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Edição Atual
Volume 26 - Nº04 - Abril/2011

SUMÁRIO
O destaque em abril foram as chuvas mais acentuadas no norte da Região Norte e nos setores norte e leste da Região Nordeste. Estas chuvas foram associadas principalmente à atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que se posicionou ao sul de sua climatologia na maior parte deste mês; ao aquecimento anômalo das águas superficiais do Atlântico Tropical, que favoreceu o desenvolvimento de distúrbios no escoamento de leste; e à Oscilação Madden-Julian (OMJ), cujo sinal foi favorável às chuvas principalmente durante a segunda quinzena de abril. Notou-se, também, a atuação do jato em baixos níveis, a passagem de perturbações ciclônicas na média e alta troposfera e os sistemas frontais, os quais contribuíram para as anomalias positivas de chuva no centro-sul do Brasil.

A Temperatura da Superfície do Mar continuou indicando condições de La Niña na região do Pacífico Equatorial, porém com declínio gradual das anomalias negativas em comparação com março passado. Próximo à costa norte e nordeste da América do Sul, os valores de TSM favoreceram a maior atividade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), assim como a formação de áreas de baixa pressão adjacente à costa leste do Nordeste.

Apesar dos desvios positivos das vazões médias mensais em todas as estações monitoradas, houve diminuição dos valores de vazão em algumas bacias mais centrais do País, quando comparados ao mês anterior. As chuvas foram um pouco mais acentuadas no norte da bacia do Amazonas e nos setores norte e leste da bacia do Atlântico Norte-Nordeste.

Abril ainda é um mês com poucas ocorrências de queimadas na maior parte do Brasil. Em comparação com março passado, os focos aumentaram aproximadamente 20%, porém diminuíram em relação ao mesmo período de 2010.


O fenômeno La Niña continua apresentando sinais de declínio desde o auge do verão 2010/2011, quando atingiu sua fase mais madura. Neste mês de abril, a magnitude das anomalias negativas da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) diminuiu um pouco mais na região equatorial do Pacífico, inclusive com o surgimento de anomalias positivas no Pacífico Leste (Figura 1). Seus efeitos, entretanto, ainda estão presentes na atmosfera. Os valores das anomalias negativas de TSM começaram a declinar em toda a extensão do Pacífico Equatorial em janeiro passado e, neste mês, a anomalia média na região do Niño 1+2 voltou a ficar próxima à normalidade ( Tabela 1 e
Figura 2). Nas regiões dos Niños 3, 3.4 e 4, as anomalias médias de TSM variaram de -0,3º a -0,8C. Próximo à costa norte e nordeste da América do Sul, as TSMs encontram-se até 1C mais altas que a climatologia, enquanto que, adjacente à costa oeste da África Tropical, entre 10ºS e 30S, a magnitude das anomalias positivas pode ter chegado a 3C. Estas anomalias positivas foram bastante favoráveis ao desenvolvimento de distúrbios no escoamento de leste e ao posicionamento mais ao sul da banda de nebulosidade associada à ZCIT (ver seção 3.3). Notou-se, também, uma diminuição, em área e magnitude, das anomalias negativas de TSM numa região mais subtropical do Atlântico Sul.

No campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL), destacou-se a persistência das anomalias negativas localizadas sobre as Filipinas, Indonésia e norte da Austrália (Figura 5). Nestas áreas, a convecção continuou aumentada, enquanto que, em torno da Linha Internacional de Data e na região da Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS), as anomalias positivas continuaram indicado diminuição da convecção, como esperado durante episódios de La Niña. Na região do Atlântico Tropical, próximo à costa nordeste da América do Sul, as anomalias negativas de ROL indicam o considerável aumento da atividade convectiva. Por outro lado, as anomalias positivas de ROL sobre parte das Regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e centro-norte da Argentina indicam que houve inibição da convecção, conforme esperado em resposta a condição de La Niña.

No campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM), destacou-se a maior intensidade dos sistemas de alta pressão semipermanentes do Hemisfério Sul, com anomalias positivas superiores a 4hPa (Figura 6). Na região extratropical do Atlântico Sul, esta maior intensidade do sistema de alta pressão foi notada a leste de 30ºW, o que resultou na área de anomalia negativa de PNM próximo à costa sudeste da América do Sul e, portanto, contribuindo para a atuação preferencial dos sistemas frontais na Região Sul do Brasil (ver seção 3.1).

Os ventos em 850 hPa apresentaram-se mais intensos que o normal na região do Pacífico Central e Oeste (Figuras 7 e
8). Sobre o Atlântico Tropical Norte, as componentes de norte nos campos de anomalia sugerem a atuação mais ao sul da ZCIT, ao passo que a anomalia ciclônica notada próxima à costa da Região Nordeste é indicativa do aumento da maior atividade dos distúrbios de leste no decorrer deste mês (ver seção 3.3.4).

Nos altos níveis, o campo de anomalia do vento mostrou anomalias de oeste sobre o Pacífico Central. Nesta região, o par de ciclones anômalos e simétricos em relação à linha equatorial foi consistente com a condição de La Niña (Figuras 9 e
10). As águas mais quentes que o normal no Atlântico Tropical Sul, próximo à costa Sudeste do Brasil, e a circulação ciclônica anômala em altos níveis foram consistentes com o aumento de convecção identificado no campo de ROL.

O campo da altura geopotencial em 500 hPa mostrou uma dominância de onda 4 no HS (Figura 12).

Durante a primeira quinzena de abril, predominaram chuvas acima da média histórica na maior parte do Brasil, com destaque para as Regiões Norte, Nordeste e Sul. No final da segunda quinzena acumulados de chuva, superiores a 100 mm, causaram transtornos à população do leste da Região Nordeste. Estas chuvas foram associadas à atuação conjunta da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que atuou ao sul de sua posição climatológica, e à propagação de distúrbios no escoamento de leste, que contribuíram para a formação de áreas de baixa pressão adjacente à costa leste do Nordeste, principalmente na última pêntada de abril. Ressalta-se que o aumento das chuvas ocasionou enchentes na Região Norte, especialmente no Amazonas, Acre, Amapá e Pará, e elevados acumulados de chuva entre o Rio Grande do Norte e Pernambuco, na Região Nordeste. A ocorrência de intensa precipitação de granizo em cidades do Sudeste e Sul do Brasil e as chuvas e ventos fortes registrados principalmente no Rio Grande do Sul e no Paraná estiveram associados à atuação do jato em baixos níveis, à passagem de perturbações ciclônicas na média e alta troposfera e aos sistemas frontais. As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Embora sistemas como a Alta da Bolívia e a ZCIT tenham se posicionado favoravelmente às chuvas, a distribuição de anomalias de precipitação ocorreu de maneira irregular na maior parte da Região Norte. Os maiores desvios positivos ocorreram no sudoeste e nordeste do Amazonas e no nordeste do Pará. Nos setores sudeste e noroeste do Amazonas, no nordeste de Roraima, no leste do Amapá e sudoeste do Pará e no sul de Tocantins, as chuvas ocorreram abaixo da média. Na cidade de Parintins, próximo à divisa com o Pará, registrou-se 96 mm no dia 02. Em Eirunepé, no sudoeste do Amazonas, a chuva acumulada atingiu 128 mm no decorrer do dia 05. No Pará, também houve acumulados diários maiores que 100 mm, como foi registrado em Belém-PA nos dias 24 (100,3 mm) e 28 (130 mm), segundo dados do INMET.

As chuvas foram mais acentuadas durante a primeira quinzena de abril, quando se observaram anomalias positivas de precipitação na maior parte da Região Centro-Oeste. Estas chuvas mais generalizadas foram associadas principalmente ao escoamento da Alta da Bolívia (ver seção 4.2). Considerando o acumulado mensal, o déficit pluviométrico, que variou entre 25 mm e 100 mm, foi maior em Goiás e no sul do Mato Grosso. Em Goiânia-GO, a chuva acumulada neste mês atingiu 62,6 mm, ou seja, apenas metade do valor esperado para todo o mês de abril. Por outro lado, as anomalias positivas de chuva persistiram até o final do mês no sul do Mato Grosso do Sul, favorecidas pela atuação do jato em baixos níveis. Na cidade de Ponta Porá-MT, localizada na divisa com o Paraguai, o total mensal atingiu 214 mm, sendo a média histórica para este mês igual a 134,8 mm (Fonte: INMET).

As chuvas ocorreram acima da média especialmente no norte e leste da Região Nordeste, apesar de algumas áreas do Ceará e do Rio Grande do Norte terem apresentado déficit pluviométrico em virtude do posicionamento desfavorável dos vórtices ciclônicos e cavados na alta troposfera (ver seção 4.3). No interior do Nordeste, em particular no centro-sul do Piauí, no centro-oeste de Pernambuco e Bahia, e no sertão de Alagoas e Sergipe, predominou uma situação de estiagem tanto na primeira quanto na segunda quinzena de abril. Os maiores acumulados de chuva, superiores a 400 mm, ocorreram no norte do Maranhão e Piauí, favorecidos pela atuação mais ao sul da ZCIT, e na faixa leste que vai do Rio Grande do Norte até Alagoas, como resultado da atuação de distúrbios no escoamento de leste. Nas cidades de Chapadinha e São Luís, no norte do Maranhão, a precipitação acumulada entre os dias 14 e 15 atingiu 111,3 mm e 133,9 mm, respectivamente. Os distúrbios no escoamento de leste contribuíram para a formação de regiões de baixa pressão adjacente à costa leste do Nordeste, principalmente na última pêntada de abril (ver seção 3.3.4). Em algumas cidades do Rio Grande do Norte, os totais diários excederam 100 mm, como foi registrado em Natal (114,7mm, no dia 13) e em Cruzeta (136,5 mm, no dia 21). No dia 18, a capital pernambucana voltou a acumular 94,8 mm e, no dia seguinte, mais 92,2 mm, como resultado, principalmente, da atuação conjunta da ZCIT com um cavado na alta troposfera e um cavado invertido em 500 hPa. Destacaram-se, ainda, as chuvas registradas em Maceió-AL (135 mm, no dia 19), em Salvador-BA (98 mm, no dia 29) e em Porto de Pedras-AL (108,2 mm, no dia 29 e 101,6 mm, no dia 30), segundo dados do INMET.

A atuação de um episódio de ZCAS em conjunto com a formação de áreas de instabilidade associadas à passagem de perturbações na média e alta troposfera contribuiu para os maiores acumulados de chuva entre o nordeste de São Paulo e o norte do Espírito Santo e no sul de Minas Gerais, onde as anomalias positivas variaram entre 50 mm e 200 mm. Destacaram-se os totais diários de chuva registrados nas cidades de São Mateus-ES (91,5 mm, no dia 07) e em Vitória-ES (85,9 mm, no dia 21), segundo dados do INMET. As chuvas foram mais escassas no norte de Minas Gerais e no sudeste de São Paulo.

Houve diminuição das chuvas no centro-norte da Região Sul, em comparação com março passado. No sudoeste do Rio Grande do Sul, persistiu a situação de estiagem que se iniciou desde o estabelecimento da condição de La Niña, em meados de 2010. Nestas áreas, predominaram anomalias negativas de precipitação. No período de 09 a 12, a formação de um cavado e um vórtice ciclônico em médio e altos níveis favoreceu o aumento das chuvas e ocorrência de granizo, com destaque para a chuva registrada em Paranaguá-PR (106,6 mm, no dia 10). Em Paranapoema, no noroeste do Paraná, choveu 125 mm entre os dias 12 e 13. Neste período, a presença de ar frio em 500 hPa favoreceu a ocorrência de precipitação na forma de granizo em cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, além de outras localidades em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Entre os dias 12 e 15, a atuação do jato em baixos níveis também favoreceu a ocorrência de chuva forte e precipitação de granizo em várias localidades da Região Sul. As chuvas diárias mais acentuadas foram registradas nas cidades de Cruz Alta- RS (75,7 mm, no dia 15), São Luiz Gonzaga-RS (111,7 mm, no dia 23) e em Porto Alegre-RS (77,2 mm, no dia 23).

Abril é um mês com temperaturas amenas na maior parte do Brasil (Figuras 16 e
18). De modo geral, tanto as máximas quanto as mínimas apresentaram-se próximas a ligeiramente acima dos valores médios na maior parte do Brasil. As maiores anomalias positivas ocorreram no extremo norte da Região Norte, no interior da Região Nordeste e no centro-sul do País, (Figuras 17 e
19). Com a atuação mais restrita dos sistemas frontais na Região Sul do Brasil, houve menor incursão de massas de ar frio no decorrer deste mês. Por esta razão, as mínimas apresentaram-se até 2ºC acima da média no oeste do Mato Grosso do Sul e entre 1ºC e 2ºC acima da média em grande parte dos Estados de São Paulo e Paraná (Figura 19). Os valores médios mensais de temperatura mínima variaram entre 10ºC, na serra catarinense, e 24ºC, no norte da Região Norte. No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 16ºC e 24ºC, com predominância de anomalias positivas, em particular no setor leste, onde a magnitude das anomalias pode ter chegado a 4ºC (Figuras 20 e,
21).

Cinco sistemas frontais atuaram em território brasileiro no decorrer de abril de 2011 (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para latitudes entre 25oS e 35oS. De modo geral, estes sistemas deslocaram-se apenas até o sul do Rio Grande do Sul e somente o quinto sistema deslocou-se até o litoral e interior do Paraná.

O primeiro sistema frontal iniciou sua trajetória pelo litoral da Argentina. Entre os dias 04 e 05, este sistema posicionou-se entre Santana do Livramento e Porto Alegre, provocando ventos fortes e chuva no sul e leste do Rio Grande do Sul. No dia seguinte, este sistema deslocou-se para o oceano, alinhando-se com a região de convergência de umidade que se organizou entre as Regiões Centro-Oeste e Sudeste e áreas oceânicas adjacentes (ver seção 3.3.1).

O segundo sistema frontal também deslocou-se desde o litoral norte da Argentina, ingressando pelo extremo sul do Brasil no decorrer do dia 14. Este sistema atuou apenas até Rio Grande, onde permaneceu até o dia 15. Esta segunda frente fria foi intensificada pelo jato em baixos níveis, favorecendo a ocorrência de temporais na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e também no sul de Santa Catarina.

O terceiro sistema frontal deslocou-se rapidamente desde Baía Blanca, na Argentina, até Porto Alegre-RS, onde se posicionou no dia 18. Este sistema foi intensificado pela atuação mais intensa do jato subtropical, o que resultou na ocorrência de temporais em localidades do Rio Grande do Sul, inclusive com queda de granizo e ventos fortes.

No período de 20 a 23, o jato em baixos níveis também contribuiu para o transporte de ar quente e úmido desde o sul da Amazônia e consequente aumento da atividade convectiva entre o Paraguai, setores sul e oeste do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina (ver seção 2.1.5). A atuação desta corrente de jato próxima à superfície favoreceu a configuração do centro de baixa pressão sobre o Uruguai e sul do Brasil, dando origem ao quarto sistema frontal. No dia 21, o ramo frontal frio deste quarto sistema atuou no litoral de Santa Catarina, indo, posteriormente para o oceano. Mesmo posicionado sobre o oceano, este quarto sistema também contribuiu para o aumento das áreas de instabilidade no leste do Paraná e no sul de São Paulo (ver seção 2.2).

Entre os dias 22 e 23, a ocorrência de temporais no Rio Grande do Sul, seguidos por rajadas de vento e queda de granizo, causaram inundações na região metropolitana de Porto Alegre. Estas áreas de instabilidade também foram associadas à atuação do jato em baixos níveis, o qual advectou ar quente e úmido em direção ao sul do Brasil.

O quinto e último sistema frontal deslocou-se rapidamente pelo litoral e interior do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 23. Este sistema avançou até o litoral e interior do Paraná, onde se posicionou na madrugada do dia 24. No decorrer deste mesmo dia, posicionou-se sobre o oceano, na altura do litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, favorecendo a formação de áreas de instabilidade sobre a Região Sudeste (ver seção 2.1.4). Na madrugada do dia 24, a massa de ar frio que atuou na retaguarda deste sistema declinou as temperaturas entre o sul e oeste do Rio Grande do Sul (ver seção 3.2).

Seis massas de ar frio ingressaram pelo sul do Brasil, destacando-se o anticiclone que atuou durante a segunda quinzena de abril de 2011, na retaguarda do quinto sistema frontal..

A primeira massa de ar frio ingressou pelo extremo sul do Rio Grande do Sul no dia 02. O anticiclone associado atuou nos setores central e litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, deslocando-se para o oceano no dia seguinte.

A segunda massa de ar frio foi mais continental e ingressou pelo oeste da Região Sul no dia 05. Esta massa de ar frio atuou em toda a Região Sul, causando acentuado declínio da temperatura. Na capital Porto Alegre-RS, a mínima declinou para 14,3ºC no dia 06, sendo este o dia mais frio desde 15 de março quando a temperatura mínima foi de 14,5ºC. Segundo dados do INMET, a temperatura mais baixa ocorreu em São José dos Ausentes, na serra gaúcha, onde a mínima declinou para 7ºC. Em Caçador-SC, a mínima foi de 6ºC. No sul do Paraná, a cidade de General Carneiro registrou temperatura igual a 7,5ºC. Em Ponta Porã-MS, a mínima foi de 19ºC no dia 06, passando a 13ºC no dia seguinte. No dia 07, a pressão no centro do anticiclone associado passou a 1018 hPa posicionado no leste da Região Sul e influenciando o sul da Região Sudeste e o Mato Grosso do Sul, deslocando-se para o oceano no dia seguinte.

No decorrer do dia 09, a terceira massa de ar frio encontrava-se no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estendendo-se pelo oeste da Região Centro-Oeste e sul da Região Norte. Durante a sua atuação causou declínio de temperatura nestas regiões. Nas cidades de Cáceres e Rondonópolis, no Mato Grosso, o dia 10 foi o mais frio do mês com mínimas iguais a 20,4ºC e 18ºC, respectivamente. No dia 11, o anticiclone associado, com pressão em seu centro de 1022 hPa, posicionou-se sobre o oceano.

A quarta massa de ar frio atuou apenas no extremo sul do Rio Grande do Sul, no dia 15. No dia seguinte, o anticiclone encontrava-se próximo à costa leste da Região Sul e, posteriormente, deslocou-se para leste.

Nos dias 18 e 19, o quinto anticiclone predominou no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, posicionando-se sobre o oceano no dia 20. Este sistema causou acentuada queda de temperatura no extremo sul do Rio Grande do Sul, próximo à fronteira com o Uruguai. Várias localidades registraram temperaturas abaixo dos 10ºC. Segundo os dados do INMET, as temperaturas mínimas atingiram 7,3º em Uruguaiana e 7,7ºC em Bagé. O declínio foi de quase 10ºC, considerando que, na manhã do dia 17, os termômetros marcaram 16,2ºC em Uruguaiana e 16,3ºC em Bagé. Nas cidades de Santana do Livramento e Dom Pedrito, ambas no Rio Grande do Sul, as temperaturas mínimas foram de 9,6ºC e 9,5ºC, respectivamente.

A sexta massa de ar frio foi a mais intensa e ingressou pelo oeste do Rio Grande do Sul no dia 23. Nos dias subsequentes, esta massa de ar estendeu-se pelas Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e sul da Região Norte. O anticiclone associado causou declínio acentuado das temperaturas no Rio Grande do Sul. Em Bagé, a mínima passou de 19,5ºC, no dia 23, para 5,6ºC, no dia seguinte. O dia também começou frio, em Farroupilha-RS, onde os termômetros marcaram 7,8ºC. Em Santa Maria-RS, a temperatura mínima passou de 20ºC para 7,1ºC entre os dias 23 e 24. Em Bom Jesus-RS, o dia 26 foi o mais frio, com mínima igual a 5,2ºC. Nos dias 27 e 28, observou-se moderado declínio das temperaturas nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Em Avaré-SP, o dia 28 foi o mais frio, com mínima igual a 9,8ºC (Fonte: INMET).

A atividade convectiva foi maior sobre o norte das Regiões Norte e Nordeste e em parte da Região Centro-Oeste do Brasil, onde as chuvas ocorreram acima da média histórica, com destaque para a atuação de sistemas como a ZCIT, os VCANs e a ZCAS, especialmente nas três primeiras pêntadas de abril (Figura 23). Nestas pêntadas, o aumento da convecção no setor central do Brasil foi associado à atuação de um episódio de ZCAS (ver seção 3.3.1). Durante a 1ª e 2ª pêntadas, os vórtices ciclônicos atuaram próximos à costa norte do Nordeste, contribuindo para a diminuição das chuvas. Neste período, notou-se o deslocamento para norte da banda de nebulosidade associada à ZCIT, considerando, porém, que houve formação de banda dupla em alguns dias (ver seção 4.3). Durante a 4ª, 5ª e 6ª pêntadas, a ZCIT atuou mais próximo à costa norte e nordeste da América do Sul, intensificando a formação de aglomerados de nuvens adjacentes à costa leste do Nordeste, os quais também estiveram associados à propagação de distúrbios no escoamento de leste (ver seção 3.1.4).

Um episódio bem configurado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) ocorreu no período de 03 a 07 de abril de 2012, afetando principalmente áreas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste e o sul da Região Norte (Figura 24). As Figuras 24b a 24d mostram a região de convergência de umidade, a área de maior movimento divergente e a posição média do cavado em altos níveis posicionado sobre áreas oceânicas adjacentes ao nordeste do Brasil, respectivamente. As chuvas associadas concentraram-se principalmente nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e no sul da Bahia (Figura 24e).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atuou preferencialmente entre o Equador e 5ºS, a partir da 3ª pêntada de abril, considerando a faixa longitudinal entre 40ºW e 20ºW (Figura 25a). Neste período, também atuou ao sul de sua posição climatológica, conforme ilustra a imagem de satélite referente ao dia 11 (Figura 25c). Durante a 1ª e 2ª pêntadas, a atuação da ZCIT ao norte de sua posição climatológica também foi associada ao deslocamento mais ao norte dos vórtices e cavados na alta troposfera (ver seção 4.3). Nos dias em que a ZCIT atuou ao norte de sua posição climatológica, notou-se a formação de banda dupla, conforme observado na 1ª, 2ª e 4ª pêntadas (Figuras 25b e,
25d). Nas imagens médias de temperatura de brilho mínima, pode-se notar que a maior frequência de nebulosidade convectiva associada à ZCIT ocorreu na porção mais oriental do Atlântico Sul, nas proximidades da costa oeste da África, onde se posicionou ao sul de sua climatologia (Figura 26). Nas duas últimas pêntadas, também foi notada a atuação conjunta da ZCIT, de cavados na média e alta troposfera e a formação de DOLs adjacente à costa leste do Nordeste (ver seção 3.3.3).

As Linhas de Instabilidade (LIs) estiveram melhor caracterizadas em treze dias de abril, atuando preferencialmente entre as Guianas e o norte da Região Nordeste (Figura 27). Na maioria dos casos, a formação das LIs ocorreu juntamente com a nebulosidade associada à ZCIT e com a formação de DOLs, dificultando a sua melhor caracterização. A atuação conjunta entre estes sistema pode ser notada especialmente nos dias 09, 10, 13 e de 26 a 30.

Durante o mês de abril, os aglomerados convectivos associados à propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) ocorreram em conjunto com sistemas de escala sinótica igualmente importantes para a ocorrência de chuvas no Nordeste do Brasil, dificultando, por vezes, a sua caracterização. Estes sistemas foram os vórtices ciclônicos e cavados na média (em alguns dias) e alta troposfera e os pulsos convectivos na região de atuação da ZCIT. Os recortes das imagens do satélite GOES-12 ilustram cinco episódios que se destacaram no decorrer do mês de abril (Figura 28). Destes, o quinto episódio foi responsável pelos maiores acumulados de chuva sobre o setor leste do Nordeste (ver seção 2.1.3). Este episódio ocorreu no final de abril, quando se notou a amplificação do cavado em baixos e médios níveis da atmosfera que culminou com a formação de um centro de baixa pressão próximo à costa do Rio Grande do Norte (Figura 28b). A partir do dia 28, este centro de baixa pressão tornou-se um cavado invertido em 850 hPa, cujo eixo deslocou-se sobre o leste do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (Figura 28c). Os aglomerados convectivos associados proporcionaram chuvas acentuadas ao longo de toda a costa leste do Nordeste, principalmente entre os dias 28 e 29 de abril (ver seção 2.1.3).

O jato subtropical apresentou magnitude média mensal entre 30 m/s e 40 m/s, atuando com maior frequência sobre o norte do Chile e Argentina e o sul do Brasil. Considerando o escoamento climatológico em 200 hPa, o jato posicionou-se mais ao norte, em particular durante a primeira quinzena de abril, favorecendo a configuração do último episódio de ZCAS desta temporada (ver seção 3.3.1). A Figura 29a ilustra o dia no qual foi notado o posicionamento mais ao norte do jato subtropical. Neste dia, notou-se, também a atuação do cavado adjacente à costa da Região Nordeste. As Figuras 29b e
29c ilustram o comportamento do jato em altos níveis e a imagem do satélite GOES-12, ambos referentes ao dia 15. Neste dia, a presença do jato contribuiu para a maior atividade do sistema frontal que estava posicionado sobre o oceano e alinhou-se à convecção sobre a Região Sul do Brasil, por sua vez, associada à intensificação do jato em baixos níveis entre os dias 13 e 15.

A Alta da Bolívia esteve bem caracterizada em 14 dias do mês de abril, atuando preferencialmente sobre a Bolívia e o oeste do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 10ºS/58ºW, bem próximo à sua posição climatológica (Figura 30a). A imagem do satélite GOES-12 ilustra a nebulosidade associada à circulação da Alta da Bolívia no dia 01 (Figura 30b). No dia seguinte, registraram-se elevados totais de chuva no norte do Amazonas e Pará, região favorecida pelo escoamento difluente da alta troposférica.

Em abril, os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) atuaram preferencialmente sobre o Atlântico e sobre o sudeste e sul do Brasil (Figura 31a). No total, foram sete episódios nos quais houve a formação dos VCAN no escoamento em 200hPa. A Figura 31b mostra a atuação mais ao norte do VCAN, desfavorecendo a ocorrência de chuvas em grande parte da Região Nordeste. Durante a segunda quinzena, os VCANs atuaram mais ao sul, contribuindo para a atuação mais ao sul de sistemas importantes como a ZCIT e os DOLs, resultando na ocorrência de anomalias positivas de precipitação principalmente nos setores norte e leste do Nordeste (ver seção 3.3). No período de 09 a 12, observou-se a atuação de um cavado em altos níveis que configurou o quarto episódio de VCAN adjacente à costa da Região Sul do Brasil. Este sistema favoreceu a ocorrência de chuvas mais acentuadas entre os dias 12 e 13, principalmente no sul do Mato Grosso do Sul, noroeste do Paraná e centro-sul do Estado de São Paulo (ver seção 2.2).

Durante o mês de abril, houve diminuição das vazões na maior parte das bacias situadas no setor centro-sul do Brasil. As chuvas foram um pouco mais acentuadas no norte da bacia do Amazonas, onde houve aumento das vazões, e nos setores norte e leste da bacia do Atlântico Norte-Nordeste.

A Figura 32 mostra a localização das estações fluviométricas utilizadas nestas análises. As séries históricas de vazões médias mensais, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 33. Os valores das vazões médias mensais deste mês e os desvios em relação à MLT das estações monitoradas estão apresentados na Tabela 3. Apesar do déficit pluviométrico em várias regiões do País, destacaram-se os desvios positivos em todas as estações monitoradas nas bacias brasileiras, se considerados os correspondentes valores da MLT.

Na estação de Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas utilizando um modelo estatístico, a partir das cotas observadas no Rio Negro. Neste mês, a máxima altura registrada foi de 26,72 m, a mínima foi de 24,94 m e a média de 25,77 m, valor bem próximo ao da MLT (Figura 34).

Nas bacias do Amazonas e do Tocantins, as vazões médias mensais em todas as estações monitoradas excederam a MLT e, apenas na estação Tucuruí-PA, a vazão média foi inferior àquela registrada em março passado. Na bacia do São Francisco, a vazão média mensal diminuiu na estação Três Marias-MG em relação ao mês anterior, porém, nas duas estações monitoradas nesta bacia, as vazões ocorreram acima da MLT.

Nas bacias do Paraná e do Atlântico Sudeste, as vazões médias mensais nas estações monitoradas foram menores que as vazões observadas no mês anterior, exceto para a estação de Passo Real-RS, onde houve aumento da vazão. Conforme mencionado anteriormente, as vazões médias mensais excederam as MLTs em ambas as bacias. Comportamento similar ocorreu na estação de Passo Fundo-RS, localizada na bacia do Uruguai, onde houve aumento da vazão média observada em comparação com o mês anterior e com a MLT.

No Vale do Itajaí, destacaram-se precipitações menores que a média na maior parte das estações monitoradas, com exceção das estações de Blumenau-SC e Taió-SC, nas quais as precipitações foram superiores aos valores médios históricos (Tabela 4).

Abril, assim como os meses anteriores, ainda é um mês com poucas ocorrências de queimadas na maior parte do Brasil. Neste mês, foram detectados 400 focos de calor pelo satélite NOAA-15 (Figura 35). Em comparação com março passado, o aumento foi de aproximadamente 20%. Em relação ao mesmo período de 2010, o número de focos diminuiu 60%, especialmente nas Regiões Sudeste (São Paulo) e Centro-Oeste (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Considerando a climatologia das queimadas para este período, houve maior redução em Roraima, Mato Grosso, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No restante da América do Sul, as poucas ocorrências de queimadas foram observadas no Paraguai e no norte da Argentina.

Em abril, foram observadas anomalias positivas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) no Oceano Austral, com valores de até 12 hPa no mar de Amundsen. Anomalias negativas foram observadas na Passagem de Drake e nos mares de Bellingshausen, Weddell e Dumont D’Urville (Figura 36). No nível de 500 hPa, observou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, mantendo a tendência iniciada em dezembro de 2010 (ver Figura 12, seção 1).

No campo de anomalia do vento no nível de 925 hPa, destacaram-se as circulações anticiclônicas anômalas: uma sobre os mares de Bellingshausen e Ross e outra entre o mar de Weddell e o setor sul do Oceano Atlântico Sul (Figura 37).

A temperatura do ar em 925 hPa ficou até 8ºC acima da climatologia no mar de Ross. Anomalias negativas predominaram nos mares de Bellingshausen e Amundsen, com valores de até -3ºC (Figura 38). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2,5ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008.

As circulações anticiclônicas sobre os mares de Bellingshausen e Ross e entre o mar de Weddell e o setor sul do Oceano Atlântico Sul, mostradas no campo de anomalia do vento em 925 hPa (ver Figura 37), provavelmente favoreceram a retração na extensão do gelo marinho nos mares de Weddell, Bellingshausen, Amundsen e Ross (Figura 39).

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2010), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/ ~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls . As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

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