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Edição Atual
Volume 24 - Nº 01 - Janeiro/2009

SUMÁRIO
As chuvas ocorreram acima da média histórica principalmente no oeste do Amazonas, no Amapá, no centro-sul de São Paulo e no leste da Região Sul, durante janeiro de 2009. Os principais sistemas meteorológicos foram a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a Alta da Bolívia e a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Na maior parte da Região Nordeste, o posicionamento dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ora favoreceu ora inibiu a ocorrência chuvas, o que explica a irregular distribuição espacial das anomalias de precipitação neste mês.

As anomalias negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) evidenciaram a atuação do fenômeno La Niña no setor oeste do Pacífico Equatorial. Do mesmo modo, a Pressão ao Nível do Mar (PNM) permaneceu abaixo da média na região da Indonésia e os ventos alísios continuaram intensos a oeste de 150ºW. Destacou-se o fortalecimento do sistema de alta pressão semi-estacionário do Atlântico Norte, o qual contribuiu para a intensificação dos alísios de nordeste. Esta situação foi favorável à atuação da ZCIT ao sul de sua climatologia durante a segunda quinzena de janeiro.

As chuvas excederam a média histórica principalmente nas bacias do Amazonas e Paraná, onde houve aumento das vazões médias mensais em todas as estações monitoradas.

Os 2.300 focos de queimadas detectados no País estiveram aproximadamente 75% abaixo dos focos detectados em dezembro passado e 85% acima do número de focos detectado no mesmo período de 2008.


Em janeiro, notou-se a intensificação do fenômeno La Niña ao longo dos setores central e oeste do Pacífico Equatorial, onde as anomalias negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) variaram entre -0,5ºC e -1ºC (Figura 1). Nas regiões dos Niños 3.4 e 4, as anomalias médias de TSM foram iguais a -1ºC e -0,7ºC, respectivamente (Tabela 1). Estas anomalias indicaram o restabelecimento das condições associadas ao fenômeno La Niña na região do Pacífico Equatorial. Ressalta-se que este episódio de La Niña configurou-se menos intenso que o observado no mesmo período de 2008. Na região do Atlântico Tropical Norte, houve diminuição das anomalias positivas de TSM em comparação com dezembro passado.

O campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL) continuou indicando uma atividade convectiva acima do normal em áreas próximas à Indonésia, inclusive na região de atuação da Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS), conforme ilustra a Figura 5. Na América do Sul, destacou-se uma área de anomalia negativa de ROL no setor norte e outra área de anomalia positiva no setor central. Ressalta-se que a situação de chuvas acima da média, em particular no norte da Região Norte do Brasil, vem sendo observada pelo quinto mês consecutivo (ver seção 2.1.1). As áreas de anomalias negativas de ROL sobre o Atlântico Equatorial, próximo à África, também refletiram a atuação da ZCIT ao sul de sua posição climatológica na segunda quinzena de janeiro (ver seção 3.3.1).

O campo de Pressão ao Nível do Mar (PNM) destacou a intensificação dos sistemas de alta pressão semipermanentes sobre os oceanos Atlântico e Pacífico (Figura 6). O sistema de alta pressão sobre o Atlântico Norte também contribuiu para o deslocamento da ZCIT para posições ao sul de sua climatologia (ver seção 3.3.1). Por outro lado, a intensificação da alta subtropical do Atlântico Sul, deslocada para sul, associada à predominância de anomalias positivas de PNM sobre a América do Sul foi desfavorável ao deslocamento dos sistemas frontais provenientes de latitudes mais altas. Esta situação também foi observada na segunda quinzena do mês anterior (ver seção 3.1).

No campo de anomalia de vento em 850 hPa, destacaram-se os alísios mais intensos que o normal a oeste de 150ºW, consistente com o retorno do padrão de La Niña (Figuras 7 e
8). Na região do Atlântico Norte, a intensa anomalia anticiclônica esteve associada ao fortalecimento do sistema de alta pressão semipermanente, mencionado anteriormente. Nos setores central e oeste da América do Sul, notou-se a predominância da componente meridional do vento para norte, associada, possivelmente, a fraca atividade do jato em baixos níveis no decorrer deste mês. Esta configuração explicaria a diminuição do transporte de umidade proveniente da Amazônia e a ocorrência de anomalias negativas de precipitação na maior parte da Região Centro-Oeste do Brasil (ver seção 2.1.2).

O campo de anomalia de vento em 200 hPa continuou evidenciando pares anômalos de ciclones e anticiclones na região do Pacífico Oeste, em torno da faixa equatorial. Esta configuração resultou num trem de ondas e no estabelecimento de uma anomalia ciclônica sobre o centro-sul da América do Sul (Figuras 9 e
10).. O escoamento médio em 200 hPa também evidenciou a persistência do cavado com eixo sobre o Nordeste do Brasil e oceano adjacente, assim como a Alta da Bolívia centrada sobre a América do Sul (ver seções 4.2 e 4.3).

No campo de altura geopotencial em 500 hPa, observou-se o número de onda 2 nas latitudes extratropicais do Hemisfério Sul (Figura 12).

Na primeira quinzena de janeiro, destacaram-se o primeiro episódio de ZCAS, que causou chuvas intensas em cidades da Região Sudeste, e os vórtices ciclônicos em altos níveis, que contribuíram para a escassez de chuva e temperaturas máximas mais elevadas em grande parte da Região Nordeste. Durante a segunda quinzena, os vórtices ciclônicos deslocaram-se para o interior da Bahia, favorecendo o aumento das chuvas no norte da Região Nordeste. No período de 20 a 24, a configuração do segundo episódio de ZCAS contribuiu para o aumento das chuvas em várias localidades das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. A atuação do primeiro sistema frontal e a passagem de cavados e vórtices na média troposfera favoreceram as chuvas acima da média histórica principalmente no leste da Região Sul e no sul da Região Sudeste no decorrer deste mês. Estes sistemas organizaram intensas áreas de instabilidade no Paraná e no leste de Santa Catarina, onde os transtornos causados pelas chuvas já vêm ocorrendo desde o final de 2008. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

A atuação da Alta da Bolívia e a ZCIT favoreceram a ocorrência de chuvas acima da média histórica nos setores oeste e norte da Região, respectivamente. Totais mensais de precipitação superiores a 500 mm ocorreram no oeste do Amazonas, no extremo norte do Amapá e no extremo nordeste do Pará. Nestas áreas, os acumulados ficaram até 300 mm superiores aos correspondentes valores climatológicos. Destacaram-se as chuvas registradas nas cidades de São Gabriel do Cachoeira-AM (83,4 mm, no dia 05), São Felix do Xingu-PA (94,2 mm, no dia 08) e em Benjamin Constant-AM (82,4 mm, no dia 14) segundo dados do INMET. Em Taguatinga, no sudeste do Tocantins, registrou-se um acumulado de chuva igual a 83,6 mm no dia 17, porém os totais mensais ficaram abaixo da climatologia na maior parte deste Estado.

A configuração de dois episódios de ZCAS e a Alta da Bolívia, assim como a atuação de sistemas frontais, favoreceram a ocorrência de chuvas acima da média histórica em áreas isoladas no centro-norte de Goiás, no norte do Mato Grosso e no centro e leste do Mato Grosso do Sul. Destacaram-se as chuvas diárias registradas nas cidades de Ponta Porã-MS (73 mm, no dia 03), Ivinhema-MS (77,8 mm, no dia 17) e Aragarças-GO (70,8 mm, no dia 18). Na maior parte do Mato Grosso, sul e leste de Goiás e no norte e noroeste do Mato Grosso do Sul, os totais mensais ocorreram abaixo da média histórica.

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) inibiram as chuvas especialmente durante a primeira quinzena de janeiro. Contudo, em alguns dias da segunda quinzena, o deslocamento deste sistema para sul e a atuação das Linhas de Instabilidade (LI’s) favoreceram a ocorrência de chuvas acima da média em áreas no norte e oeste da Região Nordeste (ver seção 4.3). O primeiro episódio de ZCAS contribuiu para as chuvas acima da média no sul da Bahia. Destacou-se, também, nesta quinzena, a baixa umidade relativa do ar em algumas localidades no interior do Nordeste, com destaque para as localidades de Patos-PB (16%) e Monteiro-PB (19%), valores registrados no dia 14. Durante a segunda quinzena, destacaram-se os 92,7 mm de chuva registrados em Ceará Mirim-RN e os 98 mm em Monteiro-PB , respectivamente nos dias 17 e 22 (Fonte: INMET).

A atuação de dois episódios de ZCAS foi a principal causa das chuvas acima da média histórica no leste de Minas Gerais, no Espírito Santo e no norte do Rio de Janeiro. No centro-sul do Estado de São Paulo, a formação de intensas áreas de instabilidade no final de janeiro esteve associada principalmente ao deslocamento para leste do escoamento difluente da Alta da Bolívia (ver seção 4.2). Destacaram-se os totais diários de precipitação em Linhares-ES (106 mm) e Itaperuna-RJ (91,6mm), ambos registrados no dia 05. Nas cidades de Presidente Prudente-SP, choveu 115,7 mm no dia 18 e, em Janauba-MG, choveu 95,4 mm, no dia 19 (Fonte: INMET).

As chuvas ocorreram acima da média no leste do Rio Grande do Sul e na maior parte de Santa Catarina e do Paraná, amenizando o déficit pluviométrico observado em dezembro passado. No início do mês, um sistema de baixa pressão que se configurou próximo ao litoral da Região Sul favoreceu a ocorrência de chuvas mais acentuadas em Torres, no nordeste do Rio Grande do Sul, onde a chuva acumulada foi igual a 108 mm nos dias 03 e 04. No nordeste de Santa Catarina, as chuvas voltaram a causar transtornos e os totais mensais excederam a climatologia em até 100 mm. Por outro lado, destacaram-se os baixos valores de umidade relativa do ar registrados no dia 07 em algumas cidades do Rio Grande do Sul, a saber: Uruguaiana (15%), São Luiz Gonzaga (19%), São Borja (20%) e Quaraí (21%), segundo dados do INMET. Entre os dias 10 e 11, a atuação do jato subtropical em conjunto com uma baixa que se formou sobre o Uruguai ocasionou chuvas mais intensas em algumas localidades do Rio Grande do Sul, inclusive com ocorrência de rajadas de vento superiores a 70 km/h e até queda de granizo. A partir do dia 28, a passagem de um cavado que se tornou um vórtice ciclônico na média e alta troposfera favoreceu a intensificação do ciclone extratropical próximo ao sul da Região Sul. Houve chuvas mais expressivas em parte de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, com destaque para o total acumulado em Santa Vitória do Palmar (85 mm, nos dias 29 e 30).

Durante o mês de janeiro, as temperaturas máximas foram mais elevadas nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste, com destaque para os valores registrados nas cidades de Pão de Açucar-AL (38,8ºC, no dia 04), Esperantina-PI (39ºC, no dia 06) e Corumbá-MS (40,5ºC, no dia 14). Na Região Sul, onde as temperaturas médias mensais ocorreram predominantemente abaixo da média histórica, os termômetros da cidade de Uruguaiana-RS marcaram 37,6ºC no dia 07 (Figuras 16 e 17). A temperatura mínima média mensal variou entre 14ºC, na serra catarinense, e 24ºC, no norte da Região Norte (Figura 18). De modo geral, as mínimas apresentaram-se acima dos valores climatológicos no centro-norte do Brasil e abaixo da média principalmente na Região Sul (Figura 19). No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 18ºC e 24ºC, com destaque para as anomalias negativas no setor sudeste e na região do Vale do Paraíba, próximo à Serra da Mantiqueira (Figuras20e,
21).

Em janeiro, três sistemas frontais atuaram no Brasil (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para este mês, considerando as latitudes 25oS a 35oS. O sistema frontal que atuou no final do mês anterior sobre o Uruguai atingiu Santa Vitória do Palmar-RS no dia 01, às 12:00 TMG, deslocando-se posteriormente para o oceano.

O primeiro sistema frontal originou-se de um centro de baixa pressão que se formou no litoral do Paraná no dia 03. Durante a sua formação, este sistema favoreceu a ocorrência de chuvas na maior parte da Região Sul (ver seção 2.1.5). O ramo frio associado deslocou-se desde Paranaguá-PR até o Rio de Janeiro-RJ, entre os dia 03 e 04. Pelo interior, este sistema deslocou-se até Campo Grande-MS e Catanduva-SP. A permanência deste sistema próximo ao litoral do Rio de Janeiro e Espírito Santo favoreceu a organização do primeiro episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1).

O segundo sistema frontal ingressou pelo sul do País no dia 18. Este sistema deslocou-se até o litoral de Florianópolis-SC, onde se posicionou no dia 20. Pelo interior, atuou em Passo Fundo-RS e Foz do Iguaçu-PR. Neste mesmo dia, um centro de baixa pressão configurou-se adjacente ao litoral de São Paulo dando origem ao terceiro sistema frontal com características subtropicais. O ramo frio associado deslocou-se desde Santos-SP até Campos-RJ, onde se posicionou no dia 23. Este sistema frontal interagiu com a banda de nebulosidade associada ao segundo episódio de ZCAS.

No dia 29, houve a formação de um ciclone extratropical entre o Uruguai e o sul do Rio Grande do Sul que causou chuva intensa e vento forte, com rajadas superiores a 80 km/h, no litoral sul e sudeste do Rio Grande do Sul. Este ciclone associou-se às áreas de instabilidade que se formaram sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, intensificadas, por sua vez, pela atuação do jato subtropical e de cavados na média troposfera (ver seções 4.1 e 4.3).

Em janeiro, três anticiclones causaram leve declínio das temperaturas no Brasil. Entre os dias 01 e 03, a primeira massa de ar frio atuou no Rio Grande do Sul, estendendo-se, posteriormente, sobre toda a Região Sul. No dia 05, a temperatura mínima foi igual a 7,8ºC em Bom Jesus-RS e 6,7ºC em São Joaquim-SC. O anticiclone associado enfraqueceu, porém continuou afetando o litoral de Santa Catarina e do Paraná nos dias 06 e 07.

No dia 08, uma nova massa de ar frio ingressou no extremo sul do Rio Grande do Sul. No dia seguinte, este sistema deslocou-se para o oceano, porém deixou as temperaturas amenas na faixa litorânea da Região Sudeste entre os dias 10 e 11.

A terceira massa de ar frio iniciou sua trajetória na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai no dia 18. Este anticiclone estendeu-se para a Região Centro-Oeste e sul da Região Norte entre os dias 19 a 21. Os termômetros voltaram a registrar temperaturas mínimas inferiores a 10ºC na serra gaúcha e catarinense, destacando-se novamente Bom Jesus-RS (7,8ºC, no dia 21) e São Joaquim-SC (8ºC, nos dias 21 e 22). No dia 22, o anticiclone continuou influenciando a Região Sul, estendendo-se até São Paulo e sul dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A atividade convectiva foi mais generalizada durante a 1ª, 3ª e 4ª pêntadas de janeiro de 2009 (Figura 23). O segundo episódio de ZCAS ficou bem configurado na 5ª pêntada, afetando principalmente as Regiões Sudeste e Centro-Oeste (ver seção 3.3.1). Em praticamente todas as pêntadas, pode-se notar a atividade dos vórtices ciclônicos em altos níveis, destacando-se, porém, a melhor configuração destes sistemas no período de 06 a 10 de janeiro. A banda de nebulosidade associada à ZCIT foi notada em latitudes mais próximas à costa norte e nordeste do Brasil nas três últimas pêntadas, conforme também indicaram as médias pentadais de mínimos valores de ROL (ver seção 3.3.2).

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) configurou-se em dois episódios no decorrer de janeiro de 2009 (Figura 24). Nestes eventos de ZCAS, as chuvas foram mais acentuadas no centro-norte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Ressalta-se que as características dinâmicas associadas ao modelo conceitual de ZCAS ficaram bem definidas em ambos os episódios.

O primeiro episódio de ZCAS ocorreu no período de 04 a 08 de janeiro e teve origem com a atuação de um sistema frontal no início de janeiro e com o desenvolvimento de um acentuado cavado em níveis médios e altos da atmosfera. A Figura 24a ilustra a banda de nebulosidade associada a este evento, a qual afetou principalmente o norte de Minas Gerais e os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. As Figuras 24c e 24d ilustram o cavado com eixo sobre as Regiões Sul e Sudeste do Brasil, com destaque para a região de maior movimento ascendente sobre o centro-norte da Região Sudeste e oceano adjacente. As chuvas provocadas pela presença deste sistema voltaram a causar a elevação e o transbordamento de alguns rios, assim como alagamentos e deslizamentos de terra em diversas localidades do centro-norte da Região Sudeste e sul da Bahia. Centenas de famílias ficaram desabrigadas. Este episódio de ZCAS enfraqueceu no dia 09, porém uma região de convergência de umidade continuou favorecendo a ocorrência de chuvas menos acentuadas sobre estas áreas

O segundo episódio de ZCAS ocorreu no período de 20 a 24 e afetou grande parte da Região Sudeste e o centro-norte da Região Centro-Oeste, como ilustra a banda de nebulosidade associada mostrada na Figura 24f. Este episódio foi menos intenso, como pode ser notado através do campo de movimento vertical em 500 hPa (Figuras 24h), porém ainda ocasionou acumulados de precipitação superiores a 100 mm em cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, conforme é mostrado na Figura 24j.

No período de 29 a 31, houve intensa convergência de umidade sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, porém sem a caracterização de mais um episódio de ZCAS. Esta convergência foi associada principalmente à passagem de um cavado na média e alta troposfera, inclusive com a formação de vórtices ciclônicos associados à bifurcação do jato subtropical (ver seções 4.1 e 4.3). Ressalta-se também a atuação de um ciclone extratropical próximo ao litoral do Rio Grande do Sul e Uruguai.

Durante o mês de janeiro, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) foi observada entre o Equador e 5ºN. Considerando os mínimos valores de ROL, a ZCIT posicionou-se ao sul de sua climatologia durante a segunda quinzena (Figura 25). As imagens médias de temperatura de brilho mínima também mostram esse deslocamento mais ao sul da ZCIT, especialmente na 4ª e 5ª pêntadas (Figura 26). Embora tenha se posicionado mais ao sul a partir da 4ª pêntada de janeiro, ressaltou-se a atuação conjunta da banda de nebulosidade associada à ZCIT com os vórtices ciclônicos em altos níveis, favorecendo o aumento da convecção no norte da Região Nordeste do Brasil. Na 6ª pêntada, a ZCIT voltou a se posicionar um pouco mais ao norte, forçada pelo deslocamento dos vórtices ciclônicos, conforme ilustrado na seção 4.3.

As Linhas de Instabilidade (LI’s) estiveram caracterizadas em dezesseis episódios, no decorrer de janeiro de 2009, atuando entre as Guianas e o norte da Região Nordeste (Figura 27). Notou-se uma maior frequência das LI's ao longo da costa brasileira durante a segunda quinzena, quando a ZCIT atuou ao sul de sua posição climatológica. Sobre o norte da Região Nordeste, em particular, a formação de LI’s contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média histórica (ver seção 2.1.5).

O jato subtropical apresentou um comportamento variável no decorrer deste mês de janeiro, apresentando magnitude média mensal inferior a 30 m/s (Figura 28a). O jato subtropical apresentou-se mais intenso sobre o norte da Argentina, Paraguai e centro-sul do Brasil. A Figura 28b ilustra o dia no qual o jato subtropical atingiu sua maior magnitude, superior a 40 m/s, sobre o nordeste da Argentina e sul do Brasil. A Figura 28c ilustra a bifurcação do jato subtropical no dia 30, contribuindo para amplificação do cavado e formação do vórtice ciclônico em médios e altos níveis sobre o Uruguai. Este vórtice, por sua vez, intensificou o ciclone extratropical à superfície, conforme ilustra a imagem do satélite GOES-10 obtida neste dia (Figura 28d).

A Alta da Bolívia esteve bem caracterizada em 22 dias de janeiro, atuando preferencialmente sobre a Bolívia, em particular durante a primeira quinzena (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em torno das coordenadas 15ºS/62ºW, ligeiramente ao norte de sua posição climatológica (Figura 29a). O escoamento associado à circulação da Alta da Bolívia favoreceu a ocorrência de chuvas acima da média principalmente no oeste do Amazonas, onde os totais mensais excederam a climatologia em até 200 mm (ver seção 2.1.1). A Figura 29b ilustra a atividade convectiva da alta troposférica no dia 26. Neste dia, pode-se observar a formação de várias regiões de instabilidade associadas ao escoamento difluente da Alta da Bolívia.

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foram notados em nove episódios no decorrer de janeiro de 2009 (Figura 30a). O episódio que se configurou no período de 04 a 12 favoreceu o aumento da convecção especialmente no oeste da Região Nordeste e no leste do Pará. Entre os dias 06 e 07, o posicionamento deste VCAN intensificou a formação de áreas de instabilidade no sul do Maranhão, Piauí, nos setores oeste e sul da Bahia, no nordeste de Minas Gerais e no Espírito Santo, como ilustra a Figura 30b. Destacou-se também o episódio que se configurou no período de 22 a 30, que ora favoreceu ora inibiu a ocorrência de chuva sobre o Nordeste do Brasil. A Figura 30c ilustra o VCAN deslocado um pouco mais ao norte, o que, inclusive, contribuiu para o deslocamento da ZCIT para posições mais ao norte na última pêntada de janeiro. O VCAN que se configurou no dia 30 foi associado à bifurcação do jato subtropical a partir do dia 28. Este VCAN intensificou o ciclone extratropical que atuou próximo à costa sul do Brasil (ver Figura 28d, na seção 4.1).

No mês de janeiro, choveu acima da média histórica principalmente nas bacias do Amazonas e Paraná. Nestas bacias, houve aumento das vazões médias mensais em todas as estações monitoradas. As estações localizadas nas bacias do São Francisco e Tocantins também registraram aumento dos valores de vazão em comparação com dezembro passado.

A Figura 31 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 32. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Neste mês, a
altura máxima registrada foi 24,65 m, a mínima foi 22,43 m e a média igual a 23,53 m (Figura 33).

As estações localizadas na bacia do Amazonas apresentaram vazões médias mensais superiores às registradas em dezembro passado e acima dos correspondentes valores da MLT. Situação similar foi observada nas estações situadas nas bacias do São Francisco e Tocantins, sendo que, na estação Tucuruí-PA, a vazão registrada ficou abaixo da MLT.

Na bacia do Paraná, as vazões também aumentaram em comparação com o mês anterior, porém os valores ficaram abaixo da MLT na maior parte das estações monitoradas.

Na bacia do Atlântico Sudeste, as estações de Registro-SP e Blumenau-SC apresentaram uma vazão superior àquela observada em dezembro passado, porém, apenas na estação Blumenau-SC, a vazão registrada superou o correspondente valor da MLT, consistente com a predominância de chuvas acima da média na região do Vale do Itajaí (Tabela 4). Por outro lado, a estação Passo Fundo-RS, na bacia do Uruguai, apresentou comportamento semelhante ao da estação Passo Real-RS, na bacia do Atlântico Sudeste, ou seja, diminuição da vazão em comparação com o mês anterior e desvio negativo quando comparada à MLT.

Em janeiro, aproximadamente 2.300 focos de queimadas foram detectados no País, pelo satélite NOAA-15 (Figura 34). Este número ficou aproximadamente 75% abaixo dos focos detectados em dezembro passado. Esta tendência de redução ocorreu dentro do esperado em função do período chuvoso no norte da Região Centro-Oeste, nas Regiões Norte e Sudeste e em parte do Nordeste do Brasil. Em comparação com o mesmo período de 2008, o número de focos aumentou 85%, especialmente na Região Nordeste.

Os Estados que apresentaram elevação do número de queimadas foram: Ceará (530 focos), Pernambuco (240 focos), Paraíba (150 focos), Maranhão (140 focos) e Alagoas (110 focos). Houve redução das queimadas na Bahia (50%). Nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo o Paraguai e o norte da Argentina, houve aumento significativo das queimadas em função da estiagem e das anomalias positivas de temperatura do ar.

Em janeiro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) em todo o Oceano Austral, com valores de até -10 hPa nos mares de Bellingshausen e Dumont D'Urville (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia negativa de geopotencial no platô antártico. Estas anomalias vêm se mantendo desde outubro de 2008 (ver Figura 12, seção 1).

O campo de anomalia de vento em 925 hPa evidenciou a anomalia ciclônica entre o sudeste do Pacífico Sul e a região antártica, assim como a anomalia anticiclônica no setor sudoeste do Atlântico Sul (Figura 36). Neste mês, não foram registrados episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar Weddell em direção ao sul do Brasil.

No campo de temperatura do ar em 925 hPa destacou-se a predominância de anomalias negativas em quase todo Oceano Austral (Figura 37), com destaque para as anomalia negativas de até -2ºC nos mares de Amundsen e Dumont D'Urville. Anomalias positivas ocorreram apenas na costa leste da Península Antártica, como resultado dos ventos anômalos de norte e noroeste (verFigura 36). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2ºC acima da climatologia no interior do continente.

A anomalia ciclônica entre os mares de Bellingshausen e Weddell, no nível de 925 hPa, e a circulação anticiclônica no setor sudoeste do Atlântico Sul (ver Figura 36) contribuíram, possivelmente, para a expansão na extensão do gelo marinho no mar de Weddell e para a retração do gelo no mar de Bellingshausen (Figura 38).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de norte. A magnitude média mensal do vento foi de 5,2 m/s, praticamente a média climatológica para este mês (5,1 m/s). A temperatura média do ar, 2,9ºC, ficou acima da normal (2,3ºC), e pela terceira vez na série histórica registrou-se a maior média dos valores de temperatura mínima (1,4ºC), como em janeiro de 1995 e 2002. Neste mês, seis frentes e nove ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica, sendo que a média esperada para este mês costuma ficar em torno de cinco frentes e seis ciclones. Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF, encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/prod_antartica/data/ resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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