Ministério da Ciência e Tecnologia
Acesse o Portal do Governo Brasileiro
Edição Atual
Volume 24 - Nº04 - Abril/2009

SUMÁRIO
O mês de abril foi marcado pelo excesso de chuva na maior parte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil, onde a elevação do nível dos rios causou inundações e deixou milhares de desabrigados. O nordeste do Pará e o norte dos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará foram as áreas mais afetadas pelas chuvas intensas. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a formação de Linhas de Instabilidade (LI’s) ao longo da costa e a propagação de cavados na média e alta troposfera foram os sistemas que mais favoreceram a ocorrência de chuvas. Por outro lado, choveu abaixo da média histórica na maior parte da Região Sul e no sul das Regiões Centro-Oeste e Sudeste.

O aquecimento das águas no setor leste do Pacífico Equatorial e a situação de normalidade no escoamento de leste em 850 hPa, especialmente a leste de 120ºW, foram consistentes com o enfraquecimento do fenômeno La Niña. No Oceano Atlântico, destacou-se a configuração de um padrão de dipolo no campo de anomalia de TSM pelo terceiro mês consecutivo, o que favoreceu a atuação da ZCIT próximo à costa nordeste da América do Sul. Ressalta-se que a atuação da ZCIT sobrepôs-se ao pulso desfavorável da Oscilação Madden-Julian (OMJ) sobre o Nordeste do Brasil na maior parte deste mês.

As chuvas foram mais acentuadas na bacia do Amazonas, Tocantins e no norte da bacia do Paraná, onde predominaram valores acima da média histórica. Contudo, houve diminuição das vazões em parte da bacia do Amazonas, no sul da bacia do Paraná e na bacia do Atlântico Sudeste.

Os 890 focos de queimadas detectados no País estiveram 5% abaixo do número de focos registrado em março passado, mantendo-se estável em comparação com o mesmo período de 2008.


As anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), observadas durante o mês de abril, mostraram o enfraquecimento do atual fenômeno La Niña na região do Pacífico Equatorial, com condições próximas à normalidade nas regiões dos Niños 1+2, 3, 3.4 e 4 (Figura 1 e
Tabela 1). Ressalta-se que a temperatura do mar na camada sub-superficial, média entre 2ºN e 2ºS, apresentou anomalia negativa de até -4ºC próximo à costa oeste sul-americana, porém anomalias positivas de até 4ºC foram observadas a oeste da Linha Internacional de Data (180ºC), conforme figura mostrada no apêndice. Na região do Atlântico Tropical, manteve-se o padrão de dipolo no campo de TSM observado no mês anterior, ou seja, anomalias negativas ao norte do Equador e positivas ao sul. Esta configuração continuou sendo favorável à atuação da ZCIT ao sul de sua posição climatológica (ver seção 3.3.2).

O campo de Radiação de Onda Longa (ROL) evidenciou áreas cujos valores apresentaram-se abaixo da climatologia ao norte da Indonésia e acima da média no setor leste do Pacífico (Figura 5). Destacou-se também uma extensa área de anomalia positiva de ROL sobre o sudeste da América do Sul e outra área de anomalia negativa sobre os setores central e nordeste do Brasil e oceano adjacente. As anomalias negativas estiveram associadas aos episódios de ZCAS que ainda persistiram no início e meados deste mês e que atuaram ao norte da posição climatológica (ver seção 3.3.1). Destacou-se, também, uma assinatura zonal de anomalias negativas de ROL ao longo da faixa equatorial do Atlântico Tropical Sul. Estas anomalias refletiram o posicionamento da ZCIT ao sul de sua climatologia durante o mês de abril, por sua vez associada, principalmente, ao padrão de dipolo no campo de anomalias de TSM acima mencionado. Ressalta-se que a intensa atividade convectiva sobre as Regiões Norte e Nordeste do Brasil sobrepôs-se à atuação desfavorável da Oscilação Intrasazonal de Maden e Julian (OMJ) que predominou na maior parte do mês, sendo notado um sinal mais favorável da OMJ apenas no final de abril.

No campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM), destacou-se a predominância de anomalias positivas sobre o leste do Pacífico, Atlântico Norte e sobre a maior parte dos continentes americano e africano (Figura 6). Na região do Atlântico Norte, a intensificação do sistema de alta pressão semipermanente também favoreceu o deslocamento da ZCIT ao sul de sua climatologia (ver seção 3.3.2).

No escoamento em 850 hPa, os ventos continuaram mais intensos que a climatologia na região do Pacífico Oeste, principalmente a oeste de 150ºW (Figuras 7 e
8). Na região do Atlântico Equatorial, os alísios apresentaram-se mais relaxados, quando comparados com a climatologia. O enfraquecimento dos ventos adjacente à costa leste da Região Nordeste do Brasil contribuiu para a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica nesta área (ver seção 2.1.5). Contudo, notou-se uma componente de norte no campo de anomalia, próximo à costa norte da Região Nordeste, que refletiu o deslocamento da ZCIT para posições mais ao sul (ver seção 3.3.2).

No escoamento médio em 200 hPa, notou-se a Alta da Bolívia um pouco deslocada para leste (ver seção 4.2), assim como o eixo do cavado posicionado sobre o oceano, próximo ao meridiano de Greenwich (Figuras 9 e
10). Esta configuração resultou em anomalia anticiclônica sobre o leste do Brasil, sendo consistente com a menor frequência dos vórtices ciclônicos em comparação com março passado (ver seção 4.3).

O campo de altura geopotencial em 500 hPa destacou um número de onda 4 nas latitudes extratropicais do Hemisfério Sul (Figura 12).

Durante o mês de abril, as chuvas excederam a média histórica na maior parte dos setores central e norte do País, com destaque para os totais mensais, superiores a 600 mm, entre o extremo norte do Pará e a faixa litorânea do Ceará. Nestas áreas, o excesso de chuva causou a elevação do nível dos rios e inundações em várias cidades. Estas chuvas continuaram associadas principalmente à atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que se posicionou ao sul de sua climatologia, e à formação de Linhas de Instabilidade (LI’s) ao longo da costa. Neste mês, destacou-se também a escassez de chuva na Região Sul, mais acentuada que o observado em março passado. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

A atuação mais ao sul da ZCIT associada à formação de LI's ao longo da costa, as áreas de instabilidade decorrentes do elevado calor e umidade e a presença da Alta da Bolívia, ainda neste mês, favoreceram as chuvas mais acentuadas principalmente nos Estados do Amazonas, Pará, Tocantins e Acre. No nordeste do Pará, os acumulados mensais de precipitação excederam a climatologia em mais que 300 mm. Em Soure-PA, o total de chuva acumulado em abril foi igual a 890,7 mm, excedendo a média histórica em 325,1 mm. A elevação do nível dos rios causou inundações e alagamentos em várias cidades, resultando em centenas de famílias desabrigadas nestas áreas. Destacaram-se os totais diários registrados em Altamira-PA (83 mm, no dia 04), no Rio Branco-AC (95,2 mm, no dia 09), em Soure-PA (159,4 mm, no dia 10; 167 mm, no dia 28) e em Parintins-AM (90,2 mm, no dia 12).

As chuvas foram mais acentuadas no norte da Região, com destaque para o total de precipitação registrado em Brasília-DF (98,1 mm, no dia 13). De modo geral, choveu pouco no centro-sul da Região, especialmente no Mato Grosso do Sul , onde os totais mensais ocorreram abaixo do esperado em até 100 mm. Na cidade de Ivinhema, no sudeste deste Estado, onde a climatologia para este mês é igual a 102,4 mm, praticamente não choveu.

A acentuada atividade convectiva no norte da Região Nordeste foi devida principalmente à ZCIT. Este sistema respondeu pela maior parte da convecção que se estabeleceu principalmente entre o norte do Maranhão e o Ceará. Contudo, é importante ressaltar a atuação conjunta das LI's e de dois episódios de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL’s). Em algumas cidades, os totais diários de chuva excederam 100 mm, como foi observado em Carolina-MA (110,8 mm, no dia 05), em Acaraú-CE (101,5 mm, no dia 11) e em Areia-PB (109,0 mm, no dia 12). Na cidade de Ceará Mirim-RN, a chuva acumulada em apenas um dia (103 mm, no dia 20) correspondeu a pouco mais da metade da climatologia mensal (204,5 mm), ficando o total mensal nesta localidade igual a 377,8 mm. Em São Luís-MA, o total mensal de chuva foi igual a 767,6 mm e excedeu a média histórica em 295 mm. Destacaram-se, também, os acumulados mensais nas cidades de Parnaíba-PI (420,1 mm) e Teresina-PI (437,2 mm), sendo os correspondentes valores climatológicos iguais a 336 mm e 267,9 mm, respectivamente. Choveu abaixo da média histórica entre o leste do Rio Grande do Norte e o nordeste da Bahia. Ressalta-se que o mês de abril marca o início do quadrimestre mais chuvoso neste setor da Região Nordeste.

Os maiores acumulados mensais de precipitação ocorreram em áreas isoladas de Minas Gerais, no Espírito Santo e no oeste de São Paulo, onde as chuvas ocorreram preferencialmente acima da climatologia para este mês. No centro-sul do Rio de Janeiro e na maior parte do Estado de São Paulo, as chuvas apresentaram-se abaixo da média histórica. Contudo, registraram-se alguns episódios de chuva e vento fortes, como ocorreu em José Bonifácio, região de Araçatuba-SP, onde os ventos atingiram 117,7 km/h entre os dias 12 e 13. A intensificação de um cavado em médios e altos níveis favoreceu a formação de áreas de instabilidade nos setores central e litoral da Região Sudeste no final do dia 15, registrando-se 53,7 mm em Ubatuba, litoral norte de São Paulo.

A escassez de chuva foi mais acentuada no Rio Grande do Sul e no Paraná. No oeste gaúcho, a chuva acumulada ficou abaixo do esperado em até 200 mm. A cidade de São Luiz Gonzaga-RS acumulou 7,3 mm, sendo a climatologia para este mês igual a 179,9 mm (Fonte: INMET). Contudo, no leste de Santa Catarina, a atuação mais intensa do jato subtropical contribuiu para a intensificação de um cavado em médios e altos níveis, favorecendo a ocorrência de elevados totais de precipitação em Florianópolis-SC, onde choveu 121 mm no dia 23, sendo o total mensal igual a 314,3 mm, ou seja, mais que 200 mm acima da climatologia para este mês. Neste mesmo dia, a cidade de Itajaí-SC registrou 152,9 mm.

Em abril, as temperaturas máximas foram mais baixas na região serrana localizada no sudeste de Santa Catarina, porém ocorreram valores acima da média especialmente na Região Sul e no sul das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, destacando-se as anomalias de até 5ºC no norte do Paraná e no sudoeste do Mato Grosso do Sul (Figuras 16 e
17). A temperatura mínima média mensal variou entre 10ºC, nas serras gaúcha e catarinense, e 24ºC, no norte da Região Norte (Figura 18). As temperaturas mínimas apresentaram-se acima da média principalmente no norte do Paraná e no sul do Estado de São Paulo (Figura 19). No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 18ºC e 24ºC, com destaque para as anomalias positivas, entre 2ºC e 3ºC, no setor sul (Figuras 20 e,
21).

Cinco sistemas frontais atuaram no Brasil no decorrer de abril de 2009. Este número ficou abaixo da climatologia para este mês, considerando as latitudes 25oS a 35oS (Figura 22). Estes sistemas restringiram seu deslocamento até a Região Sul. O sistema frontal que atuou no sul do Rio Grande do Sul no final do mês anterior deslocou-se até Paranaguá-PR, onde se posicionou no dia 02, indo posteriormente para o oceano.

O primeiro sistema frontal deslocou-se desde a Argentina até o extremo sul do Rio Grande do Sul nos dias 04 e 05. Nestes dias, mesmo com a atuação conjunta de um cavado em médios e altos níveis, registraram-se chuvas de pequena magnitude no sul do País. Este sistema deslocou-se rapidamente para o Atlântico.

O segundo sistema frontal também se deslocou desde a Argentina, atuando no interior e litoral do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 14. Este sistema posicionou-se em Porto Alegre-RS no dia 15, deslocando-se para o oceano. A massa de ar frio que atuou na retaguarda deste sistema causou declínio de temperatura no sul do Brasil (ver seção 3.2).

Entre os dias 17 e 21, a terceira frente fria avançou desde a Argentina até o litoral de Santa Catarina. A massa de ar frio associada também ocasionou queda das temperaturas na Região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul (ver seção 3.2). No dia 21, este sistema frontal atuou próximo ao litoral do Estado de São Paulo e o anticiclone associado favoreceu o aumento da nebulosidade e a ocorrência de chuva entre o leste de São Paulo e o Rio de Janeiro.

No dia 24, o quarto sistema frontal atuou com pouca atividade em Santa Vitória do Palmar-RS. O quinto sistema frontal atuou principalmente sobre o Atlântico, porém o ramo frio deste sistema afetou a faixa litorânea desde a Província de Buenos Aires até Porto Alegre-RS, nos dias 29 e 30. Este sistema apresentou fraca intensidade, causando apenas leve declínio das temperaturas.

Em abril, sete massas de ar frio atuaram no País. Em algumas cidades do Rio Grande do Sul, houve declínio de temperatura mínima de até 9ºC. O anticiclone associado à massa de ar frio que ingressou no sul do Brasil no final do mês anterior continuou sua trajetória nos dias 01 e 02, atuando nos setores central e litoral da Região Sudeste e nos Estados do Mato Grosso do Sul e centro-sul do Mato Grosso. Nos dias subseqüentes, embora com seu centro no Oceano Atlântico, esta massa de ar frio causou declínio das temperaturas no litoral das Regiões Sul e Sudeste.

A primeira massa de ar frio atuou apenas no Rio Grande do Sul nos dias 05 e 06, indo posteriormente para o oceano. No dia 08, a segunda massa de ar frio ingressou na Região Sul, deslocando-se também para o oceano.

No dia 09, a terceira massa de ar atuou no sul do Rio Grande do Sul, estendendo-se pelas Regiões Sul, Sudeste, sul e oeste da Região Centro-Oeste e sul da Região Norte no dia seguinte. No período de 11 a 13, o centro do anticiclone associado deslocou-se sobre a Região Sul e setores central e litoral da Região Sudeste, posicionando-se sobre o oceano. Na Região Sul, o dia 11 foi o mais frio. Neste dia, registrou-se 8ºC em Lagoa Vermelha, norte do Rio Grande do Sul, 9ºC em Campos Novos-SC, 4,5ºC em Lages-SC e 10,3ºC em Campo Mourão-PR. Houve registro de geada em São Joaquim, na serra catarinense.

A quarta massa de ar frio ingressou pelo Rio Grande do Sul no dia 14. No período de 15 a 18, o anticiclone associado posicionou-se sobre o Oceano Atlântico, causando declínio de temperatura na faixa litorânea desde a Região Sul até o sul da Região Nordeste. Em Bagé-RS, a temperatura mínima declinou 15,6ºC no dia 14 para 6,5ºC no dia 15. Na Região Sudeste, o dia mais frio ocorreu entre os dias 18 e 19. Em Sorocaba-SP e Iguape-SP, o dia 18 foi o mais frio, com temperatura mínima igual a 13ºC. Em Taubaté-SP, registrou-se 12ºC no dia 19. Neste mesmo dia, a temperatura mínima foi igual a 18ºC e 13,3ºC nas cidades de Campos-RJ e Cordeiro-RJ, respectivamente. Em Ponta Porã, no sul do Mato Grosso do Sul, registrou-se 13,4ºC no dia 18.

No dia 19, a quinta massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul, avançando, posteriormente, para toda a Região Sul. Em Bagé, no sul do Rio Grande do Sul, registrou-se 13,5ºC no dia 19, passando a 4,9ºC no dia seguinte. Neste mesmo período, a temperatura mínima passou a 8ºC em Uruguaiana-RS, ou seja, houve declínio de 8,9ºC. Este sistema teve um deslocamento para leste nos dias 21 e 22, permanecendo sobre o oceano. Esta massa de ar frio também afetou o sul do Nordeste. Em Vitória da Conquista-BA, a temperatura mínima foi igual a 17ºC no dia 23, passando a 14,8ºC no dia seguinte. No dia 24, um outro anticiclone ingressou pelo sul do Uruguai, intensificando aquele que se encontrava sobre o oceano e causando declínio de temperatura sobre a Região Sul.

A sexta massa de ar frio atuou sobre o centro-sul da Região Sul, oeste da Região Centro-Oeste e sul da Região Norte nos dias 26 e 27. Entre os dias 28 e 30, este sistema estendeu-se sobre o Paraná, Região Sudeste e sul da Região Nordeste. Em Cáceres-MT, o dia 28 foi o mais frio, com temperatura mínima igual a 16,1ºC.
No dia 30, a última massa de ar frio atuou sobre os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná.

Na maioria das pêntadas do mês de abril, pode-se notar que a maior atividade convectiva ocorreu nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil, associada principalmente ao posicionamento mais ao sul da ZCIT (Figura 23). Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, a atividade convectiva ainda esteve associada à atuação da Alta da Bolívia e à configuração de episódios de ZCAS, especialmente nas pêntadas 1ª, 2ª e 3ª. Na Região Sul, notou-se uma fraca atuação dos sistemas frontais que se deslocaram preferencialmente pelo oceano (ver seção 3.3.1).

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) configurou-se no período de 08 a 12 de abril de 2009 (Figura 24). Este evento de ZCAS foi fraco, porém contribuiu para as anomalias positivas de precipitação no centro-norte das Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Ressalta-se que o segundo episódio de ZCAS observado em março passado estendeu-se até o início deste mês (ver Boletim Climanálise, vol. 24, no3).

A Figura 24a ilustra a banda de nebulosidade associada ao episódio de ZCAS que se configurou no dia 08 e persistiu até o dia 12, afetando principalmente o norte de Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Bahia e Tocantins, assim como o sul da Região Norte. As Figuras 24b e 24c ilustram a área de maior convergência de umidade e movimento ascendente de ar em 500 hPa, a leste do eixo do cavado. A Figura 24d mostra a presença do cavado em altos níveis, com a banda de maior divergência sobre o oceano. Neste período, as chuvas foram mais acentuadas no Tocantins, norte de Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia (Figura 24e). Embora este episódio de ZCAS tenha se descaracterizado no dia 12, o deslocamento de um cavado na média e alta troposfera nos dias subsequentes favoreceu a reorganização da região de convergência de umidade mais ao sul, aumentando a instabilidade sobre o centro-sul de Minas Gerais, sul de Goiás e norte do Estado de São Paulo.

Durante o mês de abril, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atuou entre o Equador e 5ºS, intensificando a atividade convectiva sobre o norte da Região Nordeste e o norte da Região Norte. A ZCIT manteve-se ao sul de sua posição climatológica em todas as pêntadas de abril (Figura 25a). É importante mencionar que as chuvas foram mais acentuadas nos setores norte e nordeste do Pará, no Amazonas, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e no oeste da Paraíba e Pernambuco. Muitos municípios ficaram alagados e houve trasbordamento de diversos rios, com perdas humanas e materiais. Em algumas cidades, os totais diários de precipitação excederam 100 mm (ver seção 2.1).

As Linhas de Instabilidade (LI’s) estiveram melhor caracterizadas em treze episódios no decorrer de abril de 2009, atuando preferencialmente entre o norte do Pará e o norte da Região Nordeste (Figura 27). Ressalta-se que, em alguns dias, a atuação da ZCIT e de sistemas em altitude, como a Alta da Bolívia, ocorreram em conjunto com os aglomerados convectivos associados às LI's, como notado na maioria dos casos aqui apresentados. Entretanto, notou-se que a melhorformação das LI's ocorreu nos dias 09, 26 e 29.

Os aglomerados convectivos associados à propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL), adjacente à costa leste do Nordeste do Brasil, foram notados em apenas dois episódios no decorrer do mês de abril. Embora estes sistemas sejam típicos deste período do ano, essa baixa frequência esteve relacionada à atividade mais intensa da ZCIT ao longo deste mês (ver seção 3.3.2). O primeiro episódio foi notado no dia 06 e o segundo no dia 13, conforme ilustra a Figura 28.

Em abril, o jato subtropical atuou preferencialmente sobre o setor central da América do Sul, influenciando o leste da Região Sudeste do Brasil, onde sua magnitude média mensal variou entre 30 m/s e 40 m/s (Figura 29a). Considerando o escoamento climatológico, o jato subtropical apresentou-se mais intenso sobre o Brasil Central e menos intenso sobre o centro-norte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil. A Figura 29b ilustra a atuação do jato subtropical no dia 09, quando atingiu magnitude de até 50 m/s no sul do Brasil e, associado ao jato polar norte, favoreceu a incursão de uma massa de ar frio no sul e oeste do Brasil. A partir do dia 20, o jato subtropical apresentou-se mais intenso no setor central do Brasil. No dia 23, o cavado associado aprofundou-se até o nível de 500 hPa, formando um centro de baixa pressão próximo à costa leste brasileira, entre os Estados de Santa Catarina e São Paulo (Figuras Figura29c e ,
Figura 29d). Associado ao anticiclone que atuava sobre o oceano, esta baixa intensificou e ocasionou chuvas acentuadas no leste de Santa Catarina (ver seção 2.1.5). Neste dia, também foi notada forte instabilidade entre os setores leste e nordeste de São Paulo e o Rio de Janeiro, inclusive com ocorrência de granizo em Taubaté-SP e Guarulhos-SP.

A Alta da Bolívia esteve caracterizada em apenas 17 dias do mês de abril e atuou preferencialmente sobre o oeste do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 10ºS/56ºW, a leste de sua posição climatológica (Figura 30a). Em alguns dias, a posição da Alta da Bolívia foi favorável ao aumento da convecção no norte do Brasil, atuando em conjunto com a ZCIT e com a formação de LI’s ao longo da costa norte do Brasil, conforme ilustra a imagem de satélite do dia 04 (Figura 30b).

Quatro episódios de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foram contabilizados no mês de abril de 2009. Um deles originou-se sobre o Atlântico Tropical Sul, próximo à costa do Nordeste, enquanto os demais episódios ocorreram sobre o Pacífico Sul e áreas continentais na região central do Chile e Argentina (Figura 31a). O episódio que ocorreu  próximo à costa do Nordeste pode ter favorecido a atividade convectiva associada à ZCIT e à formação de LI's, sobre a Região Nordeste, através da região de difluência em altitude, conforme ilustra a Figura 31b. Os VCAN's que ocorreram sobre o Pacífico apresentaram uma curta duração e estiveram associados à bifurcação da corrente de jato em altos níveis.

Em abril, as chuvas foram mais acentuadas na bacia do Amazonas, Tocantins e no norte da bacia do Paraná, onde predominaram valores acima da média histórica. Contudo, houve diminuição das vazões em parte da bacia do Amazonas, no sul da bacia do Paraná e na bacia do Atlântico Sudeste.

A Figura 32 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 33. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Neste mês, a
altura máxima registrada foi 28,68 m, a mínima foi 27,51 m e a média igual a 28,15 m (Figura 34).

A maioria das estações monitoradas na bacia do Amazonas apresentou diminuição das vazões médias mensais em comparação com o mês anterior e desvios positivos se considerados os correspondentes valores da MLT. As exceções ocorreram na estação Manacapuru-AM, onde houve aumento da vazão, e na estação Coaracy Nunes-AP, onde a vazão média observada ficou abaixo da MLT.

Na bacia do Tocantins, a estação Tucuruí apresentou aumento da vazão média mensal, a qual também excedeu a MLT. Situação similar ocorreu nas estações monitoradas na bacia do São Francisco.

Na bacia do Paraná, houve aumento das vazões em comparação com março passado nas estações localizadas na parte norte e diminuição naquelas situadas na parte sul. Considerando a MLT, observaram-se desvios negativos na parte sul da bacia do Paraná e na bacia do Atlântico Sudeste, onde as vazões também diminuíram em relação ao mês anterior, consistente com as anomalias negativas de precipitação no Vale do Itajaí (Tabela 4).

Na bacia do Uruguai, a vazão média mensal excedeu o valor registrado em março passado, porém ficou abaixo da MLT.

Os 890 focos de queimadas detectados no País, pelo satélite NOAA-15, durante abril de 2009, estiveram apenas 5% abaixo do número de focos registrado em março passado (Figura 35). Esta redução ocorreu dentro do esperado se considerado o período chuvoso em alguns setores das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil.

Em comparação com abril de 2008, este número de focos manteve-se aproximadamente estável. Entretanto em função das precipitações acima do normal, houve redução significativa na Bahia (40%, 69 focos), em Minas Gerais (10%, 45 focos) e no Maranhão (55%, 17 focos). Por outro lado, as anomalias negativas de precipitação e positivas de temperatura máxima favoreceram o aumento das queimadas no Mato Grosso do Sul (250%, 280 focos), Paraná (60%, 100 focos) e São Paulo (35%, 200 focos). Em contrapartida, houve redução das queimadas em Roraima (71%, com apenas 44 focos).

Detectaram-se apenas 40 focos de queimadas no interior das Unidades de Conservação, federal e estadual, e em áreas vizinhas, especialmente no Mato Grosso do Sul, no Parque Nacional de Ilha Grande, com 15 focos.

Em abril, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) de até -6 hPa nos mares de Ross, Weddell e Dumont D'Urville. Anomalias positivas de PNM predominaram nos mares de Bellingshausen e Amundsen (Figura 36). No nível de 500 hPa registrou-se anomalia negativa de geopotencial no platô antártico, retornando o padrão que ocorreu até fevereiro (ver Figura 12, seção 1).

No campo de anomalia do vento no nível de 925 hPa, observou-se a tendência ciclônica organizada ao norte dos mares de Bellingshausen e Amundsen, assim como no setor sudoeste do Atlântico Sul (Figura 37). Neste mês, foi registrado apenas um episódio de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar Weddell em direção ao sul do Brasil, como foi igualmente notado em março passado. A ocorrência de apenas um dia desse episódio pode ter colaborado para o estabelecimento de anomalias positivas de temperatura no sul do Brasil (ver seção 2.2).

A temperatura do ar em 925 hPa apresentou-se até 7ºC acima da média nos mares de Ross e Dumont D'Urville (Figura 36). Por outro lado, anomalias negativas de até -3ºC ocorreram nos mares de Amundsen, Bellingshausen, Weddell e Davis (Figura 38). No interior do continente antártico, em 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2ºC acima da climatologia.

A circulação ciclônica notada no campo de anomalia do vento em 925 hPa, sobre o setor sudoeste do Atlântico Sul (ver Figura 37), provavelmente contribuiu para a extensão do gelo marinho no mar de Weddell (Figura 39).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de leste (25%), e de norte a noroeste (35%). A magnitude média mensal do vento foi de 5,3 m/s, abaixo da média climatológica para este mês (5,7 m/s). A temperatura média do ar, igual a -1,7ºC, ficou abaixo da normal (-1,4ºC). Neste mês, doze sistemas frontais atingiram a região da Península Antártica. Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2009), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls . As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B] [Figura C]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38] [Figura 39]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

Edições Anteriores
Tipo:

Mês: Ano:


Vizualizar Capa

Expediente

Instituições Colaboradoras

Endereço para Correspondência



Copyright ©INPE/CPTEC
Comentários e/ou sugestões:
webmaster@cptec.inpe.br