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Edição Atual
Volume 26 - Nº02 - Fevereiro/2011

SUMÁRIO
Houve um considerável aumento das chuvas no decorrer da primeira quinzena de fevereiro de 2011, em particular no Mato Grosso do Sul e em praticamente toda a Região Sul do Brasil. Esta mudança no cenário das chuvas foi associada ao deslocamento para sul do canal de umidade proveniente da Amazônia, resultando na formação de um episódio da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) ao sul de sua posição climatológica. Por outro lado, choveu abaixo da média na porção centro-leste do Brasil, que engloba a maior parte da Região Sudeste.

As anomalias da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) ficaram menos negativas na região do Pacífico Equatorial, sugerindo o enfraquecimento do fenômeno La Niña. Na região do Atlântico Tropical, embora os valores de TSM tenham ficado acima da média no setor norte e sul, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) posicionou-se ao norte da climatologia em três pêntadas e ao sul desta em duas pêntadas de fevereiro. Além disso, o sinal da Oscilação Intrassazonal Maden-Julian (OMJ) continuou associado à maior irregularidade na distribuição da precipitação, tanto do ponto de vista espacial como temporal, em particular sobre o sul da Região Nordeste e o Sudeste do Brasil.

Os valores de precipitação foram mais acentuados no centro da bacia do Amazonas, no norte da bacia do Tocantins, no sul das bacias do Paraná e do Atlântico Sudeste e na bacia do Uruguai. Entretanto, houve diminuição das vazões na bacia do São Francisco e no norte da bacia do Paraná, onde as chuvas foram mais escassas.

As queimadas diminuíram 10% em comparação com o mês anterior e aproximadamente 80% em comparação com o mesmo período de 2010, especialmente nas Regiões Norte e Nordeste.


O fenômeno La Niña começou a dar sinais de enfraquecimento no decorrer deste mês de fevereiro de 2011. Na região do Pacífico Equatorial, notou-se a diminuição das anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) desde dezembro de 2010 (Figura 1). Na região do Niño 1+2, a anomalia média de TSM aumentou 0,8C, passando a 0,1ºC (Figura 2). Nas demais áreas, as anomalias médias continuaram negativas e variaram entre -0,9C e -1,3C, nas regiões dos Niños 3 e 3.4, respectivamente (Tabela 1). No setor oeste do Pacífico, ainda persiste a configuração tipo ferradura, ou seja, águas superficiais mais quentes que o normal nas áreas subtropicais de ambos os hemisférios. No Atlântico Norte, persistiram as anomalias positivas de TSM notadas no mês anterior, porém com diminuição em área e magnitude. No Atlântico Sul, destacou-se a persistência da anomalia positiva superior a 3ºC adjacente à costa da África, em torno de 15ºS, estendendo-se para oeste em comparação com janeiro passado, concomitantemente com a diminuição da área de anomalia negativa de TSM na parte mais central deste oceano. Anomalias positivas maiores que 1C também se estenderam por praticamente toda a área extratropical do Atlântico Sul, ao sul de 30ºS.

No campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL), destacaram-se as anomalias negativas (convecção acima da média) sobre a região da Indonésia e sobre a maior parte do continente australiano (Figura 5). Por outro lado, persistiu a extensa área de anomalias positivas de ROL (convecção abaixo da média) em torno da Linha Internacional de Data (180º), embora com diminuição em magnitude se comparada com janeiro passado. A anomalia de ROL foi negativa em todo o norte da América do Sul e região central, e também na região da ZCIT (ver seção 3.3.2). No leste do Brasil, a anomalia positiva de ROL também esteve associada à atuação mais ao sul de um episódio de ZCAS que se configurou em meados de fevereiro (ver seção 3.3.1). No centro-sul da América do Sul, as anomalias positivas de ROL foram consistentes com a atual condição de La Niña.

O campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM) evidenciou o padrão típico de La Niña, ou seja, anomalias positivas estendendo-se por todo o Pacífico Central e Leste e anomalias negativas em parte do Pacífico Oeste e Oceano Índico (Figura 6). Notou-se, também, a formação de um cinturão de anomalias positivas de PNM ao longo das áreas extratropicais do Hemisfério Sul. Este padrão foi consistente com a baixa atividade dos sistemas frontais sobre o sudeste da América do Sul (ver seção 3.1).

Os ventos em 850 hPa apresentaram-se mais intensos que a média no Pacífico Oeste e Central e mais relaxados no Pacífico Leste (Figuras 7 e 8). Sobre a faixa equatorial do Atlântico, destacaram-se alísios mais fracos que o normal e anomalias de norte no interior da América do Sul, ao norte de 20ºS.

No campo de anomalia do vento em altos níveis, observaram-se dois centros anômalos de circulação ciclônica no Pacífico Central nas latitudes subtropicais (Figuras 9 e 10). A configuração deste par de anomalias ciclônicas no escoamento em altos níveis também é típica da condição de La Niña. Notou-se, também, que o cavado sobre o Atlântico Sul e a Alta da Bolívia estiveram ligeiramente deslocados para sul, refletindo na atuação dos vórtices ciclônicos em altos níveis sobre a Região Sudeste do Brasil, os quais também contribuíram para a diminuição da chuva nesta região (ver seção 4.3).

O campo da altura geopotencial em 500 hPa mostrou um padrão de onda 1 nas latitudes extratropicais e polares do Hemisfério Sul (Figura 12).

As chuvas continuaram acima da média histórica em grande parte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, porém com aumento das áreas com valores abaixo da média, principalmente no oeste do Amazonas, nordeste do Pará e em pontos isolados no norte e leste do Nordeste, especialmente durante a primeira quinzena de fevereiro. Neste período, esta maior irregularidade na distribuição das anomalias de precipitação foi associada ao deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua posição climatológica; à atuação dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) em alguns dias; e à presença de um sinal da OMJ desfavorável à convecção. Também continuou chovendo abaixo da média em Goiás, no sudeste do Tocantins e na maior parte da Bahia e da Região Sudeste. Em contrapartida, notou-se o aumento da chuva no Mato Grosso do Sul e na maior parte da Região Sul, com exceção do extremo sul do Rio Grande do Sul, onde vem chovendo abaixo do esperado desde outubro de 2010. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

As chuvas diminuíram no oeste do Amazonas e no nordeste do Pará e continuaram abaixo da média no Acre e em Rondônia, comparativamente ao mês anterior. Ainda assim, a atuação conjunta da Alta da Bolívia, efeitos termodinâmicos locais, Linhas de Instabilidade (LIs) e o deslocamento da ZCIT adjacente à costa norte da América do Sul favoreceram a ocorrência de acumulados de chuva superiores a 100 mm em alguns dias, com destaque para as localidades de Itacoatiara-AM (114,8 mm, no dia 10); Itaituba-PA (115,5 mm) e Parintins-AM (101,4 mm), ambas no dia 14; e em Belém-PA (115,4 mm, no dia 19). Na localidade de Pedro Afonso, no norte do Tocantins, destacaram-se os totais diários registrados nos dias 16 e 21, respectivamente iguais a 117 mm e 106 mm. Nesta localidade, o total mensal atingiu 469 mm, sendo o correspondente valor climatológico igual 250,3 mm. Destacou-se, também, a chuva registrada em Vilhena-RO no dia 27, igual a 101 mm (Fonte: INMET).

A atuação da Alta da Bolívia e a formação de um episódio de ZCAS, associados aos efeitos termodinâmicos locais, também contribuíram para a ocorrência de chuvas mais acentuadas em parte do Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, onde os totais mensais excederam os valores climatológicos. Destacaram-se os acumulados de chuva registrados em Cuiabá-MT (118,9 mm, no dia 03); na cidade de Vera Gleba Celeste-MT (134,7 mm, no dia 10) e em São José do Rio Claro (84,4 mm e 120 mm, respectivamente nos dias 08 e 27). Em Cuiabá-MT, o total mensal de precipitação atingiu 352,3 mm, o que correspondeu a quase 150 mm acima da climatologia para este mês. Apesar das chuvas terem ocorrido acima da média na maior parte do Mato Grosso do Sul, o total mensal na cidade de Ponta Porã (143,1 mm) ficou abaixo do valor climatológico (161,9 mm), segundo dados do INMET.

No início da primeira quinzena, a atuação mais ao norte da ZCIT causou diminuição das chuvas entre o norte do Maranhão e o Rio Grande do Norte. Já o posicionamento dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foi mais favorável à ocorrência de chuva durante a segunda quinzena de fevereiro. Contudo, a posição mais ao sul destes sistemas mais ao sul inibiu a convecção durante quase todo o mês no centro-sul da Bahia. Segundo os dados divulgados pelo INMET, os acumulados diários de precipitação foram mais expressivos em algumas cidades do Maranhão, a saber: em Bacabal (88,1 mm, 78,9 mm e 94,5 mm, nos dias 02, 13 e 16, respectivamente); em Zé Doca (97,8 mm, no dia 13); Turiaçu (124,1 mm) e Imperatriz (98 mm), ambas registradas no dia 15; na capital São Luís (131,6 mm, no dia 16; 106,4 mm, no dia 19); e em Colinas (105,2 mm, no dia 25). Em João Pessoa, capital da Paraíba, destacaram-se os 119,8 mm de chuva acumulados entre os dias 19 e 20. Neste período, notou-se a atuação mais favorável de um episódio de VCAN sobre o Nordeste (ver seção 4.3). Em Bacabal, no centro-norte do Maranhão, o total mensal foi igual a 531,6 mm, excedendo a climatologia em mais que 300 mm. Já na capital paraibana, a chuva mensal atingiu 221,2 mm, ficando aproximadamente 110 mm acima da climatologia (Fonte: INMET).

As chuvas ocorreram abaixo da média histórica na maior parte da Região Sudeste. Este déficit de precipitação foi associado principalmente ao deslocamento para sul do único episódio de ZCAS que se configurou na primeira quinzena de fevereiro. A exceção ocorreu em áreas isoladas e no oeste de São Paulo, favorecidas pela formação de áreas de instabilidade associadas a efeitos termodinâmicos locais e à presença dos sistemas típicos de verão: a Alta da Bolívia e os vórtices na alta e média troposfera. Apesar do déficit pluviométrico registrado especialmente no centro-sul de Minas Gerais e no Rio de Janeiro, destacaram-se os acumulados de chuvas em Resende-RJ (84,6 mm, no dia 16; e 87,5 mm, no dia 28) e na estação do Mirante de Santana, na capital São Paulo (109,5 mm, no dia 28), de acordo com os dados do INMET. Nestas mesmas localidades, os acumulados de chuva registrados no dia seguinte excederam 60 mm. Estas chuvas no final do mês foram decorrentes da formação de outro episódio de ZCAS que se desenvolveu no final de fevereiro e persistiu até o início do mês subsequente. Este evento será analisado no mês de março próximo (ver seção 3.3.1).

A região de convergência de umidade que se formou em direção ao sul do Brasil favoreceu o aumento das chuvas principalmente no oeste da Região. Apenas no extremo sul do Rio Grande do Sul, as chuvas continuaram escassas. No início do mês, as incursões do primeiro e segundo sistemas frontais contribuíram para diminuição da estiagem, especialmente no sul do Rio Grande do Sul, com ocorrência de chuvas moderadas. A presença de uma massa de ar úmida e instável também contribuiu para o aumento das chuvas nas demais áreas desta Região. No decorrer do dia 03, o acumulado de chuva atingiu 74,3 mm em Castro-PR. Em Maringá, no norte do Paraná, a formação do episódio de ZCAS resultou em um acumulado de chuva igual a 95,6 mm entre os dias 09 e 10. Em Paranaguá-PR, acumularam-se 108 mm de chuva nos dias 16 e 17 (Fonte: INMET). Em Caçapava do Sul-RS, o acumulado de chuva atingiu 99 mm entre os dias 09 e 10. Destacaram-se os totais mensais de precipitação em Cruz Alta-RS (397 mm) e em Bom Jesus-RS (302 mm), os quais excederam a climatologia mensal em 260 mm e 104 mm, respectivamente. Ressalta-se que, em Cruz Alta-RS, o total diário atingiu 123,6 mm no dia 22. Em Santa Vitória do Palmar-RS, o acumulado de chuva foi igual a 65,2 mm, em decorrência da formação do centro de baixa pressão que deu origem ao quarto sistema frontal no dia 25 (Fonte: INMET).

As temperaturas máximas ficaram acima da média no leste da Região Nordeste e na maior parte da Região Sudeste do Brasil, com os maiores valores médios mensais em localidades no interior de Alagoas, norte e leste da Bahia e no nordeste de Minas Gerais (Figuras 16 e 17). A ausência de episódios de ZCAS sobre o setor central do Brasil contribuiu para que as temperaturas ficassem mais elevadas no decorrer deste mês. Destacaram-se, porém, as anomalias negativas notadas no oeste do Brasil, especialmente em Rondônia e no oeste do Mato Grosso. Em Vilhena-RO, a temperatura máxima passou de 29,3ºC, no dia 23, para 13,9ºC, no dia seguinte. As temperaturas mínimas médias mensais ocorreram próximas aos valores climatológicos, variando entre 16ºC, na serra catarinense, e 24ºC, no norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil (Figuras 18 e
19). No Estado de São Paulo, predominaram valores de temperatura média entre 22ºC e 28ºC, com anomalias positivas superiores a 3ºC no setor leste e em parte da região do Vale do Paraíba (Figuras 20 e
21).

Quatro sistemas frontais conseguiram atuar em território brasileiro no decorrer de fevereiro de 2011, porém restringiram-se ao extremo sul do Brasil (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para latitudes entre 25oS e 35oS. Destes sistemas, apenas três atuaram no litoral e interior do Rio Grande do Sul, deslocando-se, posteriormente, sobre áreas oceânicas adjacentes.

O primeiro sistema frontal iniciou sua trajetória em Mar Del Plata, na Argentina, ingressando pelo litoral e interior do Rio Grande do Sul no dia 01. No dia seguinte, este sistema posicionou-se em Porto Alegre-RS, ocasionado chuvas mais acentuadas no sudeste deste Estado. Ao se deslocar para o oceano, este sistema alinhou-se com áreas de instabilidade que se formaram sobre o centro-sul da Região Sudeste, em decorrência da passagem de um cavado na média troposfera.

O segundo sistema frontal também se deslocou desde a região de Mar Del Plata, na Argentina, porém atuou apenas no litoral sul do Rio Grande do Sul, posicionando-se na cidade de Rio Grande-RS no decorrer do dia 06. Neste mesmo dia, ao se deslocar sobre o oceano foi favorecido pela atuação do jato subtropical e também se alinhou com a convecção que se formou sobre o continente, especialmente entre o Mato Grosso do Sul, Paraná e sul de São Paulo (ver Figura 28c, seção 4.1).

No dia 08, o terceiro sistema frontal configurou-se no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul e, no decorrer do dia seguinte, avançou até as cidades de Santa Maria e Rio Grande. O ciclone extratropical associado deslocou-se rapidamente para o oceano, ocasionando chuvas intensas em várias localidades do Rio Grande do Sul. Em Caçapava do Sul-RS, o acumulado de chuva excedeu 90 mm (ver seção 2.1.5). Neste mesmo dia, o ramo frio do sistema frontal atuava sobre o oceano adjacente, favorecendo a convergência de umidade na costa de Santa Catarina. Associado ao escoamento na média e alta troposfera, este sistema frontal também contribuiu para formação do único episódio de ZCAS deste mês (ver seção 3.3.1).

O quarto sistema frontal configurou-se no extremo sul do Rio Grande do Sul entre os dias 24 e 25. No dia seguinte atuou em São Luiz Gonzaga-RS, no interior, e em Rio Grande, no litoral deste Estado. Em Santa Vitória do Palmar-RS, o acumulado de chuva excedeu 60 mm (ver seção 2.1.5). O anticiclone que atuou na retaguarda deste sistema favoreceu o declínio das temperaturas no sul do Brasil.

Durante o mês de fevereiro, seis massas de ar frio de fraca intensidade atuaram nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

A primeira massa de ar frio ingressou nos setores central e litoral do Rio Grande do Sul nos dias 01 e 02, deslocando-se para o oceano no dia seguinte. Em Santa Vitória do Palmar-RS, a temperatura mínima declinou 5ºC, passando a 13,7ºC no dia 02 (Fonte: INMET).

A segunda e a terceira massas de ar frio atuaram no sul do País, respectivamente nos dias 06 e 10. No sudeste do Rio Grande do Sul, a cidade de Rio Grande registrou 16,4ºC, ou seja, um declínio na temperatura mínima de aproximadamente 5ºC entre os dias 10 e 11. Porém, os anticiclones associados deslocaram-se rapidamente para o oceano. No decorrer do dia 13, a quarta massa de ar frio atuou no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No dia 15, esta massa de ar frio deslocou-se para o oceano, porém ainda contribuiu para o leve declínio das temperaturas no sul do Brasil. Em São Luiz Gonzaga, no oeste do Rio Grande do Sul, a mínima passou de 20,5ºC para 16,9ºC, entre os dias 13 e 15. No período de 21 a 23, um anticiclone cuja pressão em seu centro atingiu 1026 hPa deslocou-se pelo sudoeste do Atlântico Sul, causando apenas leve declínio das temperaturas no leste da Região Sul.

No dia 26, a sexta massa de ar frio ingressou pelo sul do Brasil, permanecendo sobre o centro-sul da Região Sul até o dia 28. Em Santa Vitória do Palmar-RS, a temperatura mínima declinou de 22,6ºC para 14,8ºC, entre os dias 25 e 27. No dia seguinte, nas cidades serranas de Bom Jesus-RS e São Joaquim-SC, registraram-se mínimas iguais a 12,8ºC e 12,3ºC, respectivamente.

As imagens de temperatura de brilho evidenciaram o posicionamento dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) próximo e sobre o leste das Regiões Nordeste e Sudeste do Brasil na maioria das pêntadas de fevereiro de 2011 (Figura 23). De modo geral, estes sistemas inibiram a ocorrência de chuvas principalmente no centro-sul da Bahia, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo (ver seção 2.1). Na Região Sul, o aumento da convecção foi associado principalmente ao episódio de ZCAS que se configurou no período de 09 a 16 (ver seção 3.3.1). A banda de nebulosidade associada à ZCIT foi notada próxima à latitude 5ºN nas duas primeiras pêntadas de fevereiro e proporcionou maior atividade convectiva próximo à costa norte do Nordeste no decorrer das pêntadas 3ª e 5ª. Esta variação no posicionamento da ZCIT também contribuiu para a irregularidade das chuvas entre o norte do Maranhão e o Rio Grande do Norte (ver seção 3.3.2).

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) configurou-se no período de 09 a 16 de fevereiro (Figura 24). Esta ZCAS seguiu a tendência do último episódio observado em janeiro passado, posicionado-se entre a Região Centro-Oeste do Brasil, sul da Região Sudeste e norte da Região Sul (Figura 24a). Nas Figuras 24c e 24d, notam-se as regiões de maior movimento vertical e divergência do vento situadas sobre o leste do Mato Grosso do Sul, norte do Paraná e leste de Santa Catarina. Nestas áreas, também se observaram os maiores acumulados de precipitação (Figura 24e). Entre os dias 15 e 16, em particular, a intensa convergência de umidade em direção ao nordeste de Santa Catarina, leste do Paraná e litoral sul de São Paulo resultou em acumulados de chuva que excederam 70 mm em algumas localidades (ver seção 2.1.4). No final de fevereiro, configurou-se mais um episódio de ZCAS que se estendeu principalmente sobre o centro-sul das Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil e causou chuva bastante acentuada. Este evento será descrito na edição de março do Climanálise.

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) oscilou entre aproximadamente 3ºS e 5ºN, ao longo do Atlântico Tropical, no decorrer do mês de fevereiro (Figura 25). Próximo à costa norte da América do Sul, a ZCIT atuou ao norte de sua posição climatológica nas três primeiras pêntadas, o que contribuiu para as anomalias negativas de precipitação notadas desde o leste do Amapá e Ilha de Marajó até o norte da Região Nordeste. Nas demais pêntadas, a ZCIT atuou em conjunto com a nebulosidade associada aos VCANs, oscilando entre o Equador e 3ºS. Este deslocamento da ZCIT para posições mais ao sul durante a segunda quinzena contribuiu para a predominância de chuvas acima da média sobre o norte do Nordeste. Nas imagens de temperatura de brilho mínima, notou-se que a maior atividade convectiva associada à ZCIT ocorreu durante a 3ª pêntada de fevereiro (Figura 26).

As Linhas de Instabilidade (LIs) caracterizaram-se em onze dias de fevereiro, atuando preferencialmente entre as Guianas e o norte da Região Nordeste (Figura 27). Nos dias 10, 12 e 13, as LIs apresentaram-se bem configuradas ao longo da costa norte do Brasil, apesar da nebulosidade sobre o oceano associada à ZCIT. Nos dias 14 e 18, atuaram em conjunto com o escoamento na alta troposfera, proporcionando os maiores acumulados de chuva no Amapá, norte do Pará e Maranhão.

A bifurcação da corrente de jato na alta troposfera foi notada em vários dias no decorrer de fevereiro de 2011. Estas bifurcações ao longo do mês resultaram numa maior variabilidade espacial do jato subtropical, cuja magnitude média mensal foi inferior a 30 m/s sobre o centro-sul da América do Sul (Figura 28a). Por esta razão, o vento zonal esteve ligeiramente mais intenso entre o norte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil e acima da climatologia na passagem de Drake (ver Figura B no Apêndice). A Figura 28b ilustra o comportamento do jato no início de fevereiro, quando favoreceu o deslocamento do segundo sistema frontal sobre áreas oceânicas adjacentes à Região Sul do Brasil (Figura 28c). No dia 25, o jato voltou a intensificar sobre o nordeste da Argentina, onde a sua magnitude variou entre 40 m/s e 50 m/s (Figura 28d).

A Alta da Bolívia atuou preferencialmente sobre o sul da Bolívia em fevereiro de 2011 (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 20ºS/66ºW, ligeiramente a sudoeste de sua posição climatológica (Figura 29a). A imagem do satélite GOES-12 ilustra a nebulosidade associada à circulação da Alta da Bolívia no dia 26 (Figura 29b). Neste dia, o centro da alta troposférica encontrava-se sobre o leste do Mato Grosso do Sul e estendeu-se até o nível de 500 hPa. No dia seguinte, os maiores acumulados de precipitação foram registrados entre Rondônia e o sudeste do Mato Grosso e no centro-sul do Pará (ver seção 2.1).

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) atuaram preferencialmente sobre as Regiões Nordeste e Sudeste do Brasil e áreas oceânicas adjacentes no decorrer deste mês de fevereiro (Figura 30a). O primeiro episódio teve início no final do mês anterior sobre o setor central do Atlântico Sul. Este VCAN causou inibição da chuva ao iniciar sua trajetória próximo à costa norte do Nordeste, porém, ao se deslocar para o interior da Bahia e norte de Minas Gerais, contribuiu para as chuvas mais generalizadas em várias cidades nos setores oeste e centro-norte da Região Nordeste do Brasil (ver seção 2.1). Ressalta-se que, além da atuação mais ao norte dos vórtices ciclônicos nas duas primeiras pêntadas de fevereiro, o posicionamento mais ao norte da ZCIT também contribuiu para inibir a ocorrência de chuva em algumas áreas no norte do Nordeste (ver seção 3.3.2). As imagens do satélite GOES-12 ilustram a nebulosidade associada aos VCANs que se configuraram nos dias 02 e 19 (Figuras 30b e
30c).
Na primeira imagem, nota-se a ausência de nebulosidade convectiva sobre o sul da Bahia e na maior parte de Minas Gerais, onde as chuvas ocorreram até 100 mm abaixo da média histórica (ver seção 2.1).

Em fevereiro, observaram-se elevados valores de precipitação no leste da bacia do Amazonas, no norte da bacia do Tocantins, no sul das bacias do Paraná e do Atlântico Sudeste e na bacia do Uruguai. As chuvas foram mais escassas na bacia do São Francisco e no norte da bacia do Paraná. Na maioria das estações fluviométricas monitoradas nas bacias do São Francisco e Paraná, houve diminuição das vazões e os valores apresentaram-se predominantemente abaixo da MLT.

A Figura 31 mostra a localização das estações fluviométricas utilizadas nestas análises. As séries históricas de vazões médias mensais, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 32. Destacou-se o aumento das vazões em todas as estações monitoradas na bacia do Amazonas, em relação ao mês de janeiro, e, uma diminuição das vazões nas estações das bacias do São Francisco e na maior parte das estações localizadas na bacia do Paraná. Os valores das vazões médias mensais para este mês e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação de Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas utilizando um modelo estatístico, a partir das cotas observadas no Rio Negro. Neste mês, a máxima altura registrada foi de 22,90 m, a mínima foi de 20,71 m e a média de 21,77 m, bem próximo ao valor da MLT (Figura 33).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais das estações de Samuel-RO, Manacapuru-AM, e Tucuruí-PA foram inferiores aos climatológicos, enquanto que, para as estações de Balbina-AM e Coaracy Nunes-AP, os valores excederam a MLT.

Na bacia do São Francisco, os valores das vazões médias nas estações monitoradas foram bem inferiores aos climatológicos. Na mesma bacia, observaram-se anomalias negativas da precipitação.

As estações fluviométricas localizadas na bacia do Paraná, a saber: Xavantes-SP, Capivara-SP, G.B. Munhoz-PR e Salto Santiago-PR, apresentaram desvios positivos em relação às MLTs. Nas demais estações, ocorreram desvios negativos e as vazões médias mensais foram inferiores ao mês anterior.

Na bacia do Atlântico Sudeste, a vazão média mensal observada na estação Blumenau-SC ficou bem superior ao mês anterior e à MLT. No Vale do Itajaí, foram registradas precipitações maiores que a média em todas as estações monitoradas (Tabela 4).

A estação de Passo Fundo-RS, localizada na bacia do Uruguai, apresentou uma vazão média bem próxima do correspondente valor da MLT e superior ao mês de janeiro. Ressalta-se que as anomalias positivas de precipitação foram observadas na porção mais ao norte desta bacia.

Durante o mês de fevereiro, registraram-se poucas ocorrências de queimadas em função do período chuvoso em boa parte do Brasil. Foram detectados apenas 250 focos de calor, pelo satélite NOAA-15 (Figura 34). Este número diminuiu 10% em comparação com o mês anterior. Já em relação ao mesmo período de 2010, a redução foi de aproximadamente 80%, sendo verificada especialmente nas Regiões Norte e Nordeste.

Climatologicamente, as queimadas foram mais reduzidas em Roraima, no Pará e no Ceará. No restante da América do Sul, as queimadas estiveram de acordo com o previsto em função da atuação da La Niña, com ocorrências no Paraguai e no norte da Argentina, porém com acentuada redução se considerada a média dos últimos dez anos.

Em fevereiro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) nos mares de Ross, Amundsen, Bellingshausen (até -10 hPa), Weddell e Dumont D'Urville. Anomalias positivas ocorreram nos mares de Davis (até 6 hPa) e no norte dos mares de Lazarev e Weddell (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, mantendo a tendência de anomalias positivas observadas desde dezembro de 2010 (ver Figura 12, seção 1).

No campo de anomalia do vento em 925 hPa, observou-se uma anomalia ciclônica organizada nos mares de Bellingshausen e Amundsen e outra anticiclônica no norte do mar de Weddell (Figura 36). Neste mês, registrou-se apenas um episódio de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando dois dias. A temperatura mínima média mensal apresentou-se ligeiramente acima da média na Região Sul do Brasil, possivelmente associada à circulação anômala de norte proveniente do centro do Brasil e oeste do Atlântico Sul.

A temperatura do ar em 925 hPa ficou abaixo da média nos mares de Ross, Amundsen (até -2ºC), Bellingshausen e Dumont D'Urville. Valores positivos ocorreram nos mares de Weddell (4ºC), Lazarev e norte de Davis (Figura 37). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 4ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008.

As anomalias ciclônica nos mares de Bellingshausen e Amundsen e anticiclônica no norte do mar de Weddell (ver Figura 36), podem ter contribuiu para a expansão na extensão do gelo marinho no mar de Weddell e para a retração nos mares de Bellingshausen e Amundsen (Figura 38).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de oeste e norte (30% e 29%, respectivamente), mantendo-se as direções predominantes para o mês de fevereiro. A magnitude média mensal do vento foi de 6,4 m/s, acima da média climatológica para este mês (5,5 m/s). A temperatura média do ar, igual a 3,2ºC ficou acima da normal (2,2ºC). Neste mês, duas frentes e quatorze ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica, sendo que a média esperada para este mês costuma ficar em torno de quatro frentes e sete ciclones. Os ciclones-bomba, com queda de pressão maior que 24 hPa em 24 horas, totalizaram apenas dois episódios.

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2009), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls . As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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