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Edição Atual
Volume 27 - Nº05 - Maio/2012

SUMÁRIO
Maio terminou com acentuado déficit de precipitação no setor norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Nessas regiões, a falta de chuva foi associada principalmente ao deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua posição climatológica, forçada, localmente, pelas condições de ligeiro resfriamento no Atlântico Tropical e pelas oscilações intrassazonais. Por outro lado, diminuiu o déficit pluviométrico na região central do Brasil, em particular no sul do Mato Grosso e em grande parte de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Na maior parte da Região Sul, houve predomínio de chuvas abaixo da média histórica.

As águas superficiais próximas à costa oeste da América do Sul continuaram mais quentes que o normal, sugerindo, em conjunto com a tendência de relaxamento dos ventos alísios, o possível estabelecimento do fenômeno El Niño nos meses subsequentes. No entanto, considerando o Índice de Oscilação Sul (IOS), as atuais condições oceânicas e atmosféricas ainda são de neutralidade. Além disso, os ventos próximos à superfície continuaram ligeiramente intensos e a convecção esteve acima da média no setor oeste do Pacífico, refletindo uma fraca condição de La Niña.

Apesar da ocorrência de chuvas acima da média em parte das bacias do Tocantins, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná, as vazões médias mensais diminuíram na maioria das estações monitoradas em comparação com abril passado.

Os focos de calor aumentaram 50% em todo o Brasil, em relação ao mês anterior, e 60%, em relação ao mesmo período de 2011.


No decorrer do mês de maio, notou-se a diminuição, em área e magnitude, das anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) próximo à costa oeste da América do Sul. Enquanto isso, no setor oeste do Oceano Pacífico, persistiram padrões atmosféricos que ainda sugerem condições de La Niña, apesar da diminuição das anomalias negativas de TSM em torno da longitude 180º (Figura 1). Este atual fenômeno La Niña atingiu sua maior atividade durante os meses de novembro de 2011 a janeiro de 2012, quando o Índice de Oscilação Sul (IOS) alcançou seu valor mais positivo, passando ao valor zero neste mês de maio (Tabela 1). Nas regiões dos Niños 1+2 e 3, as anomalias médias de TSM variaram entre 1,5°C e 0,4°C, enquanto que, nas regiões do Niños 3.4 e 4, estas anomalias permaneceram ligeiramente negativas (Figura 2 e.
Tabela 1). Consistente com esta condição, a termoclina esteve próxima à média no Pacífico Central e acima da média no Pacífico Leste. Apesar da persistência de anomalias positivas de TSM adjacente à costa oeste sul-americana, a situação ainda é de neutralidade em relação à configuração de condições de El Niño na região do Pacífico Equatorial. Na região do Atlântico Tropical, os valores de TSM apresentaram-se próximos à climatologia, porém ainda persistiu o gradiente meridional favorável ao deslocamento da ZCIT ao norte de sua posição climatológica durante quase todo o mês (ver seção 3.3.1).

No campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL), destacaram-se as anomalias negativas entre o norte da Austrália e a região da Indonésia (Figura 5). Esta região de maior convecção favoreceu a propagação do trem de ondas que contribuiu para a diminuição das chuvas no setor central da América do Sul. A magnitude das anomalias positivas de ROL no nordeste da América do Sul e oceano adjacente também refletiu a atuação mais ao norte da ZCIT, conforme mencionado anteriormente.

O campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM) mostrou o enfraquecimento do sistema de alta pressão semipermanente do Pacífico Sudeste e a intensificação da alta subtropical do Atlântico Sul (Figura 6). No setor sudoeste do Atlântico, a passagem de anticiclones pós-frontais também contribuiu para a anomalia positiva de PNM notada no escoamento médio mensal. Estes anticiclones estiveram associados à incursão de duas intensas massas de ar frio no interior do Brasil (ver seção 3.2).

Os ventos em 850 hPa apresentaram-se mais intensos na região equatorial do Pacífico Oeste, em torno da Linha de Data, e mais relaxados na região equatorial do Pacífico Leste e Atlântico (Figuras 7 e
8). No sul da América do Sul, a leste do Andes, notou-se a anomalia de norte associada à circulação mais intensa do sistema de alta pressão semipermanente do Atlântico Sul, desfavorável, por sua vez, ao deslocamento de maior número de sistemas frontais para latitudes mais ao norte (ver seção 3.1). Próximo à costa leste da Região Nordeste, as anomalias de sul notadas no escoamento próximo à superfície foram consistentes com a ocorrência de chuvas abaixo da média (ver seção 2.1.4). Do mesmo modo, a anomalia anticlônica notada próximo à costa sudeste da América do Sul foi associada à inibição das chuvas na maior parte da Região Sul (ver seção 2.15).

O campo de anomalia do vento em 200 hPa evidenciou a formação de um trem de ondas que teve início no Pacífico Oeste e culminou com o estabelecimento de duas circulações anômalas sobre o leste da América do Sul: uma anticiclônica mais ao sul, centrada sobre o nordeste da Argentina, e outra ciclônica mais ao norte, centrada sobre o sudeste do Brasil (Figuras 9 e
10). Este padrão atmosférico também refletiu a atuação mais ao sul e menos intensa da corrente de jato na alta troposfera, como indicam as anomalias negativas do vento em torno de 30°S (ver seção 4.1).

O campo de altura geopotencial em 500 hPa mostrou um padrão de onda 3 nas altas latitudes do Hemisfério Sul (Figura 12). A anomalia positiva de geopotencial notada entre o Uruguai e a Península Antártica refletiu o anticiclone anômalo que se estabeleceu em várias camadas da troposfera. Esta anomalia positiva de geopotencial também foi associada à incursão de massas de ar frio (ver seção 3.2).

Durante o mês de maio, as chuvas ocorreram acima da média em algumas áreas do setor central do Brasil, favorecendo a diminuição do déficit pluviométrico que foi registrado em abril passado no centro-sul do Pará, Tocantins, sul e oeste da Bahia, setores norte e leste de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Estas chuvas foram associadas, principalmente, à atuação de dois sistemas frontais que se alinharam ao canal de umidade,  ainda observado entre o sul da Amazônia e a costa leste do Brasil, em alguns dias de maio.
As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Choveu abaixo da média na maior parte da Região Norte, com anomalias negativas superiores a 200 mm no leste do Amapá e no norte do Pará e Ilha de Marajó. Apenas em áreas isoladas ocorreram anomalias positivas de precipitação, com destaque para o extremo noroeste do Amazonas e o norte do Tocantins. Os maiores acumulados diários de chuva ocorreram em Altamira-PA (90,4 mm) e Boa Vista-RR (81 mm), ambos registrados no dia 04; em Caracaraí-RR (76,4 mm), no dia 06; e na cidade de Peixe-TO (41,6 mm), no dia 17. No Amazonas, destacaram-se as chuvas registradas em Itacoatiara (72,9 mm) e Tefé (de 85,6 mm em), respectivamente nos dias 05 e 20. Como resultado das anomalias positivas de precipitação notadas desde o início de 2012, o Rio Negro atingiu sua maior altura desde julho de 2009 (ver seção 5).

A formação de regiões de convergência de umidade em conjunto com a atuação de dois sistemas frontais contribuiu para a ocorrência de chuvas mais acentuadas em parte da Região Centro-Oeste. As chuvas acumuladas excederam a média histórica principalmente no centro-sul do Mato Grosso e no norte do Mato Grosso do Sul, porém ocorreram abaixo da média em mais que 50 mm no extremo noroeste do Mato Grosso e no sul do Mato Grosso do Sul. Destacaram-se os totais diários registrados nas cidades de Ivinhema-MS (56,5mm, no dia 12), Cuiabá-MT (76,4 mm, no dia 15; 87,3 mm, no dia 24) e Diamantina-MT (89 mm, no dia 22), segundo dados do INMET.

As chuvas ocorreram muito abaixo da climatologia nos setores norte e leste da Região Nordeste. Em algumas localidades, o déficit pluviométrico excedeu 200 mm. Apenas em áreas isoladas no sul do Maranhão e da Bahia, choveu acima da média histórica. Apesar das anomalias negativas de precipitação no leste do Nordeste, destacou-se a chuva acumulada entre os dias 20 e 21 em Salvador-BA (Ondina), cujo valor atingiu 186,4 mm e correspondeu à metade do total de chuva esperado para todo o mês (Fonte: INMET). Destacaram-se, ainda, as chuvas diárias registradas nas cidades Bacabal-MA (73,4 mm, no dia 11) e Fortaleza-CE (102,6 mm, no dia 23).

As chuvas ocorreram acima da média histórica na maior parte da Região Sudeste, especialmente no norte do Rio de Janeiro, no sul do Espírito Santo e no nordeste de Minas Gerais. A exceção ocorreu no sudeste do Estado de São Paulo, onde as anomalias negativas de precipitação foram superiores a 50 mm. Destacaram-se os acumulados diários em Vitória-ES (114,8 mm e 45 mm, respectivamente nos dia 14 e 15), Campos-RJ (53,8 mm, no dia 15) e Itaperuna-RJ (39,6 mm, no dia 15). Em Minas Gerais, choveu 40,8 mm em Juiz de Fora (15), 49 mm Aracuaí (16) e 52,3 mm em Uberaba (29), segundo dados do INMET.

Houve déficit pluviométrico na maior parte da Região Sul, especialmente no oeste do Rio Grande do Sul, onde as chuvas ocorreram abaixo da média pelo sétimo mês consecutivo. Em São Luiz Gonzaga, no noroeste do Rio Grande do Sul, choveu aproximadamente 16 mm em quatro dias, dos quais 11 mm foram registrados apenas no dia 30. A climatologia para este período é igual a 118,3 mm, segundo dados do INMET. Por outro lado, na capital catarinense, o valor acumulado em apenas seis dias atingiu 112,3 mm e excedeu a climatologia para maio que é igual a 96,9 mm (Fonte: INMET). Os maiores totais diários de precipitação foram registrados em Indaial (88,7 mm) e Irati (79,7 mm), no dia 25; e em Santa Maria-RS (124 mm, no dia 30).

Durante o mês de maio, as temperaturas máximas foram elevadas no norte da Região Nordeste, com destaque para anomalias positivas de até 5ºC no leste do Ceará e no oeste de Pernambuco (Figuras 16 e. 17). Nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste e norte da Região Sul, as anomalias negativas de temperatura máxima estiveram associadas à maior ocorrência de nebulosidade associada tanto à atividade frontal como à formação de regiões de convergência de umidade que ainda se configuraram no decorrer deste mês. No Rio Grande do Sul, a baixa frequência de sistemas frontais contribuiu para que as temperaturas máximas ocorressem acima da climatologia. Os valores médios mensais de temperatura mínima variaram entre 6ºC, na serra catarinense, e 24ºC, no norte da Região Norte, e apresentaram-se próximos à média na maior parte do Brasil (Figuras 18 e. 19). No Estado de São Paulo, os valores de temperatura média mensal variaram entre 12ºC e 22ºC e também se apresentaram em torno da climatologia para este período do ano (Figuras 20 e,
21).

Apenas três sistemas frontais atuaram em território brasileiro no decorrer de maio de 2012 (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para as latitudes entre 25oS e 35oS. Dois destes sistemas conseguiram avançar até o litoral da Região Sudeste, causando declínio das temperaturas no centro-sul do Brasil (ver seção 3.2).

O sistema frontal que se originou no Rio Grande do Sul no final do mês anterior continuou atuando entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo nos dois primeiros dias de maio. Mesmo com fraca intensidade e mais oceânico, o anticiclone que avançou na sua retaguarda continuou causando declínio das temperaturas nos setores oeste e centro-sul do Brasil (ver seção 3.2).

O primeiro sistema frontal deslocou-se desde Montevideo, no Uruguai, até Santa Vitória do Palmar-RS, entre os dias 10 e 11. Este sistema também atuou em Santana do Livramento e Uruguaiana, no extremo sul do Rio Grande do Sul, favorecendo apenas a ocorrência de chuva fraca.

O segundo sistema frontal deslocou-se desde Mar del Plata, na Argentina, passando pelo sul do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 12. Este sistema avançou pelo interior de São Paulo e do Mato Grosso do Sul e, pelo litoral, deslocou-se até o Espírito Santo, onde permaneceu semiestacionário nos dias 14 e 15. A passagem deste sistema também causou acentuado declínio de temperatura no centro-sul do Brasil (ver seção 3.2). Neste período, a passagem de um cavado na média e alta troposfera contribuiu para a ocorrência de temporais no sudeste do Mato Grosso do Sul e no oeste de São Paulo, na fronteira com Paraná. Na capital do Espírito Santo, o volume de chuva excedeu 150 mm nos dias 14 e 15 (ver seção 2.1.4).

O terceiro sistema frontal também iniciou sua trajetória no litoral norte da Argentina, no decorrer do dia 29. Este sistema deslocou-se rapidamente desde o litoral da Região Sul até Santos-SP, onde se posicionou no dia 31. Pelo interior, o sistema avançou até o oeste do Paraná. Durante a sua trajetória, contribuiu para os acumulados de chuva em Santa Maria e precipitação de granizo no município de Santa Cruz do Sul-RS. No Paraná e sul de São Paulo, ocorreram chuvas intensas em áreas isoladas. A massa de ar frio que atuou na sua retaguarda também declinou as temperaturas no sul do Brasil.

Apenas três massas de ar frio atuaram no Brasil, além da primeira que ingressou no final do mês anterior e continuou causando declínio das temperaturas nos primeiros dias de maio. De modo geral, as temperaturas mínimas apresentaram-se inferiores a 12ºC no centro-sul do Brasil, declinando para valores em torno de 0ºC nas serras gaúcha e catarinense.

A massa de ar frio que atuou no final do mês anterior continuou predominando nas Regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste e no sul da Região Nordeste. No dia 04, o centro do anticiclone associado encontrava-se no oceano. Neste período, ocorreram os mais baixos valores de temperatura mínima na Região Sul, com destaque para as cidades de Bom Jesus-RS (0ºC), São Joaquim-SC (0,5ºC), Lages-SC (0,9ºC), Irati-PR (1,8ºC), Campos Novos-SC (2,2ºC) e Palmas-PR (0,9°C), todos registrados no dia 01. No dia 02, houve registro de baixos valores de temperatura mínima na capital São Paulo (10,2°C), em Maringá-PR (8,7°C) e na cidade de Rio Verde, no sul de Goiás (7,9°C). Em Campos do Jordão-SP, na Serra da Mantiqueira, a mínima registrada foi igual a 3°C, inclusive com ocorrência de geada. Neste período, também houve ocorrência da primeira friagem do ano. A temperatura mínima da cidade de Vilhena-RO apresentou declínio de 8ºC entre os dias 29 de abril e 01 de maio, passando de 23,2ºC para 15,2ºC, respectivamente.

No dia 06, a primeira massa de ar frio avançou pelo sul e leste do Rio Grande do Sul. O centro do anticiclone associado encontrava-se sobre o oceano e, no dia seguinte, influenciou toda a costa leste das Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Esta massa de ar frio manteve as temperaturas baixas no interior da Região Sul, especialmente em Santa Catarina. No dia 09, influenciava também o sul da Região Nordeste. As temperaturas mínimas foram inferiores a 12ºC e declinaram para 5,7ºC em Campos do Jordão-SP, no dia 09, e 11,9ºC em Diamantina, no norte de Minas Gerais, no dia seguinte.

A segunda massa de ar frio foi continental e ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul no dia 12, na retaguarda do segundo sistema frontal. No dia 14, estendeu-se por toda a Região Sul, sul do Mato Grosso do Sul e centro-sul da Região Sudeste. No período de 16 a 20, continuou influenciando quase toda a costa leste do Brasil e favorecendo os declínios de temperatura. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, as temperaturas mínimas foram inferiores a 5ºC nos dias 13 e 14, com destaque para as cidades de São Joaquim-SC (-0.3ºC), Bom Jesus-RS (0,2ºC) e Lages-SC (2,9ºC), no dia 13. No dia seguinte, registraram-se 0,8°C em Bom Jesus-RS; 3,2°C em São Joaquim-SC; e para as cidades de Campos Novos-SC (3,4ºC) e Rio Grande-RS (4,5ºC), no dia 14 (Fonte: INMET). No dia 21, a temperatura mínima foi igual a 7,4ºC em São Lourenço-MG e, no dia 22, declinou para 0,4ºC na cidade serrana de Campos do Jordão, no nordeste de São Paulo (Fonte: INMET).

A terceira massa de ar frio também foi continental e ingressou pelo oeste do Rio Grande do Sul no decorrer do dia 29. No dia seguinte, estendeu-se por toda a Região Sul. Em Bom Jesus-RS, a temperatura mínima foi de 11ºC no dia 29, passando a 0,8ºC no dia 31. Neste mesmo dia, foram registradas temperaturas mínimas iguais a 1,6ºC e 3,7ºC, respectivamente nas cidades catarinenses de São Joaquim e Lages,segundo dados do INMET.

A atividade convectiva foi mais acentuada no setor central da América do Sul, embora apenas dois sistemas frontais tenham conseguido avançar pelo litoral e interior do Brasil a partir da terceira pêntada de maio (Figura 23). A banda de nebulosidade associada à ZCIT pode ser notada um pouco mais ao sul durante as três primeiras pêntadas, deslocando-se gradualmente para latitudes em torno de 5ºN nas demais pêntadas de maio (ver seção 3.3.1). Na Região Sul, o aumento da atividade convectiva ocorreu durante as pêntadas 3ª, 4ª e 5ª, associada principalmente à atividade frontal (ver seção 3.1).

Na maioria das pêntadas de maio, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atuou ao norte de sua posição climatológica ao longo do Atlântico Tropical Norte (Figura 24a). Somente durante a 2ª e 3ª pêntadas, a ZCIT atuou um pouco mais ao sul, ainda assim ao norte do Equador, conforme mostra a imagem do satélite GOES-12 para o dia 08 (Figura 24b). Notou-se, também, que a maior atividade convectiva ocorreu sobre o continente africano (Figura 25). Esta atuação mais ao norte da ZCIT foi consistente com o déficit pluviométrico notado ao longo da faixa norte das Regiões Norte e Nordeste do Brasil (ver seção 2.1).

As Linhas de Instabilidade (LIs) estiveram melhor caracterizadas em doze dias de maio, atuando preferencialmente entre as Guianas e o norte do Maranhão (Figura 26). Destacaram-se os dias 02, 03, 08 e 10 quando a formação de LIs favoreceu os acumulados diários de chuva no norte do Maranhão e Pará, apesar do acentuado déficit pluviométrico no decorrer deste mês (ver seção 2.1).

Consistente com o déficit pluviométrico observado entre o Rio Grande do Norte e o leste da Bahia, notou-se a configuração de apenas um episódio de aglomerados de nuvens convectivas associados à propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL). A Figura 27 ilustra a formação e propagação deste evento de DOL em direção à costa do Rio Grande do Norte e da Paraíba, porém sem proporcionar chuvas de grande magnitude (ver seção 2.1.3). Em alguns dias, o aumento da nebulosidade também foi associado à passagem de cavados na média e alta troposfera e às nuvens estratiformes decorrentes do aumento da convergência de umidade, que costuma ser maior neste período do ano.

O jato subtropical atuou com menor intensidade sobre o setor central do Brasil, onde predominaram anomalias de leste no escoamento em altos níveis (ver Figura 9, seção 1). Por esta razão, a área de maior magnitude média mensal do escoamento em altos níveis, entre 30 m/s e 40 m/s, ocorreu sobre o sul do Chile e Argentina (Figura 28a). Somente em meados e final de maio, notou-se a atuação mais ao norte do jato subtropical, favorecendo o deslocamento mais ao norte dos sistemas frontais que atuaram no Brasil (ver seção 3.1).  As Figuras 28b e
28c ilustram os períodos nos quais a corrente de jato na alta troposfera atingiu as maiores magnitudes sobre o setor central da América do Sul. Na Figura 28c, em particular, nota-se a corrente de jato embebida no cavado que favoreceu o deslocamento mais ao norte do segundo sistema frontal de maio (Figura 28d).

Como esperado para este período do ano, a formação de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ocorreu preferencialmente no setor central da América do Sul (Figura 29). No decorrer deste mês de maio, os três episódios observados foram associados à intensificação do escoamento na alta troposfera. Destacou-se a formação de um cavado e vórtice ciclônico sobre o sul da Região Sudeste nos dias 07 e 08, respectivamente. A atuação destes sistemas na alta troposfera, em conjunto com advecção de umidade decorrente dos ventos de sudeste sobre o oceano, favoreceu o aumento da nebulosidade e a ocorrência de chuva no leste da Região Sudeste. Entre os dias 25 e 26, também se destacou a formação de um vórtice ciclônico em 500 hPa sobre o leste de Santa Catarina e oceano adjacente, o qual contribuiu para a ocorrência de chuvas mais intensas, com destaque para os acumulados de chuva em Indaial-SC e Irati-PR (ver seção 2.1.5).

As precipitações continuaram escassas na maior parte do Brasil. Houve predominância de chuvas abaixo da média histórica nas bacias do Amazonas, Atlântico Norte-Nordeste, Atlântico Sudeste e Uruguai. Embora tenha chovido acima da média em parte das bacias do Tocantins, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná, as vazões médias mensais diminuíram na maioria das estações monitoradas em comparação com abril passado.

A Figura 30 mostra a localização das estações fluviométricas utilizadas nestas análises. As séries históricas de vazões médias mensais, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 31. Destacou-se a diminuição das vazões em quase todas as estações monitoradas nas bacias brasileiras, quando comparadas aos correspondentes valores da MLT. Os valores das vazões médias mensais nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT, para este mês, são mostrados na Tabela 2.

Na estação de Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas utilizando um modelo estatístico, a partir das cotas observadas no Rio Negro. Neste mês, a máxima altura registrada foi de 29,97 m, a mínima foi de 29,25 m e a média de 29,71 m, superior ao valor da MLT e também em relação ao mês anterior (Figura 32). A altura máxima do Rio Negro foi maior que a cota observada em julho de 2009 (29,77 m), segundo informações do Porto de Manaus.

Na bacia do Amazonas, a vazão média mensal foi superior à climatológica apenas na estação de Manacapuru-AM, enquanto que, para as outras estações, os valores foram inferiores às MLTs e diminuíram em comparação com o mês anterior. Nas bacias do Tocantins e São Francisco, as vazões médias mensais nas estações monitoradas também foram inferiores à MLT e aos valores observados em abril passado.

As estações fluviométricas localizadas na bacia do Paraná, a saber: Água Vermelha-SP, Ilha Solteira-SP, Capivara-SP, G.B. Munhoz-PR e Salto Santiago-PR apresentaram desvios positivos em relação às MLTs. Nas demais estações, ocorreram desvios negativos. As estações localizadas na parte norte da bacia do Paraná apresentaram diminuição dos valores de vazão em comparação com o mês anterior.

Na bacia do Atlântico Sudeste, as vazões médias mensais das estações de Registro-SP e Passo Real-RS foram inferiores às MLTs, enquanto que, na estação de Blumenau-SC, foi superior à MLT.

No Vale do Itajaí, foram registradas precipitações mais baixas que a média em todas as estações, exceto na estação de Blumenau-SC (Tabela 3). A estação de Passo Fundo-RS, localizada na bacia do Uruguai, apresentou uma vazão média bem abaixo do correspondente valor da MLT e bem próxima ao mês anterior, entretanto, muito inferior comparativamente ao mesmo período de 2011.

No decorrer de maio de 2012, foram detectados aproximadamente 3.200 focos de calor, de acordo com as medidas feitas pelo satélite AQUA_M-T (Figura 33). Estes focos de calor aumentaram 50% em comparação com abril passado e 60% em relação ao mesmo período de 2011.

Considerando os valores climatológicos das queimadas neste período do ano, houve redução em São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Por outro lado, foram observados aumentos mais expressivos em parte do Tocantins, no Piauí e Maranhão e no extremo leste da Bahia, como resultado da forte estiagem que atinge tanto o leste da Região Nordeste como toda a faixa norte do Brasil. Em comparação com o mesmo período de 2011, registrou-se aumento dos focos de calor de aproximadamente 500% no Rio Grande do Sul, com 115 focos. Também houve aumento das queimadas no Piauí (330%, com 335 focos), no Maranhão (200%, com 290 focos), na Bahia (70%, com 320 focos), no Tocantins (50%, com 470 focos); no Mato Grosso (25%, com 815 focos). Houve redução aproximada de 20% em Minas Gerais (145focos) e Goiás (100 focos).

No restante da América do Sul, houve reduções de aproximadamente 50% na Argentina e Paraguai e de 20% na Bolívia e Venezuela. Apenas na Colômbia, ocorreu aumento no número de queimadas de aproximadamente 90% em relação ao ano anterior.

Nas Unidades de Conservação (UCs), federais e estaduais, houve aumento de aproximadamente 60% nos focos de calor, em relação ao mesmo período de 2011. As principais áreas atingidas foram: Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba (Federal/TO), com 24 focos; Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (Federal/BA), com 17 focos; e Parque Nacional da Chapada das Mesas (Federal/MA), com 10 focos.

Em maio, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) nos mares de Ross (de até -10hPa), Amundsen, Bellingshausen, Davis e Dumont D’Urville, e positivas nos mares de Weddell e Lazarev (Figura 34). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia negativa de geopotencial no platô antártico, retornando ao padrão de anomalias observado em fevereiro de 2012 (ver Figura 12, seção 1).

No campo de anomalia do vento em 925 hPa (Figura 35), observou-se uma circulação ciclônica entre os mares de Amundsen e Bellingshausen e o sudeste do Oceano Pacífico Sul. Notou-se, também, uma circulação anticiclônica anômala entre o mar de Weddell e o sudoeste do Oceano Atlântico Sul.

A temperatura do ar em 925 hPa ficou acima da média em praticamente todo o Oceano Austral, com anomalias de até 6ºC nos mares de Ross e Amundsen, e anomalias negativas no leste do mar de Lazarev, mar de Davis, norte de Bellingshausen e na Passagem de Drake (Figura 36).

No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008. As anomalias de vento observadas no nível de 925 hPa (ver Figura 35) contribuíram, possivelmente, para a retração na extensão do gelo marinho nos mares de Amundsen e Bellingshausen e para a expansão no mar de Weddell (Figura 37). A extensão total do gelo marinho no Oceano Austral foi de 10,9 x 106 km2, sendo 0,2 x 106 km2 acima da climatologia para maio (1979-2000).

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br/prod_antartica/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3]

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