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Edição Atual
Volume 22 - Nº01 - Janeiro/2007

SUMÁRIO
Este mês de janeiro foi classificado entre os cinco mais chuvosos dos últimos 46 anos em grande parte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Nestas áreas, as chuvas foram decorrentes principalmente da configuração de episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Na Região Sul, os maiores totais de chuva ocorreram no norte do Paraná. A Região Nordeste continuou apresentando chuvas escassas, com predominância de valores abaixo da média histórica. No sudeste do Amazonas, Pará, Amapá, Tocantins e nordeste dos Estados do Mato Grosso e Goiás, também choveu abaixo da média histórica.

As condições observadas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e do escoamento próximo à superfície já evidenciam o enfraquecimento do atual episódio El Niño. Sobre o Atlântico Norte, persistem valores de TSM superiores à média, consistente com o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) preferencialmente ao norte de sua climatologia em algumas pêntadas de janeiro.

Os maiores valores de precipitação ocorreram no oeste da bacia do Amazonas, Paraná, Atlântico Leste e sul da bacia do São Francisco. Considerando os dados hidrológicos, houve aumento dos valores de vazão na maioria das estações monitoradas.

No Brasil, o número de queimadas diminuiu 81% em comparação ao mês anterior, sendo detectados cerca de 1.500 focos pelo satélite NOAA-12. Em comparação com janeiro de 2006, o número de focos diminuiu 20%.


A magnitude das anomalias positivas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) diminuiu em toda extensão do Pacífico Equatorial, desde a Linha Internacional de Data até próximo à costa oeste da América do Sul, em comparação ao mês anterior (Figura 1). Nas regiões dos Niños 3, 3.4 e 4, as anomalias de TSM apresentaram-se inferior a 1ºC (Figura 2 e Tabela 1). Esta situação é indicativa do enfraquecimento do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) a partir deste mês. No Oceano Atlântico, os valores de TSM apresentaram-se ligeiramente acima da média adjacente à costa norte do Brasil. A área de anomalias positivas de TSM observadas próximo à costa sul do Brasil, desde o mês anterior, estendeu-se sobre o Atlântico Sul, com anomalias de até 1ºC.

No campo de anomalia da Radiação de Onda Longa (ROL), destacou-se a ocorrência de anomalias negativas em algumas áreas da Indonésia e norte da Austrália, o que também caracteriza o enfraquecimento do atual fenômeno El Niño (Figura 5). Sobre o Oceano Pacífico Oeste, notou-se o deslocamento para leste da atividade convectiva associada à Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS). Ainda na faixa equatorial do Pacífico Oeste e no Índico, a oscilação intrasazonal Madden-Julian vem se apresentando bem configurada desde dezembro de 2006. A propagação desta oscilação pode ter contribuído para a ocorrência dos intensos episódios de chuva no Brasil Central, enquanto que parte da Região Norte e a Região Nordeste experimentavam uma fase mais desfavorável à ocorrência de chuvas (anomalias positivas de ROL). Sobre a Região Nordeste, em particular, verificou-se que a anomalia positiva de ROL foi consistente com a permanência dos centros dos vórtices ciclônicos em alto níveis na maior parte do mês (ver seção 4.2), igualmente consistente com a escassez de chuva (ver seção 2.1.3).

O campo de Pressão ao Nível Médio do Mar (PNM) apresentou uma mudança sobre o Pacífico Sudeste e sul do continente sul-americano, onde as anomalias tornaram-se positivas em comparação ao mês anterior (Figura 6). Esta configuração favoreceu o avanço dos sistemas frontais sobre o Brasil, os quais, embora tenham ocorrido abaixo do número esperado, foram mais regulares e contribuíram para a configuração de episódios mais intensos de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Notou-se o enfraquecimento da alta pressão subtropical semi-estacionária do Atlântico Norte e a maior influência da alta pressão subtropical do Atlântico Sul sobre o território brasileiro. Esta configuração também contribuiu para a estiagem observada sobre o Nordeste, porém intensificou o escoamento que transporta umidade da Amazônia para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, onde choveu acima da média histórica neste mês (ver seção 2.1).

No escoamento em 850 hPa, também notou-se a intensificação da circulação associada à alta pressão subtropical do Pacífico Sudeste, porém os alísios ainda continuam ligeiramente mais fracos em torno de 120ºW (Figuras 7 e 8). Sobre a América do Sul, o escoamento anticiclônico anômalo contribuiu para a maior intensidade dos episódios de ZCAS e, conseqüentemente, para as chuvas acima da média em áreas no Brasil Central, como mencionado anteriormente.

No campo de anomalia de vento em 200 hPa, destacou-se a ausência do par de anticiclones anômalos, observados nos meses anteriores sobre a Linha Internacional de Data (180º). Esta situação esteve consistente com o rápido enfraquecimento do fenômeno ENOS (Figuras 9 e 10). Sobre a América do Sul, evidenciou-se o escoamento ciclônico anômalo sobre o Nordeste do Brasil, denotando a ocorrência de mais vórtices ciclônicos que o normal, e o escoamento anticiclônico anômalo sobre o Sudeste, associado aos episódios de ZCAS.

O campo de altura geopotencial em 500 hPa evidenciou um número de onda 2 no Hemisfério Sul (Figura 12), destacando-se a área de anomalias negativas que se estendeu sobre o sul dos oceanos Atlântico e Índico.

Em janeiro, a atuação de dois episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) provocou chuvas intensas e contínuas em grande parte das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, em particular nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, onde os valores estiveram preferencialmente acima da média histórica. Os vórtices ciclônicos em altos níveis estiveram configurados durante quase todo o mês sobre a Região Nordeste e Oceano Atlântico adjacente, contribuindo para a ocorrência de baixos índices pluviométricos e para o agravamento da situação de estiagem nessa região (ver seção 4.3). As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

A circulação da Alta da Bolívia foi um dos sistemas responsáveis pelo excesso de chuva no oeste da Região Norte (ver seção 4.2). Os maiores totais de precipitação ocorreram no Amazonas, Acre e em Rondônia, onde os desvios ficaram positivos em até 100 mm. Destacaram-se as chuvas registradas em Porto Velho-RO (88,7 mm, no dia 09) e Iauaretê-AM (77,2 mm, no dia 18), segundo dados do INMET. A formação de Linhas de Instabilidade (LI's), embora pouco freqüente, também contribuiu para a ocorrência de chuvas diárias mais significativas, como a registrada em Belém-PA (87,4 mm, no dia 28). No Pará, sudeste do Amazonas, centro-sul de Roraima e no Tocantins, as chuvas ficaram abaixo da média histórica.

As chuvas ocorreram acima da média em grande parte do Mato Grosso do Sul, oeste do Mato Grosso e centro-sul de Goiás. Os totais de precipitação mais significativos ocorreram durante a atuação dos episódios de ZCAS, especialmente na primeira quinzena do mês, quando foi notada intensa formação de cavados e vórtices ciclônicos nos médios e altos níveis. Em alguns dias, o posicionamento da Alta da Bolívia também contribuiu para a formação de áreas de instabilidade no oeste da Região (ver seção 4.2). Em Paranaíba-MS, registrou-se 129,2 mm no dia 02. Entre os dias 14 e 15, choveu forte em Campo Grande-MS, causando a destruição de um trecho de 20 metros do anel viário que liga a BR-163 e BR-262, segundo informações da Defesa Civil. Em Cáceres-MT, registrou-se 86,6 mm de chuva no dia 15. Entre os dias 21 e 22, quando ocorreu o segundo episódio de ZCAS, choveu 142,4 mm em Cuiabá-MT, valor recorde dos últimos 33 anos, sendo a climatologia igual a 209,9 mm. No final do mês, a configuração de mais um episódio de ZCAS favoreceu a formação de intensas áreas de instabilidade no município de Pirenópolis-GO, onde se registrou 68,8 mm de chuva no dia 31 (Fonte: INMET).

De modo geral, os totais mensais de precipitação não excederam 150 mm e os mais baixos valores ocorreram no interior da região semi-árida. A atuação de vórtices ciclônicos em altos níveis proporcionou aumento da subsidência e escassez das chuvas em grande parte da Região Nordeste (ver seção 4.3). Ressalta-se, contudo, o registro de chuvas diárias mais intensas associadas ao posicionamento do centro destes sistemas no interior da Região, citando-se as localidades de Porto de Pedras-AL (106,1 mm, no dia 10) e Imperatriz-MA (81 mm, no dia 12). A partir do dia 26, devido ao posicionamento dos vórtices ciclônicos sobre áreas oceânicas, as chuvas intensificaram no oeste da Região Nordeste. Segundo informações da Defesa Civil, houve cheia do rio São Francisco e várias famílias ficaram desalojadas em nove cidades da Bahia. A cidade de Picos-PI acumulou 58,3 mm de chuva no dia 31 (Fonte: INMET).

As chuvas mais intensas estiveram associadas aos dois episódios de ZCAS que ocorreram durante o mês (ver seção 3.3.1). Os maiores totais acumulados, superiores a 400 mm, ocorreram no Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais e norte do Estado de São Paulo, onde foram observados transtornos em várias localidades. Destacaram-se as chuvas diárias registradas em Votuporanga-SP (162,6 mm, no dia 02), Ribeirão Preto-SP (95 mm, no dia 03) e Cravinhos-SP (120 mm, no dia 14). Esta última ocorrência provocou o transbordamento de duas represas em Ribeirão Preto, assim como do rio que corta a cidade de Guaxupé, sul de Minas Gerais (Fonte: Estação Experimental da Secretaria de Agricultura de Ribeirão Preto e INMET). A cidade de Votuporanga-SP acumulou 662 mm de chuva no mês, mais que o dobro da média registrada nos últimos 17 anos (284 mm), segundo a Casa da Agricultura. Nos dias 21 e 23, choveu 89,8 mm em Resende-RJ e 92,7 mm na cidade de Viçosa-MG, respectivamente, devido à atuação do segundo episódio de ZCAS. No dia 23, houve inundações na zona ribeirinha de Bauru-SP. Um terceiro episódio de ZCAS, que iniciou no final de janeiro de 2007, causou perdas humanas na cidade de Petrópolis-RJ e, segundo a Defesa Civil, vários municípios ficaram em estado de emergência no Estado de São Paulo. Na cidade de Itaperuna-RJ, choveu 94,6 mm no dia 30 (Fonte: INMET). Apesar destes eventos, as chuvas ficaram abaixo da média histórica no norte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e no extremo leste do Estado de São Paulo.

As chuvas foram decorrentes principalmente da formação de áreas de instabilidade associadas à configuração de cavados e vórtices ciclônicos nos médios e altos níveis da atmosfera, em particular sobre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No início de janeiro, destacou-se a configuração de um vórtice ciclônico próximo à costa leste brasileira entre os dias 03 e 07 (ver seção 4.3). Em Blumenau-SC, a chuva forte causou alagamentos de ruas e deslizamentos no dia 03; e, em poucas horas, choveu o valor correspondente à média mensal em Porto Alegre-RS (Fonte: Globo). As chuvas também foram intensas nos municípios de Caxias do Sul-RS (73 mm, no dia 04), Encruzilhada do Sul-RS (103,4 mm, no dia 05) e em Passo Fundo-RS (102,2 mm, no dia 05), segundo dados do INMET. No norte do Paraná, as chuvas ocorreram acima da média histórica devido, principalmente, à atuação dos episódios de ZCAS. A intensificação do escoamento associado ao jato subtropical e ao sistema frontal em superfície também causaram chuva e ventos fortes em Curitiba-PR, onde se registrou 106 mm, no dia 20 (ver seção 4.1). Entre os dias 28 e 29, a atuação do quarto sistema frontal proporcionou chuvas mais significativas sobre o leste da Região Sul (ver seção 3.1) No leste de Santa Catarina e nos setores oeste e sul do Rio Grande do Sul, as chuvas ficaram até 50 mm abaixo da média histórica.

A temperatura máxima esteve mais elevada na Região Nordeste e no norte de Goiás, onde a falta de chuvas contribuiu para a predominância de valores médios mensais entre 34oC e 36oC. Estes valores ficaram até 5ºC acima da média histórica em algumas áreas da Bahia, sertão de Pernambuco e norte de Goiás. No centro-sul do Brasil, a atuação da ZCAS e a passagem dos sistemas frontais favoreceram a ocorrência de temperaturas máximas mais amenas e próximas aos valores climatológicos (Figuras 16 e 17). As temperaturas mínimas variaram entre 14ºC e 22ºC no leste do Brasil, atingindo 24ºC no norte das Regiões Norte e Nordeste (Figura 18). De modo geral, as temperaturas mínimas estiveram acima dos valores climatológicos (Figura 19). A temperatura média variou entre 24ºC e 26ºC no centro-sul da Região Sudeste (Figura 20), onde os desvios foram positivos em até 2ºC, mantendo-se a predominância de temperaturas acima da média histórica, como observado nos dois últimos meses (Figura 21).

Em janeiro, somente quatro frentes frias atuaram no Brasil (Figura 22), sendo a climatologia igual a seis sistemas frontais para latitudes entre 25ºS e 35ºS. De modo geral, a freqüência dos sistemas frontais foi maior em latitudes altas, principalmente sobre o Oceano Atlântico. Ao avançarem pelo Brasil, estes sistemas posicionavam-se sobre o oceano, contribuindo para a caracterização dos episódios de ZCAS observados neste mês. Os dois primeiros sistemas frontais apresentaram características clássicas, associados a ciclones extratropicais também intensos sobre o Oceano Atlântico.

A primeira frente fria chegou ao Brasil na madrugada do dia 06. Este sistema avançou até Iguape-SP, onde permaneceu semi-estacionário reforçando o episódio de ZCAS que atuava desde o final do mês anterior (ver seção 3.3.1). Ressalta-se que esta frente também foi intensificada pelo cavado em 500 hPa e pelo vórtice ciclônico em 200 hPa, cujo centro encontrava-se posicionado adjacente à costa sudeste do Brasil (ver seção 4.3).

No dia 13, a segunda frente fria ingressou pelo sul do País, deslocando-se até Florianópolis-SC na madrugada do dia 15. No decorrer deste dia, a frente fria acoplou-se ao sistema frontal posicionado sobre o oceano mantendo a atividade convectiva associada ao primeiro episódio de ZCAS. Neste período, ocorreram acumulados significativos de chuva em cidades das Regiões Sudeste e Centro-Oeste (ver seção 2.1).

O terceiro sistema frontal atingiu o sul do Brasil no dia 19, às 00:00 TMG. No decorrer deste dia, houve a configuração de um centro de baixa pressão sobre o Paraguai e oeste da Região Sul que intensificou este sistema frontal. Essa situação também foi intensificada por um cavado em médios e altos níveis. As chuvas foram intensas na Região Sul e no sul e oeste do Estado de São Paulo, destacando-se as ocorrências de granizo em Arapongas, chuva e ventos fortes em Aucarana e inundações em Curitiba, todas cidades do Paraná. Este terceiro sistema frontal avançou pelo interior e litoral do País, deslocando-se até a cidade de Cabo Frio-RJ, no dia 22. Esta frente permaneceu estacionária sobre o oceano até o dia 26, caracterizando um novo episódio da ZCAS.

A quarta frente fria iniciou-se a partir de uma ciclogênese que se configurou no dia 27, a leste da Província de Buenos Aires. O ramo frio associado chegou a Santa Vitória do Palmar-RS no dia 28. As chuvas associadas à atuação deste sistema frontal foram mais significativas sobre o leste da Região Sul entre os dias 28 e 29. No decorrer do dia 29, esta frente fria deslocou-se pelo litoral de Santa Catarina. A partir do dia 30, a frente estacionária no litoral catarinense deu origem a uma nova onda frontal subtropical, cujo ramo frio associado conseguiu chegar até o litoral sul do Estado de São Paulo, posicionando-se em Santos-SP no dia 31, às 00:00 TMG. Esse sistema também contribuiu para a formação do episódio de ZCAS que se estendeu até o início do mês subseqüente.

Cinco massas de ar frio atuaram no decorrer de janeiro de 2007 e apresentaram fraca intensidade, como esperado para esta época do ano.

A primeira massa de ar frio ingressou no sul do País, no dia 06. Nos dias 07 e 08, o anticiclone associado estendeu-se pelos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde houve leve declínio de temperatura, deslocando-se para o oceano no dia seguinte.

No dia 14, uma nova massa de ar frio ingressou pelo Rio Grande do Sul, na retaguarda do segundo sistema frontal. O anticiclone associado deslocou-se pelo litoral de Santa Catarina e, posteriormente, para o oceano, onde enfraqueceu. Entre os dias 15 e 16, uma terceira massa de ar frio atuou sobre o Rio Grande do Sul e setores central e litoral de Santa Catarina, estendendo-se pelo litoral dos Estados do Paraná e São Paulo. No dia 17, o centro do anticiclone associado encontrava-se sobre o oceano.

A quarta massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul no dia 20. No período de 21 a 23, esta massa de ar frio afetou, com leve declínio de temperatura, o litoral da Região Sul e dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

A última massa de ar frio atuou apenas no extremo sul do Rio Grande do Sul, entre os dias 28 e 29. No dia 30, o anticiclone encontrava-se sobre o oceano.

Houve considerável atividade convectiva sobre as Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil, em praticamente todas as pêntadas de janeiro (Figura 23). De modo geral, a Região Nordeste apresentou inibição da atividade convectiva, porém as chuvas foram mais freqüentes na 3ª pêntada, quando da atuação do primeiro episódio de ZCAS, e na 6ª pêntada, quando os centros dos vórtices ciclônicos posicionaram-se sobre o Oceano Atlântico (ver seção 4.3). A banda de nebulosidade associada à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) apresentou-se zonal e ao norte do Equador em praticamente todas as pêntadas de janeiro. Na Região Sul, a atividade convectiva foi maior na 1ª, 4ª e 6ª pêntadas, associada principalmente ao escoamento nos médios e altos níveis da atmosfera.

Em janeiro, foram observados dois episódios de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), conforme ilustra a Figura 241. O primeiro apresentou maior duração, atuando desde 27 de dezembro de 2006 até 16 de janeiro de 2007. Ressalta-se que a configuração de um vórtice ciclônico próximo à Região Sudeste contribuiu para a maior intensidade deste episódio no início de janeiro (ver seção 4.3). O segundo configurou-se entre os dias 22 e 27 de janeiro. Um novo episódio de ZCAS iniciou em 30 de janeiro e será analisado no próximo número do Boletim CLIMANÁLISE. As características dinâmicas analisadas em ambos os episódios estão coerentes com o modelo conceitual de ZCAS.

No primeiro episódio, a maior atividade convectiva associada à ZCAS foi notada preferencialmente sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (Figura 24a). O escoamento anticiclônico em 850 hPa e 500 hPa favoreceu o transporte de umidade em direção ao continente e intensificou a convergência de umidade sobre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro e sobre o sul de Minas Gerais, onde as chuvas foram mais intensas (Figura 24b, 24c e 24e). Em altos níveis, tanto a Alta da Bolívia como o centro do vórtice do Nordeste apresentaram-se bem configurados, contribuindo para a intensificação deste primeiro episódio de ZCAS (Figura 24d).

No decorrer do dia 21, o avanço do terceiro sistema frontal até o litoral do Rio de Janeiro caracterizou o segundo episódio de ZCAS. A banda de nebulosidade associada também foi notada sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, porém um pouco mais ao norte se comparada ao primeiro episódio (Figura 24f). Nos níveis de 850 hPa e 500 hPa, pode-se notar a convergência de umidade e a área de maior movimento ascendente sobre o sul dos Estados de Minas Gerais e Goiás, noroeste de São Paulo e nordeste do Mato Grosso do Sul, onde também ocorreram intensos episódios de chuva (ver seção 2.1). No escoamento em 200 hPa, notou-se o vórtice ciclônico posicionado sobre o Nordeste brasileiro e a maior região de divergência sobre Minas Gerais e Goiás, onde, em superfície, ocorreram os maiores totais acumulados de precipitação associados a este segundo episódio de ZCAS (Figura 24j).


1A Figura 24 (sequências b, c e d) foi atualizada em fevereiro de 2011.

Em janeiro, a posição média da banda de nebulosidade associada à Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) foi fortemente afetada pelo posicionamento dos vórtices ciclônicos que atuaram sobre o norte da Região Nordeste e oceano adjacente (ver seção 4.3). Notou-se uma maior interação entre estes dois sistemas na 2ª e 5ª pêntadas do mês. Por esta razão, a ZCIT atuou preferencialmente ao norte de sua posição climatológica (Figura 25). De modo geral, a ZCIT apresentou fraca atividade convectiva, como pode ser notada nas imagens de temperatura de brilho mínima (Figura 26). Esse fato contribuiu para as chuvas abaixo da média sobre o norte do Brasil (ver Figura 14).

As Linhas de Instabilidade (LI's) apresentaram-se bem caracterizadas em apenas nove episódios durante o mês de janeiro (Figura 27). As LI's configuraram-se preferencialmente entre as Guianas e o norte do Maranhão, porém estenderam-se até o norte do Rio Grande do Norte e Ceará nos dias 01 e 03, respectivamente (Figura 26). De modo geral, a configuração das LI's foi inibida pelo posicionamento dos centros dos vórtices ciclônicos sobre a costa norte do Nordeste do Brasil (ver seção 4.3).

Em janeiro, o jato subtropical atuou preferencialmente sobre o nordeste da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, com magnitude média mensal entre 30 m/s e 40 m/s (Figura 28a). Considerando o escoamento climatológico, o jato subtropical esteve mais intenso e deslocado para norte.

No período de 01 a 03, o jato subtropical atuou sobre o centro-sul da América do Sul, atingindo sua maior magnitude mensal sobre o Oceano Atlântico (Figura 28b). Nos dias subseqüentes, o jato subtropical deslocou-se para latitudes em torno de 35ºS, onde se posicionou durante quase todo o mês. A partir do dia 15, a magnitude do jato subtropical atingiu valores entre 50 m/s e 60 m/s sobre o Uruguai e sul do Brasil, onde se manteve bem configurado até o dia 21. Destacaram-se os dias 19 e 20, quando se configurou um sistema de baixa pressão associado ao terceiro sistema frontal à superfície, intensificado, por sua vez, pelo cavado nos níveis médios e pela atuação do jato subtropical, conforme ilustram o escoamento em 200 hPa e a imagem de satélite do GOES-12 (Figuras 28c e 28d). Nestes dias, houve ocorrência de chuva e ventos fortes sobre as Regiões Sul e Sudeste. Em Aucarana, no norte do Paraná, os ventos fortes derrubaram um prédio e as árvores ficaram retorcidas. Na região metropolitana de Curitiba-PR, a chuva forte causou inundação, comprometendo a estrutura de algumas casas (ver seção 2.1).

No dia 31, o jato subtropical voltou a atingir magnitude de até 50 m/s sobre o Uruguai, favorecendo o deslocamento do quarto sistema frontal para latitudes mais ao norte.

O centro da alta troposférica configurou-se em 24 dias do mês de janeiro, posicionando-se preferencialmente sobre a Bolívia (Tabela 2). Na média mensal, o centro da circulação anticiclônica configurou-se sobre o sudeste do Bolívia, em aproximadamente 18ºS/59ºW, próximo à sua posição climatológica (Figura 29a). A Figura 29b mostra a circulação da Alta da Bolívia bem caracterizada na imagem do satélite GOES-12 do dia 08, às 21:00 TMG. Nesta imagem, pode-se notar o aumento da atividade convectiva na sua região de difluência, principalmente sobre as Regiões Norte e Centro-Oeste. Destacou-se a ocorrência de chuva forte na capital de Rondônia, Porto Velho, onde se registrou um total de chuva superior a 80 mm no dia 09 (ver seção 2.1).

A configuração de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ocorreu durante quase todo o mês de janeiro, conforme ilustra a Figura 30a. Destacaram-se o segundo e sexto episódios que se configuraram de 01 a 18 e de 16 a 25 sobre o norte do Nordeste e Oceano Atlântico adjacente. O segundo episódio, em particular, já vinha sendo observado desde o dia 23 de dezembro, tornando-se um cavado no dia 12 e voltando à configuração de VCAN no dia 13. Durante este episódio, houve diminuição da convecção sobre a Nordeste do Brasil (ver seção 2.1).

Na Figura 30b, pode-se observar a atuação do VCAN adjacente à costa da Região Sudeste, representando o episódio que ocorreu no período de 03 a 07. Este VCAN foi responsável pelas chuvas intensas ocorridas nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (ver seção 2.1) e também contribuiu para a intensificação do primeiro episódio de ZCAS. A Figura 30c ilustra a configuração do VCAN no dia 30, quando seu centro se posicionou sobre o Oceano Atlântico e proporcionou aumento de áreas de instabilidade sobre o Maranhão, Piauí e oeste da Bahia (ver seção 2.1).

As precipitações em janeiro apresentaram um comportamento similar àquelas observadas em dezembro passado, com máximos valores no oeste da bacia do Amazonas, Paraná, Atlântico Leste e sul da bacia do São Francisco. As anomalias de precipitação também foram positivas nestas mesmas áreas e em parte das bacias do Uruguai e Atlântico Sudeste. Esta situação resultou em aumento dos valores de vazão na maioria das estações monitoradas, excetuando-se duas estações localizadas nas bacias do Atlântico Sudeste e do Uruguai, onde houve diminuição.

A Figura 31 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na (Figura 32). Os valores médios das vazões nas estações utilizadas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Em janeiro, as cotas do Rio Negro apresentaram uma altura média de 20,47 m, com máxima de 31,40 m e mínima de 19,24 m (Figura 33).

Na bacia do Amazonas, as vazões aumentaram em relação ao mês anterior e estiveram acima da MLT, com exceção da estação Coaracy Nunes-AP que apresentou desvio negativo. Na estação Tucuruí-PA, na bacia do Tocantins, a vazão também excedeu a observada em dezembro passado, porém manteve-se abaixo do valor esperado.

Nas bacias do São Francisco e do Paraná, as vazões vêm aumentando desde dezembro último e, neste mês de janeiro, em particular, apresentaram-se acima da MLT em todas as estações. Ressalta-se que, na maioria das estações localizadas no norte da bacia do Paraná e que abrangem os Estados de Minas Gerais e São Paulo, onde houve excesso de chuva, as vazões excederam em mais que 100% a MLT.

Nos setores norte e central da bacia do Atlântico Sudeste, as vazões aumentaram em comparação com dezembro passado, porém estiveram abaixo da MLT. Nesta bacia, a exceção ocorreu na estação Passo Real-RS, que apresentou uma diminuição da vazão em relação ao mês anterior e esteve abaixo da MLT. No Vale do Itajaí, as chuvas ocorreram abaixo da média histórica em Blumenau-SC e Ituporanga-SC (Tabela 4).

A estação Passo Fundo-RS também apresentou diminuição da vazão, porém o valor observado ficou acima da MLT.

Em janeiro, foram detectados cerca de 1.500 focos de queimadas no País, pelo satélite NOAA-12 (Figura 34). Este valor foi 81% inferior ao observado no mês anterior, porém dentro do esperado, devido à persistência das chuvas em parte das Regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil.

Em comparação a janeiro de 2006, o número de focos diminuiu 20% em função das anomalias positivas de precipitação, em particular no centro-sul do Brasil. Destacou-se a redução das queimadas em 95% no Mato Grosso (22 focos); 95% no Mato Grosso do Sul (3 focos); 85% em Goiás (8 focos); 80% no Paraná (8 focos); 85% em São Paulo (5 focos); 75% em Tocantins (75 focos) e 65% em Minas Gerais (28 focos); No Nordeste, houve redução de 22% na Bahia (241 focos); 5% em Pernambuco (97 focos); 40% no Piauí (60 focos); 7% em Alagoas (41 focos) e 5% na Paraíba (38 focos). Entretanto, houve aumento das queimadas nas Regiões Norte e Nordeste, em função das anomalias negativas de precipitação, a saber: 500% em Roraima (148 focos); 50% no Pará (372 focos); e 230% no Maranhão (232 focos).

Detectaram-se 195 focos de queimadas em algumas Unidades de Conservação, federais e estaduais, em especial nos Estados do Pará e da Bahia, destacando-se a Estação Ecológica Raso da Catarina-BA (23 focos); o Parque Nacional do Jamanxim-PA (10 focos); a Estação Ecológica da Terra do Meio-PA (8 focos); e a Reserva Biológica do Gurupi-PA (8 focos).

Em janeiro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) nos mares de Ross e Amundsen, onde atingiram até -10 hPa, e nos mares de Weddell e Dumont D'Urville. Anomalias positivas de até 2 hPa ocorreram no norte do mar de Bellingshausen e entre os mares de Dumont D'Urville e Ross (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico (ver Figura 12, seção 1).

No campo mensal de anomalia de vento em 925 hPa (Figura 36), foram registrados quatro episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste de Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando seis dias. Essa situação foi consistente com as temperaturas próximas à média no sul do Brasil (ver Figuras 17 e 19, seção 2.2).

A temperatura do ar em 925 hPa esteve acima da média em mais que 3ºC no mar de Ross e em até 1ºC nos mares de Bellingshausen e Weddell (Figura 37). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2ºC acima da climatologia no interior do continente.

Considerando ainda o campo de anomalia do vento em 925 hPa (ver Figura 36), notou-se uma circulação ciclônica anômala ao norte dos mares de Ross e Amundsen. Este escoamento propiciou advecção de ar mais aquecido proveniente do Pacífico Sul em direção à costa do continente antártico, contribuindo, possivelmente, para a retração na extensão do gelo marinho nos mares de Bellingshausen, Amundsen e Ross (Figura 38).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de sudoeste e norte. A velocidade média mensal foi de 4,9 m/s, próxima à média climatológica para este mês (5,1 m/s). A temperatura média do ar (3ºC) ficou acima da média (2,3ºC), mantendo-se a tendência de temperaturas acima da média mensal observadas em 2006, com exceção dos meses de agosto e setembro. Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1985 a 2007), encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/prod_antartica/data/resumos/climatoleacf.xls.

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

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