspectos relevantes da meteorologia e climatologia na Antártica, utilizando-se os dados obtidos na estação brasileira Comandante Ferraz (62º 05’S, 58º 23’W), assim como em outras estações antárticas, as climatologias, reanálises e coberturas de gelo disponíveis no CPTEC ou encontrados na Internet, em páginas especializadas. Nesta seção, serão apresentadas características e anomalias nas regiões de atuação do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), assim como suas relações com o tempo e clima no continente sul-americano, particularmente no Brasil. Esta iniciativa decorre do envolvimento do CPTEC com a meteorologia Antártica, há quase 20 anos apoiando o PROANTAR.

A área monitorada localiza-se entre as latitudes 55ºS e 75ºS e longitudes 20ºW a 100ºW, compreendendo a Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul; o Estreito de Drake; a Península Antártica; o mar de Weddell (leste da Península); e o mar de Bellingshausen (oeste da Península). Surpreendentemente, os efeitos das condições climáticas nestas latitudes mais altas sobre o tempo e clima do Brasil têm sido negligenciados, apesar de sua forte influência. Esta nova seção do boletim Climanálise tentará suprir essa lacuna.

O mês de dezembro de 2003 foi o mais frio dos últimos 20 anos, de acordo com dados da estação brasileira Comandante Ferraz, com o registro de temperatura 3ºC abaixo da média histórica. Anomalias negativas de temperatura ocorreram em quase toda Península Antártica, na Terra do Fogo e na Patagônia (Figura 34a). A PNM esteve 10 hPa acima da média na Península (Figura 34b). No Estreito de Drake, os ventos à superfície apresentaram notável anomalia, prevalecendo a direção leste, contrária ao fluxo normal que varia de oeste a norte; sua velocidade média foi de 3 m/s abaixo da climatologia. Cabe mencionar que, nesta região, as significativas anomalias negativas de temperatura já começaram a ser notadas em novembro, revertendo a tendência oposta de meses anteriores, indicando, assim, perturbações de larga escala, espacial e temporal.

A corrente de jato em 300 hPa manteve-se na latitude de 42oS, ao norte de sua posição normal (47oS). Seu núcleo concentrou-se na longitude 100ºW, no setor sudoeste do Atlântico, quando o normal seria no sudeste do Pacífico. Esta situação foi favorável à ocorrência de menores temperaturas no sul do País. No Rio Grande do Sul, a temperatura esteve até 2oC abaixo da normal. A precipitação no sul do País foi de até 200 mm acima da média.

Foram cinco episódios de massas de ar frio que se deslocaram do norte da Península Antártica para a América do Sul, conforme perfis de vento até 200 hPa, obtidos das radiossondagens de Port Stanley, nas ilhas Malvinas/Falkland. A cobertura de gelo nos mares de Weddell e Bellingshausen esteve próxima à média.

Os principais dados da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) são mostrados na Tabela 5. Os recordes registrados para dezembro de 2003 foram: menor temperatura média, menor mínima absoluta, menor pressão média à superfície e menor pressão mínima à superfície.

Ressalta-se que o frio excessivo prejudicou trabalhos de campo das equipes e de pesquisadores na 1a fase Operantar XXII.


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