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Edição Atual
Volume 24 - Nº11 - Novembro/2009

SUMÁRIO
Novembro foi excessivamente chuvoso na Região Sul do Brasil, em particular no oeste do Rio Grande do Sul. Estas chuvas estiveram associadas principalmente à atuação da corrente de jato em baixos níveis, mecanismo que traz umidade da Amazônia em direção ao sul do Brasil. Notou-se, também, a ausência de episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), o que explica a ocorrência de chuvas abaixo da média histórica em Minas Gerais, no Espírito Santo e no sul da Bahia. Apenas um sistema frontal conseguiu avançar até o litoral da Região Sudeste, favorecendo o aumento das chuvas no sudeste de São Paulo.

As águas continuaram mais quentes que o normal na região do Pacífico Equatorial, indicando a persistência da fase madura do fenômeno El Niño. Na região do Atlântico Norte, os valores de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) também excederam a climatologia, contribuindo para a atuação preferencial da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua posição climatológica. Já o aquecimento das águas próximo à costa sudeste da América do Sul, maior que o observado em outubro passado, favoreceu a formação de intensas áreas de instabilidade na Região Sul do Brasil.

As vazões no sul da bacia do Atlântico Sudeste e na bacia do Uruguai foram favorecidas pelo excesso de chuvas. Já na maior parte da bacia do Paraná, houve redução das vazões médias mensais em comparação com o mês anterior.

Os focos de queimadas aumentaram 30% em comparação com outubro passado, porém diminuíram aproximadamente 22% em todo o País, se comparados aos focos registrados em novembro de 2008.


Em novembro, as anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) foram características da fase madura do episódio quente do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) na região do Pacífico Equatorial (Figura 1). Nas regiões dos Niños 1+2, 3, 3.4 e 4, houve aumento dos valores médios de TSM e das correspondentes anomalias. Na região do Niño 3.4, em particular, ocorreu o maior aumento das anomalias médias, em torno de 0,7ºC, comparativamente com outubro passado (Tabela 1 e Figura 2 ). A temperatura das águas nas camadas sub-superficiais do Pacífico Equatorial, próximo à costa oeste da América do Sul, excedeu a climatologia em mais que 4ºC. Na região do Atlântico Norte, persiste a região de águas anomalamente quentes, consistente com a atuação da ZCIT ligeiramente ao norte de sua posição climatológica (ver seção 3.3.1).

No campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL), destacou-se a grande área de anomalia positiva associada à diminuição da convecção tanto sobre o continente australiano como sobre o norte e leste da América do Sul (Figura 5). O aumento destas anomalias reflete a evolução da fase madura do fenômeno El Niño ao longo do Pacífico Equatorial, em comparação com outubro passado, inclusive com impactos mais evidentes sobre a distribuição de chuvas no Brasil (ver seção 2.1). Sobre a América do Sul, em particular, a área de anomalia positiva de ROL refletiu a ausência de episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), assim como a baixa freqüência de sistemas frontais na costa leste do Brasil (ver seção 3.1). Ressalta-se que o sinal da Oscilação Madden-Julian (OMJ) foi desfavorável à ocorrência de precipitação nas Regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, no decorrer deste mês de novembro.

O campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM) mostrou a alta subtropical do Pacífico Sudeste mais intensa e alongada para sudoeste, com centro aproximadamente em 45ºS/120ºW. Nesta posição, a anomalia positiva de PNM foi superior a 10 hPa (Figura 6). Sobre o centro-sul da América do Sul, destacou-se a anomalia negativa de PNM, que refletiu a maior atividade convectiva sobre a Região Sul do Brasil, principalmente sobre o Rio Grande do Sul (ver seção 2.1).

O escoamento em 850 hPa destacou o relaxamento dos alísios na região do Pacífico Equatorial e a circulação anticiclônica mais intensa e deslocada de sua posição climatológica sobre o Pacífico Sudeste (Figuras 7 e 8). Sobre o leste da América do Sul, destacou-se a circulação anticiclônica anômala que impediu o avanço dos sistemas frontais para latitudes mais baixas, porém favoreceu a intensificação do jato em baixos níveis, a leste dos Andes. Esta configuração do escoamento sobre o continente sul-americano explicou a ocorrência de chuvas mais acentuadas principalmente na Região Sul e as anomalias positivas de temperatura na maior parte do Brasil (ver seções 2.1 e 2.2).

O campo de anomalia de vento em 200 hPa destacou o aumento na intensidade da corrente de jato subtropical, principalmente na região do Pacífico Sudeste e Atlântico Sudoeste, consistente com o padrão canônico associado à fase madura do fenômeno El Niño sobre o Pacífico Equatorial (Figuras 9 e 10). Sobre o leste da América do Sul e oceano adjacente, notou-se a intensa anomalia anticiclônica, igualmente observada em baixos níveis, contribuindo para a situação de estiagem que predominou em parte das Regiões Sudeste e Nordeste do Brasil no decorrer de novembro, inclusive com a ausência de episódios de ZCAS (ver seções 2.1 e 3.3.1).

O campo de altura geopotencial em 500 hPa mostrou a ocorrência do número de onda 3, destacando-se a intensificação dos centros anômalos observados nas latitudes extratropicais do Pacífico Sul e na mesma posição em comparação com outubro passado (Figura 12).

O maior destaque foi o excesso de chuva e as rajadas de vento no Rio Grande do Sul no decorrer de novembro de 2009. No norte da Região Norte, a atuação de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) inibiu a ocorrência de chuvas, principalmente no decorrer da segunda quinzena. As chuvas foram escassas desde o sul do Maranhão até o centro-sul da Bahia e nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Nestas áreas, os totais pluviométricos ocorreram abaixo do esperado em decorrência da ausência de mecanismos favoráveis à formação de episódios de ZCAS, entre eles, os sistemas frontais, cuja atuação foi maior no extremo sul do Brasil. No Sudeste, a formação de áreas de instabilidade associadas principalmente ao escoamento em médios e altos níveis contribuiu para a ocorrência de chuvas mais intensas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com predominância de valores mensais acima da média histórica.
As Figuras 13 e 14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

Choveu abaixo da média na maior parte da Região. Esta situação pode estar associada aos impactos do fenômeno El Niño sobre o norte da América do Sul, o que também explicaria a pouca formação de Linhas de Instabilidade (LI’s) ao longo da costa (ver seção 3.3.2). Na cidade de Fonte Boa-AM, o total mensal de precipitação foi inferior a 50 mm, sendo a climatologia mensal igual a 189,3 mm. Em Tefé-AM, o acumulado de chuva atingiu aproximadamente 82 mm e o valor esperado para este mês é igual a 204,3 mm (Fonte: INMET). Contudo, houve a formação de áreas de instabilidade associadas ao escoamento da Alta da Bolívia e aos efeitos termodinâmicos que costumam ser intensos nesta época do ano, com destaque para os 131,7 mm de chuva registrados em Barcelos-AM, no dia 03. Em Palmas-TO, dos 78 mm de chuva registrados durante o mês, 72 mm ocorreram em apenas uma hora no dia 30 (Fonte: Centro Estadual de Meteorologia).

A formação de áreas de instabilidade associada ao escoamento da Alta da Bolívia e aos efeitos termodinâmicos contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média no Mato Grosso. No leste do Mato Grosso do Sul, a ocorrência de chuvas acima da média foi associada principalmente à atuação do jato em baixos níveis. Destacou-se o total diário de chuva registrado em Vera Gleba Celeste-PR (119 mm, no dia 14). Nesta localidade, o acumulado mensal de precipitação atingiu 309,2 mm, sendo o valor climatológico igual a 280,7 mm (Fonte: INMET).

Novembro é um mês de poucas chuvas, especialmente no norte da Região Nordeste. Nesta área, choveu ligeiramente abaixo do esperado, com ocorrência de baixos valores de umidade relativa do ar. Destacaram-se os valores de umidade registrados em Tauá-CE (13%), Floresta-PE (15%) e Castelo do Piauí-PI (15%), no dia 20, e nas cidades de Bom Jesus da Lapa-BA (17%) e Guarda-Mor-MG (15%), no dia 23. Apesar da baixa pluviometria, registraram-se 38 mm de chuva na capital da Paraíba, no dia 14, sendo a climatologia igual a 22,2 mm. No centro-sul e oeste do Nordeste, onde são esperados os maiores acumulados de chuva, as anomalias negativas excederam 100 mm, como foi observado em Bom Jesus da Lapa, no sudoeste da Bahia, onde o total mensal atingiu apenas 28 mm e a climatologia é igual a 157,6 mm.

Apesar da região de convergência de umidade que se formou em alguns dias e da proximidade de sistemas frontais que se deslocaram pelo oceano, as chuvas ocorreram abaixo da média em praticamente todo o Estado de Minas Gerais e do Espírito Santo. Esta falta de chuvas também foi consistente com a ausência de episódios de ZCAS. Contudo, houve a formação de áreas de instabilidade associadas à região de difluência que se forma entre a Alta da Bolívia e o cavado ou vórtice ciclônico do Atlântico (ver seções 4.2 e 4.3). Como resultado, destacaram-se os totais de chuva registrados em Vitória-ES (110,4 mm, no dia 01), Frutal-MG (95,1 mm, no dia 08) e no aeroporto do Rio de Janeiro-RJ (94 mm, dia 16), segundo dados do INMET. Ressalta-se que, embora tenha chovido predominantemente acima da média histórica no Estado de São Paulo, a umidade relativa do ar foi baixa no início de novembro, registrando-se 16% no dia 03.

A atividade mais intensa da corrente de jato em baixos níveis, a leste dos Andes, em conjunto com a passagem de sistemas frontais reforçados pela atuação igualmente intensa do jato subtropical em altos níveis, conforme descrito na seção 4.1, favoreceu a formação de forte convecção no sul do Brasil no decorrer do mês de novembro. Os acumulados mensais excederam a média histórica em até 500 mm no Rio Grande do Sul, com destaque para os valores registrados em Uruguaiana (515 mm) e São Luiz Gonzaga (673,7 mm), sendo os correspondentes valores climatológicos iguais a 125,7 e 146 mm, respectivamente. No dia 03, a atuação de um sistema frontal estacionário causou rajada de vento de até 99 km/h em Chuí-RS. O município de Quaraí-RS, na fronteira com o Uruguai, acumulou 100,4 mm de chuva no dia 05, quase o valor esperado para todo mês de novembro (125 mm). A atuação do segundo sistema frontal contribuiu para o acumulado de chuva em Santa Maria-RS (81 mm, no dia 07). Nesta localidade, o total mensal de precipitação atingiu 443,1 mm, sendo a climatologia mensal igual a 120,5 mm (Fonte: INMET). No dia 14, as cidades de Bagé, Caxias do Sul e Encruzilhada do Sul também registraram elevados totais diários de chuva, respectivamente iguais a 111 mm, 91 mm e 107 mm, sendo as correspondentes climatologias iguais a 95,7 mm, 122,6 mm e 101,3 mm (Fonte: INMET). Nos dias subsequentes, destacaram-se as rajadas de vento superiores a 100 km/h em Mostardas-RS (dia 17), Porto Alegre-RS (dia 19) e Tramandaí-RS (dia 19). A cidade de Quaraí-RS voltou a registrar chuva diária superior a 100 mm no dia 21, enquanto que o município de Uruguaina-RS acumulou 81 mm de chuva no dia 24. A proximidade do sexto e sétimo sistemas frontais favoreceu a ocorrência de rajadas de vento de até 110 km/h em Rio Grande-RS, no dia 26, e de até 92 km/h, em Chapecó-RS, no dia 30.

Durante o mês de novembro, tanto as temperaturas máximas quanto as mínimas apresentaram-se acima da média em todo o País, com destaque paras as anomalias observadas na Região Sul e no sul das Regiões Centro-Oeste e Sudeste. Os maiores valores de temperatura máxima ocorreram no norte das Regiões Norte e Nordeste (Figura16), porém o excesso de nebulosidade favoreceu o aumento das temperaturas nas Regiões Centro-Oeste e Sul, com destaque para os valores registrados em Itaquirai-MS (36,8ºC) e Santa Maria-RS (33,6ºC), todas registradas no dia 19. As máximas ficaram até 5ºC acima da média histórica no norte do Paraná e no Estado de São Paulo (Figura17). Do mesmo modo, as temperaturas mínimas médias mensais, que variaram entre 16ºC e 22ºC na Região Sul (Figura 18), também excederam a climatologia em até 5ºC no norte do Paraná e no leste de Santa Catarina. No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 20ºC e 26ºC, com anomalias positivas mais acentuadas no setor leste (Figuras 20 e 21).

Sete sistemas frontais atuaram no Brasil no decorrer do mês novembro (Figura 22). Este número ficou dentro da climatologia para este mês, considerando as latitudes 25oS a 35oS. A maioria destes sistemas deslocou-se apenas até o sul do Rio Grande do Sul e somente a segunda frente fria conseguiu atingir o litoral da Região Sudeste.

O primeiro sistema frontal atuou no litoral e interior do Rio Grande do Sul entre os dias 03 e 05. Durante sua trajetória, houve intensa atividade convectiva entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, inclusive com queda de granizo em Uruguaiana-RS, na madrugada do dia 04.

O segundo sistema frontal ingressou pelo litoral e interior do Rio Grande do Sul, no decorrer do dia 07, posicionando-se em Porto Alegre-RS às 12:00 TMG. Pelo litoral, este sistema deslocou-se até Iguape-SP, onde atuou entre os dias 08 e 09. No dia seguinte, este segundo sistema frontal posicionou-se sobre o oceano. Neste período, também houve a formação de uma região de convergência de umidade sobre o Sudeste, a qual foi intensificada pelo escoamento em altos níveis associado à Alta da Bolívia.

O terceiro sistema frontal formou-se no Uruguai e atuou apenas no litoral do Rio Grande do Sul, onde se posicionou no dia 10. No dia seguinte, houve forte convecção na Região Sul, igualmente associada à atuação do jato em baixos níveis.

No dia 15, o quarto sistema frontal configurou-se em Rio Grande-RS. Neste dia, observou-se o jato em baixos níveis bastante intenso e direcionado para o sul do Brasil. Esta situação, em conjunto com a circulação da Alta da Bolívia em níveis mais altos da atmosfera (ver seção 4.2), voltou a causar forte convecção sobre o Rio Grande do Sul. Este quarto sistema intensificou-se sobre o oceano, posicionando-se próximo à costa sul da Bahia no dia 17.
O quinto sistema frontal formou-se entre o sul do Rio Grande do Sul, o Uruguai e o Atlântico adjacente no decorrer do dia 19. O ciclone extratropical associado causou fortes temporais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Este sistema também se deslocou pelo oceano, posicionando-se na altura dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro no decorrer do dia 23.

Como notado anteriormente, notou-se a atuação conjunta do jato em baixos níveis e da circulação associada à alta da Bolívia até o final de novembro. Esta configuração do escoamento em baixos e altos níveis resultou no desenvolvimento de intensa convecção no setor central do Brasil e também na Região Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, porém impediu o avanço dos sistemas frontais sobre o território brasileiro. Por esta razão, o sexto e o sétimo sistemas frontais também se restringiram ao extremo sul do Brasil, onde atuaram nos dias 26 e 30, respectivamente, deslocando-se para o oceano.

Em novembro, os anticiclones associados à incursão de massas de ar frio restringiram-se ao extremo sul do Rio Grande do Sul e à faixa litorânea de Santa Catarina, Paraná e do Estado de São Paulo. No total, foram contabilizadas seis massas de ar frio de fraca intensidade que causaram apenas leve declínio da temperatura nas áreas afetadas. Os dois primeiros anticiclones ingressaram pelo sul do Rio Grande do Sul nos dias 07 e 10, deslocando-se posteriormente para o oceano.

A terceira massa de ar frio atuou no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina no decorrer do dia 16. No dia seguinte, o anticiclone associado teve um deslocamento para leste, avançando pelo litoral do Paraná e do Estado de São Paulo, indo posteriormente para o oceano. Em Curitiba, a temperatura mínima passou de 18ºC, no dia 16, para 15,6ºC, no dia 17, enquanto que, em São Paulo, capital, a mínima declinou 2ºC, passando a 17,5ºC neste mesmo período.

Nos dias 20, 24 e 27, a quarta, quinta e sexta massas de ar frio atuaram no sul do Rio Grande do Sul e, nos dias subsequentes, os anticiclones associados deslocaram-se para o oceano.

Durante o mês de novembro, notou-se a maior atividade convectiva nas Regiões Norte, e Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, como esperado do ponto de vista climatológico (Figura 23). Contudo, a ausência da convecção associada a episódios de ZCAS pode ser notada em praticamente todas as pêntadas, o que resultou em anomalias negativas de precipitação sobre grande parte das Regiões Sudeste e Nordeste do Brasil (ver seção 2.1). Na Região Nordeste, a diminuição da atividade convectiva também foi associada à configuração de vórtices ciclônicos em altos níveis, como pode ser notado especialmente na 3ª, 5ª e 6ª pêntadas de novembro. A banda de nebulosidade associada à ZCIT aparece melhor configurada sobre o Atlântico Equatorial na 1ª, 3ª e 4ª pêntadas, entre as latitudes 5ºN e 10ºN.

No início de novembro, persistiu a banda de nebulosidade associada ao episódio de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que se configurou no final do mês anterior, cujo maior impacto ocorreu no norte do Espírito Santo (ver boletim anterior, vol. 24, no10). Nos demais dias de novembro, houve a formação de regiões de convergência de umidade sobre o setor central do Brasil, porém sem caracterizar episódios de ZCAS, como foi notado no período de 08 a 10, quando se registraram chuvas mais acentuadas entre o sudeste do Mato Grosso e oeste de Minas Gerais, e entre os dias 29 e 30. Ressalta-se que, as áreas de instabilidade mais intensas também foram reforçadas pelo escoamento em altos níveis da atmosfera (ver seções 4.1 e 4.2).

Climatologicamente, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ainda atua sobre o Atlântico Tropical Norte durante novembro. No decorrer deste mês, a ZCIT oscilou em torno de sua posição climatológica, entre 5ºN e 10ºN, como ilustra a (Figura 24). Esta posição mais ao norte da ZCIT também contribuiu para a baixa freqüência de LI’s sobre a costa norte da América do Sul (ver seção 3.3.3). Na Figura 25, as imagens médias de temperatura de brilho mínima mostram a banda de nebulosidade da ZCIT atuando em conjunto com os vórtices ciclônicos em altos níveis que se configuraram durante a segunda quinzena de novembro, especialmente na 5ª e 6ª pêntadas.

As Linhas de Instabilidade (LI's) apresentaram fraca intensidade no decorrer do mês de novembro, configurando-se em apenas dois episódios entre a Venezuela e o Amapá, (Figura 26). Esta baixa frequência na formação das LI's também foi associada à posição mais ao norte da ZCIT (ver seção 3.3.1).

Em novembro, o jato subtropical atuou com maior freqüência sobre a região central do Chile e Argentina e sobre o extremo sul do Uruguai (Figura 27a). Nesta área, o jato subtropical apresentou magnitude média mensal de até 60 m/s, ficando mais intenso e ao sul de sua posição climatológica. Esta posição mais ao sul do jato subtropical também restringiu a atuação dos sistemas frontais ao extremo sul do Brasil ((ver seção 2.1). No período de 04 a 08, o jato atingiu magnitude de até 70 m/s sobre o norte da Argentina, Uruguai e Atlântico, conforme ilustra o escoamento referente ao dia 05 (Figura 27b). No dia 09, a maior magnitude do jato, entre 50 m/s e 60 m/s, foi notada sobre o Rio Grande do Sul, contribuindo para que pelo menos um sistema frontal atingisse o litoral do Estado de São Paulo. No período de 13 a 15, o jato voltou a intensificar sobre o nordeste da Argentina e sul do Uruguai, como mostram o escoamento e a imagem de satélite referentes ao dia 15 (Figuras 27c e
27d).

A Alta da Bolívia esteve bem caracterizada em 24 dias de novembro, atuando preferencialmente sobre a Bolívia e o oeste do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 18ºS/68ºW, a sudoeste de sua posição climatológica (Figura 28a). No dia 13, notou-se o escoamento divergente associado à circulação da Alta da Bolívia e ao vórtice ciclônico, sobre o norte da Região Centro-Oeste, favorecendo a formação de intensas áreas de instabilidade e a ocorrência de chuvas mais significativas principalmente no leste e sudeste do Amazonas, centro-sul do Pará e norte do Mato Grosso, como ilustra a imagem do satélite GOES-10 (Figura 28b). No dia 20, a convecção associada ao escoamento da Alta da Bolívia associou-se também às áreas de instabilidade decorrentes da maior atuação do jato em baixos níveis sobre o sul do Brasil (Figura 28c).

Oito episódios de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) foram contabilizados no mês de novembro (Figura 29a). O primeiro episódio posicionou-se sobre o nordeste de São Paulo e sul do Rio de Janeiro e configurou-se a partir de um cavado que teve início no final do mês anterior. Este VCAN atuou em conjunto com o episódio de ZCAS que também persistiu até o início deste mês (ver seção 3.3.1). O segundo episódio formou-se sobre o sudeste da Bolívia e noroeste do Paraguai e foi associado a uma onda curta em altos níveis, intensificando a convergência em baixos níveis conhecida por Baixa do Chaco. O terceiro episódio, que atuou no período de 05 a 08 de novembro, configurou-se próximo à costa de Sergipe, deslocando-se para o continente. Este VCAN inibiu a convecção desde o leste do Nordeste até o nordeste de Minas Gerais. O quarto e o sexto episódios de VCAN formaram-se sobre o norte do Maranhão e o sul do Amapá, respectivamente, inibindo a convecção sobre o norte do Brasil. O quinto, sétimo e oitavo episódios de VCAN originaram-se sobre o Atlântico Sul, a leste da longitude 30ºW. O último episódio, em particular, atuou em conjunto com a banda de nebulosidade que se estabeleceu sobre o setor central do Brasil no final de novembro, como ilustra a imagem de satélite do dia 29 (Figura 29b).

Em novembro, voltou a chover forte no sul do Brasil, favorecendo principalmente o sul da bacia do Atlântico Sudeste e a bacia do Uruguai. No norte das bacias do Amazonas e Atlântico Sudeste, no sul da bacia do São Francisco e na maior parte da bacia do Paraná, houve redução das vazões médias mensais em comparação com outubro, consistente com as anomalias negativas de precipitação na maior parte das Regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil.

A Figura 30 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 31. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Neste mês, a
altura máxima registrada foi 17,75 m, a mínima foi 15,99 m e a média igual a 17,18 m (Figura 32).

Na bacia do Amazonas, as vazões médias mensais foram menores que as registradas no mês anterior e ficaram abaixo da MLT, com exceção da estação Samuel-RO, onde a vazão aumentou e excedeu o correspondente valor da MLT. Mesmo comportamento ocorreu na vazão média mensal da estação Tucuruí-PA, na bacia do Tocantins, que também aumentou e ficou acima da MLT.

Na bacia do São Francisco, a estação de Sobradinho-BA apresentou aumento da vazão média mensal e desvio positivo se considerada a MLT, enquanto que, na estação de Três Marias-MG, registrou-se vazão média mensal inferior à observada em outubro passado e abaixo da MLT.

A maioria das estações localizadas na bacia do Paraná apresentaram vazões inferiores às registradas no mês anterior, porém, em geral, com valores maiores que a MLT. Apenas quatro estações localizadas no norte desta bacia apresentaram aumento dos valores de vazão, a saber: Emborcação-MG, Itumbiara-MG, São Simão-MG e Ilha Solteira-SP.

Nas estações de Registro-SP e Blumenau-SC, na bacia do Atlântico Sudeste, as vazões diminuíram com relação ao mês anterior. Ressalta-se que a vazão registrada em Blumenau-SC ficou próxima à MLT, apesar das anomalias positivas de precipitação em praticamente todas as estações no Vale do Itajaí (Tabela 4). Na estação Passo Real-RS, no sul da bacia do Atlântico Sudeste, e na estação de Passo Fundo-RS, na bacia do Uruguai, a vazão superou o valor registrado no mês anterior e o correspondente valor da MLT.

Em novembro, detectaram-se cerca de 17.000 focos de queimadas no País, pelo satélite NOAA-15 (Figura 33). Este valor ficou 30% acima dos focos registrados em outubro, consistente com os impactos associados à atuação do fenômeno El Niño, especialmente sobre o Pará, Maranhão, Ceará e Piauí.

Comparando-se com novembro de 2008, houve uma redução de aproximadamente 22% em todo o País. Apesar das anomalias negativas de precipitação, as maiores reduções ocorreram na Bahia (89%, 331 focos), no Amazonas (79%, 73 focos), em Rondônia (73%, 283 focos), em Minas Gerais (62%, 287 focos), no Piauí (54%, 1.167 focos) e no Mato Grosso (41%, 320 focos). Contudo, notou-se o avanço de novas frentes de destruição das florestas no setor centro-norte do Pará e no setor oeste do Maranhão, na divisa com Pará. Consequentemente, houve condições ambientais favoráveis ao uso do fogo na vegetação e aumento dos focos no Pará (133%, 5.900 focos). O Estado do Maranhão apresentou 4.500 ocorrências de queimadas, apesar da redução de 20%.

Detectaram-se 980 focos de queimadas no interior das Unidades de Conservação, federal e estadual, e em suas áreas vizinhas, especialmente nas Áreas de Preservação Ambiental Baixada Maranhense (Estadual/MA), com 166 focos; Chapada do Araripe (Federal/PI), com 107 focos; Upaon-Açu / Miritiba / Alto Preguiças (Estadual/ MA), com 71 focos; Serra da Ibiapaba (Federal/PI), com 70 focos; e a Reserva Extrativista Verde para Sempre (Federal/PA), com 52 focos.

Em novembro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) nos mares de Ross (até -6 hPa), Dumont D'Urville e na Passagem de Drake (Figura 34). Anomalias positivas ocorreram nos mares de Bellingshausen e Amundsen (até 16 hPa) e nos mares de Lazarev e Weddell. No nível de 500 hPa registrou-se anomalia positiva de geopotencial no platô antártico, mantendo-se a tendência observada desde maio de 2009 (ver Figura 12, seção 1).

O campo de anomalia do vento em 925 hPa evidenciou intensa anomalia anticiclônica nos mares de Amundsen e Bellingshausen e no leste do mar de Weddell (Figura 35). Observou-se a ausência de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte do mar de Weddell em direção ao sul do Brasil, pelo quarto mês consecutivo. Destacaram-se as anomalias positivas de temperatura no sul do Brasil (ver seção 2.2).

A temperatura do ar em 925 hPa ficou acima da média nos mares de Amundsen, Ross (até 4ºC) e no mar de Lazarev (Figura 36). Os valores de temperatura ficaram abaixo da média nos mares de Bellingshausen, Weddell e na Passagem de Drake (até -4ºC). No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 3ºC acima da climatologia no interior do continente antártico, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008.

As circulações anticiclônicas anômalas nos mares de Amundsen e Bellingshausen e no leste do mar de Weddell (ver Figura 35) contribuíram, possivelmente, para a retração do gelo no mar de Weddell e expansão no mar de Bellingshausen (Figura 37).

Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de norte (21%). A magnitude média mensal do vento foi igual a 5,6 m/s, pouco abaixo da média climatológica para este mês (5,8 m/s). A temperatura média do ar foi igual a -2,2ºC, abaixo da normal climatológica (-0,2 ºC), mantendo-se a tendência de temperaturas abaixo da média desde abril de 2009. Com o encerramento do trimestre climático, notou-se que esta primavera foi a mais fria dos últimos 11 anos na EACF. Neste mês, seis frentes e dez ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica; sendo que a média esperada para este mês costuma ficar em torno de cinco frentes e seis ciclones.

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2009), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/ ~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

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