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Edição Atual
Volume 23 - Nº04 - Abril/2008

SUMÁRIO
Em abril, as chuvas continuaram acima da média histórica na maior parte do Brasil. No norte da Região Nordeste e em áreas no norte do Pará e Amapá, as chuvas estiveram associadas principalmente à atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). O transbordamento de rios localizados nas Regiões Norte e Nordeste causou enchentes em cidades do Amazonas, Amapá, Rondônia, Acre, Piauí e Maranhão. Nas Regiões Sul e Sudeste, ocorreram chuvas intensas, ventos fortes e granizo em várias localidades. Estes eventos foram decorrentes principalmente da incursão de sistemas frontais, da atuação de cavados em médios e altos níveis da atmosfera e da atuação do jato em baixos níveis, em particular no final da segunda quinzena. O avanço de massas de ar frio sobre a Região Centro-Oeste e o sul da Região Norte ocasionaram os primeiros episódios de friagem do ano.

Os campos oceânicos e atmosféricos de escala global ainda evidenciaram condições associadas ao fenômeno La Niña sobre os setores central e oeste do Pacífico Equatorial contudo, o relaxamento dos alísios sobre o Pacífico Leste continua sinalizando o enfraquecimento gradual do atual episódio de La Niña nesta área. O campo de Radiação de Onda Longa (ROL) destacou a intensa atividade convectiva associada à ZCIT na região do Atlântico Equatorial.

A maioria das bacias brasileiras apresentou chuvas acima da média histórica e registros de vazões que excederam a MLT. Contudo, houve diminuição das vazões em mais da metade das estações monitoradas, em comparação com o mês anterior.

Os 280 focos de queimadas detectados pelo satélite NOAA-15 estiveram 40% abaixo do número detectado em março passado. Esta redução pode ser considerada normal, uma vez que abril costuma ser um mês no qual se registra menor número de queimadas em decorrência do aumento climatológico das chuvas em grande parte do Brasil.


Em abril, persistiram anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) numa grande extensão do Pacífico Equatorial (Figura 1). Contudo, houve diminuição da magnitude das anomalias de TSM em quase todas as regiões dos Niños, em comparação com o mês anterior (Figura 2). Nas regiões dos Niños 1+2 e 3 e 4, os valores médios observados estiveram mais próximos dos climatológicos, sendo as anomalias iguais a 0,4ºC e -0,2ºC, respectivamente. Já nas regiões dos Niños 3.4 e 4, onde o sinal do fenômeno La Niña permaneceu intenso, as anomalias negativas de TSM registraram -0.9 e -1ºC (Figura 2 e
Tabela 1). O Índice de Oscilação Sul (IOS) passou de 1,1 para 0,6 neste mês, consistente com o aquecimento gradual das águas superficiais na região do Pacífico Equatorial. No Oceano Atlântico Sul, destacou-se a área de anomalias positivas de TSM entre a costa da América do Sul e a África. Esta configuração pode ter favorecido a maior atividade convectiva na região de atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) no decorrer deste mês.

O campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL) evidenciou uma extensa área de maior atividade convectiva (anomalia negativa de ROL) desde a Indonésia até o norte da Nova Zelândia (Figura 5). Esta configuração foi consistente com a atuação mais intensa do fenômeno La Niña na região equatorial do Pacífico Oeste e ressaltou o deslocamento para oeste da Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS). Destacou-se, também, a extensa área de anomalia negativa de ROL sobre o Atlântico Equatorial, refletindo a ocorrência de alguns episódios de banda dupla da ZCIT (ver seção 3.3.1). A Oscilação Intrasazonal Madden-Julian (OMJ) continua bem configurada e voltou a apresentar um sinal favorável à ocorrência de chuvas acima da média sobre o Nordeste do Brasil no final de abril e início de maio de 2008 (ver seção 2.1.3).

O campo de Pressão ao Nível do Mar (PNM) destacou a predominância de valores acima da média nos setores central e leste do Oceano Pacífico e abaixo da média em grande parte do Pacífico Oeste, estendendo-se até a bacia do Oceano Atlântico (Figura 6). Esta configuração refletiu a persistência do padrão canônico associado ao atual fenômeno La Niña. No Atlântico Sul, em particular, destacou-se a grande área de anomalia negativa de PNM próximo à costa sudeste da América do Sul e o posicionamento do centro do sistema de alta pressão semi-estacionário próximo ao sul da África, o que foi consistente com o enfraquecimento dos alísios de sudeste adjacente à costa leste do Nordeste do Brasil e, conseqüentemente, com a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica nesta área (ver seção 2.1.3).

Os ventos em 850 hPa continuaram anomalamente intensos em torno e a oeste da Linha Internacional de Data (180º) e mais fracos adjacente à costa oeste da América do Sul, entre o Equador e aproximadamente 10ºN (Figuras 7 e
8). Na região do Atlântico Sul, os ventos de sudeste continuaram mais fracos do que a climatologia adjacente à costa nordeste da América do Sul, conforme mencionado anteriormente.

No campo de anomalia de vento em 200 hPa, manteve-se a configuração do par de ciclones anômalos centrados a leste da Linha Internacional de Data, em ambos os hemisférios, igualmente consistentes com a atuação do fenômeno La Niña. Por outro lado, destacou-se o par de anticiclones anômalos sobre a bacia do Oceano Atlântico, simétricos em relação ao Equador, e que refletiram a maior atividade convectiva em baixos níveis associada à maior atuação ZCIT.

No campo de altura geopotencial em 500 hPa, notou-se a configuração do número de onda 3 nas latitudes médias do Hemisfério Sul (Figura 12).

As chuvas foram mais acentuadas no norte do Pará, no Amapá e no norte do Nordeste. Nestas áreas, os totais mensais de precipitação ocorreram acima da média e estiveram associados principalmente à atuação da ZCIT e à formação de Linhas de Instabilidade (LI's). Choveu acima da média na maior parte da Região Centro-Oeste e houve registro de queda de granizo em localidades do Mato Grosso do Sul. Na Região Sul, a atividade frontal favoreceu as chuvas no oeste de Santa Catarina. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

A proximidade da ZCIT e a formação de Linhas de Instabilidade (LI's) ao longo da costa contribuiu para os elevados totais de precipitação no Amapá e no norte do Pará. Destacaram-se as chuvas registradas em Belém-PA (131,4 mm, no dia 01), Belterra-PA (107,2 mm, no dia 05) e Pedro Afonso-TO (103,3 mm, no dia 05). O calor intenso e a umidade elevada, assim como a região de convergência associada ao escoamento difluente da Alta da Bolívia (ver seção 4.2), também foram favoráveis à formação de intensas áreas de instabilidade no interior da Região. No dia 08, o aumento do nível dos rios Tocantins e Itacaúnas provocou inundação na cidade de Marabá, leste do Pará, e centenas de famílias ficaram desabrigadas, segundo informações da defesa civil local. A cidade de Altamira, norte do Pará, que também foi atingida pela inundação, acumulou 90 mm de chuva entre os dias 07 e 08. Durante a segunda quinzena, a atividade convectiva continuou intensa em toda a Região, com destaque para os acumulados de chuva em Cruzeiro do Sul-AC (115,1 mm) e Peixe-TO (99,8 mm), ambos registrados no dia 16.

Houve diminuição das chuvas em toda a Região Centro-Oeste, em comparação com março passado. Contudo, os totais acumulados ainda ocorreram acima da média na maior parte de Goiás, setores central e sudeste do Mato Grosso e no norte e leste do Mato Grosso do Sul. A atuação de sistemas frontais, a formação de áreas de instabilidade associadas ao calor e à umidade e a atuação da Alta da Bolívia, em alguns dias, favoreceram a ocorrência de elevados totais diários de precipitação. Em Rondonópolis-MT registrou-se 97,8 mm no dia 02. Destacou-se, também, a queda de granizo na cidade de Caarapó-MS, causando um grande prejuízo ao setor agrícola.

As chuvas ocorreram acima da média no norte da Região Nordeste, particularmente do norte do Maranhão ao Rio Grande do Norte, onde os totais mensais de precipitação variaram entre 300 mm e 500 mm. A ZCIT e a formação de Linhas de Instabilidade (LI's) ao longo da costa foram os principais sistemas responsáveis pela ocorrência destas chuvas. Destacaram-se as chuvas diárias registradas em Chapadinha-MA (123,6 mm, no dia 02), Macau-RN (113,5 mm, no dia 03), Natal-RN (105 mm, no dia 23) e Chaval-CE (158 mm, no dia 06). Por outro lado, o leste do Nordeste foi desfavorecido pela atuação de cavados e vórtices ciclônicos na alta troposfera, os quais causaram subsidência de grande escala e, conseqüentemente, diminuição das chuvas entre o leste da Paraíba e o sul da Bahia, na maior parte do mês. Nesta áreas, as chuvas ocorreram abaixo da média histórica em mais que 50 mm.

A atuação de três sistemas frontais e o deslocamento de cavados na média e alta troposfera favoreceram a ocorrência de chuvas acima da média histórica em praticamente toda a Região Sudeste. Destacaram-se os totais diários, superiores a 90 mm, registrados em Minas Gerais (Paracatu-MG: 102 mm, no dia 06; e Bambui: 91,8 mm, no dia 07). No dia 14, a atuação do segundo sistema frontal ocasionou chuva e vento fortes na região metropolitana de São Paulo. No aeroporto de Congonhas, as rajadas de vento atingiram 52 km/h. Entre os dias 21 e 22, a formação de um vórtice ciclônico em médios e altos níveis da atmosfera (ver seção 4.3) causou temporais seguidos por ventos fortes em várias cidades do Estado de São Paulo. Além da capital paulista, houve pontos de alagamento e quedas de árvores em outras localidades no interior do Estado, com destaque para as cidades de Tatuí, Guarulhos, Jaboticabal, Araras e Mogi Guaçu. No dia 29, a atuação do quarto sistema frontal, intensificado pela passagem do jato subtropical (ver seção 4.1) favoreceu a ocorrência de chuva intensa no sul da Região. A chuva acumulada na cidade de Avaré, sul do Estado de São Paulo, foi igual a 81,6 mm no dia 30.

Os sistemas frontais e a configuração do jato em baixos níveis contribuíram para a ocorrência de elevados totais de precipitação na Região Sul. Entre os dias 11 e 12, a formação de intensas áreas de instabilidade no oeste da Região foi seguida pela entrada do segundo sistema frontal e pela atividade mais intensa do jato subtropical. Como resultado, ocorreram temporais, ventos fortes e queda de granizo em várias cidades gaúchas. Milhares de casas foram danificadas e cerca de mil pessoas ficaram desabrigadas. Nos dias 13 e 14, registraram-se rajadas de vento superiores a 100 km/h em algumas cidades catarinenses (Urubici: 178,9 km/h; Celso Ramos: 119,5 km/h e Siderópolis: 11,3 km/h), segundo dados das estações automáticas do INMET. Na cidade de Iraí-RS, a chuva acumulada foi igual a 151,4 mm entre os dias 13 e 14. No dia 25, a configuração do jato em baixos níveis proporcionou rajadas de vento que atingiram 97 km/h em São Borja-RS. No final de abril, a configuração de um ciclone extratropical associado ao quarto sistema frontal causou forte instabilidade em Santa Catarina, com rajadas de vento de até 100 km/h na faixa litorânea (Fonte: EPAGRI). No município de Celso Ramos-SC, as rajadas de vento atingiram 100 km/h e a chuva acumulada entre os dias 28 e 29 foi igual a 97 mm. Ressalta-se, também, a maior intensidade do jato subtropical neste período (ver seção 4.1).

A temperatura máxima média mensal variou entre 30ºC e 34ºC em grande parte do centro-norte do Brasil, com destaque para as anomalias positivas maiores que 2ºC no norte de Goiás e Minas Gerais, no sul da Bahia e no leste de Pernambuco. As anomalias negativas de temperatura máxima no Acre, Rondônia e no oeste do Mato Grosso estiveram associadas à incursão de massas de ar frio que ocasionaram os primeiros episódios de friagem do ano (Figuras 16 e
17). A temperatura mínima média mensal variou entre 10ºC, nas áreas serranas da Região Sul, e 24ºC, no norte do Brasil e em áreas isoladas no oeste e sul de São Paulo e no leste do Mato Grosso (Figura 18). Destacaram-se os valores de temperatura mínima acima da média em áreas no Brasil Central (Figura 19). No Estado de São Paulo, a temperatura média variou entre 16ºC e 24ºC, com predominância de anomalia positiva no leste e norte do Estado (Figuras 20 e,
21).

Em abril, quatro sistemas frontais atuaram no Brasil (Figura 22).. Este número ficou abaixo da climatologia para este mês, que é de sete sistemas entre as latitudes 25oS e 35oS. Destes sistemas, três avançaram até o litoral da Região Sudeste, sendo que o segundo e o quarto afetaram significativamente as condições de tempo nos setores central e oeste da Região Sul e no sul da Região Sudeste. O terceiro sistema frontal atuou apenas na faixa litorânea do Rio Grande do Sul.

No dia 01, o primeiro sistema frontal formou-se sobre o oceano, na altura do litoral sul do Rio Grande do Sul. Pelo litoral, este sistema avançou até Cabo Frio-RJ, onde se posicionou no dia 06, às 00:00 TMG. Pelo interior, este sistema deslocou-se até a cidade de Vera Gleba Celeste-MT. Durante sua trajetória, este sistema provocou chuvas fracas na Região Sul e moderadas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Ressalta-se que a massa de ar frio associada favoreceu o declínio das temperaturas máximas em algumas localidades do sul e oeste de Mato Grosso, sul de Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia, caracterizando o primeiro evento de friagem do ano (ver seção 3.2).

O segundo sistema frontal iniciou sua trajetória no litoral da Argentina, ingressando pelo sul do Brasil no dia 12. Esta frente fria foi favorecida pela atuação do jato em baixos níveis e pela maior intensidade do jato subtropical (ver seção 4.1), o que resultou em tempo severo na Região Sul (ver seção 2.1.5). Entre os dias 14 e 15, este sistema frontal avançou pelo interior do continente, atingindo as cidades Cuiabá e Diamantino, no Mato Grosso. Nestas áreas e no sul da Região Norte, a massa de ar frio associada caracterizou o segundo episódio de friagem (ver seção 3.2).

A terceira frente fria atuou apenas no litoral do Rio Grande do Sul, deslocando desde Santa Vitória do Palmar-RS até Porto Alegre-RS, entre os dias 25 e 26. Esta frente fria posicionou-se sobre o oceano no dia 27. Neste mesmo dia, notou-se a formação de áreas de instabilidade sobre o Rio Grande do Sul, decorrentes da configuração do jato em baixos níveis.

O quarto sistema frontal deslocou-se desde o litoral da Argentina, atuando em Santa Vitória do Palmar no dia 29. Este sistema frontal também foi intensificado pela presença dos jatos em baixos e altos níveis da atmosfera, como descrito na seção 4.1. A atuação conjunta destes sistemas ocasionou temporais principalmente na Região Sul e no sul da Região Sudeste (ver seção 2.1). A massa de ar frio associada também afetou parte da Região Centro-Oeste e o sul da Região Norte, o que resultou na ocorrência do terceiro episódio de friagem do ano, como descrito na próxima seção.

Durante o mês de abril, cinco massas de ar frio atuaram no País. O centro do anticiclone associado à massa de ar frio que atuou no final de março deslocou-se para o oceano no dia 01.

No dia 02, a primeira massa de ar frio atuava no Rio Grande do Sul e setor central de Santa Catarina. Nos dias subseqüentes, estendeu-se por toda a Região Sul e pela faixa litorânea do Estado de São Paulo. Pelo interior, deslocou-se até a Região Centro-Oeste e sul da Região Norte, onde ocorreu o primeiro episódio de friagem do ano. O anticiclone associado posicionou-se sobre o oceano no dia 05. Neste dia, registraram-se as mais baixas temperaturas no sul do País, com destaque para a temperatura mínima registrada em São José dos Ausentes-RS, igual a 3,5ºC, inclusive com ocorrência de geada (Fonte: METSUL).

Entre os dias 12 e 13, uma nova massa de ar frio continental, a segunda do mês, atingiu o extremo sul do Rio Grande do Sul. Nos dias 14 e 15, o anticiclone associado atuava sobre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, setores oeste e sul da Região Centro-Oeste e sul do Acre, caracterizando o segundo episódio de friagem. Este anticiclone pós-frontal provocou queda acentuada de temperatura no centro-sul do País e geadas generalizadas na Região Sul. Em algumas localidades, as temperaturas mínimas foram as mais baixas dos últimos nove anos. No dia 15, a temperatura mínima atingiu -0,5ºC em São Joaquim-SC, favorecendo a ocorrência da primeira geada deste ano. No dia seguinte, o centro da massa de ar frio encontrava-se no oceano.

A terceira massa de ar frio atuou na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, no dia 17. Entre os dias 18 e 21, o anticiclone atuou na Região Sul, sendo reforçado por outro anticiclone que se deslocava sobre o oceano.

No dia 23, um anticiclone continental, cujo centro atingiu 1014 hPa, atuou sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No período de 24 a 26, esta quarta massa de ar frio mais fraca estendeu-se pelas Regiões Sul e Sudeste até o sul da Região Nordeste, deslocando-se posteriormente para o oceano.

No decorrer do dia 29, a quinta massa de ar frio continental ingressou no sul do País. No dia seguinte, o anticiclone associado estendeu-se sobre a Região Sul e oeste da Região Centro-Oeste. Houve queda acentuada de temperatura na Região Sul e a ocorrência do terceiro episódio de friagem. Em Vilhena-RO, a temperatura máxima declinou de 30,2ºC para 23,7ºC entre os dias 29 e 30. Na Região Sul, os termômetros marcaram -0,4ºC em Bom Jesus-SC e -2,2ºC em São Joaquim-SC, ambas registradas no dia 30 (Fonte: EPAGRI e INMET).

Neste mês de abril, a maior atividade convectiva ocorreu na região da ZCIT e influenciou principalmente o norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, como pode ser observado em praticamente todas as pêntadas (Figura 23). Na 3ª e 4ª pêntadas, pode-se notar a diminuição da atividade convectiva no setor leste da Região Nordeste, como resultado da maior subsidência associada ao posicionamento dos vórtices ciclônicos em altos níveis sobre áreas oceânicas adjacentes ao leste do Brasil (ver seção 4.2), e também ao enfraquecimento dos alísios de sudeste. Na Região Sul, a atividade convectiva foi maior na 3ª e 6ª pêntadas, devido à incursão do segundo e quarto sistemas frontais, respectivamente (ver seção 3.1).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atuou adjacente à costa norte do Brasil, em torno de sua posição climatológica (Figura 24a). É importante mencionar que a ZCIT apresentou-se bastante intensa entre o final de março e início de abril, favorecendo a ocorrência de elevados totais diários de precipitação no setor norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde choveu acima da média (ver seção 2.1). Em alguns períodos do mês, também foi verificada a formação de duas bandas de nebulosidade associadas à ZCIT: a principal, observada em torno do Equador, favoreceu o aumento das chuvas no Amapá e no norte do Pará; e a banda secundária, que contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média entre o litoral do Maranhão e o Rio Grande do Norte, como ilustra a Figura 24b. Esta configuração de “banda dupla” da ZCIT é típica dos meses de outono no Hemisfério Sul e costuma ocorrer em anos nos quais as chuvas são mais acentuadas no norte da Região Nordeste. A Figura 25 mostra que a maior atividade convectiva da ZCIT, próximo à costa norte da América do Sul, foi notada na 1ª, 3ª, 5ª e 6ª pêntadas de abril, com destaque para a 5ª, onde se nota a formação de duas bandas da ZCIT. Ressalta-se que, neste período do ano, a proximidade da ZCIT costuma influenciar a formação de Linhas de Instabilidade (LI's) ao longo da costa norte do Brasil (ver seção 3.3.2).

As Linhas de Instabilidade (LI's) ao longo da costa norte da América do Sul estiveram melhor caracterizadas em 15 episódios no decorrer deste mês de abril (Figura 26). Assim como notado em março passado, as LI's atuaram em conjunto com a banda de nebulosidade associada à ZCIT, dificultando sua caracterização em vários dias do mês. As LI's configuraram-se preferencialmente entre o Amapá e o norte das Regiões Norte e Nordeste. Destacaram-se os dias 12, 17, 21, 22 e 29, nos quais as LI's proporcionaram significativos totais diários de precipitação no norte dos Estados do Maranhão e Piauí, onde choveu acima da média histórica (ver seção 2.1).

Durante o mês de abril, a atividade mais intensa da ZCIT, inclusive com a formação de banda dupla em alguns dias, inibiu o desenvolvimento de aglomerados convectivos associados à propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) adjacente à costa leste do Nordeste do Brasil. Ressalta-se que estes sistemas são mais freqüentes neste período do ano. Notou-se, ainda, a presença de cavados e vórtices ciclônicos na alta troposfera sobre o Nordeste do Brasil, os quais também favoreceram a subsidência observada sobre o leste do Nordeste, onde as chuvas ocorreram abaixo da média histórica, como descrito na seção 2.1.3.

Em abril, o jato subtropical atuou preferencialmente sobre o nordeste da Argentina, Paraguai, Uruguai e sul do Brasil, com magnitude média mensal entre 30 m/s e 50 m/s (Figura 27a). Considerando o escoamento climatológico, o jato subtropical apresentou-se ligeiramente mais intenso e deslocado para norte, o que favoreceu o deslocamento dos sistemas frontais para latitudes mais baixas (ver seção 3.1). A Figura 27b ilustra a atuação do jato subtropical no dia 13, quando atingiu magnitude de até 70 m/s no sul do Uruguai e intensificou a atividade do segundo sistema frontal à superfície. No final de abril, o jato subtropical voltou a atingir magnitude superior a 70 m/s sobre o Uruguai e extremo sul do Brasil (Figura27c), intensificando o quarto sistema frontal que se deslocou até as Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, conforme ilustra a imagem do satélite GOES-10 para o dia 29 (Figura 27d).

A Alta da Bolívia esteve caracterizada em apenas 16 dias do mês de abril e atuou preferencialmente sobre o interior do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 11ºS/46ºW, a leste de sua posição climatológica (Figura 28). Ressalta-se que esta posição da Alta da Bolívia foi bastante anômala e, em alguns dias, reforçou a convecção sobre os setores norte e oeste do Nordeste do Brasil. Nestas áreas, choveu acima da média histórica (ver seção 2.1.3).

Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) configuraram-se em sete episódios no decorrer do mês de abril (Figura 29a). Destacaram-se o segundo e quarto episódios de VCAN sobre o Nordeste do Brasil e o quinto episódio sobre o Rio Grande do Sul. Este último foi associado ao cavado que se deslocou sobre o setor central da América do Sul no período de 20 a 23. Este episódio favoreceu a ocorrência de temporais principalmente na Região Sul e no Estado de São Paulo, inclusive com queda de granizo (ver seção 2.1). Os demais episódios estiveram associados à bifurcação do jato subtropical. A imagem do satélite GOES-10 ilustra a configuração do vórtice ciclônico no dia 18, quando foi notada uma diminuição da atividade convectiva sobre o Nordeste brasileiro (Figura 29b).

Em abril, as chuvas foram mais escassas na bacia do Amazonas. Nas demais bacias brasileiras, predominaram chuvas acima da média histórica. Por esta razão, os valores de vazão apresentaram-se acima da MLT na maioria das estações fluviométricas monitoradas. Contudo, ressalta-se que mais da metade das estações apresentaram diminuição das vazões em comparação com o mês anterior, principalmente aquelas localizadas no norte da bacia do Paraná.

A Figura 30 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 31. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Durante o mês de janeiro, as cotas atingiram um valor máximo de 27 m, sendo a mínima igual a 26,41 m e a média igual a 26,70 m (Figura 32).

As vazões aumentaram e excederam a MLT na maioria das estações localizadas na bacia do Amazonas, em comparação com o mês anterior e com os correspondentes valores climatológicos. A exceção ocorreu na estação Samuel-RO, no sudoeste da bacia, onde a vazão média mensal diminui e ficou abaixo da MLT. Na estação Tucuruí-PA, na foz da bacia do Tocantins, a vazão apresentou comportamento similar ao da maioria da estações localizadas na bacia do Amazonas.

Na bacia do São Francisco, as vazões diminuíram em comparação com o mês anterior, porém, na estação Três Marias-MG, o valor registrado ficou acima da MLT.

No norte da bacia do Paraná, as vazões começaram a diminuir se comparadas ao mês anterior, porém excederam os correspondentes valores da MLT. Destacaram-se as estações Xavantes-SP, Capivara-SP e Salto Santiago-PR, no sul desta bacia, onde as vazões continuaram aumentando e apresentaram desvios positivos quando comparadas à MLT.

Na bacia do Atlântico Sudeste, a vazão média mensal diminuiu na estação de Registro-SP, apresentando desvio negativo quando comparada à MLT. Nas estações Passo Real-RS e de Blumenau-SC, a vazão média mensal foi maior que aquela registrada no mês anterior, sendo que, na última, o valor registrado excedeu a MLT. Destacou-se, contudo, a predominância de anomalias negativas de precipitação sobre o Vale do Itajaí (Tabela 4).

Na bacia do Uruguai, a vazão registrada na estação Passo Fundo-RS também continuou aumentando durante abril, porém ficou abaixo da MLT.

Abril é um mês no qual se registra menor número de queimadas em decorrência do aumento climatológico das chuvas. Neste mês, esta tendência foi acentuada pela ocorrência de chuvas acima da média na maior parte do País. No total, registraram-se cerca de 882 focos de queimadas no Brasil, detectadas pelo satélite NOAA-151 (Figura33). Este valor ficou apenas 12% acima dos focos detectados no mês anterior e também ocorreu dentro do esperado em função do período chuvoso em alguns setores das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Neste mês, o número de focos detectado menteve-se estável em comparação com abril de 2007. As anomalias positivas de precipitação nas Regiões Sudeste, Nordeste, no norte do Pará e na maior parte da Região Centro-Oeste contribuiram para a diminuição da queimadas nestas áreas, com reduções mais significativas no Mato Grosso (92%, 14 focos), Tocantins (80%, 5 focos), Goiás (76%, 12 focos), Mato Grosso do Sul (59%, 52 focos) e São Paulo (35%, 150 focos). Por outro lado, as anomalias negativas de precipitação verificadas na Região Norte, especialmente em Roraima, favoreceram o aumento dos focos em 460%, com 170 focos. Na América do Sul, houve redução significativa na Venezuela (65%, 180 focos) e na Colômbia (95%, 5 focos). Por outro lado, houve aumento na Bolívia (127%, 100 focos), no sudeste do Paraguai (122%, 242 focos) e no norte da Argentina (17%, com 172 focos), em função das anomalias negativas de precipitação verificadas nestas regiões.
 
1Dados dos satélites NOAA-12 e NOAA-15 reprocessados em janeiro de 2010 e texto atualizado em 02/02/2010. Ver nota explicativa, no 12, no final desta edição.

Em abril, foi observado o predomínio de anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) no Oceano Austral, com valores de até -6 hPa nos mares de Ross, Amundsen e Bellingshausen e de até -4hPa no oeste dos mares de Weddell e Dumont D'Urville (Figura 34). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, continuando a tendência de anomalias positivas iniciada no mês anterior (ver Figura 12, seção 1).

No campo médio mensal de anomalia de vento em 925 hPa, destacou-se a anomalia anticiclônica no setor sudeste do Pacífico Sul e ciclônica no setor sudoeste do Atlântico Sul (Figura 35). Foram registrados três episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste de Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando seis dias. Este escoamento pouco afetou as temperaturas no sul do Brasil, que permaneceram próximas à média nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (ver seção 2.2).

Houve predominância de anomalias positivas da temperatura do ar em 925 hPa no Oceano Austral, com destaque para os valores positivos de até 6ºC no mar de Ross. Na Passagem de Drake, destacaram-se as anomalias negativas de até -1°C (Figura 36). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas aproximadamente 4ºC acima da climatologia no interior do continente.

A anomalia anticiclônica observada no nível de 925 hPa, ao norte dos mares de Amundsen e Bellingshausen (ver Figura 35), propiciou advecção de ar de mais aquecido proveniente do Pacífico Sul em direção à costa do continente antártico. Esta configuração contribuiu, possivelmente, para a manutenção da fraca retração na extensão do gelo marinho nos mares de Amundsen e Bellingshausen, notada desde fevereiro passado (Figura 37).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de leste. A magnitude média mensal do vento foi de 7,5 m/s, superior a média climatológica para este mês (5,8 m/s). A temperatura média do ar foi igual a -1,7ºC e ficou pouco abaixo da climatológica (-1,4ºC). Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1984 a 2008) encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/prod_antartica/data/ resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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