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Edição Atual
Volume 29 - Nº02 - Fevereiro/2014

SUMÁRIO
A ausência de episódios bem configurados da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), associada, entre outros aspectos, à presença anômala de vórtices ciclônicos na média e alta troposfera, contribuiu para a escassez de chuva na maior parte das Regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, especialmente durante a primeira quinzena de fevereiro de 2014. Por outro lado, os totais pluviométricos situaram-se bem acima da média histórica em parte das Regiões Norte e Sul do Brasil e no oeste e sul do Mato Grosso.

A Temperatura da Superfície do Mar (TSM) apresentou-se abaixo da climatologia adjacente à costa noroeste da África e manteve-se em torno da climatologia no Atlântico Equatorial. Esta configuração contribuiu para a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema responsável pela ocorrência de chuvas no norte da Região Nordeste, em torno de sua posição climatológica.

As chuvas foram mais acentuadas em parte da bacia do Amazonas, enquanto que totais de precipitação abaixo da média histórica predominaram nas bacias do São Francisco, Paraná e Atlântico Sudeste, onde a maioria das estações fluviométricas monitoradas apresentou valores de vazão abaixo da MLT.

Os focos de calor diminuíram em 60%, em comparação com o mês anterior, apesar da estiagem e das temperaturas máximas acima da média no leste do Brasil. No entanto, o número de queimadas esteve próximo ao valor observado no mesmo período de 2013.


Anomalias negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) se estenderam desde a costa oeste da América do Sul até o setor central do Pacífico Equatorial, enquanto anomalias positivas foram observadas no oeste do Pacífico Equatorial (Figura 1). A região do Niño 1+2 apresentou anomalia de -0,8°C, a região do Niño 3.4 de -0,6° e a região do Niño 4 de 0,3°C (Figura2 e
Tabela 1 ). O Índice de Oscilação Sul (IOS) passou de 1,4 (janeiro de 2014), para 0,1 (fevereiro de 2014). Embora as anomalias de TSM tenham alcançado valores de -1°C no Pacífico Equatorial, outras características ainda são necessárias para que se configure um padrão típico de um evento de La Niña. Nas camadas subsuperficiais do Oceano Pacífico as anomalias positivas se intensificaram com relação ao mês anterior e se deslocaram para leste. Anomalias negativas ainda persistem próximo à costa oeste da América do Sul (ver Figura E no Apêndice). Na maior parte do Atlântico Tropical, houve condições normais de TSM. Porém, destacaram-se as anomalias negativas de TSM próximo à costa noroeste da África, no Atlântico Tropical Norte, e as anomalias positivas próximas à costa oeste-sudoeste da África, no Atlântico Tropical Sul. Essas condições favoreceram um gradiente meridional negativo de TSM, depois de cerca de dois anos com gradiente positivo. Nas áreas subtropicais do Atlântico Sul, houve persistência das anomalias positivas observadas no mês anterior, em uma faixa que se estende desde a costa sudeste da América do Sul até a costa sudoeste da África, entre as latitudes 20°S e 40°S, com anomalias positivas de até 3°C.

A alta subtropical do Atlântico Sul se deslocou para leste, em comparação com o mês anterior, ficando mais intensa que a climatologia (Figura 5). No Pacífico Sudeste, houve persistência de intensas anomalias positivas de Pressão ao Nível do Mar (PNM), enquanto que, sobre o Atlântico Sul, houve o deslocamento para leste de anomalias negativas de PNM.

Os ventos alísios estiveram mais fracos sobre o Atlântico Equatorial, porém mais intensos sobre o Atlântico Norte (Figura 6). Embora mais fraca, ainda persistiu uma anomalia anticiclônica no centro-leste da América do Sul. Sobre o Oceano Pacífico, os ventos alísios estiveram dentro da média no setor central, porém com anomalias de oeste no Pacifico Oeste e anomalias de leste junto à costa oeste da América do Sul.

No campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL), a persistência de anomalias positivas sobre a Região Sudeste foi consistente com a anomalia de pressão e circulação atmosférica em baixos níveis, evidenciando a pouca influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (ver secção 3.3.1). As anomalias negativas de ROL (aumento de convecção), notadas sobre o norte da América do Sul, foram consistentes com a intensificação dos ventos sobre o Atlântico Norte. Na região central da Bacia do Prata, ocorreram anomalias negativas de ROL, indicando o aumento da convecção sobre o Uruguai e parte da Argentina (Figura 7). No Pacífico Equatorial, observou-se a alternância de anomalias do Oceano Índico/Indonésia até o Pacífico Central/Leste. Comparando com o mês anterior, houve um deslocamento para leste do dipolo associado à OMJ. Essas anomalias também foram consistentes com as anomalias de TSM. A propagação da OMJ é vista no campo de anomalia de ROL filtrada na banda 30-60 dias (ver Figura C no Apêndice), em que se nota a variabilidade da convecção média entre 0° e 10°S, com anomalias negativas sobre a América do Sul (a leste de 60°W), representando a convecção anômala observada no norte da América do Sul.

No campo de anomalias de linhas de corrente em 200 hPa, sobrepostas às anomalias de ROL, notou-se uma circulação ciclônica anômala em altos níveis sobre o leste da América do Sul (ver Figura 7), que resultou em subsidência do ar e diminuição da convecção em parte da Região Sudeste do Brasil (ver seção 2.1). Sobre o Pacífico Central, o par de ciclones ao norte e ao sul do equador estabeleceu anomalias de oeste em altos níveis e foi associado às anomalias negativas de TSM na região equatorial.
No Hemisfério Sul, o campo de altura geopotencial em 500 hPa apresentou anomalias negativas sobre a região polar, indicando o fortalecimento do vórtex polar (Figura 9). Nas latitudes médias, observou-se uma configuração de onda 1, com anomalias positivas sobre o Pacífico, também associadas a um bloqueio atmosférico, e negativas sobre o Atlântico.

Na primeira quinzena de fevereiro, as chuvas ocorreram abaixo da média na maior parte das Regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Já durante a segunda quinzena, ocorreu aumento da convecção principalmente na Região Centro-Oeste, com destaque para as maiores anomalias positivas de precipitação no oeste do Mato Grosso. As Figuras 11 e 12 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 13. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Choveu acima da média histórica no norte e oeste do Amazonas, noroeste e sudeste do Pará, em áreas isoladas no norte e sul do Tocantins e no extremo sul de Rondônia. Por outro lado, o posicionamento mais a oeste da Alta da Bolívia foi consistente com o acentuado déficit pluviométrico no sudeste do Amazonas e no nordeste do Pará, onde as anomalias negativas excederam 200 mm. Anomalias negativas também predominaram no Acre, Amapá, Rondônia e no setor leste do Tocantins. Os maiores acumulados diários de precipitação ocorreram nas cidades de Soure-PA (99 mm, no dia 02), Itacoatiara-AM (99,2 mm, no dia 08), Conceição do Araguaia-PA (163,2 mm, no dia 14), Itaituba-PA (116 mm, no dia 15) e Codajás-AM (99,3 mm, no dia 20). Na cidade de Conceição do Araguaia-PA, o acumulado mensal atingiu 414,2 mm, ficando 171,8 mm acima da climatologia mensal. No oeste do Amazonas, a cidade de Benjamin Constant acumulou 399,6 mm de chuva, excedendo a climatologia mensal em 123 mm. A capital Manaus acumulou apenas 245,4 mm, ficando 15,2% abaixo da climatologia. A capital paraense acumulou 602,9 mm ao longo de todo o mês, excedendo a climatologia em 190,4 mm (Fonte: INMET).

A atividade convectiva foi mais acentuada no oeste da Região, com anomalias positivas de precipitação principalmente nos setores sul e oeste do Mato Grosso. Por outro lado, anomalias negativas de precipitação ocorreram no norte e centro do Mato Grosso, em quase todo o Goiás e na parte mais central do Mato Grosso do Sul. Os maiores acumulados diários de precipitação foram registrados em São Vicente-MT (102,1 mm, no dia 04) Canarana-MT (102,6 mm, no dia 17), mas também foram acentuados em São José do Rio Claro-MT (90,8 mm, no dia 12) e na cidade de Ponta Porã, no sul do Mato Grosso do Sul (94 mm, no dia 21). Na cidade de São José do Rio Claro-MT, o acumulado mensal de precipitação atingiu 557,5 mm (Fonte: INMET).

A atuação anômala de vórtices ciclônicos na alta troposfera favoreceu a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica na maior parte da Região. Apenas em áreas isoladas, os totais pluviométricos excederam a climatologia mensal. Em algumas localidades, os acumulados diários foram superiores a 80 mm, destacando-se as cidades de Carolina-MA (86 mm, no dia 14) e Barbalha-CE (101,2 mm, no dia 17). Na cidade de São Luís, capital do Maranhão, o total mensal atingiu 251 mm, ficando abaixo da climatologia mensal (373 mm), segundo dados do INMET.

O déficit pluviométrico foi ainda mais acentuado na Região Sudeste, que se encontra no seu período chuvoso. As anomalias negativas excederam 100 mm em parte de São Paulo e no centro-sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro. As chuvas ficaram próximas à média climatológica apenas no norte do Espírito Santo. Segundo dados do INMET, os acumulados diários mais expressivos foram registrados em Formoso-MG (87,8 mm) e no Mirante de Santana, na capital paulista (71,2 mm), ficando os respectivos totais mensais (167 mm e 197,6 mm) próximos aos valores climatológicos (156,3 mm e 221,5 mm).

A condição de bloqueio atmosférico sobre o Pacífico Sul favoreceu o excesso de chuva no sul da Região Sul. Na cidade de Torres-RS, dos 432 mm de chuva acumulados no decorrer deste mês, 408 mm ocorreram em apenas cinco dias, sendo que 256,9 mm foram registrados somente no dia 14. Nesta localidade, o volume esperado para todo o mês é de 154,8 mm. Em Santa Catarina e no Paraná, as chuvas ocorreram predominantemente abaixo da média histórica. Ainda assim, no dia 15, registraram-se 101,7 mm de chuva na cidade de Paranaguá-PR, quando da incursão do terceiro sistema frontal (ver seção 3.3.1). Na cidade de Maringá-PR, choveu 81,4 mm entre os dias 20 e 21 (Fonte: INMET).

As temperaturas máximas excederam a climatologia principalmente nas Regiões Sul e Sudeste (Figuras 14 e 15).. Segundo dados das estações convencionais do INMET, as máximas atingiram 40,2°C em Indaial-SC (dia 08) e 39,4°C nas cidades de Santa Maria-RS (dias 07 e 09) e São Luiz Gonzaga-RS (dias 09 e 11). No aeroporto do Galeão-RJ e na capital carioca, a temperatura máxima atingiu respectivamente 39,9°C e 38°C no dia 27. Na estação do Mirante de Santana, na capital paulista, a temperatura média mensal para este mês ficou em torno dos 31°C, sendo a climatologia mensal igual a 28°C (Fonte: INMET). Nas Regiões Sul e Sudeste, as temperaturas mínimas médias mensais foram as mais baixas, porém próximas a ligeiramente acima dos valores climatológicos (Figuras 16 e
17). No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal foi bastante elevada, variando entre 20°C e 30°C, com anomalias positivas superiores a 3°C no setor leste (Figuras 18 e 19).

Quatro sistemas frontais atuaram em território brasileiro no decorrer de fevereiro de 2014 (Figura 20). Este número ficou abaixo da climatologia para latitudes entre 25oS a 35oS. Destes sistemas, apenas dois se deslocaram pelo interior e litoral da Região Sul. O primeiro e segundo sistemas frontais atuaram apenas no litoral de Santa Vitória do Palmar-RS, respectivamente nos dias 06 e 10, deslocando-se posteriormente para o oceano.

O terceiro sistema frontal ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul no dia 13. Este sistema deslocou-se até o litoral do Paraná, ocasionando chuvas mais acentuadas em áreas costeiras desde o Rio Grande do Sul ao sul de São Paulo.

O quarto sistema frontal atuou apenas no interior e litoral do Rio Grande do Sul, onde permaneceu semiestacionário entre os dias 25 e 27.

No decorrer de fevereiro de 2014, apenas duas massas de ar frio ingressaram pelo sul do Brasil. Estas massas de ar frio restringiram sua atuação ao centro-sul do Brasil, proporcionado leve declínio da temperatura.

No dia 13, a primeira massa de ar frio ingressou pelo centro-sul do Rio Grande do Sul. O anticiclone associado avançou na retaguarda do terceiro sistema frontal, influenciando toda a Região Sul nos dias 15 e 16. Na cidade serrana de Bom Jesus-RS, a temperatura mínima declinou de 17,6°C para 12,6°C entre os dias 13 e 15 (Fonte: INMET). No dia 17, esta massa de ar frio influenciou também o sul do Estado de São Paulo e o Mato Grosso do Sul.

A segunda massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul no dia 26. Na cidade de Uruguaiana-RS, a temperatura mínima declinou 5,8°C, passando a 14,6°C no dia 27 (Fonte: INMET). No dia seguinte, o anticiclone influenciou todo o Rio Grande do Sul, indo posteriormente para o oceano.

A presença de vórtices ciclônicos na alta troposfera, próximo e sobre a costa leste do Brasil, foi notada na maioria das pêntadas de fevereiro de 2014 (Figura 21). Na 5ª e 6ª pêntadas, a formação de VCANs ocorreu principalmente sobre as Regiões Nordeste e Sudeste do Brasil e sobre o oceano adjacente, contribuindo para a diminuição das chuvas na Bahia, em Minas Gerais, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro (ver seção 3.3.1). Em todas as pêntadas, a nebulosidade associada à ZCIT ocorreu entre 0° e 5°S (ver seção 3.3.1). Na Região Sul, a atividade convectiva foi maior na 3ª e 6ª pêntadas, principalmente associada à atividade frontal (ver seção 3.1).

Na segunda quinzena de fevereiro de 2014, houve a formação de um fraco episódio de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). A banda de nebulosidade associada a este episódio de ZCAS (Figura 22) se estabeleceu sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste no período de 15 a 18, com os maiores acumulados de precipitação sendo observados no leste de São Paulo, no sudoeste de Minas Gerais e no leste do Mato Grosso (Figuras 22a e 22e). No nível de 850 hPa, notou-se a formação de uma circulação ciclônica sobre o Mato Grosso associada ao aumento da convecção, porém sem a definição de uma banda de convergência de umidade característica de eventos bem configurados de ZCAS (Figura 22b). A região de maior movimento vertical ascendente (500 hPa) foi notada, por sua vez, sobre o Mato Grosso, Goiás, sul de Minas Gerais e norte de São Paulo (Figura 22c). No nível de 200 hPa, a formação de um vórtice ciclônico centrado sobre o leste do Atlântico Sul deu suporte dinâmico a este fraco episódio de ZCAS (Figura 22d).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ocorreu em torno de sua posição climatológica no decorrer de fevereiro de 2014 (Figura 23). Somente na 2ª, 3ª e 4ª pêntadas, a ZCIT atuou ligeiramente ao norte de sua climatologia, contribuindo para o déficit pluviométrico entre o Amapá e o norte da Região Nordeste (ver seção 2.1). A fraca atividade convectiva da ZCIT pode ser notada nos campos de temperatura de brilho, principalmente na 5ª e 6 ª pêntadas (Figura 24).

As Linhas de Instabilidade (LIs) estiveram melhor caracterizadas em dezesseis dias de fevereiro, com atuação preferencial entre o Amapá e o norte da Região Nordeste (Figura 25). Pode-se notar, em alguns dias, a acentuada convecção notada pelos baixos valores de temperatura no topo das nuvens, valores inferiores a -70°C, com destaque para os dias 04, 08 e 09.

A atuação da corrente de jato na alta troposfera foi notada sobre o centro-sul da Argentina, especialmente durante a primeira quinzena de fevereiro de 2014. De modo geral, o jato subtropical apresentou magnitude média mensal inferior a 30 m/s sobre a América do Sul (Figura 26a). Considerando o escoamento climatológico em 200 hPa, a corrente de jato na alta troposfera esteve mais fraca e mais ao sul para este período do ano. No dia 13, o jato atuou sobre o Atlântico Sul, onde atingiu magnitude superior a 70 m/s (Figura 26b). Neste dia, houve a incursão do terceiro sistema frontal sobre o sul do Brasil (Figura 26c). Entre os dias 15 e 20, o jato subtropical atuou sobre o extremo sul do continente sul-americano. No dia 25, o jato atuou sobre o centro-norte da Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, com magnitude média de até 50 m/s (Figura 26d) Neste dia, o posicionamento do jato também esteve associado à formação do quarto sistema frontal sobre o sul do Brasil.

No decorrer de fevereiro de 2014, o centro da circulação anticiclônica associada à Alta da Bolívia foi observado entre o Peru e a Bolívia. De modo geral, a alta troposférica configurou-se em 21 dias, preferencialmente sobre o sul do Peru (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da circulação anticiclônica em 200 hPa posicionou-se na fronteira entre o Peru, Chile e Bolívia, a noroeste de sua posição climatológica (Figura 27a). Na imagem do satélite GOES-12, nota-se a nebulosidade associada à circulação da Alta da Bolívia, quando se posicionou sobre Mato Grosso no dia 17 (Figura 27b).

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) configuraram-se sobre o centro-leste da América do Sul e Atlântico Sul adjacente, no decorrer de fevereiro de 2014. O primeiro, segundo e sétimo episódios de VCAN foram os que mais contribuíram para a diminuição das chuvas principalmente nas Regiões Sudeste e Nordeste do Brasil (Figura 28a). A Figura 28b ilustra a configuração do VCAN sobre o Oceano Atlântico, atuando em conjunto com a alta troposférica centrada sobre o oeste do Brasil (ver seção 4.2). A partir do dia 25, o centro do VCAN inibiu a convecção sobre Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, como mostra a Figura 28c.

Em fevereiro, observaram-se elevados valores de precipitação em parte da bacia do Amazonas. As anomalias negativas de precipitação predominaram nas bacias do São Francisco, Paraná e Atlântico Sudeste, onde a maioria das estações fluviométricas monitoradas apresentou valores de vazão inferiores a janeiro passado e abaixo da MLT. Ressaltam-se, durante a primeira quinzena de fevereiro, as chuvas muito acima da média no norte da Bolívia, que contribuíram para o aumento dos níveis dos rios no sudoeste da Amazônia.

A Figura 29 mostra a localização das estações fluviométricas utilizadas nestas análises. As séries históricas de vazões médias mensais, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 30. Destacou-se a diminuição das vazões na maior parte das estações monitoradas, em relação ao mês de janeiro. Os valores das vazões médias mensais deste mês e os desvios em relação à MLT das estações monitoradas estão apresentados na Tabela 3.

Na estação de Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas utilizando um modelo estatístico, a partir das cotas observadas no Rio Negro. Neste mês, a máxima altura registrada foi de 24,65 m, a mínima foi de 23,35 m e a média de 23,96 m, valor muito próximo à MLT e ao que foi registrado em fevereiro de 2013 (Figura 31).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais das estações de Samuel-RO e Coaracy Nunes-AP foram muito superiores às climatológicas e também excederam os valores registrados no mesmo período de 2013. Nas demais estações, as vazões médias mensais foram relativamente próximas ao valor da MLT. Em todas as estações localizadas nesta bacia, as vazões médias mensais excederam os valores observados em janeiro passado. Na bacia do Tocantins, a estação de Tucuruí-PA apresentou vazão média mensal superior ao mês anterior, seguindo o ciclo anual, e muito próxima ao correspondente valor da MLT.

Na bacia do São Francisco, os valores das vazões médias nas estações monitoradas foram bastante inferiores aos climatológicos e também aos observados no mês anterior, como resultado das anomalias negativas na precipitação. O mesmo foi verificado na bacia do Paraná, onde todas as estações fluviométricas monitoradas apresentaram desvios negativos em relação às MLTs e vazões inferiores ao mês anterior.

Na bacia do Atlântico Sudeste, apenas a estação de Registro-SP apresentou vazão maior em relação a janeiro passado, porém abaixo do valor climatológico. No Vale do Itajaí, foram registradas precipitações maiores que a média em quase todas as estações monitoradas, exceto nas estações de Blumenau-SC e Ibirama-SC (Tabela 4). Entretanto, a estação de Blumenau-SC apresentou uma vazão média mensal próxima ao valor da MLT. A estação de Passo Fundo-RS, localizada na bacia do Uruguai, apresentou uma vazão média inferior ao valor da MLT e também em relação ao mês anterior.

No decorrer de fevereiro de 2014, foram detectados cerca de 1.550 focos de calor em todo o Brasil , segundo detecções feitas a partir de imagens do satélite AQUA_M-T (Figura 32). Este valor correspondeu a 60% do valor observado em janeiro passado. Esta diferença também foi associada à redução climatológica das queimadas em todo o País, apesar da estiagem e das temperaturas máximas elevadas registradas. No entanto, o número de queimadas detectado esteve próximo ao valor observado no mesmo período de 2013.

Ainda em relação ao ano passado, destacou-se aumento das queimadas no Rio de Janeiro (1.000%, com 116 focos), em Roraima (300%, com 226 focos), no Mato Grosso do Sul (40%, com 160 focos) e em Minas Gerais (10%, com 160 focos), onde houve acentuada anomalia negativa de precipitação. No Mato Grosso, houve redução de 40%, com 200 focos.

Considerando a climatologia de 16 anos, houve aumento não significativo em Roraima e em parte do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia.

Nos demais países da América do Sul, destacou-se o aumento de 40% na Colômbia (4.430 focos). Na Venezuela, Paraguai e Argentina, houve anomalia positiva das queimadas, as quais foram mais intensas, apesar da redução em torno de 10% verificada neste mês de fevereiro, em relação ao mesmo período de 2013.

Durante o mês de fevereiro de 2014, predominaram anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) sobre a Península Antártica e no mar de Weddell (Figura 33a). No norte do mar de Bellingshausen, anomalias positivas persistem desde dezembro de 2013. A temperatura do ar em superfície apresentou valores abaixo da média em toda a região dos mares de Bellingshausen e Weddell. Na Península Antártica, os valores de temperatura ficaram 3°C abaixo da média, principalmente na sua região sul (Figura 33b). Estas temperaturas baixas decorrem da circulação ciclônica sobre a Península, que trouxe um fluxo vindo de sul para o centro e norte da Península. As anomalias de temperatura têm sido negativas desde setembro de 2013 em toda a região da Península e nos mares de Weddell e Bellingshausen.

No campo de anomalia do vento em 925 hPa, destacou-se a circulação ciclônica sobre a Península Antártica (Figura 34a). O regime da circulação tem variado significativamente nos últimos meses, embora um fluxo de leste e sul tenha sido verificado desde agosto de 2013. No nível de 250 hPa, a corrente de jato concentrou-se entre as latitudes de 35°S e 60°S, com maior intensidade em torno de 45°S, sobre o Atlântico Sul, e ventos máximos médios mensais que chegaram a aproximadamente 40 m/s (Figura 34b).

É importante mencionar que, em meados de fevereiro de 2014, a circulação na estratosfera antártica, no nível de 10 hPa e numa altitude aproximada de 25 km, retornou ao sentido ciclônico (ou horário), invertendo o sentido anticiclônico que costuma se estabelecer apenas nos meses do verão austral. Este mesmo padrão ocorreu em meados de novembro de 2013. Esta inversão na rotação do vento também foi observada no nível de 70 hPa, em aproximadamente 17 km altitude, poucos dias após o fenômeno ocorrer em 10 hPa.

As anomalias de ventos de leste em 925 hPa, também anomalamente frios, contribuíram, possivelmente, para a expansão na extensão do gelo marinho no mar de Weddell, com persistência de anomalias positivas desde dezembro de 2013 (Figuras 35a e 35b) .

Na estação antártica chilena (Base Frei), aproximadamente 35 km a sudoeste da Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz (EACF), ambas na Ilha Rei George, a magnitude média mensal do vento foi de 7,9 m/s. A temperatura do ar (-0,1°C) ficou 1,4°C abaixo da média histórica, mantendo a sequência de anomalias negativas mensais desde agosto de 2013.
 
Resumos mensais e anuais da EACF, disponíveis até 2013, bem como a climatologia para o período de 1983 a 2013, encontram-se publicados no endereço http://antartica.cptec.inpe.br/~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica também estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).


[Figura A] [Figura B] [Figura C] [Figura D] ] [Figura E]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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