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Edição Atual
Volume 25 - Nº02 - Fevereiro/2010

SUMÁRIO
A distribuição espacial das chuvas ficou próxima à observada em janeiro passado, porém com diminuição dos totais mensais principalmente nas Regiões Nordeste, Sudeste e em parte da Região Sul do Brasil. Os vórtices ciclônicos em altos níveis continuaram inibindo as chuvas sobre a Região Nordeste e parte do Sudeste e apenas um sistema frontal conseguiu avançar pelo litoral e interior do Brasil no final de fevereiro. As chuvas acima da média em parte das Regiões Centro-Oeste e Sul estiveram associadas principalmente ao jato em baixos níveis, cujo escoamento ficou mais intenso que o normal, trazendo umidade da região tropical em direção ao centro-sul do País.

O fenômeno El Niño continua em sua fase ativa, com predominância de águas superficiais mais quentes que o normal na região do Pacífico Equatorial. Os valores da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) também ficaram acima da média na região do Atlântico Norte e Sul. Este padrão de anomalias de TSM do Atlântico continuou favorecendo o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua climatologia.

A diminuição das chuvas em comparação com janeiro passado resultou em diminuição das vazões nas bacias do Paraná, São Francisco, Atlântico Sudeste e Uruguai. Considerando a MLT, as vazões ocorreram abaixo do esperado principalmente na bacia do São Francisco e no norte da bacia do Paraná.

No Brasil, foram detectados apenas 990 focos de queimadas. Este valor ficou 30% abaixo dos focos detectados em janeiro passado, porém aumentou 85% em comparação com o mesmo período de 2009.


O fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) continuou em sua fase mais ativa no Oceano Pacífico Equatorial durante fevereiro de 2010. Os valores da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) ficaram até 2ºC acima da média no Pacífico Central e Leste (Figura 1). Considerando as regiões dos Niños 3.4 e 4, as anomalias médias de TSM continuaram maiores que 1C, consistente com a persistência do episódio quente do ENOS (Figura 2 e Tabela 1). Anomalias negativas de TSM foram observadas no Pacífico Tropical Leste, entre o Equador e 30ºS. A termoclina continuou profunda e, embora a TSM tenha ficado próxima à média na região do Niño 1+2, a temperatura do mar na camada subsuperficial ficou até 3ºC acima da média neste mês. Anomalias positivas de TSM também foram observadas no Oceano Índico (Figura 1). O Atlântico permaneceu aquecido, com anomalias positivas de TSM em ambos os hemisférios, destacando-se as anomalias de até 2ºC próximo à costa noroeste da África, em torno de 20ºN, e próximo ao sul do Brasil, em torno de 30S. No Atlântico Tropical, o gradiente meridional da TSM continuou favorável à atuação preferencial da ZCIT ao norte de sua posição climatológica (ver seção 3.3.1).

O padrão de anomalias de Radiação de Onda Longa (ROL) ressaltou a diminuição da convecção no Pacífico Oeste (anomalias positivas) e o aumento no Pacífico Central e Leste (anomalias negativas), consistente com o atual episódio El Niño (Figura 5). Sobre a região central e leste da América do Sul, a extensa área de anomalias positivas de ROL ressaltou a ausência de episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), situação semelhante à observada em janeiro passado. Notou-se, também, a área de anomalias negativas sobre o sul do Brasil, Uruguai e nordeste da Argentina. Já sobre o Atlântico Equatorial, a extensa área de anomalias positivas de ROL refletiu o posicionamento da ZCIT ao norte de sua climatologia.

O campo de anomalia de Pressão ao Nível Médio do Mar (PNM) destacou as anomalias positivas mais acentuadas em toda extensão da Indonésia e continente australiano, consistente com a atual fase do ENOS (Figura 6). Ainda no Hemisfério Sul, destacou-se a anomalia positiva de PNM na região de atuação do sistema de alta pressão semipermanente do Atlântico Sul. Sobre o Atlântico Norte, persistiu a grande área de baixa pressão anômala, que se estendeu pelos continentes africano, europeu e asiático. Este padrão de anomalia também favoreceu o enfraquecimento do sistema de alta subtropical do Atlântico Norte, por sua vez associado ao deslocamento para norte da ZCIT.

O escoamento em baixos níveis (850 hPa) apresentou anomalias de oeste no Pacífico Equatorial, entre aproximadamente 150ºW e 90ºW, indicando o enfraquecimento dos alísios (Figuras 7 e 8). Por outro lado, na região do Pacífico Equatorial, em torno da Linha de Data (180º), destacou-se a intensa anomalia ciclônica que refletiu no aumento da convecção associada ao episódio El Niño. Sobre a América do Sul, notou-se a anomalia anticiclônica que resultou no escoamento de norte mais intenso que o normal no interior do continente, sendo consistente com a maior intensidade do jato em baixos níveis. Este padrão contribuiu para aumentar o transporte de umidade da Amazônia em direção ao setor sul da América do Sul e, consequentemente, a convecção nessa região, conforme descrito na seção 2.1.

Em altos níveis (200 hPa), destacou-se o trem de ondas do tipo PSA (Pacific South America), afetando a circulação sobre a América do Sul, onde predominou uma anomalia anticiclônica (Figura 9). Destacou-se, também, a atuação mais intensa do jato subtropical sobre o sul da América do Sul, especialmente em torno de 35ºS.

A altura geopotencial em 500 hPa, no Hemisfério Norte, evidenciou anomalia positiva na região polar e anomalia negativa em latitudes subtropicais, indicando o padrão anular da Oscilação Ártica e a Oscilação do Atlântico Norte, a qual é consistente com invernos mais rigorosos na Europa (Figura 11). No Hemisfério Sul, a altura geopotencial em 500 hPa mostrou número de onda 2, com destaque para as anomalias positivas sobre a Antártica e negativas em praticamente toda a extensão do Atlântico Sul (Figura 12). Esta configuração também apresenta características da fase negativa da Oscilação Antártica.

Na primeira quinzena de fevereiro, a posição dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) contribuiu para as chuvas abaixo da média histórica principalmente nos setores centro-leste e nordeste do Brasil. Por outro lado, neste período, a ausência de sistemas frontais e o escoamento anticiclônico anômalo sobre o Atlântico favoreceram o aumento da convergência de umidade no oeste do Brasil, o que, associado às temperaturas elevadas, resultou em áreas de instabilidade mais intensas, nas Regiões Centro-Oeste e Sul. Esta situação também persistiu no decorrer da segunda quinzena de fevereiro, inclusive com formação de regiões de convergência de umidade no setor central do Brasil, sem, contudo, caracterizar episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), semelhante ao que foi observado no mês anterior. Dos dois sistemas frontais que atuaram no Brasil, apenas um deslocou-se pelo litoral das Regiões Sul e Sudeste, causando declínio acentuado das temperaturas.As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Choveu abaixo da média histórica em grande parte da Região. Contudo, os totais mensais foram maiores que 400 mm no sudoeste do Amazonas, sul de Rondônia e no norte do Amapá, onde também excederam a climatologia mensal. De modo geral, as chuvas estiveram associadas à configuração da Alta da Bolívia, aos efeitos termodinâmicos locais e à formação de Linhas de Instabilidade (LIs) ao longo da costa, cuja frequência foi maior que a observada em janeiro passado (ver seção 3.3.3). Destacaram-se as chuvas mais acentuadas registradas em Araguaiana-TO (83,2 mm, no dia 08), Manaus-AM (124,8 mm, no dia 10), Itaituba-PA (106,5 mm, no dia 12), Iauaretê-AM ( 94,7 mm, no dia 18) e Marabá-PA (87,1 mm, no dia 28), segundo dados do INMET.

As chuvas estiveram associadas à formação de áreas de instabilidade decorrentes da circulação da Alta da Bolívia e aos efeitos termodinâmicos locais no centro-sul do Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, onde os totais mensais excederam a média histórica. Em alguns dias, a atuação dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foi desfavorável à ocorrência de chuvas em Goiás, onde os totais mensais ocorreram predominantemente abaixo da média histórica. Destacaram as chuvas registradas nas cidades de Diamantino-MT (103 mm, no dia 11); Cuiabá-MT (92,9 mm, no dia 13); Matupá-MT (85,6 mm) e Diamantino-MT (84,9 mm), ambas registradas no dia 15; Gleba Celeste-MT (99,4 mm, no dia 20); São Vicente-MT (102,1 mm, no dia 22); e em Cuiabá-MT (102,6 mm), no dia 27 (Fonte: INMET). Na cidade de Gleba Celeste-MT, o total mensal de chuva atingiu 237,3 mm, enquanto a climatologia para este mês é igual a 364,3 mm.

A atuação de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foi desfavorável à ocorrência de chuvas na maior parte da Região. Além disso, o posicionamento preferencial da ZCIT ao norte de sua climatologia contribuiu para a maior escassez de chuva desde o nordeste do Maranhão até o Rio Grande do Norte, onde as anomalias negativas variaram entre 100 mm e 200 mm. Em São Luis, capital do Maranhão, o total mensal de chuva atingiu 121,4 mm, sendo o valor climatológico igual a 373 mm, segundo dados do INMET. Nesta localidade, a formação de uma LI pode ter contribuído para o maior total diário de chuva registrado no mês (71 mm, no dia 12). Já a cidade de Imperatriz, no sudoeste do Maranhão, apresentou um acumulado mensal de chuva igual a 189,7 e que ficou próximo ao climatológico, que é de 209,3 mm. No interior da Região, observaram-se baixos valores de umidade relativa do ar em razão da escassez de chuva, com destaque para o valor registrado em Bom Jesus da Lapa-BA (24%, no dia 24).

A ausência de episódios de ZCAS e a atuação de VCANs resultaram na diminuição das chuvas durante o mês de fevereiro, especialmente no centro-norte de Minas Gerais e no Espírito Santo (ver seções 3.3.1 e 4.3). Na segunda quinzena de fevereiro, houve a formação de uma região de convergência de umidade que resultou em acumulados de chuva superiores a 50 mm em áreas no leste dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Destacaram-se os totais diários de chuva registrados em São Paulo-SP nos dias 04 (90 mm), 18 (61 mm) e 25 (32 mm). Nesta capital, o valor acumulado mensal foi igual a 295,8 mm e a climatologia para este mês é igual a 221,5 mm. Na cidade do Rio de Janeiro, registrou-se 49 mm de chuva no dia 26. Destacaram-se, também, os totais diários registrados em Avaré-SP (76,6 mm, no dia 18) e Aracuai-MG (86,2 mm, no dia 27), segundo dados do INMET.

A atividade da corrente de jato em baixos níveis continuou intensa, especialmente durante a primeira quinzena de fevereiro. Contudo, a atuação conjunta com as frentes e o jato em altos níveis foi maior durante a segunda quinzena de fevereiro, quando se registraram elevados totais de chuva na Região Sul. Durante a formação do primeiro sistema frontal, destacaram-se os totais diários registrados em Rio Grande-RS (146,6 mm) e em Lagoa Vermelha-RS (84,8 mm), no dia 16. Em Paranaguá-PR, o total mensal de precipitação atingiu 402,2 mm, ou seja, 134 mm acima da climatologia para este mês, destacando-se os 104,6 mm de chuva registrados no dia 18 e os 109,6 mm ocorridos durante a passagem do quarto sistema frontal, entre os dias 24 e 25. Destacaram-se, também, as chuvas registradas em Castro-PR (62 mm), Curitiba-PR (47 mm) e Maringá-PR (50 mm), no dia 25. De modo geral, choveu acima da média na maior parte da Região Sul, com exceção de áreas isoladas no nordeste de Santa Catarina e no oeste e norte do Paraná, onde os totais mensais ocorreram abaixo da climatologia.

Fevereiro foi um mês com temperaturas elevadas e tanto as máximas como as mínimas ficaram acima da média histórica na maior parte do Brasil, principalmente durante a primeira quinzena (Figuras 17 e 19). No centro-norte de Minas Gerais e no nordeste dos Estados de São Paulo e Goiás, as temperaturas máximas excederam a climatologia em mais que 4ºC. No leste da Região Sul, as anomalias positivas de temperatura máxima variaram entre 1ºC e 3ºC, como ocorreu em Florianópolis-SC, onde a temperatura máxima média foi igual a 30,6ºC, ficando 2,2ºC acima da média histórica. Ressalta-se que o maior valor registrado nesta localidade foi igual a 34,7ºC, no dia 07. Neste mesmo dia, a máxima registrada em Porto Alegre foi igual a 38,8ºC, sendo a média mensal igual a 32ºC e a correspondente climatologia mensal igual a 30,1ºC. Na cidade do Rio de Janeiro, a temperatura máxima média mensal foi igual a 36,5ºC, sendo que o maior valor diário foi registrado no dia 16, igual a 41,8ºC (Fonte: INMET). Durante a segunda quinzena de fevereiro, a incursão de duas massas de ar frio amenizou tanto a temperatura máxima como a mínima. De modo geral, as maiores anomalias positivas de temperatura mínima ocorreram no norte do Paraná e no sudoeste do Mato Grosso do Sul, com destaque para os 25,7ºC registrados em Florianópolis no dia 05, sendo a climatologia mensal igual a 21,8ºC. No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 24ºC e 30ºC, com as maiores anomalias positivas nos setores leste e sudeste (Figuras 20 e 21).

Quatro sistemas frontais atuaram sobre o território brasileiro no decorrer do mês fevereiro (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para este mês, que costuma ser de seis sistemas entre as latitudes 25oS a 35oS. Dos quatro sistemas frontais que conseguiram atingir o sul do Brasil, apenas um deslocou-se até o litoral da Região Sudeste, com uma massa de ar frio associada que causou declínio acentuado de temperatura no centro-sul do Brasil (ver seção 3.2).

O primeiro sistema frontal atingiu o extremo sul do Brasil no dia 14. Este sistema frontal deslocou-se desde Baía Blanca, na Argentina, causando aumento da convecção no Uruguai e no sul do Brasil. No dia seguinte, esta frente fria ficou estacionária no Atlântico, a leste do Rio Grande do Sul, sendo intensificada também pelo jato subtropical (ver seção 4.1).

Entre os dias 15 e 16, a formação de uma área de baixa pressão próximo à Região Sul do Brasil contribuiu para a ocorrência de intensa convecção, principalmente no Rio Grande do Sul (ver seção 2.1.5). Este centro de baixa pressão deu origem ao segundo sistema frontal, cuja atuação ficou restrita ao litoral dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A partir do dia 17, este sistema deslocou-se para o oceano, intensificando a região de convergência de umidade que se organizou sobre o Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Neste período, também houve atuação de um VCAN, com centro próximo ao litoral sul da Bahia (ver seção 4.3).

Nos dias 20 e 21, observou-se intensa atividade pré-frontal entre o Paraguai, nordeste da Argentina, Uruguai e sul do Brasil. Além disso, a atuação mais intensa do jato em baixos níveis contribuiu para a formação de sistemas convectivos que causaram chuva forte e descargas elétricas na fronteira entre estes países. No dia 22, houve a incursão do terceiro sistema frontal em Santa Vitória do Palmar-RS. No decorrer deste dia, este sistema frontal deslocou-se para o oceano, posicionando-se na altura do Rio Grande do Sul.

O quarto sistema frontal formou-se na altura do litoral da Argentina, posicionando-se em Santa Vitória do Palmar-RS, no dia 23. Este sistema deslocou-se pelo litoral e interior das Regiões Sul e Sudeste, posicionando-se em Campos, litoral norte do Rio de Janeiro, no decorrer do dia 26. As chuvas associadas excederam 50 mm principalmente no norte da Região Sul (ver seção 2.1). O deslocamento deste sistema também favoreceu a organização de uma região de convergência de umidade, conforme descrito na seção 3.3.1. Na retaguarda deste sistema, a massa de ar frio associada causou declínio acentuado da temperatura em boa parte do centro-sul do Brasil (ver seção 3.2).

De modo geral, os anticiclones apresentaram uma trajetória mais zonal durante a primeira quinzena de fevereiro, deslocando-se pelo Uruguai e extremo sul do Brasil e, posteriormente, para o oceano, onde permaneceram por vários dias. Somente durante a segunda quinzena, duas massas de ar frio conseguiram avançar sobre o território brasileiro.

A primeira massa de ar frio ingressou pelo centro-sul do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 17. O anticiclone associado posicionou-se sobre o oceano, com pressão central igual a 1032 hPa, no dia 19. No dia seguinte, esta massa de ar frio continuou afetando a costa leste das Regiões Sul e Sudeste do Brasil.

A segunda massa de ar frio ingressou pelo Rio Grande do Sul no dia 24, estendendo-se pela Região Sul e leste do Estado de São Paulo nos dias subsequentes. No dia 25, destacaram-se as temperaturas mínimas registradas em Santa Vitoria de Palmar-RS (13,8ºC) e Uruguaiana-RS (16,8ºC), cujos declínios foram respectivamente iguais a 7,8ºC e 5,6ºC, em relação ao dia anterior. No município de São Joaquim-SC, a temperatura mínima declinou de 17ºC para 7,4ºC, entre os dias 24 e 26. Destacaram-se, também, as mínimas registradas em São Carlos-SP (17,1ºC) e São Paulo-SP (17,7ºC), no dia 26 (Fonte: INMET). No dia 27, o centro do anticiclone associado encontrava-se posicionado próximo ao litoral do Rio Grande do Sul.

Durante o mês de fevereiro, a maior atividade convectiva ocorreu nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul do Brasil (Figura 23). Na maior parte do leste do Brasil, a fraca atividade convectiva foi consistente com o posicionamento dos vórtices ciclônicos em altos níveis no decorrer deste mês, especialmente na 3ª, 4ª e 6ª pêntadas (ver seção 4.3). Esta pouca atividade convectiva refletiu a ausência de episódios de ZCAS, como ocorrido em janeiro passado (ver seção 3.3.1). Na Região Sul, houve diminuição da atividade convectiva em comparação com o mês anterior. Na Região Nordeste, embora algumas pêntadas tenham apresentado aumento da nebulosidade associada aos vórtices ciclônicos em altos níveis, como ocorreu nas pêntadas 1ª, 2ª e 5ª, também houve diminuição da convecção em relação ao mês anterior e os totais mensais de precipitação ficaram abaixo da média (ver seção 2.1). Esta situação foi reforçada pela atuação preferencial da banda de nebulosidade associada à ZCIT ao norte do Equador, como pode ser notado na 1ª, 4ª e 6ª pêntadas de fevereiro (ver seção 3.3.1).

No final do mês de fevereiro, houve a formação de uma região de convergência de umidade sobre o setor central do Brasil (Figura 24). Esta banda de nebulosidade teve duração de apenas três dias, sem estabelecer, portanto, um episódio clássico de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Nas Figuras 24b e 24c, pode-se notar a região de convergência de umidade em 850 hPA e o cavado associado à região de maior movimento vertical em 500 hPa, sobre a Região Sudeste e o Atlântico adjacente. Em altos níveis, nota-se uma circulação anticiclônica sobre o centro-sul da América do Sul e uma circulação ciclônica sobre o Atlântico, caracterizando o VCAN. As chuvas foram mais acentuadas na faixa litorânea do Estado de São Paulo e no Rio de Janeiro (ver seção 2.1).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) oscilou entre o Equador e 5ºN, próximo à costa norte do Brasil, ligeiramente ao norte da posição climatológica para o mês de fevereiro (Figura 25). Nas imagens médias de temperatura de brilho mínima, notou-se a banda de nebulosidade da ZCIT associada à nebulosidade dos vórtices ciclônicos principalmente na 2ª e 3ª pêntadas de fevereiro (Figura 26).

Em fevereiro, as Linhas de Instabilidade (LIs) estiveram caracterizadas em quatorze episódios, atuando preferencialmente entre as Guianas e o norte da Região Nordeste (Figura 27). Destes episódios, destacaram-se os dias 22 e 23, nos quais as LIs aparecem melhor configuradas, e os dias 09, 11 e 13, quando foram registrados totais diários de chuva superiores a 50 mm entre a Ilha de Marajó e o noroeste do Maranhão. Na maioria dos episódios, notou-se que a formação das LIs ocorreu em conjunto com a circulação dos vórtices ciclônicos e o escoamento da Alta da Bolívia sobre o norte do Brasil ao longo deste mês (ver seções 4.2 e 4.3).

O jato subtropical atuou com maior freqüência sobre a região central do Chile e Argentina e o centro-sul do Uruguai, durante a primeira quinzena de fevereiro, deslocando-se um pouco mais para norte no decorrer da segunda quinzena. A magnitude média mensal do jato variou entre 40 m/s e 50 m/s sobre o nordeste da Argentina (Figura 28a). Considerando o escoamento médio climatológico em 200 hPa, o jato subtropical posicionou-se mais ao sul e ficou um pouco mais intenso. As Figuras28b e 28c ilustram o comportamento do jato subtropical nos dias 06 e 25, quando atingiu magnitude superior a 60 m/s. A atuação conjunta do jato subtropical com o sistema frontal que se encontrava próximo à costa da Região Sudeste do Brasil pode ser visualizada na imagem de satélite do dia 25 (Figura 28d). Ressalta-se, neste período, o estabelecimento de uma região de convergência de umidade, porém sem caracterizar um episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1).

A Alta da Bolívia esteve bem caracterizada em 23 dias de fevereiro, atuando preferencialmente sobre o Paraguai e a Bolívia (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 18ºS/67ºW, ligeiramente a oeste de sua posição climatológica (Figura 29a). O escoamento associado à circulação da Alta da Bolívia contribuiu para a formação de áreas de instabilidade em grande parte do território brasileiro, como ilustra a imagem de satélite obtida no dia 28 (Figura 29b).

A configuração de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ocorreu em seis episódios no decorrer do mês de fevereiro (Figura 30a). Destacou-se o primeiro episódio, que foi uma continuação do episódio de VCAN que persistiu desde o início do mês anterior. Este evento prolongou-se até o dia 11 de fevereiro e, assim como o segundo episódio, contribuiu para a predominância de anomalias negativas de precipitação principalmente nos setores norte e leste do Brasil (ver seção 2.1). O segundo episódioconfigurou-se no período de 08 a 28 sobre o Atlântico, a leste de 20ºW. AFigura 30b ilustra a atuação deste VCAN próximo à costa do Nordeste no dia 21, às 21:00 TMG.

O primeiro VCAN atuou mais sobre o continente e sua borda causou chuvas consideráveis sobre o leste da Região Centro-Oeste e o norte de Minas Gerais. Já o segundo VCAN causou chuvas mais acentuadas sobre a Região Nordeste. Uma característica destes vórtices é que os seus centros estiveram deslocados para o sul em comparação com o mês anterior. Este deslocamento para sul dos VCANs resultou em anomalias negativas de precipitação sobre grande parte das Regiões Nordeste e Sudeste e leste da Região Centro-Oeste (ver seção 2.1). O posicionamento médio do centro dos VCANs pode ser visto no escoamento médio em 200 hPa mostrado na Figura 28a.

Os demais VCANs atuaram com núcleo no Pacifico Sul, próximo à costa sul do Chile e sobre o Atlântico Sul, próximo ao sul da Argentina.

A diminuição das chuvas em comparação com janeiro passado resultou em diminuição das vazões nas bacias do Paraná, São Francisco, Atlântico Sudeste e Uruguai, porém houve aumento das vazões médias mensais nas bacias do Amazonas e Tocantins. Em comparação com os valores médios históricos, as vazões ficaram abaixo do esperado principalmente nas bacias do São Francisco e no norte da bacia do Paraná.

A Figura 31 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 32. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Neste mês, a máxima altura registrada foi 23,07 m, a mínima foi 21,84 m e a média igual a 22,49 m, próximo ao valor climatológico (Figura 33).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais foram superiores às observadas no mês anterior, com valores próximos à MLT nas estações de Manacapuru-AM e Balbina-AM e acima da MLT nas demais estações monitoradas. Na bacia do Tocantins, a vazão observada continuou a aumentar na estação Tucuruí-PA, porém o valor registrado foi menor que o correspondente valor da MLT.

Na bacia do São Francisco e no norte da bacia do Paraná, houve diminuição das vazões em comparação com o mês de janeiro e com os valores da MLT. Nas sub-bacias de Paranapanema e Iguaçu, sul da bacia do Paraná, as vazões excederam a MLT. Em comparação com o valor registrado em janeiro passado, houve aumento em Tucuruí-PA e diminuição em Sobradinho BA.

Nas bacias do Atlântico Sudeste e do Uruguai, as vazões observadas diminuíram em comparação com o mês anterior, porém excederam a MLT. No Vale do Itajaí, as precipitações apresentaram desvios negativos na maioria das estações monitoradas.

Fevereiro está inserido no período de menor ocorrência de queimadas do ano. Neste mês, foram detectados apenas 990 focos de queimadas no Brasil, pelo satélite NOAA-15 (Figura 34). Este valor ficou 30% abaixo dos focos detectados em janeiro passado. Entretanto, este número aumentou 85% em comparação com o mesmo período de 2009, em função da estiagem e temperaturas máximas elevadas no Nordeste, Sudeste e em parte das Regiões Norte e Centro-Oeste. Destacaram-se os aumentos registrados em Roraima (900%, com 107 focos), Ceará (250%, com 41 focos), Minas Gerais (210%, 116 focos), São Paulo (100%, com 44 focos) e na Bahia (50%, com 214 focos).

Observou-se, neste mês, o avanço de novas frentes de destruição da vegetação, especialmente no sul da Bahia e no norte de Roraima, em função da estiagem. No restante da América do Sul, as queimadas foram intensas no Paraguai, Venezuela, Colômbia e em parte do norte da Argentina.

Detectaram-se 60 focos de queimadas no interior das Unidades de Conservação, federal e estadual, e em suas áreas vizinhas, destacando-se a Reserva Extrativista das Veredas do Oeste Baiano (Bahia, 9 focos) e o Parque Nacional do Monte Pascoal (Bahia, 6 focos).

Em fevereiro, foram observadas anomalias positivas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) nos mares de Bellingshausen, Weddell, Davis e no sul do mar de Ross (até 10 hPa). Anomalias negativas de PNM ocorreram no mar de Dumont D'Urville e no norte dos mares de Ross e Amundsen (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, mantendo a tendência do mês anterior e retornando ao padrão de anomalias positivas observadas desde maio de 2009 (ver Figura 12, seção 1).

No escoamento em 925 hPa, destacou-se a anomalia anticiclônica organizada no norte dos mares de Bellingshausen e Amundsen (Figura 36). Neste mês, observou-se a ausência de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar Weddell em direção ao sul do Brasil. Esta situação pode ter contribuído para as anomalias positivas de temperatura do ar observadas no sul do Brasil, igualmente associadas ao escoamento anômalo de norte proveniente do setor central do Brasil e oeste do Atlântico Sul.

A temperatura do ar em 925 hPa apresentou anomalias negativas de até -2ºC no setor norte dos mares de Ross e Weddell, nos mares de Dumont D'Urville e na Passagem de Drake. Anomalias positivas ocorreram no sul dos mares de Ross e Bellingshausen e no mar de Davis (Figura 37). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 5ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008.

A anomalia anticiclônica que se observou no norte dos mares de Bellingshausen e Amundsen, no nível de 925 hPa (ver Figura 36), inversa àquela observada no mês anterior, provavelmente contribuiu para a retração na extensão do gelo marinho no mar de Bellingshausen e para a expansão no mar de Weddell (Figura 38).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de leste e sudeste (32% e 15%, respectivamente), sendo as direções padrões para o mês de fevereiro de oeste e norte. A magnitude média mensal do vento foi de 6 m/s, acima da média climatológica para este mês (5,5 m/s). A temperatura média do ar, igual a 0,2ºC, ficou abaixo da normal (2,2ºC), tornando-se a média mais baixa para o mês de fevereiro na série histórica da EACF. Neste mês, duas frentes e nove ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica, sendo que a média esperada para este mesmo período costuma ficar em torno de quatro frentes e seis ciclones.

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2009), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/ ~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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