Ministério da Ciência e Tecnologia
Acesse o Portal do Governo Brasileiro
Edição Atual
Volume 24 - Nº12 - Dezembro/2009

SUMÁRIO
Dezembro foi marcado pela ocorrência de temporais que causaram sérios transtornos à população da Região Sudeste do Brasil. As chuvas também excederam a média histórica na maior parte das Regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Por outro lado, os setores norte e leste da Região Nordeste e o norte do Espírito Santo foram os mais afetados pela falta de chuvas, principalmente no decorrer da primeira quinzena, devido ao posicionamento dos Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN).

As águas continuaram mais quentes que o normal na região do Pacífico Equatorial, com anomalias positivas de até 2ºC associadas à atual fase do fenômeno ENOS. Nas regiões subtropicais dos oceanos Atlântico Norte e Sul, notou-se a persistência de águas superficiais mais quentes, as quais favoreceram tanto a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao norte de sua posição climatológica quanto a ocorrência de chuvas acima da média no Sudeste do Brasil, respectivamente.

As chuvas mais acentuadas nas bacias do Amazonas, Tocantins, Paraná, São Francisco e norte da bacia do Atlântico Sudeste contribuíram para que quase todas as estações hidrológicas monitoradas nos setores norte e central do Brasil apresentassem aumento das vazões e valores acima da MLT.

Cerca de 5.900 focos de queimadas foram detectados no País. Este valor ficou 65% inferior aos focos observados em novembro passado. As maiores ocorrências foram registradas no norte do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e no oeste da Paraíba.


As anomalias positivas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) atingiram os maiores valores na região central do Pacífico Equatorial desde o início da configuração do fenômeno El Niño em junho passado (Figura 1). Nas regiões dos Niños 3 e 3.4, houve aumento da TSM e as anomalias médias foram iguais a 1,6ºC e 1,8ºC, respectivamente ( Tabela 1e Figura 2). No setor leste do Pacífico Equatorial, próximo à costa oeste da América do Sul, o valor da anomalia da temperatura das águas subsuperficiais atingiu 5ºC. Nas regiões subtropicais do Atlântico Norte e Sul, persiste uma extensa área de águas anomalamente quentes, ao passo que a TSM continua próxima aos valores médios na região equatorial deste oceano. Esta configuração tem contribuído para a atuação preferencial da ZCIT ao norte de sua posição climatológica (ver seção 3.3.1).

O campo de anomalia de Radiação de Onda Longa (ROL) evidenciou o aumento da convecção no setor oeste do Pacífico Equatorial, em torno da Linha Internacional de Data, consistente com as anomalias positivas de TSM associadas ao fenômeno El Niño, enquanto ausência de convecção foi observada na região da Indonésia (Figura 5). Sobre a América do Sul, os valores de ROL ocorreram próximos à climatologia. No entanto, embora a convecção tenha ficado próxima à média no Sudeste do Brasil, o sinal da Oscilação Madden-Julian (OMJ) foi favorável à ocorrência de precipitação nesta região, no decorrer deste mês.

No campo de anomalia de Pressão ao Nível do Mar (PNM), destacou-se a extensa área de anomalia negativa na região do Pacífico Norte, Atlântico Norte e Europa, enquanto que, nos oceanos Pacífico e Atlântico Sul, houve predominância de anomalia positiva (Figura 6). Ressalta-se que a anomalia negativa de PNM notada sobre a região do Atlântico Norte esteve associada ao enfraquecimento da Alta dos Açores que, por sua vez, foi consistente com a atuação da ZCIT ao norte de sua posição climatológica (ver seção 3.1). Esta configuração costuma estar associada a anos nos quais chove abaixo da média histórica sobre o Nordeste do Brasil (ver seção 2.1.5).

O escoamento em 850 hPa destacou o relaxamento dos alísios no Pacífico Equatorial e a persistência da circulação anticiclônica mais intensa sobre o Pacífico Sudeste (Figuras 7 e
8). Sobre a América do Sul, a circulação anticiclônica anômala continuou inibindo o avanço dos sistemas frontais para latitudes mais baixas, com apenas dois sistemas avançando em território brasileiro (ver seção 2.1). Notou-se, também, a persistência da anomalia de norte no interior da América do Sul, ainda consistente com a intensificação do jato em baixos níveis no decorrer de dezembro. Esta atuação mais intensa do jato sobre o continente contribuiu para a ocorrência de chuvas mais acentuadas no oeste da Região Sul e no sul do Mato Grosso do Sul, especialmente durante a segunda quinzena.

O campo de anomalia de vento em 200 hPa destacou o enfraquecimento da corrente de jato subtropical na região do Pacífico Sudeste e Atlântico Sudoeste, comparativamente a novembro passado, porém ainda intensa em comparação com o escoamento climatológico (Figuras 9 e
10). Do mesmo modo, persistiu a anomalia anticiclônica sobre o leste da América do Sul e oceano adjacente.

O campo de altura geopotencial em 500 hPa evidenciou a ocorrência do número de onda 3, com os centros anômalos situados nas latitudes extratropicais do Pacífico Sul e na mesma posição, se comparados com o mês anterior, porém menos intensos (Figura 12).

Em dezembro, as chuvas excederam os correspondentes valores climatológicos na maior parte do Brasil. Os maiores totais acumulados estenderam-se desde o centro-sul do Amazonas e Acre até os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A formação de episódios de ZCAS e a configuração do escoamento de verão sobre a América do Sul, representado pela Alta da Bolívia e pelos vórtices ciclônicos que se formam sobre o oceano e próximo à costa leste da América do Sul, nas camadas mais altas da troposfera, foram os principais responsáveis pelo aumento das chuvas nestas áreas. As Figuras 13 e
14 mostram a precipitação observada em todo o Brasil e os desvios em relação aos valores médios históricos. A distribuição espacial das estações utilizadas na análise de precipitação é mostrada na Figura 15. A análise detalhada do comportamento das chuvas para cada uma das Regiões do Brasil é feita a seguir.

As chuvas foram mais acentuadas sobre o o Acre e centro-sul do Amazonas, onde os valores excederam a média em até 300 mm. Estas chuvas estiveram associadas à formação de áreas de instabilidade decorrentes da configuração da Alta da Bolívia e dos efeitos termodinâmicos que costumam ser mais intensos neste período do ano. No norte do Pará e no Amapá, a formação de Linhas de Instabilidade (LI’s) ao longo da costa também contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média (ver seção 3.3.2). Destacaram-se as chuvas registradas em Palmas-TO (91,5 mm), no dia 01; Codajás-AM (113,1 mm), Benjamin Constant-AM ( 100,6 mm) e Itaituba-PA (100,5 mm), no dia 10; Cametá-PA (100,8 mm), no dia 12; Tucuruí-PA (91,4 mm), no dia 23; e em Monte Alegre-PA (96 mm e 110,4 mm, respectivamente nos dias 08 e 30), segundo dados do INMET. Na cidade de Eirunepé, no sudoeste do Amazonas, a chuva acumulada no dia 16 totalizou 122,8 mm. Nesta cidade, o total mensal de precipitação excedeu 500 mm, valor muito acima da climatologia mensal, que é de 233,7 mm. As chuvas ficaram até 100 mm abaixo da média em Rondônia.

Choveu acima da média na maior parte da Região. Estas chuvas foram associadas principalmente à configuração da Alta da Bolívia e aos efeitos termodinâmicos, assim como ao episódio de ZCAS que se formou no início de dezembro. Destacaram-se os totais diários de chuva registrados em Corumbá-MS (140,2 mm), no dia 04; Ipameri-GO (106,3 mm) e Nova Xavantina-MT (82,6 mm), no dia 06; Goiânia-GO (107,6 mm), no dia 07; e em Ponta Porã-MS (76 mm), no dia 18. Na cidade de Ponta Porã, no sul do Mato Grosso do Sul, o total mensal de chuva atingiu 300 mm, sendo a climatologia para este mês igual a 183,7 mm (Fonte: INMET). No norte do Mato Grosso, as chuvas ocorreram abaixo da normal climatológica, entre 50 mm e 100 mm.

Embora dezembro esteja inserido no período de transição entre a estação seca e a chuvosa no norte do Nordeste, os totais mensais apresentaram-se abaixo da média no norte do Maranhão, Piauí e Ceará. Esta situação de chuvas mais escassas foi associada ao posicionamento da ZCIT ao norte de sua posição climatológica (ver seções 3.1). A persistência de cavados e vórtices ciclônicos em altos níveis também contribuiu para a ocorrência de chuvas abaixo da média na maior parte da Bahia (ver seção 4.3). É importante ressaltar o comportamento da atmosfera em escala global, com destaque para o fenômeno El Niño, cujo maior impacto sobre o norte e nordeste da América do Sul consiste na redução das chuvas comparativamente com os valores médios históricos (ver seção 1). A escassez de chuva resultou em baixos valores de umidade relativa do ar em algumas localidades, como foi registrado em Bom Jesus da Lapa-BA (25%, no dia 19) e Paulistana-PI(26%, no dia 20). Contudo, no final de dezembro, o posicionamento do centro dos vórtices ciclônicos contribuiu para os elevados totais diários de chuva registrados em Pernambuco e no sul do Maranhão. Na cidade de Ouricuri, no alto sertão de Pernambuco, choveu 94,9 mm no dia 25. Em Balsas-MA, a chuva registrada no dia 29 foi igual a 74 mm. Nestas áreas, os totais mensais excederam à climatologia.

Os temporais que causaram perda de vidas e danos materiais no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, especialmente nas cidades de Angra dos Reis-RJ e São Luiz do Paraitinga-SP, estiveram associados principalmente ao aumento da convergência de umidade no setor central do Brasil. Esta convergência foi reforçada pela formação de um centro de baixa pressão adjacente à costa e pelo escoamento associado à Alta da Bolívia e aos vórtices ciclônicos na média e alta troposfera. No final de dezembro, o volume de chuvas superou a climatologia esperada para todo o mês na cidade de Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro, que é de 265 mm. Nesta localidade, segundo o INMET, o volume de chuvas entre os dias 31 de dezembro de 2009 e 01 de janeiro de 2010 foi igual a 275,5 mm e causou um desastre ainda maior que os observados em dezembro de 1965 e 2002. Na região do Vale do Paraíba, nordeste de São Paulo, a cidade de São Luiz do Paraitinga também registrou excesso de chuva no período de 28 de dezembro a 01 de janeiro de 2010, com um acumulado mensal para essa região superior à climatologia em até 100 mm. Destacaram-se as ocorrências de granizo em São Paulo, capital, no início e final de dezembro, assim como os elevados totais diários de chuva registrados nas seguintes localidades: Conceição do Mato Dentro-MG (108 mm) e Caratinga-MG (98,9 mm), no dia 05; em Franca-SP (94,4 mm), no dia 07; São Paulo-SP (Mirante de Santana: 99,7 mm) e Guarulhos-SP (94,9 mm), no dia 08; Resende-RJ (123,8 mm), no dia 28; Presidente Prudente-SP (103 mm), Rio Claro-SP (94 mm) e Guaratinguetá-SP (126,1 mm), no dia 29; e na cidade do Rio de Janeiro-RJ (94 mm), no dia 31 (Fonte: INMET). Ainda na cidade do Rio de Janeiro-RJ, registraram-se 218 mm de chuva na região de Mendanha e 172 mm na Ilha do Governador, no dia 31 (Fonte: GEORIO).

Dois sistemas frontais atuaram na Região Sul e ocasionaram chuva e ventos fortes especialmente no Rio Grande do Sul. Estas chuvas também foram intensificadas pela atuação do jato subtropical (ver seção 4.1). Destacaram-se as rajadas de vento em Caxias do Sul-RS (100 km/h) e Bento Gonçalves-RS (103 km/h), no dia 02; e no Rio Grande-RS (121 km/h), no dia 12. Em Uruguaiana, no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul, a chuva acumulada entre os dias 11 e 12 foi igual a 123 mm, sendo que o total mensal atingiu 304 mm, ou seja, quase 165 mm acima da média histórica para este mês (Fonte: INMET).

Em dezembro, as temperaturas máximas foram mais elevadas no interior do Nordeste e na fronteira entre o sul da Bahia e o Espírito Santo (Figura 16). Nesta última área, os totais médios mensais excederam a média em até 4ºC (Figura 17). A ausência de nebulosidade associada ao posicionamento do centro de cavados e vórtices ciclônicos em altos níveis pode ter favorecido o aumento das temperaturas comparativamente aos valores climatológicos (ver seção 4.3). As temperaturas máximas também excederam a média na região do Vale do Paraíba, nordeste de São Paulo, e no norte do Paraná. Os valores de temperatura mínima variaram entre 14ºC, na serra catarinense, e 24ºC, no norte da Região Norte (Figura 18). De modo geral, as médias mensais de temperatura mínima apresentaram-se acima da média na maior parte do Brasil (Figura 19). No Estado de São Paulo, a temperatura média mensal variou entre 18ºC e 24ºC, com predominância de anomalias positivas, especialmente no setor leste (Figura 20 e
Figura 21).

A maioria dos sistemas frontais monitorados em dezembro de 2009 deslocou-se para o oceano antes de atingir o extremo sul do Rio Grande do Sul. Apenas dois sistemas frontais conseguiram avançar pela faixa litorânea do Brasil e somente o segundo sistema atuou no interior da Região Sul (Figura 22). Este número ficou abaixo da climatologia para este mês, que é de seis sistemas frontais para as latitudes 25oS a 35oS.

O primeiro sistema frontal atou no sul do Rio Grande do Sul entre os dias 03 e 04, chegando ao litoral de Campos-RJ no dia 05. Este sistema alinhou-se com a região de convergência de umidade que se formou entre o Centro-Oeste e Sudeste, dando origem à formação do primeiro episódio de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

No dia 12, o segundo sistema frontal configurou-se no leste do Rio Grande do Sul. Este sistema deslocou-se até Vitória-ES, onde se posicionou no dia 14. A formação do ciclone extratropical associado a este sistema causou ventos fortes e chuvas acentuadas no Rio Grande do Sul (ver seção 2.1.5). Este sistema também intensificou o canal de umidade no setor central do Brasil, favorecendo a formação de um episódio mais fraco de ZCAS, conforme descrito na seção 3.3.1. Pelo interior, este sistema deslocou-se até Guaíra-PR.

Entre os dias 25 e 31, uma massa de ar úmida e instável atuou em parte das Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, associada a um intenso fluxo de noroeste. Simultaneamente, configurou-se uma área de baixa pressão nas proximidades dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, intensificando a convergência de massa adjacente à costa e que resultou no excesso de chuva descrito na seção 2.1.4.

Em dezembro, cinco massas de ar frio atuaram no sul do País. A maioria dos anticiclones associados causou declínio de temperatura na Região Sul.

A primeira massa de ar frio iniciou sua trajetória no decorrer do dia 03. No dia seguinte, estendeu-se sobre a Região Sul, indo posteriormente para o oceano. Houve declínio acentuado de temperatura mínima em Santa Maria-RS, onde os valores passaram de 17,8ºC no dia 03 para 10,1ºC no dia 04. Neste mesmo período, a temperatura mínima declinou 5,8ºC em Bagé-RS e 5ºC em São Joaquim-SC, passando a 8,7ºC e 9,4ºC, respectivamente. Em São Luiz Gonzaga, no oeste do Rio Grande do Sul, houve um declínio gradual da temperatura mínima que passou de 22,2ºC a 13ºC, entre os dias 02 e 05. Em Florianópolis-SC, a mínima passou de 22,4ºC, no dia 03, para 17,2ºC, no dia 05.

Nos dias 07 e 08, um segundo anticiclone atuou no Rio Grande do Sul, posicionando-se sobre o oceano no dia 09. Esta massa de ar frio causou apenas leve declínio de temperatura no extremo sul do País. Em Bagé-RS, a temperatura mínima passou de 16,1ºC, no dia 06 para 13,6ºC, nos dias 07 e 08.

A terceira massa de ar frio avançou sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina no dia 13. No dia seguinte, esta massa de ar frio afetou principalmente o leste da Região Sul. Destacou-se o declínio de temperatura mínima em Santa Maria-RS, onde o valor passou de 17,7ºC, no dia 12, para 14ºC, no dia 14. Neste mesmo período, a mínima passou de 16,3ºC para 8,2ºC, em São Joaquim-SC, e de 23ºC para 16,1ºC, em Florianópolis-SC. Em Curitiba, capital do Paraná, a mínima passou de 19ºC, no dia 13, para 13,1ºC, no dia seguinte.

No período de 17 a 19, uma quarta massa de ar frio foi associada ao anticiclone que se encontrava sobre o oceano, próximo ao litoral da Região Sul. Esta massa de ar frio afetou, com declínio de temperatura, a serra catarinense. No município de São Joaquim-SC, a mínima passou de 15ºC para 10,8ºC, entre os dias 16 e 18.

A quinta massa de ar frio atuou no sul do Rio Grande do Sul, no final de dezembro. Em Bagé-RS, a temperatura mínima declinou de 20,5ºC, no dia 30, para 15,4ºC no dia 31.

A configuração de vórtices ciclônicos em altos níveis, em conjunto com a formação de dois episódios de ZCAS, favoreceu o aumento da atividade convectiva principalmente no oeste da Região Nordeste e no centro-sul da Região Sudeste, em particular na 1ª, 2ª e 6ª pêntadas de dezembro (Figura 23). Contudo, a presença destes vórtices adjacente à costa nordeste da América do Sul inibiu a atividade convectiva sobre a Região Nordeste do Brasil em várias pêntadas, conforme descrito na seção 2.1. Na maioria das pêntadas de dezembro, notou-se, também, a banda de nebulosidade associada à ZCIT em torno da latitude 5ºN. Na Região Sul, a maior atividade convectiva na 3ª pêntada foi associada à atuação do segundo sistema frontal (ver seção 3.1).

A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) configurou-se em dois episódios no decorrer de dezembro de 2009 (Figura 24). O primeiro episódio de ZCAS foi notado no período de 04 a 09, com ocorrência de chuvas mais intensas em Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. Já o episódio que ocorreu no período de 12 a 15, embora tenha se estabelecido uma região de convergência de umidade desde a Região Centro-Oeste até o Sudeste, pode ser considerado fraco, uma vez que nem todas as características dinâmicas associadas ao modelo conceitual de ZCAS ficaram bem configuradas.

A banda de nebulosidade associada ao primeiro episódio de ZCAS esteve bem configurada sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde se observou a região de maior convergência de umidade em 850 hPa (Figuras 24a e 24b ). Nas Figuras 24c e 24d , nota-se a região de máximo movimento ascendente estendendo-se desde o continente até áreas oceânicas e o vórtice ciclônico em 200 hPa, próximo à Região Nordeste do Brasil. Os maiores totais acumulados ocorreram em Goiás, no leste de Minas Gerais e no sul do Espírito Santo (Figura 24f). Este episódio de ZCAS foi reforçado pela atuação da frente fria que avançou no início de dezembro (ver seção 3.1).

No segundo episódio de ZCAS, a região de maior convergência de umidade se estabeleceu sobre o continente e um pouco mais ao sul, se comparada ao evento anterior (Figuras 24f e 24g). Durante este episódio, notou-se a formação do cavado em médio e altos níveis, embora com pouca amplitude (Figuras 24h e 24i ). Este episódio de ZCAS também foi reforçado pela atuação de um sistema frontal que se deslocou até o litoral do Espírito Santo (ver seção 3.1).

A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) oscilou em torno de 5ºN, latitude na qual se encontra climatologicamente neste período do ano (Figura 25). Próximo à costa da África, a ZCIT posicionou-se, preferencialmente, ao norte de sua posição climatológica. Nas imagens médias de temperatura de brilho mínima, notou-se a banda de nebulosidade associada à ZCIT atuando em conjunto com a formação de vórtices ciclônicos em altos níveis, em particular durante as pêntadas 1ª, 2ª, 3ª e 4ª de dezembro. Notou-se, também, que a maior atividade convectiva associada à ZCIT ocorreu próximo à costa da África, especialmente durante a 5ª pêntada (Figura 26).

As Linhas de Instabilidade (LI's) foram observadas em apenas seis episódios durante o mês de dezembro de 2010 (Figura 27). Estas LI's estiveram melhor configuradas nos dias 12, 21, 22 e 26. Neste mês, as LI's atuaram preferencialmente entre as Guianas e o norte da Região Nordeste. Destacou-se o total diário de chuva registrado na estação localizada em Cametá, norte do Pará, associado à LI que se formou no dia 11 (ver seção 2.1.1).

O jato subtropical atuou com maior freqüência sobre o setor central do Chile e Argentina, Uruguai e sul do Brasil. Nestas áreas, a magnitude média do jato variou entre 30 m/s e 40 m/s (Figura 28a). O jato subtropical atuou dentro de sua posição climatológica, porém mais intenso. A Figura 28b ilustra o comportamento do jato subtropical no dia 04, quando atingiu magnitude de até 60 m/s entre a costa leste do Rio Grande do Sul e o oceano adjacente. No dia seguinte, o sistema frontal à superfície posicionou-se próximo à costa da Região Sudeste, dando origem ao primeiro episódio de ZCAS (ver seção 3.1.1). As Figuras Figura 28c e .
28d ilustram a atuação conjunta do jato subtropical, do escoamento associado à Alta da Bolívia e do vórtice ciclônico que se posicionou sobre o Nordeste do Brasil no dia 11. Esta configuração no escoamento em altos níveis foi favorável à intensa atividade convectiva que se formou sobre a Região Sul e o centro-sul do Mato Grosso do Sul, conforme descrito nas seções 2.1.2 e 2.1.5.

Durante o mês de dezembro, a Alta da Bolívia esteve bem caracterizada em 27 dias, atuando preferencialmente sobre a Bolívia e o oeste do Brasil (Tabela 2). No escoamento médio mensal, o centro da alta troposférica esteve configurado em aproximadamente 15ºS/64ºW, um pouco a sudoeste de sua posição climatológica (Figura 29a). O escoamento difluente associado à circulação da Alta da Bolívia contribuiu para a formação de áreas de instabilidade em grande parte do Brasil, como ilustra a imagem do satélite GOES-12 (Figura 29b).

Cinco episódios de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN) ocorreram no decorrer do mês de dezembro (Figura 30a). O primeiro episódio foi a continuação do episódio que teve início em 26 de novembro passado e persistiu até o dia 14 deste mês. O centro deste VCAN posicionou-se entre as latitudes 5ºS e 15°S, deslocando-se desde o oceano até o interior da Região Nordeste do Brasil. Este VCAN reduziu a nebulosidade sobre grande parte do Nordeste e atuou em conjunto com o segundo episódio de ZCAS, associado, por sua vez, ao sistema frontal à superfície, como ilustra a imagem de satélite do dia 08 (Figura 30b). O terceiro episódio de VCAN, embora com seu centro posicionado sobre o Atlântico, a leste de 30°W, contribuiu para a diminuição da nebulosidade em parte do Nordeste. O quarto episódio de VCAN formou-se sobre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, nos dias 20 e 21. Este VCAN atuou em conjunto com a instabilidade dinâmica e termodinâmica que se observou sobre o leste da Região Sudeste, favorecendo a ocorrência de tempestades e queda de granizo sobre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No dia 25, o centro deste VCAN posicionou-se no norte do Mato Grosso e sudeste do Amazonas, onde se desconfigurou. O quinto VCAN ocorreu próximo à costa leste do Rio Grande do Norte e da Paraíba, no período de 29 a 31. Inicialmente, houve diminuição da nebulosidade sobre parte do setor leste do Nordeste, porém, no final deste período, o VCAN intensificou a formação de áreas de instabilidade sobre o continente, como mostra a Figura 30c. Este último episódio contribuiu para a ocorrência de chuvas mais intensas no interior do Nordeste (ver seção 2.1.5).

Durante o mês de dezembro, as chuvas foram mais acentuadas nas bacias do Amazonas, Tocantins, Paraná, São Francisco e norte da bacia do Atlântico Sudeste. A maioria das estações hidrológicas monitoradas nos setores norte e central do Brasil apresentou aumento das vazões e valores acima da MLT.

A Figura 31 mostra a localização das estações utilizadas nestas análises. A evolução temporal da vazão, para cada uma destas estações, e as respectivas Médias de Longo Termo (MLT) são mostradas na Figura 32. Os valores médios das vazões nas estações monitoradas e os desvios em relação à MLT são mostrados na Tabela 3.

Na estação Manacapuru-AM, as vazões foram calculadas a partir das cotas observadas no Rio Negro, utilizando um modelo estatístico (ver nota no 8 no final desta edição). Neste mês, a
altura máxima registrada foi 19,97 m, a mínima foi 15,99 m e a média igual a 17,18 m (Figura 33).

A maioria das estações monitoradas na bacia do Amazonas apresentou vazões médias mensais superiores aos valores registrados no mês anterior e acima da MLT. A exceção ocorreu na estação de Manacapuru-AM, onde a vazão diminuiu e ficou abaixo do valor esperado para este mês. Na bacia do Tocantins, a estação Tucuruí apresentou uma vazão média mensal maior que a observada no mês anterior e excedeu a MLT.

A vazão média mensal na estação de Sobradinho-BA, na bacia do São Francisco, ficou próxima à observada em novembro, porém com desvio negativo se comparada à MLT. Na estação Três Marias-MG, nesta mesma bacia, a vazão aumentou porém ficou próxima à MLT.

De modo geral, as estações localizadas na bacia do Paraná apresentaram aumento das vazões médias mensais em comparação com o mês anterior, com valores que excederam a MLT. As exceções ocorreram nas estações de Emborcação-MG, cuja vazão ficou abaixo da MLT, e Salto Santiago-PR, onde a vazão ficou ligeiramente inferior à observada em novembro passado.

Na bacia do Atlântico Sudeste, a vazão média ficou próxima à observada no mês anterior na estação Blumenau-SC e diminuiu na estação Passo Real-SC. Nestas estações, a vazão observada ficou próxima à MLT em Blumenau-SC e bem acima da MLT em Passo Real. No Vale do Itajaí, destacaram-se as precipitações abaixo da média nas estações de Apiúna e Blumenau (Tabela 4).

Na bacia do Uruguai, a vazão na estação de Passo Fundo-RS diminuiu com respeito ao mês de novembro, porém excedeu a MLT.

Cerca de 5.900 focos de queimadas foram detectados no País, pelo satélite NOAA-15, no decorrer do mês de dezembro (Figura 34). Este valor ficou 65% inferior aos focos observados em novembro, em função das chuvas acima da média em quase todo o Brasil. As maiores ocorrências foram registradas no norte do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e oeste da Paraíba.

Comparado a dezembro de 2008, o número de focos diminuiu 36% em todo o País, especialmente nas áreas críticas de queimadas, ou seja, no Brasil Central, na Região Norte, especialmente no Amazonas, Pará, Roraima e Acre, no norte do Nordeste e na Região Sudeste. As reduções mais significativas ocorreram no Mato Grosso do Sul (90%, 35 focos), Mato Grosso (88%, 37 focos), São Paulo (83%, 32 focos), Amapá (59%, 19 focos), Ceará (40%, 2.199 focos), Maranhão (42%, 1.193 focos) e Paraíba (32%, 325 focos). Apesar destas reduções, ainda se observou o avanço de novas frentes de destruição da vegetação no Nordeste, especialmente no sul da Bahia, Ceará e Paraíba, e no Pará. Houve condições ambientais favoráveis ao uso do fogo na vegetação e consequente aumento dos focos na Bahia (250%, 383 focos), Roraima (210%, 37 focos) e no Tocantins (100%, 45 focos).

Detectaram-se 644 focos de queimadas no interior das Unidades de Conservação, federal e estadual, e nas áreas vizinhas, com destaque para as seguintes Áreas de Preservação Ambiental: Baixada Maranhense (Estadual/MA), com 117 focos; Reentrâncias Maranhenses (Estadual/MA), com 106 focos; Chapada do Araripe (Federal/PI), com 106 focos; Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças (Estadual/MA), com 94 focos; e Serra da Ibiapaba (Federal/CE).

Em dezembro, foram observadas anomalias negativas de Pressão ao Nível do Mar (PNM) em praticamente todo Oceano Austral, com anomalias de até -10 hPa nos mares de Ross e Dumont D'Urville. As anomalias positivas de PNM restringiram-se ao Mar de Davis (Figura 35). No nível de 500 hPa, registrou-se anomalia negativa de geopotencial no platô antártico, invertendo a tendência de anomalias positivas observadas desde o mês de maio (ver Figura 12, seção 1).

O campo de anomalia de vento em 925 hPa evidenciou anomalias anticiclônicas organizadas nos mares de Amundsen e Bellingshausen e ao norte do mar de Weddell (Figura 36). Neste mês, destacou-se a ausência de escoamento de ar de sul para norte, a partir do norte e nordeste do mar de Bellingshausen e noroeste do mar de Weddell em direção ao sul do Brasil. Esta situação vem sendo observada desde agosto e pode ter contribuído para a ocorrência de temperaturas mínimas acima da média no sul do Brasil (ver seção 2.2).

A temperatura do ar em 925 hPa ficou até 2°C abaixo da média nos mares de Weddell, Bellingshausen, Dumont D’Urville, Davis e na passagem de Drake (Figura 37). Anomalias positivas de temperatura ocorreram nos mares de Amundsen e Ross. No nível de 500 hPa, foram registradas temperaturas cerca de 2ºC acima da climatologia no interior do continente, mantendo a tendência iniciada em fevereiro de 2008.

As anomalias anticiclônicas organizadas nos mares de Amundsen e Bellingshausen e ao norte do mar de Weddell (ver Figura 36) contribuíram, possivelmente, para a retração na extensão do gelo marinho notada nos mares de Weddell e Ross, bem como para o deslocamento para leste da polynia do mar de Weddell (Figura 38).
Na estação brasileira, Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), registraram-se ventos predominantes de leste e norte. A magnitude média mensal do vento foi de 5,7 m/s, pouco acima da média climatológica para este mês (5,4 m/s). A temperatura média do ar foi igual a 0,8ºC e ficou abaixo da climatologia (1,2 ºC), mantendo-se a tendência de temperaturas abaixo da média observadas desde abril de 2009. Neste mês, três frentes e dez ciclones extratropicais atingiram a região da Península Antártica. A média esperada para este mês costuma ficar em torno de cinco frentes e seis ciclones.

A retrospectiva para o ano de 2009 apresentou alguns aspectos notáveis. A menor temperatura registrada foi -25,6ºC, no dia 05 de agosto. Há pelo menos 18 anos, a temperatura mínima não caía abaixo dos -25ºC na EACF. A temperatura máxima absoluta neste ano foi 8ºC em 29 de janeiro, valor baixo que também não ocorria desde 1993.

A magnitude anual do vento foi igual a 6,1 m/s, com predomínio das direções leste e norte. A pressão média anual atingiu 989,8 hPa e manteve a tendência de queda dos últimos quatro anos. Este foi o segundo valor mais baixo já registrado desde o início da série, em 1986. Em 17 de fevereiro, um ciclone reduziu a pressão na EACF ao seu menor valor anual, igual a 948,5 hPa. Em 27 de junho, registrou-se a máxima pressão anual, 1022,3 hPa. No total, 42 frentes e 141 ciclones extratropicais (CE) atuaram na Península Antártica e na EACF, indicando atividade acima da média. Os ciclones-bomba, com queda de pressão maior ou igual a 24 hPa em 24h, foram em número de 13 em 2009, e, portanto, acima da média. Esta situação foi semelhante aos anos de 2004 e 2006, com 13 casos cada.

Os meses de junho e julho foram os de maior influência da circulação superficial de origem subantártica no sul e sudeste do Brasil, causando redução de temperaturas nestas áreas.

Dados anuais completos e resumos mensais, bem como a climatologia da EACF (período de 1986 a 2009), encontram-se disponíveis no site http://antartica.cptec.inpe.br/ ~rantar/data/resumos/climatoleacf.xls. As indicações geográficas dos mares da Antártica estão disponíveis no final desta edição (ver Figura B, no Apêndice).

[Figura A] [Figura B]

[Figura 1] [Figura 2] [Figura 3] [Figura 4] [Figura 5] [Figura 6] [Figura 7] [Figura 8] [Figura 9] [Figura 10] [Figura 11] [Figura 12] [Figura 13] [Figura 14] [Figura 15] [Figura 16] [Figura 17] [Figura 18] [Figura 19] [Figura 20] [Figura 21] [Figura 22] [Figura 23] [Figura 24] [Figura 25] [Figura 26] [Figura 27] [Figura 28] [Figura 29] [Figura 30] [Figura 31] [Figura 32] [Figura 33] [Figura 34] [Figura 35] [Figura 36] [Figura 37] [Figura 38]

[Tabela 1] [Tabela 2] [Tabela 3] [Tabela 4]

Edições Anteriores
Tipo:

Mês: Ano:


Visualizar Capa

Expediente

Instituições Colaboradoras

Endereço para Correspondência



Copyright ©INPE/CPTEC
Comentários e/ou sugestões:
webmaster@cptec.inpe.br