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Edição Atual
Volume 22 - Nº07 - Julho/2007

SUMÁRIO
O mês de julho continuou apresentando poucas chuvas na maior parte das Regiões Centro-Oeste, Nordeste e no norte da Região Sudeste. A umidade relativa do ar atingiu valores inferiores a 25% em localidades no Mato Grosso, Goiás e Piauí. Na Região Sul e no sul da Região Sudeste, as chuvas estiveram associadas principalmente à incursão de sistemas frontais e à presença de cavados em médios e altos níveis. A massa de ar frio associada ao sistema frontal que ingressou no final de julho causou declínio acentuado de temperatura no Acre e episódios de geada e neve nas regiões serranas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Os campos oceânicos e atmosféricos continuam evidenciando, pelo terceiro mês consecutivo, características associadas ao episódio frio do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) sobre o Oceano Pacífico Equatorial. Os sinais da variabilidade intrasazonal também estiveram presentes no Oceano Pacífico e têm modulado o padrão de chuvas, particularmente sobre as Regiões Sudeste e Sul do Brasil, mascarando os efeitos clássicos do atual fenômeno La Niña.

As vazões médias mensais diminuíram em grande parte das bacias brasileiras, com exceção das estações localizadas no sul da bacia do Paraná e nas bacias do Atlântico Sudeste e do Uruguai.

Os 7.000 focos de queimadas detectados pelo satélite NOAA-12 estiveram 40% acima dos focos detectados em junho passado, porém dentro do esperado de acordo com a definição do período seco e quente no Nordeste e no Brasil Central.


As anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) estenderam-se sobre o Pacífico Leste no decorrer do mês de julho (Figura 1). Nas regiões dos Niños 1+2, 3 e 3.4, as anomalias médias de TSM foram respectivamente iguais a -1,5ºC, -0,7ºC e -0,2ºC (Tabela 1Figura 2 e Tabela 1Figura 2). Embora a TSM ainda permaneça ligeiramente acima da climatologia na região do Niño 4, como mostra a Figura 2, sua evolução nas demais regiões, nos três últimos meses, é indicativa da fase ativa do fenômeno La Niña. Houve uma expansão da área com anomalias negativas de TSM adjacente à costa oeste da América do Sul, como resultado da intensa atuação do sistema de alta pressão semi-estacionário do Pacífico Sudeste. No Atlântico Sul, houve expansão da área de anomalias positivas de TSM adjacente à costa oeste da África. Esta região de águas mais quentes foi consistente com o enfraquecimento dos alísios na região equatorial do Atlântico.

O campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL) ressaltou a fraca atividade convectiva associada à ZCIT sobre o Pacífico Equatorial Leste e o aumento da atividade convectiva na região da Indonésia (Figura 5). Sobre o continente sul-americano, a atividade convectiva esteve próxima à normalidade. Esta condição esteve relacionada, possivelmente, à influência da oscilação intrasazonal Madden-Julian, que vem atuando na bacias dos oceanos Índico e Pacífico e tem mascarado os efeitos do atual fenômeno La Niña sobre a América do Sul, especialmente sobre a Região Sul do Brasil.

O centro do sistema de alta pressão semi-estacionário do Pacífico Sudeste deslocou-se para leste se comparado a junho passado, porém ainda se manteve acima da média em até 8 hPa (Figura 6). Destacou-se a extensa área de anomalia negativa de Pressão ao Nível do Mar (PNM) sobre o Atlântico Sul, consistente com a maior atividade dos sistemas frontais sobre o Brasil, em particular no final de julho (ver seção 3.1).

No escoamento em 850 hPa, manteve-se a intensa atividade anticiclônica sobre o Pacífico Sudeste (Figuras 7 e 8), favorecendo o movimento de ressurgência adjacente à costa oeste da América do Sul e, conseqüentemente, a expansão da área de anomalias negativas de TSM. No setor sudoeste do Atlântico Sul, a extensa anomalia ciclônica foi consistente com a maior atividade dos sistemas frontais sobre o território brasileiro (ver seção 3.1). Sobre o setor oeste do Atlântico Equatorial, notou-se uma ondulação no escoamento de leste, consistente com a atuação de vários episódios de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL, conforme ilustrado na seção 3.3.3. Contudo, os ventos estiveram mais fracos que a média ao longo da costa leste nordestina, o que resultou na ocorrência de chuvas abaixo da média histórica (ver seção 2.1.3).

No campo de anomalia de vento em 200 hPa, notou-se o deslocamento para leste da anomalia anticiclônica na região do Pacífico Sudeste, em relação a junho passado, igualmente observado em baixos níveis. Observou-se também intensa atividade associada à corrente de jato sobre áreas extratropicais do Atlântico Sul (Figuras 9 e 10). Ressalta-se a formação de um centro anticiclônico anômalo em 20ºS/20ºW, associado ao trem de ondas desde o Pacífico até o Atlântico.

No campo de altura geopotencial em 500 hPa, notou-se a configuração de número de onda 2 na faixa extratropical do Hemisfério Sul (Figura 12). Ressalta-se, também, a extensa área de anomalia negativa de geopotencial sobre áreas extratropicais dos oceanos Atlântico e Índico.

A diminuição das chuvas no leste da Região Nordeste e o aumento no sul da Região Sudeste e em grande parte da Região Sul foram os destaques neste mês de julho. A atuação dos sistemas frontais proporcionou a ocorrência de acumulados mensais que excederam em até 100 mm a normal climatológica em algumas localidades do Estado de São Paulo e da Região Sul. Apesar da atuação de uma massa de ar seco, os totais pluviométricos estiveram próximos aos valores climatológicos em grande parte do interior do Brasil.
As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

As chuvas observadas no norte da Região Norte estiveram associadas principalmente à propagação de Linhas de Instabilidade (LI’s) que se originaram na costa e à formação de áreas isoladas de convecção devido ao aquecimento diurno. Os totais mensais excederam a média histórica em mais que 50 mm em áreas isoladas do Amazonas, Roraima e Amapá. Entre os dias 27 e 28, destacou-se a chuva acumulada em Boa Vista-RR (82,2 mm), segundo dados do INMET.

As chuvas ocorreram próximas aos valores climatológicos, ressaltando-se que, em algumas áreas, houve aumento das chuvas em relação ao mês anterior. A presença de uma massa de ar seco continuou proporcionando baixos índices de umidade relativa do ar em várias localidades no interior da Região, destacando-se os valores registrados em São Vicente-MT (16%) e Jataí-GO (17%), ambas no dia 20 (Fonte: INMET). A passagem do quinto sistema frontal favoreceu a formação de intensas áreas de instabilidade no sudeste do Mato Grosso do Sul, entre os dias 22 e 23 (ver seção 3.1).

Destacou-se a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica ao longo de toda a faixa costeira, principalmente entre o Rio Grande do Norte e o leste da Bahia, região que ainda se encontra no seu período mais chuvoso. No interior da Região Nordeste, a presença de uma massa de ar quente e seco proporcionou baixos valores de umidade relativa do ar, como os observados em Bom Jesus da Lapa-BA (21%) e São João do Piauí-PI (22%), ambos no dia 24. Somente em alguns dias, a propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) e a maior intensidade do efeito de brisa associado ao escoamento anticiclônico sobre o oceano foi favorável à ocorrência de elevados totais diários de precipitação na região costeira, como os registrados em Recife-PE (93,2 mm, no dia 08; e 62,8 mm, no dia 22) e Propriá-SE (43,7 mm, no dia 27). Em Salvador-BA, a passagem do último sistema frontal ocasionou chuvas e ventos fortes que causaram transtornos à população local (ver seção 3.1).

A passagem de seis sistemas frontais pela Região Sudeste causou fortes chuvas principalmente em cidades do Estado de São Paulo, onde os valores excederam à média histórica em mais que 100 mm. Nos dias 17 e 18, a atuação da quarta frente fria ocasionou ventos de até 60 km/h na cidade de Santos-SP e chuvas mais intensas em Presidente Prudente-SP (56 mm, no dia 18) e Taubaté-SP (56,9 mm, nos dias 17 e 18). Em Cáceres-MT, o total pluviométrico foi igual a 39,4 mm, no dia 18, sendo a climatologia igual a 24,1 mm. Entre os dias 24 e 25, houve intensa formação de áreas de instabilidade no Estado de São Paulo associadas à atividade frontal e à formação de cavados em médios e altos níveis da atmosfera, com ocorrência de granizo em São José do Rio Preto e rajadas de vento de até 50 km/h em Piracicaba. Em São Paulo, capital, a chuva acumulada nestes dias foi igual a 84,1 mm, sendo a climatologia mensal igual a 44,1 mm. No dia 25, também se registrou 74,4 mm de chuva em Campos do Jordão-SP (sendo a climatologia mensal igual a 37,6 mm, segundo dados do INMET). Considerando os totais mensais de precipitação, destacaram-se os valores registrados em Taubaté-SP (128 mm) e no aeroporto de São José dos Campos-SP (174,9 mm), os quais excederam a média histórica para este mês.

A atividade dos sistemas frontais foi intensa entre o norte do Rio Grande do Sul e o Paraná, destacando-se os elevados totais diários de precipitação registrados em Passo Fundo-RS (135 mm) Bom Jesus-RS (131 mm) e Caxias do Sul-RS (103 mm), todos no dia 10. A configuração do quinto sistema frontal ocasionou chuvas mais generalizadas entre Santa Catarina e o Paraná, registrando-se 58,5 mm e 79,9 mm em São Joaquim-SC, nos dias 22 e 23, respectivamente. No dia 23, registraram-se 71,9 mm de chuva em Campos Novos-SC e 68,3 mm em Castro-PR. Ressaltam-se os totais mensais de precipitação que ficaram em torno de 250 mm nas cidades de Bom Jesus-RS, Caxias do Sul-RS e Florianópolis-SC (175,2 mm), muito acima dos respectivos valores climatológicos (143,2 mm, 153,6 mm e 94,6 mm).

Durante o mês de julho, houve a incursão de massas de ar frio que causaram acentuado declínio das temperaturas máxima e mínima principalmente na Região Sul do Brasil. Os valores médios mensais de temperatura máxima variaram entre 18ºC, nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e 34ºC no interior do Brasil (Figura 16). A temperatura mínima média mensal variou entre valores inferiores a 6ºC, no extremo sul do Rio Grande do Sul e áreas serranas da Região Sul, a 24ºC, no norte do Brasil (Figura 18). As anomalias negativas de temperatura máxima e mínima na Região Sul, no Mato Grosso do Sul e no sudoeste da Região Norte foram consistentes com a entrada das intensas massas de ar frio neste mês de julho, inclusive com ocorrência de dois episódios de friagem (Figuras 17 e 19). No Estado de São Paulo, a temperatura média do ar variou entre 14ºC e 20ºC, com anomalias ligeiramente negativas no sudeste deste Estado (Figuras 20 e 21).

Durante o mês de julho, sete sistemas frontais atuaram no Brasil (Figura 22). Este número esteve acima da climatologia que é de seis sistemas frontais para latitudes entre 25oS e 35oS. Neste mês, os sistemas frontais proporcionaram chuvas intensas e ventos fortes entre o norte do Rio Grande do Sul e o sul das Regiões Sudeste e Centro-Oeste. As massas de ar frio associadas afetaram principalmente o Rio Grande do Sul.

O primeiro sistema frontal ingressou pelo interior e litoral do Rio Grande do Sul no dia 06. Esta frente fria deslocou-se até o litoral de Paranaguá-PR, onde se posicionou às 00:00 TMG do dia 09. Os acumulados diários de precipitação excederam 50 mm em algumas cidades no norte do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, como os registrados em São Joaquim-SC (81,8 mm) e Campos Novos-SC (73 mm) no dia 09. Ressalta-se que a massa de ar frio associada causou queda acentuada de temperatura no Rio Grande do Sul (ver seção 3.2). Neste mesmo dia, a segunda frente fria teve início a partir de um sistema de baixa pressão que se formou no interior do Rio Grande do Sul, intensificado pelo cavado na média e alta troposfera. Pelo litoral, este sistema deslocou-se rapidamente desde Florianópolis-SC até Campos-RJ, onde se posicionou no dia 12. Destacaram-se os totais de precipitação registrados no dia 10, os quais ultrapassaram 130 mm em algumas localidades no norte do Rio Grande do Sul (ver seção 2.1.5). Houve registro de neve na serra catarinense (ver seção 3.2).

O terceiro sistema frontal originou-se de uma ciclogênese que se formou a sudeste do Rio Grande do Sul e Uruguai, no dia 14. O ciclone extratropical associado causou ventos fortes principalmente no Uruguai. Pelo interior, este sistema deslocou-se até Campo Grande-MS e, pelo litoral, até Cabo Frio-RJ. As chuvas mais intensas ocorreram entre os Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, entre os dias 15 e 17, amenizando a situação de estiagem observada desde junho passado. Nas cidades de Maringá e Londrina, no noroeste do Paraná, registraram-se 84,1 mm e 61,4 mm de chuva no dia 17 (Fonte: INMET).

No dia 18, o quarto sistema frontal configurou-se em Torres-RS, a partir de uma ciclogênese que se formou sobre a Região Sul no dia anterior. Este sistema deslocou-se rapidamente pelo litoral e interior das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, posicionado-se em Vitória-ES no dia 19, às 12:00 TMG. Durante sua trajetória, proporcionou acumulados de precipitação que excederam a climatologia mensal em algumas localidades do Estado de São Paulo (ver seção 2.1.4).

O quinto sistema frontal também se configurou a partir de uma ciclogênese que ocorreu sobre o Rio Grande do Sul e Uruguai, no dia 22. Durante a sua formação, ocorreram intensas áreas de instabilidade sobre as Regiões Sul e Sudeste do Brasil e o sul do Mato Grosso do Sul (ver seção 2.1.5). A passagem do ciclone extratropical associado causou ventos fortes na região metropolitana de Curitiba-PR, onde várias casas foram destelhadas e houve queda de granizo. No dia 24, este sistema frontal encontrava-se em Cabo Frio-RJ, deslocando-se posteriormente para o oceano.

A sexta frente fria configurou-se a partir de uma ciclogênese que se formou próximo à costa da Região Sul, entre os dias 24 e 25. Neste período, houve a formação de áreas de instabilidade que proporcionaram chuvas intensas no Estado de São Paulo, no sul do Rio de Janeiro e Minas Gerais, no leste do Mato Grosso do Sul e no norte do Paraná (ver seção 2.1.4). O sistema frontal associado deslocou-se rapidamente desde Iguape-SP até Vitória-ES, onde se manteve estacionário entre os dias 26 e 29. Durante a sua trajetória, registraram-se rajadas de vento superiores a 50 km/h em algumas cidades no sul da Região Sudeste e no interior da Região Centro-Oeste. Ressalta-se a configuração de um acentuado cavado em altos níveis, associado à corrente de jato subtropical que atuou mais intensamente sobre a Região Sul no período de 23 a 26 de julho (ver seção 4.1). Observou-se, também, acentuada queda de temperatura e ocorrência de neve entre o Uruguai e a cidade de Chuí, no extremo sul do Rio Grande do Sul (ver seção 3.2).

No dia 27, a sétima frente fria ingressou pelo sul do Rio Grande do Sul. Esta frente fria atuou apenas na faixa litorânea, deslocando-se rapidamente até o litoral de Maceió-AL no dia 31. Entre os dias 28 e 29, a passagem deste sistema proporcionou episódios de chuva que causaram transtornos aos moradores da cidade do Rio de Janeiro. Também houve registro de rajadas de vento que ultrapassaram 60 km/h na capital baiana e de até 50 km/h em Aracajú-SE. A massa de ar frio que atuou na retaguarda deste sistema frontal proporcionou recordes de temperaturas baixas nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil (ver seção 3.2).

As massas de ar frio mais intensas ocorreram no início e final de julho, afetando especialmente o extremo sul do Rio Grande do Sul, onde se observaram episódios de neve e geada, e o sul da Região Norte, onde ocasionaram dois episódios de friagem. No total, seis massas de ar frio continentais ingressaram no País. A massa de ar frio associada à passagem do primeiro sistema frontal do mês, em particular, foi responsável pela ocorrência de uma forte nevada na cidade de Buenos Aires. O último episódio havia ocorrido em 1918, ou seja, há 89 anos.

A massa de ar frio que ingressou no final do mês anterior continuou afetando toda a Região Sul. Nos dias 02 e 03, o anticiclone associado estendeu-se para os setores central e litoral da Região Sudeste, posicionando-se sobre o Oceano Atlântico no dia 04. Entre os dias 08 e 09, mesmo sobre o oceano, este anticiclone influenciou o sul da Bahia. Destacaram-se os valores de temperatura mínima registrados em Santa Vitória do Palmar-RS (1,9ºC), Rio Grande-RS (3,9ºC) e Uruguaiana-RS (0,8º) no dia 02; e nas cidades de Iguape-SP (9,2ºC) e São Paulo, capital (10,3ºC), no dia 03.

A primeira massa de ar frio encontrava-se no sul do Rio Grande do Sul no dia 08. O anticiclone associado permaneceu nos setores sul e oeste do Rio Grande do Sul nos dias 09 e 10. Nos dois dias subseqüentes, com o avanço da massa de ar frio, houve declínio acentuado da temperatura nas Regiões Sul e Centro-Oeste e no sul da Região Norte. Posteriormente, o anticiclone deslocou-se para leste, afetando a faixa litorânea desde o Rio Grande do Sul até o sul da Bahia. Registraram-se temperaturas mínimas, abaixo de 0ºC, em Uruguaiana-RS (-2,8ºC, no dia 11), Santa Vitória do Palmar-RS (-0,5ºC, no dia 12) e Bagé-RS (-3,2ºC, no dia 12). No dia 11, nevou em pelo menos quatro cidades do sul do Brasil, a saber: Soledade-RS, Arvorezinha-RS, Itapuca-RS e São Joaquim-SC. O fenômeno foi mais expressivo no distrito da Raia da Pedra, em Soledade, onde a neve chegou a ser forte em alguns momentos e acumulou-se sobre a vegetação, automóveis e telhados (Fonte: METSUL). Em Chapecó-SC, a temperatura mínima passou de 10,2ºC, no dia 11, para 3,4ºC no dia seguinte. Neste mesmo período, a temperatura mínima em Castro-PR, passou de 10,9ºC para 5,6ºC. No dia 12, a temperatura mínima foi igual a 13,2ºC em Rio Branco-AC, com declínio de 5,6ºC em relação ao dia anterior. Neste dia, a mínima foi igual a 11ºC na cidade de Vilhena-RO, ou seja, declinou 6ºC em relação ao dia 10, caracterizando o primeiro episódio de friagem no sul da Região Norte.

No dia 14, a segunda massa de ar frio ingressou pelo oeste do Rio Grande do Sul. No dia seguinte, o anticiclone associado deslocou-se sobre grande parte da Região Sul e oeste do Mato Grosso do Sul. A partir do dia 16, este anticiclone dividiu-se em dois núcleos sobre a Região Sul. O primeiro posicionou-se no litoral e deslocou-se para o oceano. O segundo permaneceu sobre o continente e foi intensificado pela massa de ar frio que atuou na retaguarda do quarto sistema frontal, posicionando-se sobre o sul e oeste da Região Sul nos dias 17 e 18. No dia seguinte, este anticiclone avançou e a terceira massa de ar frio associada estendeu-se pelas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Pelo litoral, esta massa de ar frio estendeu-se até o Espírito Santo e Bahia. No dia 16, registrou-se -0,1ºC na cidade de Bagé-RS. Em Chapecó-SC, a temperatura mínima foi igual a 14,2ºC no dia 14, passando a 5ºC no dia seguinte. Em Foz do Iguaçu-PR, passou de 13,5ºC para 4,3ºC entre os dias 17 e 19. Em São Carlos-SP, passou de 13,3ºC para 6,6ºC entre os dias 18 e 19. Neste mesmo período, houve declínio de até 4ºC na Região Centro-Oeste.
A quarta massa de ar frio ingressou pelo oeste das Regiões Sul e Centro-Oeste no dia 23. No dia seguinte, este anticiclone posicionou-se no litoral da Região Sul, deslocando-se posteriormente para o oceano. O declínio da temperatura mínima variou de 6ºC a 10ºC em algumas cidades da Região Sul, entre os dias 22 e 23.
A quinta massa de ar frio atuou sobre a Região Sul e o oeste da Região Centro-Oeste no dia 24. No dia seguinte, deslocou-se para leste afetando São Paulo e o sul de Minas Gerais. Em Londrina-PR, a mínima passou de 15,8ºC, no dia 23, para 9,4ºC no dia seguinte. No dia 25, nevou em localidade muito próxima da fronteira do Brasil com o Uruguai, na região de Chuí (Fonte: METSUL). Destacaram-se as temperaturas mínimas em São Joaquim-SC (-1,6ºC, no dia 24), em Santa Vitória do Palmar-RS (2,2ºC, no dia 25), em São Carlos-SP (5,1ºC, no dia 26), em Campo Grande-MS (5,5ºC, no dia 26) e em Cáceres-MT (10ºC, no dia 27). Houve queda acentuada de temperatura na capital do Acre, onde a mínima atingiu 14,9ºC no dia 26, ou seja, declínio de 7,6ºC em relação ao dia anterior. Em Vilhena-RO, a mínima foi igual a 10ºC no dia 27, declínio de 10ºC em relação ao dia 24. Este foi o segundo episódio de friagem.

Nos dias 28 e 29, um novo anticiclone, cujo centro de 1038 hPa estava posicionado sobre a Argentina, estendeu-se sobre a Região Sul do Brasil, centro-sul da Região Sudeste, Região Centro-Oeste e sul da Região Norte. Nos dias 30 e 31, o anticiclone permaneceu na faixa litorânea do Sul e Sudeste do Brasil. Esta sexta massa de ar frio ocasionou temperaturas abaixo de 0ºC em Santa Vitória do Palmar-RS (-0,3ºC), Bagé-RS (-0,8ºC), Santa Maria-RS (-1,1ºC) e Uruguaiana-RS (-1ºC), todas no dia 29. Em São Joaquim-SC, a mínima declinou de -1,5ºC para -5.4ºC, nos dias 28 e 29, respectivamente. Em Rio Branco-AC, registrou-se mínima igual 12,7ºC, no dia 30, a mais baixa temperatura do mês. Na capital paulista, o mais baixo valor de temperatura máxima ocorreu no dia 30, igual a 6,4ºC (Fonte: INMET).

Ocorreram episódios de geada no Rio Grande do Sul, nas cidades de Quarai (16) Pelotas (13) em Taquari (4) em Uruguaiana (20) em Ijuí (8) em Veranópolis e Vacaria (10) (Fonte: FEPAGRO).

Durante o mês de julho, houve aumento da atividade convectiva especialmente nas Regiões Sul e Sudeste e oeste da Região Norte (Figura 23). Na Região Sudeste, destacou-se a atividade associada às ciclogenêses e aos sistemas frontais que atuaram na 2ª, 3ª, 4ª e 5ª pêntadas de julho. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) continuou atuando preferencialmente ao norte de 5ºN (ver seção 3.3.1). Na primeira pêntada, pode-se notar a nebulosidade associada à persistência de um cavado em altos níveis, com eixo sobre as Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

Em julho, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) permaneceu oscilando entre as latitudes 5ºN e 10ºN, em torno de sua posição climatológica (Figura 24). Ressalta-se que, na 2ª e 3ª pêntadas, a ZCIT atuou ao sul de sua climatologia a oeste de 35ºW. A maior atividade convectiva associada à ZCIT ainda ocorreu próximo à costa da África. Contudo, notou-se aumento da nebulosidade associada à ZCIT próximo à costa norte da América do Sul na 2ª, 3ª e 4ª pêntadas (Figura 25). Nestas pêntadas, houve formação de Linhas de instabilidade (LI’s) de maior intensidade sobre a costa noroeste da Região Nordeste do Brasil (ver seção 3.3.2).

As Linhas de Instabilidade (LI’s) estiveram melhor caracterizadas em 15 dias do mês de julho, atuando preferencialmente entre a Venezuela e o Nordeste do Brasil. Destacaram-se os dias 09, 11, 16 e 18 (Figura 26). Nestes dias, a maior intensidade das LI’s esteve associada à proximidade da ZCIT, favorecendo as anomalias positivas de precipitação em áreas isoladas no sul do Amapá e noroeste do Pará.

Em julho, a formação de aglomerados convectivos associados à propagação de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) ocorreu em seis episódios (Figura 27). Os episódios que proporcionaram os maiores acumulados de chuva entre o litoral do Rio Grande do Norte e Sergipe ocorreram nos dias 08, 12, 21 e 26 (ver seção 2.1.3). Embora o terceiro, quinto e sexto episódios estivessem associados à formação de aglomerados de nuvens estratiformes, notou-se a propagação do cavado invertido no escoamento de leste, adjacente à costa leste do Nordeste, em baixos e médios níveis da atmosfera.

O jato subtropical apresentou magnitude média entre 40 m/s e 50 m/s sobre o nordeste da Argentina, Uruguai e sul do Brasil (Figura 28a), atuando dentro de sua posição climatológica, porém mais fraco. Destacou-se a configuração do jato subtropical no período de 06 a 13, quando atuou com maior intensidade entre o nordeste da Argentina e a Região Sul do Brasil, conforme ilustra a Figura 28b. Neste período, houve considerável aumento da atividade convectiva sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina devido à atuação de três sistemas frontais (ver seção 3.1). A partir do dia 23, o jato subtropical voltou a apresentar magnitude superior a 70 m/s sobre o Rio Grande do Sul, contribuindo para a intensificação do sexto sistema frontal à superfície, que se deslocou até o litoral de Vitória-ES (Figuras28c e
28d).

Em julho, notou-se a configuração de três episódios de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN), conforme ilustra a Figura 29. No período de 01 a 06, destacou-se a formação de um cavado tropical em altos níveis no interior do Brasil, contribuindo para aumentar a subsidência e intensificar a massa de ar seco que atuou principalmente sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste.

As precipitações continuaram escassas sobre a maioria das bacias brasileiras, porém, em comparação com junho passado, aumentaram no sul da bacia do Paraná, na bacia do Uruguai e no norte da bacia do Amazonas. Houve diminuição das vazões médias mensais em grande parte das bacias brasileiras, com exceção das localizadas no sul da bacia do Paraná e nas bacias do Atlântico Sudeste e do Uruguai.

A Figura 30 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 31. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 2.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Durante o mês de julho, as cotas atingiram um valor máximo de 28,09 m e um valor mínimo de 27,33 m. A cota média foi igual a 27,78 m (Figura 32).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais foram inferiores àquelas observadas no mês anterior, porém continuaram acima da MLT nas estações de Manacapuru-AM e Coaracy Nunes-AP.
A estação Tucuruí-PA, na bacia do Tocantins, também apresentou diminuição da vazão média mensal em relação ao mês anterior e valor abaixo da MLT. Comportamento similar também foi notado nas estações localizadas na bacia do São Francisco.

Na bacia do Paraná, com exceção das estações de Xavantes-SP e Capivara-SP, as vazões médias mensais diminuíram em comparação com o mês anterior. Porém, considerando a MLT, a maioria das estações apresentou desvio positivo. Apenas as estações de Furnas-MG e Água Vermelha-SP, no norte da bacia, e G.B. Munhoz-PR e Salto Santiago-PR, no sul, apresentaram vazões abaixo da MLT.

Na bacia do Atlântico Sudeste, as vazões foram maiores que as observadas no mês anterior. Entretanto, a estação de Registro-SP, no norte da bacia, apresentou vazão média mensal abaixo da MLT. Na estação Blumenau-SC, as vazões acima da MLT estiveram consistentes com anomalias positivas de chuva no Vale do Itajaí (Tabela 3). Na bacia do Uruguai, a vazão média mensal na estação Passo Fundo-RS também seguiu este comportamento, com valor superior ao observado no mês anterior e acima da MLT.

Neste mês de julho, período ascendente das queimadas, foram detectados cerca de 7.000 focos de queimadas no País, pelo satélite NOAA-12 (Figura 33). Este valor ficou 40% acima dos focos detectados em junho passado, porém dentro do esperado de acordo com o período de estiagem no interior do Nordeste e no Brasil Central.

Em comparação com o mesmo período de 2006, o número de focos aumentou especialmente nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do País, destacando-se: 260% no Piauí (360 focos), 200% na Bahia (480 focos), 80% em Tocantins (815 focos), 61% no Maranhão (550 focos) e 40% no Mato Grosso do Sul (190 focos). Por outro lado, houve redução igual a 50% em Rondônia (230 focos) e de 45% em São Paulo (300 focos). No Mato Grosso, a ocorrência de chuvas ligeiramente acima da média inibiu o aumento considerável das queimas. Nos demais países da América do Sul, houve redução entre 30% e 40%, em especial no Paraguai e na Bolívia.

Detectaram-se 2.250 focos de queimadas (satélite NOAA-12) em diversas Unidades de Conservação, federal e estadual, além de áreas vizinhas, especialmente no Tocantins, Maranhão e Bahia, destacando-se a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, com 10 % das ocorrências.

Em julho, foram observadas anomalias positivas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) em praticamente todo o Oceano Austral, com valores de até 12 hPa no mar de Amundsen (Figura 34). Observaram-se anomalias ligeiramente negativas na Passagem de Drake. No platô antártico, em 500 hPa, registrou-se uma anomalia positiva de geopotencial, seguindo a tendência iniciada em março de 2007 (ver Figura 12, seção 1).

No campo mensal de anomalia de vento em 925 hPa (Figura 35), foram registrados três episódios de escoamento de ar de sul para norte, a partir do nordeste do mar de Bellingshausen e do norte do mar de Weddell em direção ao sul do Brasil, totalizando 10 dias. Esta configuração foi favorável às anomalias negativas de temperaturas no sul do Brasil. No mesmo período de 2006, houve apenas três dias com este escoamento e as temperaturas ficaram acima da média no sul do Brasil.

A temperatura do ar em 925 hPa ficou acima da média nos mares de Amundsen, Lazarev e Ross (até 8ºC) e abaixo da média nos mares de Weddell ( até 4ºC), Bellingshausen e na Península Antártica (Figura 36). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas aproximadamente de 4ºC acima da climatologia no interior do continente.

Ressaltou-se uma anomalia anticiclônica no Pacífico Sudeste (verFigura 35), que propiciou advecção de ar mais aquecido em direção à costa do continente antártico. Esta configuração contribuiu, possivelmente, para a manutenção da retração na extensão do gelo marinho nos mares de Amundsen e Bellingshausen (Figura 37).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes provenientes de leste e de norte. A magnitude média mensal do vento foi igual a 5,1 m/s, inferior à climatologia para este mês (6,3 m/s). A temperatura média do ar foi igual a -12,6ºC, ou seja, 6,1ºC abaixo da normal climatológica (-6,5ºC), mantendo-se a tendência de temperaturas abaixo da média iniciada no mês de março. Os meses de julho, mais frios ou semelhantes a este, aconteceram anteriormente na Baía do Almirantado, com as mais baixas temperaturas médias registradas nos seguintes anos: 1995 (-13,1ºC); 1987 (-13,5ºC); 1959 (-12,7ºC); e 1958 (-12,9ºC). A temperatura mínima média neste mês de julho de 2007 foi igual a -16,9ºC, quase o mesmo valor do recorde anterior (-17ºC) registrado no ano de 1987. A mínima absoluta foi igual a -24,7ºC neste mês de julho, ou seja, três graus acima do recorde ocorrido em julho de 1995. Por último, ressalta-se o congelamento completo da Baía do Almirantado (Figura 38), condição esta que não ocorria desde 1995, com o gelo praticamente fechando todo o Estreito de Brasnfield. Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1985 a 2007), encontram-se disponíveis no site http://www.cptec.inpe.br /prod_antartica/ data/resumos/climatoleacf.xls.

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3]

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